Tuesday, December 23, 2008

O Regresso da Véspera da Véspera de Natal Parte II

366 dias, 108 jornais, 12 horas de anilhagem, 2 pães-de-ló, 0 horas de sono, e nenhuma penca depois, está de regresso a Véspera da Véspera de Natal! Louvado sejas ó 23, eterno dia esquecido no tear dos tempos.

Ora viva, e sejam bem-vindos a mais uma edição da Véspera da Véspera de Natal. Para além das habituais pencas – vulgo couvões –, este ano trazemos-vos um calmo e suave sol de Inverno, e um frango prontinho a estufar.

Jesus, o Cristo: “Muda a estação, não gosto do jingle inicial nem dessa voz toda alongada na entrada do jingle.”

Almada Negreiros: “Desliga isso, vamos ver televisão.”

Mindo: “Isso é subjectivo!”

Eusébio: “Esperem aí! Vamos ouvir isto.”

Quem planta e colhe pencas!

Olá, esta é a Véspera da Véspera de Natal, a tua véspera sobre a véspera da véspera das vésperas. Todos os dias 23 de Dezembro trazemos o que de melhor se faz no dia eternamente esquecido do calendário.

O homem dos óculos escuros aproxima-se do rádio e com um toque de leve no botão, termina com o som emitido pela máquina que até ao momento centralizava a atenção da audiência. Jesus, Vasco da Gama e Zé Mota dirigem-se para o homem dos óculos escuros.

Jesus, o Cristo: “Outra vez? Já não te disse para me deixares em paz? Que parte de ‘deve manter-se sempre a um mínimo de cem metros de distância é que não percebes’?”

Vasco da Gama: “Põe-te na alheta antes que te atrevesse um novo caminho para Índia!”

Zé Mota: “Calma pessoal. Vocês são novatos nisto, não são? Tenham calma, não façam sempre as mesmas ameaças rotineiras.”

O homem dos óculos escuros afasta-se, mas antes de sair desloca o dedo ligeiramente em direcção à TV. O ar parece estagnar enquanto todos observam o leve movimento do recém-chegado. Finalmente, eis o momento. Ele clica no botão.

Farto de pencas? Talvez esteja na hora de experimentar o Second Couvões!

Mais do que simples couves gigantes, o Second Couvões traduz-se à letra, é mesmo um segundo tipo de pencas.

Vasco da Gama: “Ó JC, não sabias ter morrido noutro dia? Por que raio temos que comer couvões sempre nestes dias?”

Jesus, o Cristo, também conhecido como JC: “Ó Vasco, eu não morri no dia 25, foi algures em Março, ou Abril, depende da Lua.”

Eusébio: “Mas tu também não nasceste a 25 ó Cristo. Foi a 17 de Abril.”

Mindo: “Mas agora vocês têm a festa do Sol.”

Zé Mota: “Ó Mindo ‘tás a ler isso, não ‘tás?”

E foi assim que a Menina do Gás, Carlos Carvalhal e Fernão de Magalhães encontraram a sua ilha de felicidade. Uma história passada de geração em geração sobre a jornada dos nossos amigos, em busca da penca encantada, há muito, muito tempo.

Fim.

Não se esqueçam do dia 23, pois foi também por ele que Jesus dedicou a sua vida à carpintaria. A Véspera da Véspera de Natal não é novata nisto, e há muito que já não se mostra nervosa.

Morram Pencas, morram! Pim!

Querido Pai Natal

Este ano decidi inverter a tendência e voltar a pedir-te um bem material, algo que já não fazia há bastantes anos. Este ano quero o Magalhães. A sério, não estou a brincar. Não é por ser o primeiro computador ibero-americano, por ser resistente à fúria – entenda-se estupidez – de ditadores, ou por todos os assessores do Sócrates terem um. Não. Quero o Magalhães, simplesmente porque sim.

Como bom português, mantive-me fiel à tradição e apenas no domingo dia 21 de Dezembro fui tratar das compras de Natal. No meio de um Gaiashopping a abarrotar pelas costuras, após longas filas para fazer aquele pequeno quilómetro que separa o fim da A44, da zona industrial repleta de centros comerciais. E de longas horas dentro de Zaras, C&As e afins, dei por mim dentro da Fnac, à procura do Brisingr, e de algo mais.

Por entre essa busca, deparei-me com um pequeno computador. "Mais um daqueles mini portáteis que toda a gente adora, mas que para os quais não vejo qualquer utilidade", pensei. Mas não, não era mais um desses, era o Magalhães. Estava aberto e nada denunciaria a verdadeira natureza do PC que se encontrava à minha frente.

O meu primeiro instinto foi fechá-lo para ter a certeza que era de facto o aclamado messias do Sócrates. A princípio achei que era cinzento, uma nova estilização, afinal nem todas as crianças gostam de azul claro e os assessores do Primeiro-Ministro precisam de algo mais sóbrio para levar aos congressos. Mas não, era tal e qual tem vindo a ser anunciado nos órgãos de comunicação social, azul claro, leve, e com o ar de malinha do lanche.

Quando era criança, das poucas memórias que ainda reservo dessa altura, lembro-me de um pequeno brinquedo, ao qual chamava computador, mas que de computador tinha ele muito pouco. Quanto mais não fosse apenas pelo aspecto que imitava o design de um portátil. Era pequeno e azul com aspecto de lancheira. Abria-o e ligava-se uma luz. Colocava um cartão na ranhura da luz, e surgia a imagem de um objecto com o respectivo nome iluminado.

Não deixo de pensar nas semelhanças desse brinquedo de plástico com o infame Magalhães. Se calhar, é por isso que este ano apenas te peço o Magalhães. De certa forma, a coqueluche do Engenheiro Sócrates simboliza um passado que não consigo evitar de relembrar numa época como esta.

Aguardo assim pela tua vinda, como sempre aguardei, e espero que desta vez, pela mera simplicidade do pedido, consigas realizar a pequena vontade do teu eterno crente.

Feliz Natal.

Monday, December 22, 2008

O Lançar da Moeda

Ao lançarmos uma moeda sabemos à partida que o resultado pode apenas ser um de dois. Há sempre a possibilidade da moeda cair em pé, mas a mínima vibração acaba por a tombar, fazendo prevalecer um dos lados.

Podemos tentar adivinhar o lado que sai, ou desenvolver técnicas para desvendar a resposta mesmo antes da moeda partir da nossa mão. Mas no fim, o mínimo pormenor pode desviá-la do seu objectivo e o resultado torna-se, assim, incerto.

Cara ou coroa. 50% é a probabilidade de acertar, mas por vezes surgem séries raras, em que por mais que lancemos a moeda, o resultado acaba por ser o mesmo. E por mais que acreditemos que no próximo lançamento será diferente, a crença dissipa-se mal levantamos a mão.

Para evitar esta constante desilusão lançamos a moeda para longe dos nossos olhos, para as profundezas de uma fonte, ou para a escuridão dos nossos bolsos. Tentamos com outras moedas, iguais, diferentes, de outro valor, de outro país, de outra cifra, de outro tamanho, de outra cor. Mas no fim, a sequência mantém-se, e o resultado não se altera.

Para um bom apostador, esse azar seria a sua sorte. Como oráculo, poder adivinhar cada resultado seria um pequeno passo para a eterna vitória. Não tarda outros viriam o jogo como viciado, e largariam a aposta. De qualquer forma, tal jogo apenas funcionaria se no ditar do resultado fosse ele quem decidisse a fatalidade da partida. Caso contrário, a regra da incerteza voltaria a ser aplicada, e na voz do oponente estaria a decisão do resultado. Já o não apostador, vê-se como vencido logo à partida, condenado a acreditar na resposta que nunca irá receber.

"Há sempre o outro lado da moeda." Às vezes também gostaria de o ver.

Sunday, December 07, 2008

You'll always be my November

Voltei a perder um mês. Desde a criação deste espaço, que muitas histórias ainda reserva para um dia serem contadas, apenas falhei a publicação de um texto em Setembro de 2007. Depois do sucedido, prometi a mim mesmo não mais voltar a deixar passar um mês inteiro sem uma única publicação, fosse ela uma frase, um poema, um vídeo, ou uma música. Não importaria o que fosse, desde que fosse algo.

Mas voltou a acontecer. Voltei a falhar a minha promessa. Voltei a deixar o tempo passar e voltei a não dar a devida atenção a este espaço. Na verdade, publiquei um texto ao longo do mês todo, mas não foi aqui, não aqui.

Novembro foi um mês de aceitação. Um mês de promessas falhadas – talvez aí encontre alguma explicação. Um mês como qualquer outro, e como qualquer outro diferente à sua própria maneira. De certa forma este foi o mês do "do Porto", d'O Comércio do Porto, do Mercúrio do Porto, das cinzas de tempos idos, às sementes de algo que ainda luta por se afirmar e emergir.

Foi um mês de reconciliação. De más notícias, mas também de boas. Não, este Novembro não sou eu, se calhar por o Keanu o já ter reclamado para si há tempos atrás. "Que todos os meses sejam Novembro", dizia ele. Se tiver que reclamar um mês, não sei por qual pegar. Espero que seja Dezembro, ou talvez Janeiro, ou mesmo Maio se os motivos prevalecerem.

Dezembro. Amanhã é dia oito, o ponto de viragem, o cruzamento que ditou o caminho que hoje percorro. Números da sorte, se os há, o oito não é o meu. Já Novembro é o onze, o malfadado número, que ainda hoje sofre por decisões tomadas sobre assuntos que com ele nada têm a ver.

Novembro perdido. Apagado, mas não esquecido. Deixo hoje a promessa que não voltarás a ser posto de lado. Serás sempre o meu Novembro.

Até sempre, velho amigo.