Cartucho, Fonte: DR |
Se têm por hábito usar o Spotify certamente já tropeçaram
num anúncio que vos agradece por terem escolhido aquela plataforma em
alternativa à rádio, a um CD, a uma cassete, a um vinil, ou a um cartucho, “se
soubesses o que isso era”.
O que é afinal um cartucho? Um cartucho, também conhecido
por Stereo 8, era um suporte de áudio com base numa fita magnética bastante
similar a uma cassete embora fosse um pouco maior. Esta fita podia conter até
oito faixas de música e funcionava num circuito fechado que permitia que este
voltasse ao início sem ser necessário rebobinar.
Para aqueles que já nasceram num Mundo digital onde os
formatos físicos e analógicos não passam de uma relíquia de um passado algo
distante, usados apenas para enfeitar as estantes do apartamento de um qualquer
hipster, as cassetes, fossem estas de música ou de VHS, precisavam de ser
rebobinadas para voltar ao início.
Poucas coisas eram mais chatas na altura do que colocar uma
cassete no vídeo ou na aparelhagem e ter que esperar alguns minutos até que
esta voltasse ao ponto inicial.
Qualquer vídeo, walkman, rádio ou aparelhagem tinha esta
capacidade, no entanto isso não impediu as empresas de criarem máquinas
específicas para rebobinar cassetes.
Estas máquinas eram usadas especialmente em clubes de vídeo,
aquelas casas de aluguer de filmes que existiam antes da Netflix, porque, bom,
as pessoas teimavam em não rebobinar as cassetes depois de as alugarem. Alguns
destes videoclubes costumavam inclusive cobrar uma taxa extra a quem se
esquecesse de rebobinar a cassete.
Os cartuchos tinham então a vantagem de que assim que a
última música acabasse de tocar, esta seria seguida pela primeira sem que para
tal fosse necessário carregar num qualquer botão. No entanto, um cartucho não
era apenas uma cópia em fita magnética de um álbum. As particularidades desta
tecnologia obrigaram os produtores de música a fazer alguns ajustes.
Enquanto num disco de vinil as músicas são repartidas pelos
dois lados do disco, os cartuchos eram divididos em quatro programas. Cada
programa podia conter até duas músicas sendo que estas não podiam ser divididas
de forma linear. O primeiro programa teria que conter a faixa um e a faixa
cinco, enquanto o segundo teria a faixa dois e a faixa seis.
Isto criou um problema na passagem de conteúdo de um álbum
em vinil para um cartucho. Para o resolver era muitas vezes necessário partir
as músicas em duas partes cortando-a durante uma pausa instrumental ou entre
repetições de um refrão.
Por vezes era também necessário trocar a ordem das músicas,
mudar o seu comprimento ou introduzir períodos de silêncio de forma a ajustar a
duração das músicas à duração de um programa na fita.
Isto levou a que alguns cartuchos incluíssem conteúdo extra,
transformando-os em autênticos objectos de colecção para os fãs de artistas
como Lou Reed ou Pink Floyd.
No álbum Animals (1977) de Pink Floyd a música Pigs On The
Wing tem uma versão extensa criada em específico para o seu cartucho.
Este formato era principalmente usado em auto rádios e foi
bastante popular nos EUA entre as décadas de 1960 e 1980. Contudo, deste lado
do Atlântico os cartuchos nunca ganharam a mesma popularidade, tendo perdido a
corrida para as cassetes.
Se costumam ver séries e filmes norte-americanos
provavelmente já viram cartuchos a ser usados sem se aperceberem. Sempre que
uma personagem coloca um bloco cinzento no auto rádio sem o tirar da caixa ela
está a usar um cartucho.
Por exemplo, se são fãs da série How I Met Your Mother, talvez
se lembrem de um episódio em que o Marshall e o Ted fizeram uma viagem até
Chicago num carro que insistia em tocar em loop a música ‘I’m Gonna Be (500 miles)’ dos The Proclaimers.
Acreditem ou não, isto era um problema algo comum. Quando um
auto rádio avariava, devido ao circuito fechado dos cartuchos, este podia ficar
preso na mesma música, tocando-a em loop incessantemente.
No filme As Good as It Gets (1997) vemos Melvin, interpretado
por Jack Nicholson, a preparar a banda sonora para a viagem de carro que ele
faz com Carol (Helen Hunt) e Simon (Greg Kinnear). Esta banda sonora consiste
num conjunto de cartuchos etiquetados com o nome dos artistas que ele guarda num
compartimento ao lado do assento do condutor.
Os cartuchos, o betamax, os laser discs e os minidiscs são
exemplos de tecnologias que tiveram alguma popularidade a nível local mas que
nunca conseguiram conquistar o mercado a um nível tão global como as cassetes,
o VHS, os CDs ou os DVDs.
Hoje não passam de uma memória de um tempo analógico onde o
mínimo erro podia transformar uma viagem corriqueira numa história épica, ou
numa sessão de tortura.
Agora que já sabem o que é um cartucho da próxima vez que
ouvirem o anúncio do Spotify, não se esqueçam de pedir àquele senhor para
tentar ser um pouco menos condescendente.
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