Foto: Adriano Cerqueira |
Há já algum tempo que não te escrevia. Aliás, segundo os meus arquivos, já passaram quatro anos desde a última carta que te enviei. Quatro anos… Estávamos em 2008 e eu não sabia nada. É difícil descrever como me sinto neste momento. Hoje à tarde, enquanto tentava encontrar a inspiração para ressuscitar a Rádio da Rádio, sentia uma presença acusatória, pesando a minha consciência pelos dois anos de inactividade do meu podcast.
Pior que deixar de lado um projecto que prometeste levar em frente, só mesmo esqueceres-te de alguém que durante tantos anos esteve sempre ali, pronto para te ouvir. Não espero que me perdoes após uma ausência tão prolongada, nem irei implorar pelo teu perdão. Não o mereço. Simplesmente, não o mereço. Já na segunda-feira a minha professora de Russo dizia que eu ia receber um pedaço de carvão pelo Natal por não ter feito o trabalho de casa. Se fosse esse o meu único pecado, não estaria neste momento a sentir-me como se aguentasse por um fio todo o peso da reserva mundial desse extracto do Carbonífero.
Este ano queria pedir-te claridade, não na sua expressão física, mas sim claridade de pensamento. Claridade para decidir. Para me guiar. Para escolher. Para compreender. Queria, mas não o farei. Não o faço, não por duvidar da tua capacidade de me ofereceres essa prenda, mas sim por não merecer qualquer gesto da tua parte. Não após este silêncio. Não após quatro anos de ausência.
Vejo agora que cabe a mim descobrir a minha própria fonte de claridade. Não posso depender de desejos, de sonhos ou de esperanças, mas apenas de mim próprio. Não posso depender de ti Pai Natal. Não podes ser o meu Avô Frio este ano. Não podes.
Não te vou prometer que todos os anos me lembrarei de ti. Estaria a mentir se o fizesse. Vou tentar não te deixar novamente tanto tempo à espera da minha resposta. Vou tentar. Tentar implica a possibilidade de não o cumprir. É mais fiável que uma promessa, é mais honesto, mais realista. É tudo aquilo que eu não quero ser.
Quero magia, ilusão, emoção, diversão, calor, amor. Quero um Natal feliz. Já viste a minha Árvore de Natal? É pequena mas é das melhores que esta casa já viu. E o presépio está tão bem iluminado. Haverá melhor presente para o menino Jesus que uma fresca tangerina? Quero cantar canções de Natal. Novas e Antigas. Clássicas e Modernas. Cristãs e Pop. Quero comer rabanadas, bilharacos, bolo-rei e Pão-de-Ló (de Ovar, apenas de Ovar, nada dessa secura de ovos de Felgueiras). Quero enviar postais de Natal, recebê-los e pendurá-los em frente à lareira.
Quero desejar-te um Feliz Natal. Quero desejar-to a ti e a todos aqueles que me são próximos. Quero que todos recordem este Natal com nostalgia e felicidade. Mas acima de tudo, quero que o teu Natal seja tão feliz como o meu. Não precisas sequer de me responder. Contento-me apenas em saber que os meus desejos de boas festas chegaram aos teus ouvidos. Até uma próxima. Até ao nosso reencontro!
Feliz Natal.
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