Desde o nascimento deste blogue que sempre me demarquei de qualquer comentário político ou de análise da actualidade por achar que este espaço vale pela sua “inocência”, e pela divulgação de temas e pormenores que passam ao lado do comum dia-a-dia de qualquer outra pessoa. Contudo, dado os eventos que se passaram ontem, vejo-me forçado a violar esta promessa que fiz a mim próprio de forma a que a minha opinião possa ser lida e partilhada por todos aqueles que assim o desejem.
Nunca pensei algum dia votar ao centro, mas hoje não vejo outra alternativa que não votar PS. O Governo caiu ontem não por haver alguma alternativa viável ao Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) ontem proposto, nem por as medidas já implementadas serem demasiado severas, mas sim porque o Passos Coelho e o próprio PSD souberam analisar a actualidade política e tomaram a decisão de aproveitar este momento de fragilidade para assumir o poder, ou pelo menos tentar.
Se as medidas implementadas pelo PS fossem aprovadas, e se os resultados de diminuição do défice previstos no PEC fossem comprovados, o país ver-se-ia obrigado a dar o crédito onde é devido, e o PS não só quase certamente venceria as próximas legislativas com maioria absoluta, como o PSD seria relegado para um segundo plano da política nacional, mantendo-se afastado do poder durante vários anos.
O PEC ontem não foi discutido. Foram sim discutidas as ditas resoluções que ao serem todas chumbadas, determinaram que ao não haver uma alternativa viável o PEC proposto pelo actual Governo demissionário não poderia ser aprovado. José Sócrates ficou sem alternativa, restando-lhe apenas apresentar a sua demissão como tinha prometido. A verdade é que no debate de ontem à tarde na Assembleia da República, muito foi falado, muito foi criticado, mas poucas ou nenhumas soluções ou sugestões para a resolução da crise foram apresentadas. É fácil criticar, qualquer um o pode fazer, mas até ao momento, apenas o PS apresentou soluções e teve coragem para as implementar.
No rescaldo da noite de ontem, a primeira proposta de que o PSD se lembra, já em jeito de preparar a próxima campanha eleitoral, é de aumentar o IVA para 24 ou 25% de forma a salvaguardar as reformas e pensões. Ora, uma pessoa idosa a receber pouco mais que o rendimento mínimo já agora mal tem dinheiro para pagar os medicamentos e a alimentação, imaginem se o preço destes aumentar.
O problema, como sempre, está na desinformação do povo que acabará por naturalmente votar PSD só para experimentar algo diferente, sem se preocuparem em conhecer quais as suas políticas, e muito menos de as comparar com o actual PEC proposto pelo PS. Menos hipóteses terão os socialistas se José Sócrates se voltar a recandidatar. O povo vê em Sócrates a face da actual crise. E se o faz é por um bom motivo, porque de todos, ele foi o único que se sujeitou a dar a cara para implementar os passos necessários para a resolução da actual situação do país.
As políticas são severas? Paciência, a situação também o é. Se não estamos tão mal como a Grécia é porque Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças, agiu atempadamente aquando da crise imobiliária nos EUA. Por mais incompetente que José Sócrates possa ser, a verdade é que há gente competente no seio do seu Governo e é nessas pessoas em quem devemos acreditar.
Em vez de se queixarem continuamente da situação e de esperarem que tudo se resolva, mexam-se. Ajam! Não sejam meros reaccionários, aceitem as medidas que o vosso país vos pede e ajudem Portugal a sair da crise, mas não o façam de ânimo leve. Informem-se, procurem melhores condições se não estiverem satisfeitos com as que têm. Protestem quando o motivo para o fazerem tem valor e é fundamentado, não façam parte de uma oposição só porque sim.
A entrada do Fundo Monetário Internacional (FMI) é ainda evitável e não é algo que se deva desejar. Se aceitarmos ajuda do FMI teremos algum tempo para respirar um pouco melhor, mas mais cedo ou mais tarde a tremenda dívida externa que daí resultará, irá forçar-nos a maiores cortes, a subidas de preços exorbitantes, a racionamento dos bens essenciais, e a despedimentos em massa. É esse o futuro que o PSD propõe. É esse um futuro com o qual são capazes de viver?
Nas próximas legislativas votarei PS. Não me importo de remar contra a corrente de forma a defender aquilo que acho melhor para o país neste momento, mesmo que não concorde por completo com as suas políticas ou ideologias. Este é o meu sacrifício.
2 comments:
Belo texto, não podia concordar mais com o que aí está.
Não concordo com tudo, mas muito do que aqui está está correcto a meu ver. Neste momento difícil o melhor é aceitar trabalhar em conjunto e não andar aí a mandar bitaites sobre quem tem responsabilidades ou não como andam a fazer os nossos amigos da assembleia.
Espero que independentemente do que possa acontecer o Teixeira dos Santos fique, nunca conheci um político que fosse tão elogiado pelas pessoas que têm que seguir as suas medidas, afinal, ele era o Super-Ministro.
(tanto texto!)
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