Sunday, December 23, 2012

O Regresso da Véspera da Véspera de Natal Parte VI


366 dias, 42 bilharacos, 29 apocalipses, 12 contas de somar, 4 lentes desreguladas, um Mindo e 0 pencas depois, está de regresso a véspera da véspera de Natal. Sim, depois de um longo ano de espera, o momento mais epicamente aguardado de todo o sempre está de regresso. E desta vez promete igualmente nada, como sempre o fez!

Vasco da Gama estava na corte de D. João II. Este sentava-se num trono feito de espadas fundidas, constantemente a queixar-se das picadelas que sofria no seu real rabiosque.

“Vasco, amanhã vais zarpar rumo à terra desconhecida chamada Brasil que tu irás descobrir”, disse. “Mas isso não era o outro gajo?”, perguntou Jesus, o Jorge, que passava por ali. “Ó pá, vai mas é cortar o cabelo”, responde Jesus, o Cristo, que trazia consigo a nova táctica para os lances de bola parada do Moreirense.

“Ei, ó Boss, amanhã não me dá lá muito jeito, tenho uma consulta às 15h e já está marcada há uns dois meses”, respondeu o Vasco.

“Bom, então zarparás no dia seguinte.”

“No dia seguinte também não posso, tenho que ir à Junta pagar o saneamento, é o último dia e tal.”

“Porque é que não vais amanhã depois da consulta?”

“Não dá porque a Junta fecha às 16h, e já sabe como é que é no Centro de Saúde, um gajo chega lá às 15h e se tiver despachado às 16h30 já vai com muita sorte.”

“Então, e não podes ir à Junta de manhã?”

“De manhã, de manhã… Também não dá. O Continente amanhã está a fazer desconto de 50% no bacalhau e convém ir cedo antes que esgote. Se não ainda acontece como no Primeiro de Maio e vou ter que andar lá à porrada com uma dona-de-casa para conseguir uma ou duas postas. Depois disso ainda tenho de ir almoçar a casa. Como sabe ainda não inventaram os carros e um gajo para andar de trás para a frente, ainda mais carregado com as compras, ainda são precisas algumas horitas para tratar disso tudo.”

A conversa é interrompida pelo Eusébio que aparece de súbito na corte. “Vasco, agarra a minha toalha!” O Vasco agarrou na toalha do Eusébio e gritou “Aventura”, os dois foram teletransportados dali para fora (o Word disse-me para ponderar o emprego de uma expressão alternativa, bitch please!).

Vasco, Eusébio, a toalha, Jesus, o Cristo, e o Afonso Henriques dão por si na terra desconhecida chamada Brasil. “Isso é subjectivo, cara!”, diz o Mindo que os viu a aparecer do nada e no entanto não ficou intrigado pelo que se acabou de passar.

“Agora é que me lixaste Eusébio, como é que vou chegar a tempo da minha consulta?”

“Se era no dentista podes pedir a esse tipo aí, pode ser que te ajude.”

“Isso é subjectivo”, respondeu o Mindo. O narrador aproxima-se do Mindo e pergunta-lhe: “Não sabes dizer mais nada?” “Isso é…” Antes que o Mindo pudesse responder o narrador espetou-lhe alto tabefe nas fuças para ver se ele acordava.

“Isto é assim pessoal, não sei o que fazer convosco. Esta história já tem uns anitos e acaba sempre por não fazer sentido nenhum”, respondeu o narrador.

O Afonso Henriques pega na sua espada de 5 metros e na sua armadura de lobo negro para ir processar umas certas pessoas que copiaram o seu estilo. “Vêem? Nada disto faz sentido!” 

“Isso é subjectivo”, respondeu o Mindo.

“E a minha consulta?”, gritou o Vasco.

“Vá, peguem todos na toalha”, pediu o Eusébio.

“Terra”, disse o Eusébio.

“Fogo”, disse Jesus, o Cristo.

“Vento”, disse o Afonso Henriques.

“Água”, disse o Mindo.

“Coração”, disse o Vasco.

“Pelos vossos poderes combinados, eu sou o Capitão Planeta”.

Vasco, Eusébio, Jesus, o Cristo, Afonso Henriques, o Capitão Planeta e a toalha são teletransportados de imediato. O Mindo fica por ali a comer umas pencas, desinteressado no que se acabou de passar.

De regresso à corte, Vasco conta a D. João II que já descobriu a terra desconhecida chamada Brasil. D. João II não parece muito convencido.

“Demoras mais tempo a encontrar a Junta que a terra desconhecida chamada Brasil?”, perguntou D. João, segundo de seu nome.

“Em Moçambique Kutama quer dizer emigrante”, disse o Eusébio.

“É o seguinte malta, eu depois de amanhã faço anos e como curto ser diferente do resto do pessoal, a festa começa já amanhã”, interrompeu Jesus. “Depois do Vasco voltar da consulta, vamos todos para minha casa partir vinho e beber pão. Vai ser brutal moço!”

Todos concordaram em aparecer lá por volta das 18h para preparar o jantar. Todos excepto o Capitão Planeta que depois de sugerir levar umas quantas pencas que o Mindo lhe deu, foi expulso da corte para ir salvar uns quantos Dodós antes destes se extinguirem outra vez.

E chegou assim ao fim mais uma aventura do quinteto fantástico. Lembrem-se, celebrem sempre o 23 como se fosse o último, nunca se sabe quando o Fim do Mundo se voltará a repetir. Além do mais, ainda vos aparece o Mindo em vossa casa com umas pencas para o cozido. E caso ele apareça, dêem as mãos e cantem numa só voz:

Morram pencas, morram! Pim!

Friday, December 21, 2012

Two fries short of a Happy Meal

Foto: Adriano Cerqueira
Duzentos e setenta e cinco. Sim, duzentos e setenta e cinco. Não acredito que acabei na página duzentos e setenta e cinco. 

Todos temos uma lista de objectivos que um dia esperamos concretizar. Escalar uma montanha, fazer bungee jumping, skydiving, rafting, ou outro tipo de desporto radical, visitar um país longínquo, comer algo exótico, ir ao Espaço, ou algo mais simples como encontrar a melhor francesinha fora do Porto, actualizar o teu blogue todos os dias durante uma semana, escrever um livro, plantar uma árvore, passar um dia sem misturar termos ingleses na tua conversa, aprender a falar Russo fluentemente, e até mesmo ler um livro inteiro num único dia. Ontem estive perto de alcançar este último.

Dividi o meu dia entre Porto e Lisboa. Sabendo à partida que ia passar pelo menos seis horas dentro de um comboio, mais umas cinco horas de espera em Lisboa com muito pouco para fazer, decidi levar um livro comigo para me acompanhar durante a viagem. Como apenas me restavam cerca de cem páginas para terminar de ler A Dança dos Dragões, de George R. R. Martin, achei que não o devia trazer comigo, pois acabaria por o terminar antes sequer de embarcar no Intercidades.

Decidi então pegar num dos livros que guardo num montinho ao qual gosto de chamar, “lista de espera”. Já planeava lê-lo após terminar A Dança dos Dragões, por adivinhar que a minha encomenda do décimo livro da versão portuguesa de A Song of Ice and Fire não deve chegar ainda este mês. O meu companheiro de viagem intitula-se Evolução e Criacionismo: Uma Relação Impossível da autoria de Augusta Gaspar com a intervenção de outros colaboradores como a Teresa Avelar e o Octávio Mateus.

Escolhi este livro maioritariamente porque após estes longos meses de constante convivência com o mundo de fantasia da mente de George R. R. Martin, estou a precisar de uma séria dose de realidade e de conhecimento. Já no intervalo entre O Mar de Ferro e A Dança dos Dragões, quebrei o jejum com o The Greatest Show on Earth de Richard Dawkins, também este um livro sobre Evolução.

Só na viagem para o Porto, à qual terei que juntar as duas horas de espera que dividi entre o Campus São João e a Estação de Campanhã, consegui chegar à página noventa sem grandes problemas. Sem querer iniciar uma crítica exaustiva ao livro, embora não o considere uma grande obra literária, está escrito com uma boa fluidez e com uma simplicidade de argumentação capaz de cativar qualquer interessado na matéria, ao mesmo tempo que procura ensinar os leigos sobre o que é a Evolução e sobre os problemas que os fanáticos do Criacionismo estão a causar à investigação científica séria que é feita nesta área.

Quando cheguei a Lisboa já tinha chegado à página cento e setenta e sete. Após algumas horas de “descanso” e de outros afazeres, retornei a leitura pouco depois do jantar. Quando o comboio de regresso a Ovar finalmente chegou, tinha acabado de ultrapassar a página duzentos. “Duas horas e meia de viagem, há vinda tinha conseguido ler cerca de cem, isto vai ser canja”, assim pensei. Mas o dia já ia longo e subestimava o meu real nível de cansaço. Ainda assim, aguentei-me firme até ao último instante. Quando o comboio parou em Aveiro, já sabia que não seria capaz de chegar ao fim, mas não desisti de ler. Quase que me senti tentado a saltar alguns parágrafos, mas não existe qualquer mérito em fazer batota.

Tinha acabado de passar o apeadeiro de Válega quando finalmente desisti. Estava na página duzentos e setenta e cinco. Tão perto e, contudo, tão longe. Sim, podia ter continuado a ler em casa, mas mal entrei, corri logo para a cama.

Não foi desta que li um livro inteiro em um dia. Não sou “papa-livros” como já ouvi alguém dizer. No máximo sou capaz de ler cem páginas em um dia, e apenas se o livro me cativar. Mas sempre admirei aqueles que são capazes de “engolir” um livro de quinhentas páginas em menos de vinte e quatro horas seguidas. Já eu contentava-me com um de duzentas e noventa, mas agora vejo que escolhi mal o dia e o local para o fazer. Pelo menos fico com a consolação de poder juntar mais uma obra para os Cantos da Minha Estante de 2012, além do prémio que é todo o conhecimento que um livro como este me fornece.

Confesso que hoje ainda não peguei nessas quinze páginas que me restam, nem tão pouco nas cem de A Dança dos Dragões. Talvez o faça amanhã, talvez noutro dia. O mais importante é que não sinto que tenha “morrido na praia” mas sim, que descobri quais os meus limites e que com mais um pequeno esforço sou bem capaz de os ultrapassar.

Além disso, hoje posso orgulhosamente afirmar que com esta crónica, posso agora riscar da minha lista a tarefa de “actualizar o meu blogue todos os dias durante uma semana”.

Thursday, December 20, 2012

Seguro Social Voluntário

Imagem DR
A vida de um bolseiro não é tão glamorosa como muitos podem pensar. Para alguém com ensino superior, ainda é uma das poucas formas de conseguirem um emprego com um salário relativamente adequado às suas competências e formação. Contudo, se pusermos de lado o valor, tudo o resto é tão ou mais precário que qualquer outro pseudo-emprego.

Sim, os bolseiros não pagam impostos. O IRS é uma sombra de um futuro distante e os descontos para a Segurança Social, esses, apenas existem sob o regime do Seguro Social Voluntário. Mas já lá vamos. Vamos começar pelos subsídios. Sejam eles de Férias, de Natal ou até mesmo de refeição, a nenhum têm eles direito. Têm direito sim, a 22 “dias de descanso”. E chamam-se dias de “descanso”, pois se fossem de “férias” teriam que ser subsidiados. Impensável na mente de qualquer empregador.

Trabalham doze meses, alguns deles com cinco semanas, mas recebem sempre como se apenas tivessem quatro. Mas como “descansam” durante 22 dias, para quê receber o 13.º mês?

Seguro de saúde, pelo menos a esse, por enquanto, ainda têm direito. Por quanto tempo, não sabemos, mas até lá ainda vão poder curar-se de qualquer doença que os aflija. E por falar em seguro, retomemos então o Seguro Social Voluntário. Sim, porque ele apesar de se apresentar como uma necessidade básica e até mesmo obrigatória de qualquer emprego “a sério”, para estes é apenas voluntário. Podes escolher entre pagar e ter alguns direitos, ou não pagar e não teres nenhum.

Para que serve então este Seguro Social Voluntário? Visto que ele é equivalente aos descontos para a Segurança Social, devia servir para teres direito a Subsídio de Desemprego assim que a tua bolsa termine. Afinal um bolseiro trabalha tanto ou até mais que qualquer outro trabalhador. Devia servir, mas não serve.

O Seguro Social Voluntário serve apenas para descontar para a Caixa de Aposentação, ou para teres direito aos subsídios de parentalidade ou de doença. Se entretanto ficares desempregado, o estado dir-te-á “azar, e até uma próxima”. Vá, podes sempre tentar pedir o Subsídio Social de Desemprego. Mas antes é melhor esvaziares a tua conta do banco e ires viver sozinho. Afinal de contas és um bolseiro desempregado, deves ter dinheiro suficiente para sustentar uma casa. Caso não o faças, se eles encontrarem um cêntimo que seja escondido debaixo do teu colchão tiram-te o subsídio num abrir e piscar de olhos.

Mas não te preocupes. Tens direito a receber uma carta em português macarrónico com a palavra Indeferido a negrito algures lá pelo meio. Não, não te estão a convidar para veres um jogo da Liga dos Campeões na TVI depois deste já ter terminado. Eles apenas querem que vás bater a outra porta pois dali não vais ver um único tostão.

Vale então a pena descontar para o Seguro Social Voluntário? Se o teu Instituto te cobrir o custo (creio que apenas alguns o fazem), não tens nada a perder. Caso contrário, cabe a ti decidires se vale a pena pagar cento e poucos euros por mês para um dia, possivelmente, teres direito a uma reforma. Nunca se sabe, podes até querer ser pai ou ficar doente um dia destes, e aí o Estado terá que mexer mais cordelinhos para não te pagar aquilo que te é devido.

Mas quanto ao Subsídio de Desemprego. Esse, podes esquecer e depressa. Mas vá, poderás usar esses anos para te reformares mais cedo. Talvez aos 70, em vez dos 80 e poucos.

Para finalizar, e adoptando agora o tom sério que esta crónica merecia ter desde o início, os bolseiros são severamente mal tratados pelo Estado. O Estatuto do Bolseiro de Investigação deve ser revisto e adaptado à realidade do país. Se os Estágios Profissionais que actuam em regime de pseudo-aprendizagem têm direito a descontos para a Segurança Social e a pagar o IRS, porque devem as bolsas continuarem a ser postas de lado como se não passassem de investimentos luxuosos da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia)?

As bolsas de investigação são hoje em dia a única alternativa viável de emprego para muitos recém-licenciados e mestres do ensino superior português. Se continuarem a tratar os bolseiros como trabalhadores de segunda e a negar-lhes o direito ao subsídio de desemprego e a outros descontos e regalias sociais, como esperam que a investigação científica cresça e evolua em Portugal? Já muito é feito hoje em dia com baixos recursos e à custa de parcerias europeias. Portugal tem que aumentar os esforços para manter os seus cientistas, os seus licenciados, os seus mestres e os seus doutorados, dentro das suas fronteiras de livre vontade e com as condições salariais e de trabalho adequadas às suas funções.

O segredo para o crescimento económico e para a inovação tecnológica está na massa cinzenta das nossas universidades, nos milhares de formandos que todos os anos investem na sua educação e em projectos de investigação. Dêem-lhes as condições necessárias para terem uma boa vida cá. Para que quando forem lá para fora saibam dizer bem de nós e que o façam sempre com o desejo de um dia regressarem para ocupar o lugar que é seu de direito.

Basta de ignorar as necessidades dos bolseiros. Basta de virar as costas aos seus pedidos. É necessário criar uma base de igualdade para todos os trabalhadores, sem excepção. Sejam eles estagiários, bolseiros, trabalhadores a recibos verdes, empregados com contracto a termo ou vitalício. Todos devem ser regidos por uma base social que salvaguarde os seus direitos, assim como os seus deveres, durante e após o período de emprego. Só assim seremos capazes de crescer, só assim seremos capazes de levantar a nossa economia e de fazer com que ela avance de cabeça erguida, reforçada por uma força laboral coesa e motivada. Só assim, e pegando nas palavras de Fernando Pessoa, só assim se fará Portugal!

Wednesday, December 19, 2012

Querido Pai Natal

Foto: Adriano Cerqueira
Há já algum tempo que não te escrevia. Aliás, segundo os meus arquivos, já passaram quatro anos desde a última carta que te enviei. Quatro anos… Estávamos em 2008 e eu não sabia nada. É difícil descrever como me sinto neste momento. Hoje à tarde, enquanto tentava encontrar a inspiração para ressuscitar a Rádio da Rádio, sentia uma presença acusatória, pesando a minha consciência pelos dois anos de inactividade do meu podcast.

Pior que deixar de lado um projecto que prometeste levar em frente, só mesmo esqueceres-te de alguém que durante tantos anos esteve sempre ali, pronto para te ouvir. Não espero que me perdoes após uma ausência tão prolongada, nem irei implorar pelo teu perdão. Não o mereço. Simplesmente, não o mereço. Já na segunda-feira a minha professora de Russo dizia que eu ia receber um pedaço de carvão pelo Natal por não ter feito o trabalho de casa. Se fosse esse o meu único pecado, não estaria neste momento a sentir-me como se aguentasse por um fio todo o peso da reserva mundial desse extracto do Carbonífero.

Este ano queria pedir-te claridade, não na sua expressão física, mas sim claridade de pensamento. Claridade para decidir. Para me guiar. Para escolher. Para compreender. Queria, mas não o farei. Não o faço, não por duvidar da tua capacidade de me ofereceres essa prenda, mas sim por não merecer qualquer gesto da tua parte. Não após este silêncio. Não após quatro anos de ausência.

Vejo agora que cabe a mim descobrir a minha própria fonte de claridade. Não posso depender de desejos, de sonhos ou de esperanças, mas apenas de mim próprio. Não posso depender de ti Pai Natal. Não podes ser o meu Avô Frio este ano. Não podes.

Não te vou prometer que todos os anos me lembrarei de ti. Estaria a mentir se o fizesse. Vou tentar não te deixar novamente tanto tempo à espera da minha resposta. Vou tentar. Tentar implica a possibilidade de não o cumprir. É mais fiável que uma promessa, é mais honesto, mais realista. É tudo aquilo que eu não quero ser.

Quero magia, ilusão, emoção, diversão, calor, amor. Quero um Natal feliz. Já viste a minha Árvore de Natal? É pequena mas é das melhores que esta casa já viu. E o presépio está tão bem iluminado. Haverá melhor presente para o menino Jesus que uma fresca tangerina? Quero cantar canções de Natal. Novas e Antigas. Clássicas e Modernas. Cristãs e Pop. Quero comer rabanadas, bilharacos, bolo-rei e Pão-de-Ló (de Ovar, apenas de Ovar, nada dessa secura de ovos de Felgueiras). Quero enviar postais de Natal, recebê-los e pendurá-los em frente à lareira.

Quero desejar-te um Feliz Natal. Quero desejar-to a ti e a todos aqueles que me são próximos. Quero que todos recordem este Natal com nostalgia e felicidade. Mas acima de tudo, quero que o teu Natal seja tão feliz como o meu. Não precisas sequer de me responder. Contento-me apenas em saber que os meus desejos de boas festas chegaram aos teus ouvidos. Até uma próxima. Até ao nosso reencontro!

Feliz Natal.

Tuesday, December 18, 2012

Primeval: New World

Imagem DR
Os fãs da série britânica Primeval devem ter ficado exaltados quando foi anunciado que a estação canadiana Space ia produzir um spin-off para o mercado norte-americano. Eu reagi a esta notícia com algum entusiasmo, misturado com ansiedade para ver o resultado do produto final. Finalmente íamos ter uma temporada de Primeval com mais do que seis ou dez episódios por ano.

O resultado desta transferência transatlântica chama-se Primeval: New World, que estreou no passado dia 29 de Outubro. Com a emissão do oitavo episódio, a versão americana de Primeval entra agora em férias de Natal ainda sem data prevista para regressar. De uma encomenda original de 13 episódios – ainda não existem rumores sobre a possibilidade de mais episódios virem a ser produzidos – ainda teremos pelo menos mais cinco episódios para ver em 2013.

No final dos primeiros dois meses de emissão, tenho a dizer que a versão novo-mundana de Primeval deixa muito a desejar. New World, conta a história de Evan Cross, cientista e empresário, que ao investigar a origem de uma anomalia electromagnética é atacado por um Albertosaurus. Evan presencia então a morte da sua mulher sem ele poder fazer nada para a evitar. Como presidente da Crossphotonics, uma empresa de relevo na área do desenvolvimento de software e tecnologia, Cross decide dedicar a sua vida a estudar as anomalias e a tentar prevenir que outra tragédia como a que aconteceu à sua mulher se volte a repetir. Uma premissa bastante similar à da primeira temporada de Primeval, antes de ser criado o Anomaly Research Centre (ARC) e deles passarem a ter apoio governamental em larga escala para fechar as anomalias e proteger a população das criaturas que por elas atravessavam.

Visto New World tratar-se de um spin-off e não de uma série completamente nova, é natural que seja comparada à sua predecessora e que, consequentemente, seja vítima de escrutínio por parte dos seus fãs. Mas por mais objectivo que tente ser na análise a esta série, não a consigo deixar de ver sem um filtro condicionado pelo Primeval original.

O episódio piloto de New World prometeu bastante. Os actores ainda estavam um pouco em bruto, mas a acção e o ambiente de Primeval estava lá. Até o regresso de Connor Temple, a fazer a ligação com a linha narrativa da série britânica e a servir de instrumento de exposição para o Evan Cross, foi uma jogada de génio. Não há nada de pior do que quando um spin-off tenta desligar-se por completo da série que lhe deu origem como se esta nunca tivesse acontecido. Ou pelo menos parecia ser esse o caso.

Além desse primeiro aparecimento do Connor, não voltou a haver qualquer referência ao que se passa do outro lado do Atlântico, e o mistério sobre o ARC ainda se mantém. Compreendo que seja necessário tirar as rodinhas e deixar New World aprender a pedalar e a manter o equilíbrio sozinho. Contudo, o primeiro episódio deixou demasiadas questões em aberto que até agora têm simplesmente sido ignoradas.

Foi necessário esperar pelo último episódio antes do hiato de Natal para nos serem apresentadas algumas respostas, e para vermos um maior desenvolvimento da mitologia da série. A este ritmo, não estou a ver New World a conseguir sobreviver ao mercado norte-americano quando finalmente for emitida nos EUA. Embora ainda sem dados oficiais, esta série tem tido uma presença modesta na televisão canadiana. O episódio de estreia teve apenas 300 mil espectadores no Canadá, o que, quando comparado com os 7 milhões que assistiram à estreia do Primeval original no Reino Unido, deixa muito a desejar.

Os personagens até este ponto têm sido bastante superficiais e todas as tentativas de lhes dar alguma profundidade falharam redondamente até este último episódio. A própria acção também ficou aquém das expectativas. Embora esta série aposte fortemente em dinossauros – ao contrário da série britânica que recorreu muitas vezes a seres do cenozóico ou do paleozóico, e que chegou mesmo a inventar criaturas que não se encontram no registo fóssil ou que pertencem a épocas futuras – a forma como estes reagem quando são capturados, a sua estratégia de ataque e o seu comportamento no geral é muito pouco realista e demasiado óbvio.

Compreendo que para o mercado americano faça mais sentido usar dinossauros em vez de répteis, aves, insectos ou mamíferos extintos, visto que o seu público está mais familiarizado com as espécies, contudo, uma maior diversidade entre as criaturas que saem das anomalias também não faria mal. Pelo menos New World não classifica erradamente répteis do Pérmico como “dinossauros”, como chegou a acontecer com Primeval.

Não posso dizer que esteja inteiramente desapontado. Ao contrário do típico fanático impaciente, eu gosto de ver cuidadosamente uma série no seu todo antes de desistir por completo de a ver. Contudo, New World, até agora, tem estado bastante aquém das expectativas.

São necessárias mais referências a Primeval. Alguém do ARC tem que intervir e mostrar ao grupo de Evan Cross todo o mundo de pesquisa e protecção contra as anomalias que foi desenvolvido ao longo dos últimos anos. Os personagens têm que ser melhor desenvolvidos e tem que lhes ser dada uma maior profundida emocional. O último episódio demonstrou pelo menos uma intenção dos criadores em guiar a narrativa para esta direcção. Espero que aproveitem este impulso na história para entrarem com o pé direito em 2013.

Até lá, fico contente por voltar a haver uma série de ficção científica com dinossauros na TV. Guardo a esperança que um eventual sucesso de New World seja suficiente para fazer com que a ITV considere a possibilidade de fazer regressar Primeval.

Monday, December 17, 2012

Pipocas? Não, obrigado

Imagem DR
Lembro-me bem dos longos serões no velhinho Cineteatro de Ovar, onde eu com os meus dez anos, fazia fila para ver estrear filmes que hoje são clássicos, como o The Lost World Jurassic Park, ou o Titanic. Embora o nosso cinema recebesse os filmes com um mês de atraso em relação às grandes salas do Porto e de Lisboa, as duas plateias encontravam-se sempre cheias. Lembro-me de me sentir intimidado pela grandeza da sala e da enorme tela que para uma criança como eu, parecia ser do tamanho do mundo. Mesmo agora ainda consigo saborear as pipocas vermelhas que comprava no balcão em frente à entrada da primeira plateia.

Mas os anos foram-se passando e o Cineteatro fechou. Sem dinheiro para obras de restauração e com uma morosa e complexa disputa de bens em tribunal por parte dos proprietários, o edifício acabou por se transformar numa ruína sem propósito mesmo no centro de Ovar. Construiu-se um Centro Comercial, abriu-se uma sala de cinema e um drive-in. Cinema ao ar livre sem ter que sair do carro, ao estilo americano dos anos 50. “Cinema Paraíso” era assim que se chamava. Mas nem com uma promoção de sete euros com bilhete e refeição incluída, foi capaz de sobreviver mais do que cinco anos.

Há muito que me tinha habituado a não ver cinema em Ovar. Durante anos adoptei os cinemas de Oliveira de Azeméis e de um antigo Centro Comercial próximo de Santa Maria da Feira, como “casa”, embora, sempre que possível me deslocasse às salas do Gaiashopping, do Arrabidashopping, ou do Fórum Aveiro. Contudo, também os cinemas de Oliveira e da Feira acabaram por fechar. Além do preço do bilhete, que com o passar dos anos continuou a aumentar de forma proporcional ao número de pessoas que deixavam de ir ao cinema, para satisfazer a minha vontade de ver um filme, teria que incluir o preço do bilhete de comboio ou da gasolina. Muitas vezes, aproveitava as viagens semanais que o meu pai fazia ao Porto para visitar os familiares, e lá ficava eu no Gaiashopping a ver um filme.

Hoje em dia apenas vou ao cinema em São João da Madeira, nos cinemas Castello Lopes do 8.ª Avenida, e em Aveiro, nas salas Lusomundo do Glicínias. Já fui em tempos aos cinemas UCI no Arrábida ou às salas do Norteshopping e do Parque Nascente, mas dada a extinção das SCUT na A29, aliada ao menor nível de trânsito que Aveiro tem em relação ao Porto, o Glicínias acaba por ser a opção que fica mais em conta na relação preço/qualidade.

Também olho com saudades para as salas do Medeia no Shopping Cidade do Porto, foi lá onde vi a estreia do Control, mas também foi lá a primeira vez que assisti a um filme sem mais ninguém na sala além de mim. Era Maio de 2009, estava a fazer horas para uma aula de Russo que apenas começava às 19h30 quando decidi apanhar a sessão das 17h para ver o Star Trek. Se não fosse por mim, talvez pudessem ter poupado algum dinheiro na iluminação.

Não é que não goste de ter uma sala de cinema só para mim. Em Agosto deste ano fui ver o Rock of Ages ao Glicínias e embora estivesse acompanhado, tínhamos a sala só para nós. Cantámos todas as músicas em sintonia com o filme e divertimo-nos mais naquela sala do que se esta estivesse cheia de espectadores. Contudo, o cinema não foi feito para ser visto de forma tão particular. É um espectáculo de audiências que merece muitos espectadores. Tudo bem que esta era a sessão da meia-noite de uma segunda-feira, mas sendo Agosto não havia desculpa para a sala estar vazia.

Segundo o Instituto de Cinema e Audiovisual (ICA) até Maio deste ano, o número de espectadores que foram ao cinema caiu 16% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já em 2011, tinha havido uma queda de 18% nos bilhetes vendidos em comparação com 2010. As salas estão a ficar vazias. As pessoas estão a deixar de ir ao cinema. Em 2011, foram menos 820 mil espectadores ao cinema do que em 2010. Houve uma perde de quase um milhão de bilhetes em apenas um ano! Isto é bastante alarmante.

Eu próprio sou um espectador assíduo, e raramente passo um mês sem ir pelo menos uma vez ao cinema. Pois bem, em 2012, fui apenas nove vezes ao cinema. Consigo facilmente enumerar os filmes que fui ver:  American Reunion; The Hunger Games; Cloud Atlas; The Hobbit: An Unexpected Journey; The Dark Night Rises; Rock of Ages; The Lucky One; Looper e Ted. Se tivesse pago o preço de bilhete normal (6,50 €), teria gasto 58,5 euros, o que até parece pouco, mas relembro que apenas fui ver nove filmes e nenhum deles foi em 3D. Felizmente, até Agosto beneficiei do Cartão Cultura Sábado que, tal como o Cartão Zon, na compra de um bilhete nos cinemas Lusomundo oferece outro. Por diversas vezes, dividi o bilhete com outra pessoa e apenas paguei metade. Além disto, em pelo menos duas ocasiões ofereceram-me um bilhete. Quando o meu cartão expirou (ainda não o renovei) aproveitei o desconto do Cartão Jovem que reduz o preço do bilhete para 5,5 euros. A acrescentar a isto ainda tinha o preço do combustível – ainda bem que não sou fã de comer pipocas, caso contrário teria que reduzir as minhas idas ao cinema para uma ou duas por ano. E é isso que muita gente faz.

Ir ao cinema já não é tão comum, ou tão fácil como antes foi. Mesmo se tiveres a sorte de ter um grande Centro Comercial com uma boa sala de cinema na tua cidade, vais acabar por pagar um balúrdio só para ver um filme do qual podes até nem gostar. Eu próprio já uso a expressão “não valeu a pena gastar seis euros para isto”. Ainda me lembro de ir ao cinema por 200 e poucos escudos (pouco mais de um euro). Não digo que seja necessário reduzir tanto o preço, mas se existem muitas pessoas com Cartão Zon a ir ao cinema por 3,75 €, porque não terminar com essa discriminação e passar todos os bilhetes para esse preço?

As salas ficariam mais cheias, os Centros Comerciais e as suas zonas de restauração teriam um lucro maior e as pessoas passariam a poder apreciar os filmes no seu ambiente natural de exibição. Tornámo-nos num povo exigente e picuinhas que apenas vai ao cinema se o filme for um grande blockbuster, ou se gostar muito do trabalho do realizador, do guionista ou da história que está por trás do filme. E o cinema português acaba por ser a maior vítima desta trama. Se já é difícil convencer as pessoas a irem ver os grandes filmes de Hollywood, como fazemos com que o povo pague para ver produções nacionais que são vistas pelo comum dos portugueses como “obras presunçosas de autor sem sentido”, “aborrecidas”, “demasiado intelectuais”, ou simplesmente “más”.

É impossível quebrar este estigma e todo este preconceito que existe sobre o cinema português, enquanto as grandes salas continuarem a cobrar estes valores exorbitantes. Não estamos longe de pagar 10 euros por um bilhete de cinema. Experimentem ir ver um filme 3D sem óculos e ficarão a desejar ter esperado para que o filme estivesse disponível online.

Vou continuar a ir ao cinema sempre que puder e sempre que os filmes me despertarem o interesse. Mas já hoje me questiono se vale a pena pagar por um bilhete mais do que o preço do DVD do filme. Para já, guardo na memória aqueles serões no Cineteatro de Ovar, adocicados pelas pipocas vermelhas daquele balcão. Anseio pelo dia em que os possa repetir sem qualquer mágoa pelo dinheiro que acabei de gastar, ou pelo cansaço da viagem que tive de fazer.

Friday, December 14, 2012

Consumismo

Foto: Adriano Cerqueira
Todos conhecemos pelo menos uma pessoa que não gosta do Natal. Os argumentos são sempre os mesmos, o consumismo forçado, a obrigatoriedade da troca de prendas e a hipocrisia de se ser solidário apenas uma vez por ano. Na maioria das vezes limito-me a ignorá-los pois como já diz o velho ditado “não vale a pena ensinar um cego a ver”, contudo, por mais assertivas que estas pessoas sejam na sua interpretação do espírito natalício, não deixam de estar erradas.

O seu argumento mais forte é o consumismo excessivo que se vive durante a época natalícia. As grandes marcas e os centros comerciais aproveitam esta altura para fazer promoções e para encher as ruas, televisões, rádios, revistas, jornais e a própria internet de poluição semiótica com figuras e ícones alusivos ao Natal. Contudo, o Natal nada tem a ver com estratégias comerciais nem com a troca de prendas. Os responsáveis por estes comportamentos são as empresas e os próprios consumidores que aderem a estas “tradições” impostas pelo aproveitamento comercial de uma festa religiosa com uma grande expressão a nível mundial.

Ninguém é obrigado a dar ou a oferecer prendas. As pessoas fazem isso de vontade própria e escolhem esta época para o fazer pois assim foi estabelecido pela tradição dos últimos séculos. O Natal em si tem origem numa festa pagã que celebra o solstício de Inverno e o renascimento do Sol após os longos meses de Outono onde as noites são maiores que os dias. A esta celebração foi associado o nascimento de Jesus, e assim surgiu o Natal como uma das principais festas cristãs. Embora o dia 17 de Abril seja a verdadeira data para o nascimento de Jesus, o dia 25 de Dezembro foi escolhido como uma data simbólica para o celebrar. E assim se manteve ao longo dos séculos. Nada disto obriga alguém a trocar ou a oferecer prendas. As pessoas fazem-no, ou pelo menos deviam-no fazer, como forma de mostrar aos outros aquilo que eles significam para elas, oferecendo-lhes algo com o objectivo de lhes trazer alguma felicidade.

Hoje em dia, o Natal é mais que uma festa religiosa exclusiva dos cristãos. É uma época de amor, paz e solidariedade para com o próximo, onde todas as pessoas, sejam elas de credos, raças, sexos, nacionalidades, estratos sociais ou idades distintas, vêem umas as outras como iguais e se unem para ajudar aqueles que mais precisam. Sim, muitas delas apenas o fazem nesta altura. E, por mim, podem chamá-las de hipócritas à vontade. Mas mais vale ser-se solidário uma vez por ano, do que nunca o ser. Mesmo que o façam apenas para se sentirem melhores consigo próprias ou para ficarem bem-vistas, pelo menos ajudaram alguém enquanto o faziam.

Não sou ingénuo ao ponto de acreditar que toda a gente é solidária no Natal, mas é um facto de que nesta altura aumentam o número de voluntários para ajudar aqueles que mais precisam, assim como as doações para instituições de solidariedade.

O Natal é para mim a melhor época do ano. O espírito natalício enche-nos de alegria e de amor. Aproxima-nos daqueles que amamos e é uma boa desculpa para reunir os nossos familiares e entes queridos. O Natal é uma festa familiar, não é apenas mais um mero feriado corrompido pela forçada necessidade de se festejar até ao nascer do sol, de excessos e de cometer actos dos quais nos iremos arrepender na manhã seguinte. Não. O Natal é uma festa mágica. Partilhamos gestos de carinho. Presenciamos milagres à nossa volta. Demonstramos o nosso amor pelo próximo e, acima de tudo, fazemos alguém feliz.

Para mim o Natal sempre será a melhor época do ano. Deixo o espírito natalício envolver-me e uso a sua energia para partilhar a minha felicidade com aqueles que me são mais próximos. Quem não consegue ver isto, quem não consegue sentir isto, não se preocupem, um dia alguém chegará para vos mostrar o caminho correcto e aquecer os vossos corações.

A todos, e em especial àqueles que não acreditam no espírito natalício, desejo um Feliz Natal e uma boa noite de consoada!

Thursday, December 13, 2012

Arrow: O Herói que o Mundo Ocidental precisa

Imagem: DR
Arrow é a minha grande aposta para a temporada 2012/2013. Ontem foi emitido o nono e último episódio antes do hiato de Natal – Arrow regressa no dia 16 de Janeiro – e até ao momento esta série tem vindo a subir de forma constante na intensidade da narrativa, no desenvolvimento dos personagens e na cativação dos espectadores. É espantoso como Greg Berlanti, Marc Guggenheim e Andrew Kreisberg conseguiram pegar num dos super-heróis menos conhecidos do Universo DC Comics e torná-lo numa série que a meu ver tem tudo para se tornar numa referência dentro do género ao longo dos próximos anos.

Arrow é baseado na BD Green Arrow, pouco popular fora do mundo dos connoisseures de banda-desenhada, mas que nos últimos anos ganhou alguma popularidade através da série Smallville. Tendo seguido de perto Smallville, confesso que não tinha grandes expectativas para a estreia de Arrow. Na altura os rumores falavam de um reatamento da história do Green Arrow, talvez como uma prequela para os eventos que levaram Oliver Queen a Metropolis para se tornar no braço direito da jovem versão do Super-Homem. Não sendo grande fã de Justin Hartley (actor que protagonizava o papel de Green Arrow em Smallville), reagi com algum contentamento quando soube que tinham seleccionado outro actor para a série Arrow. Apesar disso, as minhas expectativas eram extremamente baixas. Felizmente, bastou ver o primeiro episódio para a minha opinião dar uma volta de 180 graus.

Arrow conta a história de Oliver Queen, um playboy nos seus vinte e poucos anos que regressa à sua cidade natal de Starling City após ter passado cinco anos como naufrago numa ilha perto da costa da China depois de ter sofrido um acidente de barco que vitimou o seu pai. A ilha mudou Oliver e moldou-o à imagem do herói que a sua cidade precisava. Antes de se sacrificar para que o filho tivesse uma hipótese de sobreviver, o pai de Oliver incutiu-o com uma missão de levar à justiça uma lista de nomes de homens poderosos que corromperam Starling City ao ponto do colapso social.

A série é contada a dois ritmos, dividida entre a vida dupla de Oliver Queen como The Hood (o nome dado na série ao mercenário que terroriza a vida dos ricos e poderosos de Starling City) e os flashbacks dos seus dias passados na ilha. Cada episódio é repleto de momentos de suspense e de alta tensão narrativa e emocional, o que mantém o espectador atento até ao último segundo. As introduções de cada episódio são tão épicas e tão bem construídas que às vezes chegam a um ponto de serem exageradas no nível de tensão criado nos primeiros minutos do episódio.

Apostar em Green Arrow foi uma jogada de génio. Numa sociedade assolada por casos de corrupção, desemprego e austeridade, quem melhor do que um herói cujo mote é levar os empresários multimilionários (ou os 1% como são comummente chamados) à justiça através do medo e da intimidação? Mesmo o mais pacato dos espectadores deve ferver de empatia para com a causa de Oliver Queen sempre que ele aponta a sua seta e afirma: You have failed this city! Quantos de nós já não sonharam em chegar à beira de Passos Coelho ou de Miguel Relvas e pô-los a chorar que nem bebés após afirmarmos em voz alta: You have failed this country!

Podem levantar a questão sobre um rapaz que pertence aos 1% atacar os seus pares quando ele próprio faz parte do problema. Aí, Arrow apresenta uma boa construção narrativa que transmite profundidade suficiente ao personagem para que ele sofra com estas questões e lide com os seus demónios interiores de uma forma resguardada mas facilmente identificável pelo mais desatento dos fãs.

Do guião à realização, apenas tenho coisas positivas a dizer sobre esta série. Com uma média de três milhões de espectadores por episódio não é tão popular como Revolution, mas esta devia dar melhor atenção a Arrow e apender como se constrói uma narrativa sólida e uma história cativante.

No dia 22 de Outubro o CW (canal responsável pela transmissão de Arrow) já deu o aval para a encomenda de uma temporada completa de episódios de Arrow. Até Maio podemos contar com a companhia deste super-herói que se continuar por este caminho, vai ser presença assídua nas nossas televisões durante os próximos anos.

Wednesday, December 12, 2012

Elogio da ineficiência

Todos reagimos com indignação perante as acusações da Finlândia e da Alemanha que retractavam o povo português como preguiçoso e inadequado para trabalhar. Preferíamos passar os dias a apanhar sol e a pensar em maneiras de fugir ao fisco do que a contribuir de forma directa para a produtividade do país. Embora ache que estes comentários são despropositados e exageradamente irrealistas, começo a pensar que eles são capazes de ter razão em certos pontos.

No Reino Unido, E.U.A., Alemanha e restantes países de origem germânica ou anglo-saxónica, é promovida a eficiência e o máximo de produtividade dentro do horário de trabalho. Os trabalhadores que conseguirem concluir as suas tarefas dentro do horário de expediente são elogiados, enquanto que aqueles que fazem mais horas que aquelas estipuladas no seu horário são postos de lado e ficam com o emprego em risco. Cá acontece precisamente o contrário. São mais bem vistos pelos empregadores os trabalhadores que fazem horas extra, mesmo quando estas não são pagas, em detrimento daqueles que saem todos os dias à hora certa com as suas tarefas completas. Isto acontece mesmo quando o empregado que fica mais tempo o gasta a ver e-mails e a navegar nas redes sociais. Promovemos assim uma baixa produtividade e uma ineficiência geral na gestão de horários que além de surreal é inteiramente incompreensível.
 
Todos nós já ouvimos falar dos famosos estágios de advocacia onde os estagiários são obrigados a ficar um bom tempo depois da hora de saída apenas para causarem uma boa impressão. Ao deixarmos um grupo de pessoas inutilmente paradas num local estamos a gastar o tempo delas, a cansá-las física e psicologicamente, além de gastarmos recursos da empresa como luz e água, e aumentarmos o desgaste no processamento dos computadores.

Contudo esta prática continua a ser considerada natural e imprescindível para a selecção dos trabalhadores. Como é possível que não consigam ver a enorme falha desta sua lógica dispendiosa?

Há uns tempos vi alguém a ser elogiado por não ter feito nenhuma directa ao longo de um ano em que fez uma tese de mestrado enquanto frequentava um estágio profissional sem obrigatoriedade de frequência de um horário restrito. Espantou-me que tal comportamento tivesse sido elogiado. Isto não devia ser a excepção mas sim a norma.

Nunca fiz uma directa. Após cinco anos de licenciatura e mestrado e mais três de experiência profissional nunca tive a necessidade de fazer uma directa sem dormir. No ano passado trabalhei numa empresa onde fazia um horário diário das nove da manhã às seis da tarde. Ao mesmo tempo escrevi a minha tese de mestrado e realizei um projecto de tese que consistiu na realização de duas curtas-metragens e da programação de um sistema de visionamento para as duas. Além disso ainda tive que realizar estudos de campo para visionamento e análise da plataforma. Para agravar a situação, todos os dias gastava duas horas em transportes entre a casa e o trabalho. Mesmo assim nunca tive que fazer uma única directa e continuei a sair com os meus familiares e amigos. Consegui entregar a tese a tempo sem a necessidade de pedir um adiamento, ao passo que muitas pessoas que estavam inclusive desempregadas não o conseguiram fazer. Fiz tudo isto sem perder um único episódio das 15 séries que seguia semanalmente. Como consegui fazer isto tudo sem perder uma única noite? A resposta é simples, organizei bem o meu tempo, dormia sempre oito horas por dia e parava sempre que sentia necessidade para o fazer. Basta ter disciplina e organização e tudo é possível.

Embora na minha área por vezes sejamos forçados a trabalhar de noite para cobrir, organizar ou documentar eventos, são excepções pontuais que justificam perfeitamente algumas horas extra de trabalho. Com isto não estou a afirmar que as pessoas que trabalham apenas de noite são desorganizadas. Cada um tem o seu ritmo e algumas pessoas trabalham melhor de dia do que de noite. Agora, nada justifica gastarem 24, 36 ou 48 horas seguidas sempre a trabalhar.
 
Eu trabalho melhor entre as 15 e as 18 horas. Nessas três horas consigo ser mais produtivo que a maioria das pessoas que conheço, contudo também consigo trabalhar bem de manhã, se bem que a um ritmo mais lento. Já de noite, esqueçam. Preciso do meu descanso e do meu tempo pessoal. É importante relaxarmos o nosso corpo e ocupar a nossa mente com algo sem ser o trabalho, se não o fizermos sobrecarregamos o nosso organismo com stress e acabamos por perder energia, vontade e resistência. Acabamos por adoecer sem conseguir ter nada pronto a tempo, nem com o mínimo de qualidade exigida.

É ridículo esta promoção do “fazer parecer que se faz mais”. O que importa são os resultados e quanto mais baixo for o custo para obter esses resultados melhor será a performance do trabalhador e da própria empresa. Compreender este princípio básico é a base do sucesso para qualquer empresa que se queira afirmar no mercado internacional.

Tuesday, December 11, 2012

Revolution: The Next Big Thing?

Imagem DR
Já pensaram como seria se os criadores das séries Lost e Sobrenatural, J. J. Abrams e Eric Kripke, tivessem um filho? Eu sempre imaginei que o resultado desse eventual casamento seria o Sam e o Dean perdidos numa ilha à procura de uma forma de enviar o monstro de fumo negro e os seus amigos de volta para o inferno, enquanto lidam com as minúcias da sua complexa relação. Sem esquecer que esta nova ilha teria que ter estradas para os Winchester passearem o seu Impala de 67. Já estamos todos fartos das Pães-de-forma azuis claras da Dharma Initiative.

Bom, em vez disso deram-nos Revolution, uma série sobre um futuro pós-apocalíptico onde alguém se esqueceu de pagar a conta da electricidade e o Mundo inteiro acabou às escuras. Sem electricidade, sem carros, sem telemóveis, mas pior que tudo, sem internet. Sim, o vosso pior pesadelo tornado realidade. Como conseguiria a Humanidade sobreviver a um Mundo sem facebook? Não lá muito bem. Por algum motivo que aparentemente só faz sentido nos E.U.A. todos os governos colapsaram, a sociedade quebrou e milícias populares tomaram controlo das armas e do policiamento opressivo dos sobreviventes do holocausto tecnológico. Embora não ache este conceito realista, aceito-o como uma forma de demonstrar o quão frágil e dependente de tecnologia a sociedade ocidental se tornou.

A série segue a viagem de Charlie Matheson que após assistir à morte do pai e consequente rapto do irmão por parte de um grupo da Milícia que controla a região onde eles vivem, decide fazer-se à estrada para encontrar o tio, salvar o irmão e reunir a sua família, agora destroçada. Charlie é acompanhada por Maggie Foster, amante do pai e Aaron Pittman um dos génios da Google que viu toda a sua fortuna desaparecer com o carregar de um botão e que agora limita-se a dar aulas aos miúdos da aldeia onde Charlie vivia. Mesmo antes de morrer, Ben Matheson, dá um misterioso medalhão ao Aaron para ele guardar e avisa a filha para encontrar Miles, o seu tio há muito perdido que actualmente trabalha num bar em Chicago. Não há electricidade mas álcool e armas não podiam faltar.

A série encontra-se actualmente em hiato após a exibição do décimo episódio da primeira temporada e apenas vai regressar no dia 25 de Março de 2013. Esta tem sido uma das estreias mais aclamadas dos últimos tempos com cada episódio a ter uma média superior a 8 milhões de espectadores apenas nos E.U.A., contudo, existem a meu ver algumas falhas que ainda não foram bem colmatadas. Revolution demorou bastante tempo a estabelecer a sua mitologia. Foi necessário esperar pelo episódio sete para começarmos a ter uma ideia daquilo que poderia ter sido responsável pelo inexplicável apagão. Tudo bem que não cometeram o erro de outras séries como Defying Gravity ou John Doe que demoraram tanto tempo a explicar qual o propósito da sua narrativa que acabaram canceladas antes de o puderem fazer.

Eles podiam ter-se limitado a manter um mistério sobre a origem do apagão e dar-nos aos poucos as peças do puzzle, mas em vez disso optaram por manter-nos no escuro ao longo dos primeiros seis episódios para depois mostrarem tudo através de flashbacks. Tudo bem, os personagens continuam ignorantes do que poderá ter passado, mas o espectador não, e isso para mim é bastante frustrante. Ou o faziam logo no início ou então estabeleciam uma mitologia principal com esse mistério secundário como Lost conseguiu fazer e bem na primeira temporada.

As personagens são muito superficiais. Miles Matheson o renegado fundador da Milícia e amigo íntimo do seu actual líder, Sebastian Monroe, devia apresentar-se como o misterioso e complexo anti-herói com uma profunda e obscura personalidade repleta de conflitos internos. Em vez disso temos o Billy Burke com ar de MacGyver aos gritos e a fazer todas as vontades que a sobrinha lhe pede por mais idiotas e irresponsáveis que sejam. Mas que podíamos esperar do actor que faz o papel de pai da Bella na saga Twilight? Só faltava o Mark Pellegrino voltar a surgir nalgum papel de mentor ou inimigo. Espera, isso acontece mesmo! O Eric e o J. J. devem ter uma queda por este actor.

Apesar destes defeitos, Revolution apresenta-se como uma boa série de ficção científica repleta de acção e com alguns bons motivos para manter o espectador atento. A primeira metade da temporada desta série deixou-nos com um forte cliffhanger, que certamente fará com que o maior dos cépticos não se esqueça de dar uma espreitadela no próximo episódio quando a série regressar do hiato de Inverno.

Revolution é uma série com uma excelente premissa que ainda não encontrou bem o seu melhor caminho e que até agora tem sofrido bastante com alguns erros de casting que podiam ter sido facilmente corrigidos durante as gravações, mas, a meu ver, já é tarde demais.

Se calhar estavam à espera que eu falasse do Tom Neville, como ele é o perfeito inimigo repleto de profundos conflitos interiores que um dia talvez o irão levar a dar o braço a torcer e a juntar-se aos rebeldes. Contudo, depois de ver este actor como o espelho mágico da Regina e o jornalista cobarde de Once Upon a Time, não lhe consigo dar qualquer credibilidade.

Vou continuar a seguir a série com o único argumento de que se pusermos isto tudo de lado, continuamos a ter uma história interessante e repleta de acção que me deixou com curiosidade suficiente para descobrir o seu fim. Além disso estamos a falar do J. J. Abrams e do Eric Kripke, os dois devem ser capazes de se lembrar de alguma coisa para tornar isto bem mais apelativo.

Monday, December 10, 2012

Natal menos iluminado

Foto: Adriano Cerqueira
Uma das minhas preferidas tradições natalícias sempre foi passear pelas ruas do Porto em Dezembro para ver as luzes de Natal. Já muito antes de escolherem os Aliados como o local predilecto para erguer a maior Árvore de Natal da Europa, várias famílias aproveitavam os feriados e os fins-de-semana de Dezembro para passear pela Invicta e admirar as montras e as ruas enfeitadas com um caloroso espírito natalício.

Esta é uma tradição que mantenho ainda hoje. Contudo, desde o ano passado que denoto um menor investimento da Câmara Municipal na iluminação de Natal. Nos últimos dois dias passeei pelas ruas do Porto ao final da tarde, já com o céu escuro como breu, e as únicas luzes que vi acesas foram as da Árvore de Natal em frente à Câmara e algumas luzes pontuais numa ou outra rua. Embora quer os Clérigos, quer Cedofeita tivessem os enfeites montados, estes permaneceram apagados. De que vale ter luzes de Natal se não têm qualquer intenção de as ligar?

Eu compreendo que os tempos sejam de poupança e que as luzes de Natal não figurem no orçamento da Câmara como algo prioritário, contudo, é bem possível fazer algo belo e digno de personificar o espírito natalício com um baixo orçamento. Já vi uma tentativa de originalidade criativa ao colocarem nos Aliados baloiços com as palavras Porto, Natal, Amor, Sonho, Abraço, Festa, Paz, Magia e Família, onde casais, famílias e grupos de amigos se podem sentar e tirar uma foto com o edifício da Câmara como pano de fundo. Mas porquê ficarem-se apenas por aí? Não exijo que todos os anos se construa a maior Árvore de Natal da Europa nos Aliados, uma árvore como a actual árvore dourada serve, mas porquê manter as restantes ruas às escuras?

Ontem vi algumas fotografias do festival das luzes em Lyon. A fachada de alguns edifícios emblemáticos da cidade tinha-se transformado numa tela de luz para a imaginação de um qualquer artista. Um belo espectáculo que atraiu milhares de turistas à cidade apenas para o presenciar. As luzes de Natal eram em tempos um dos principais postais de visita da cidade do Porto. As pessoas não se deslocavam lá apenas por causa das montras ou das promoções. Famílias inteiras faziam uma verdadeira peregrinação apenas para ver as luzes.

Na semana passada fui a Aveiro e, ao passar pelo centro de Estarreja, vi uma praça iluminada e com uma Árvore de Natal melhor decorada que a de Ovar e até mesmo que a do Porto. Como pode um município tão pequeno quando comparado com a Invicta ter melhores decorações natalícias?

A Madeira foi muito criticada pelo dinheiro gasto no fogo-de-artifício na passagem de ano quando semanas antes se tinha descoberto um buraco de 6 mil milhões de euros no seu défice. Contudo, não reduziram um cêntimo sequer do seu investimento no espectáculo de Ano Novo. Sim, investimento. As Câmaras Municipais não podem olhar para as decorações, para os espectáculos e, já agora, para a cultura como gastos, mas sim como investimentos. Investimentos que atraem turismo e turismo que atrai comércio e compradores.

Não acabem com esta tradição. Não a deixem morrer. O Porto é mais belo no Natal que em qualquer outra altura do ano, não deixem as suas luzes se apagarem. Mantenham-nas acesas e relembrem a cada ano que passa com orgulho o quanto a Invicta contribui para manter acesa a chama do espírito natalício.