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É deveras triste, se não mesmo frustrante, sermos privados das coisas que mais gostamos, mesmo que estas sejam prazeres recentemente descobertos. É raro da minha parte invejar algo que outros possam ter e eu não, mas neste caso não me posso conter. O sentimento de injustiça fala mais alto do que a razão, e quando o paladar teima em entrar ao barulho, nada posso fazer se não ceder aos seus desejos. Bom, na verdade não é bem assim, já que por mais forte que seja a sua vontade, não há forma alguma de eu lhe concretizar este desejo, pelo menos, não por enquanto.
Foi apenas no Verão passado que devido à minha velha curiosidade em provar manteiga de amendoim, trouxe do Continente um jarro de Nutella. Certamente, sentem-se agora algo confusos, a pensar se me terei enganado ou se de facto a Nutella é manteiga de amendoim e não uma mistura de avelãs com chocolate. Tudo ficará claro a seu tempo.
Na minha visita anterior ao já referido hipermercado, trouxe um jarro de manteiga de amendoim e pão fatiado para ter algo no qual a barrar. Mal cheguei a casa, nem dei tempo para arrumar as coisas, abri o jarro e barrei manteiga de amendoim em duas fatias de pão, as quais uni numa sandes, que comi dolorosamente.
Dolorosamente, pois a manteiga de amendoim acabou por ser uma verdadeira desilusão. Esperava algo mais doce e não tão salgado. Mas, sendo salgado, que o fosse mesmo e não tão doce como é. Recorri à Internet e a pessoas já experientes na arte de comer manteiga de amendoim para descobrir alguma forma de a tornar numa experiência agradável, e de justificar os dois euros mais alguns trocos investidos no dito jarro.
Rapidamente descobri os erros presentes no meu processo de barrar a manteiga de amendoim no pão. Erro número 1: nunca usar demasiada manteiga de amendoim, pois esta em grandes quantidades pode ser enjoativa. Erro número 2: barrar algum tipo de geleia juntamente com a manteiga de amendoim. Talvez agora comecem a perceber onde eu queria chegar com a afirmação inicial que me obrigou a desviar tanto do tema que neste momento terei deixado o caro leitor com mais dúvidas do que propriamente respostas. Boas coisas vêm a quem espera.
Na já referida ida ao Continente, fui novamente à zona das compotas e geleias procurar alguma que pudesse dar outro sabor à manteiga de amendoim que ainda hoje descansa num armário da cozinha a definhar sem qualquer uso. Apesar da já habitual compota de amoras silvestres me piscar o olho, desmotivado por a ter que partilhar com aquela coisa salgada que não é salgada de tão doce que é, desviei o olhar da prateleira das compotas e observei o corredor que me rodeava.
Os meus olhos cansavam-me de tanto verde e preto, intercalados pelo ocasional cor de laranja, numa exposição de cores monótonas. Mas tal sensação não durou muito tempo. Os meus olhos acabaram por repousar sobre uma jarra de Nutella. Nunca tinha provado, mas tinha bom aspecto. Na minha infância era grande fã de Tulicreme, mas mesmo isso era raro provar. Na onda de experimentar coisas novas que assolava as já habituais idas às compras, decidi experimentar a Nutella, em vez da compota.
Quem sabe, talvez Nutella seja bom com manteiga de amendoim. Ainda não fiz tal experiência, mas também de momento não me é possível fazê-lo. Com ou sem manteiga de amendoim a verdade é que adorei Nutella e não mais fui capaz de esquecer aquele sabor que não desvanece do meu paladar desde o momento que comecei a escrever este texto.
A verdade é que invejo aqueles que podem hoje saborear Nutella, pois eu não posso. Há algo que pouca gente sabe sobre a Nutella, e que nem sequer vem como aviso na embalagem. A Nutella não se aguenta no estado líquido durante o Inverno. Sim, é verdade, se a temperatura é menor que dez graus a Nutella solidifica e fica impossível de barrar, já para não falar que o próprio sabor deixa de ser o mesmo.
É da minha opinião que tal como o Ferrero Rocher, que deixa de ser vendido no Verão pois o calor estraga o seu chocolate, a Nutella devia ter pelo menos um aviso de que não se conserva no estado líquido durante o Inverno. Também é verdade que este problema não acontece com todos aqueles que a compram durante o Inverno, daí a inveja que não consigo dissipar.
Pessoas com aquecimento central ou algum método de manter as casas quentes durante o Inverno, sem ser através de aquecedores que pouco mais aquecem que uma pequena área ao seu redor, podem usufruir do sabor da Nutella durante esta altura.
Como em minha casa não há nenhuma dessas acomodações, tenho que esperar até à Primavera para poder, de novo, saborear a doce Nutella. Não me preocupo com as frieiras, não quero saber da dura batalha que é deitar-me sempre que alguém se esquece de ligar o aquecedor do meu quarto, ou de enrolar o pijama nele como deve ser.
Nada disso importa. Apenas quero voltar a sentir o prazer de duas fatias de pão recheadas com aquele creme sedoso de avelãs e chocolate. Perdoem-me, mas até o tempo aquecer o suficiente, irei odiar todos aqueles que a podem ter nestes meses em que nada mais posso fazer, que sonhar com o dia em que haverá Nutella para barrar.
4 comments:
Imagina todos estes anos em que andaste a perder tempo com o Tulicreme e vais ver que passa rápido! :)
eu não acredito que nunca tinahs comido Nutella. Eu devo ser das maiores fãs. Há uns bons anos atrás comia Nutella à colher. Isso sim, é maravilhoso!!!
E eu pergunto: como conseguiste escrever tantas linhas sobre a Nutella??
:P
Adorei a inspiração retórica ao redor do tema "Nutella". Devo também confessar que fiquei a saber umas coisas em relação à manteiga de amendoim que também comprei há já bastante tempo e permanece esquecida no frigorífico, possívelmente até já passou o prazo...
Já agora, permite-me só uma pequena rectificação...a Nutella é feita com avelãs e não com nozes.
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