Wednesday, March 30, 2011

Até ao Lavar dos Cestos é Vindima

Desde 2003 que fazer compras online deixou de ser um bicho-de-sete-cabeças para mim. Hoje em dia é raro fazer qualquer compra sem primeiro verificar se fica mais barato recorrer à loja online, seja ela portuguesa ou internacional. Embora não seja um comprador compulsivo, já fiz um certo volume de encomendas que me permitem ter total confiança no meio. Contudo, há sempre uma ou outra excepção que confirma a regra.

Sem querer dar um passo maior que a perna preferi, inicialmente, jogar pelo seguro e encomendar apenas em lojas nacionais que disponibilizassem um serviço de pagamento à cobrança nos correios. A loja escolhida foi a CDGO.com, uma loja de música online sediada no Porto, com uma vasta colecção de bandas e algumas raridades importadas. Apesar de viver em Ovar, ainda não tinha motivos para ir ao Porto com uma frequência que me permitisse comprar directamente na loja. Em certos casos, inclusive, a encomenda tinha que ser feita por um revendedor internacional, portanto, não era necessário deslocar-me lá quando podia fazer tudo isso dentro do conforto da minha casa.

A maioria das encomendas que fiz chegaram a tempo e em perfeitas condições. A maioria, pois algumas acabaram por nunca chegar. Fosse por falta de stock na loja ou por já não estarem disponíveis para venda junto dos revendedores, até hoje, nunca as recebi. Contactei a CDGO, explicaram-me a situação e passado algum tempo acabei por cancelar as encomendas.

Não tardei a subir a parada e a aventurar-me em sites de outro campeonato. Amazon, eBay e Play.com são alguns exemplos das minhas primeiras escolhas para comprar online de forma segura, e com uma boa relação qualidade/preço. Dos Estados Unidos à Malásia, a verdade é que há objectos no meu quarto que já viajaram bem mais que eu. Mas, curiosamente, o Reino Unido é o único destino do qual surgiram complicações, ora não fosse este o país de origem da grande maioria das minhas encomendas.

O primeiro caso foi ainda nos primórdios da minha relação com a Amazon. Estava à procura de um single de edição limitada. Encontrei uma loja associada à Amazon que o vendia e fiz a encomenda. Até aqui tudo bem. Dias mais tarde recebo um e-mail do vendedor a dizer que o artigo estava esgotado e a perguntar se eu queria um reembolso. Eu respondi a dizer que não tendo aquele single podiam enviar-me outro de igual valor. A resposta dele resumiu-se a isto: Já fizemos o reembolso. Não fiquei propriamente chateado com a situação e inclusive acabei por encontrar o single que queria noutra loja, contudo, não lhe teria ficado nada mal tomar em consideração a troca que sugeri em vez de agir imediatamente para o reembolso.

Seguiu-se o eBay e um vendedor ainda menos talentoso na arte da relação com os clientes. Fiz uma encomenda, paguei mais do que o que estava indicado pelos portes e aguardei. Na página do artigo indicava que o prazo de entrega era entre cinco a sete dias. Esperei duas semanas e nada. Contactei o vendedor e perguntei pelo estado da encomenda, ele tratou-me com condescendência e chamou-me de impaciente. Dei-lhe feedback negativo, ele ripostou de igual forma. A encomenda eventualmente chegou com um atraso de quase três semanas.

Chegámos a acordo para um reembolso de sete libras pelo atraso e concordámos em retirar os feedbacks negativos. Estes foram de facto retirados, já as sete libras, nunca as vi.

Quem espera sempre alcança. Em nenhum caso este provérbio se aplica melhor que no único que me falta contar. No passado dia 21 de Março de 2011, uma segunda-feira igual a qualquer outra, cheguei a casa e fui recebido com a seguinte notícia: Os correios trouxeram uma ordem judicial para ti. Entrei em pânico, teria cometido alguma ilegalidade sem me aperceber? Não. A ordem era para que eu, se assim quisesse, apresentasse queixa aos correios por uma encomenda que recebi com um atraso de quase dois anos!

Em 2009 encomendei um DVD através de um vendedor da Amazon. O tempo passou e ele nunca chegou. Falei com o vendedor que me confirmou que o artigo tinha entrado em Portugal mas que não tinham nenhuns dados acerca da sua localização. Aguardei mais uns dias e pedi o reembolso que recebi de imediato. O tempo passou. Por vezes senti-me tentado em voltar a comprar aquele DVD mas não encontrava nenhum por um preço acessível. Contava esta história sempre que o assunto das compras online surgia e guardei em mim a ideia que um dia aquele DVD ainda me ia aparecer à porta.

Cheguei mesmo a ouvir o rumor que havia um estafeta que andava a roubar cartas e que tinha mesmo sido preso na altura em que fiz a encomenda. Pobre homem que pelo menos desta não é culpado. Enviado do Reino Unido no dia 18 de Maio de 2009 o DVD chegou apenas no dia 21 de Março de 2011. O mesmo que dizer que demorou 672 dias a chegar a minha casa! Esteve perdido nos CTT e apenas o encontraram porque há umas semanas tinha feito outra encomenda, também da Amazon, que já vinha com um atraso de alguns dias e que, provavelmente, foi enviada para o mesmo sector de tratamento de entregas.

Há males que vêm por bem. Apesar do atraso de quase dois anos, acabei por não ter que pagar pela encomenda, tudo isto graças à incompetência dos CTT. Contudo, tenho que lhes louvar por apresentarem a ordem judicial. Seria de esperar que destruíssem o artigo para não terem que arcar com as eventuais consequências, ou que o entregassem sem quaisquer justificações na esperança que a pessoa nem sequer pensasse em apresentar queixa.

Preferi não ir em frente com a ordem judicial, apesar de tudo, o artigo estava em perfeitas condições e, não fosse por este atraso, teria pago por ele cerca de oito libras na altura. É engraçado ver como a sabedoria popular ainda hoje tem os seus momentos. Num dia perfeitamente normal, quando já me tinha esquecido da encomenda, esta história teve o seu final há muito aguardado.

Boas coisas chegam a quem por elas espera, pois quem espera sempre alcança. Mais vale tarde do que nunca, portanto, mesmo quem espera e desespera deve sempre ter em mente que até ao lavar dos cestos é vindima, e que as melhores coisas acontecem quando menos esperamos.

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