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If I like a moment, for me, personally, I don't like to have the distraction of the camera. I just want to stay in it.
The Secret Life of Walter Mitty
Olham para baixo, presos a um ecrã de cinco polegadas, enquanto o dia corre para mais uma conclusão, e o resto do Mundo é ignorado na sua perpétua e invisível rotina. Ao longo do ano, mas em especial em Dezembro, as nossas páginas e linhas do tempo, são inundadas por fotos de jantares. Sejam eles entre amigos, ou colegas de trabalho, não é difícil encontrar algo de errado com essas fotos. Há sempre alguém constantemente agarrado ao telemóvel. A olhar para baixo. A escrever. A fotografar alguma coisa.
Embora isto nem sempre aconteça, não é invulgar encontrar fotos onde a grande maioria das pessoas não é capaz de gastar um segundo do seu tempo para largar o telemóvel. E quando este, de alguma forma, deixa escapar o seu encanto sobre o seu dono, em vez de acabar no bolso, mantém-se ali, em cima da mesa, qual guardanapo, à espera de ser usado.
O simples facto de um jantar entre conhecidos, ser alvo de mil e uma fotos partilháveis, já diz muito do seu baixo valor como espaço de convívio. Embora certos momentos valham a pena ser imortalizados, é desnecessário documentar cada segundo de um qualquer jantar, com constantes cliques, flashes, falsos sorrisos, e tempo perdido a olhar para um vazio de uma objectiva digital, com ligação directa a um qualquer mural.
Que memórias retemos dos jantares que partilhamos? Somos capazes de enumerar cada uma das pessoas que nos acompanhou? E as expressões daqueles com quem falamos?
Nunca fui adepto da ideia de estar sempre online. De estar disponível para ser contactado a qualquer hora. Ou de perpetuar conversas banais ao longo do tempo. Gosto de falar apenas quando há algo para dizer. De partilhar momentos e conversas especiais com alguém, quando estas podem acontecer, e não de dar seguimento a rotineiras trocas de Olás, sem quaisquer propósitos por trás das mesmas.
Não nego a importância das tecnologias de informação. Hoje é tão simples manter o contacto, reduzir distâncias, partilhar notícias, expressar a nossa criatividade, conhecer pessoas, aprender algo novo, e consumir entretenimento gratuito. Mas o preço que pagamos por este comodismo é alto se cairmos numa espiral de comportamentos anti-sociais e de asfixia inter-relacional.
Já houve tempos em que viajar, para mim, significava estar fora de contacto durante a grande maioria da sua duração. Passar uma semana, ou até mesmo um mês, sem falar com alguém próximo com quem não possa conviver pessoalmente de forma regular, era algo natural. Contudo, isto já não acontece.
Embora a minha opinião não tenha mudado, vejo-me hoje forçado a adequar-me às vontades, e às expectativas de comunicação que os outros exigem. Esta realização chocou-me há dias quando, num café entre amigos, um deles chamou-me à atenção por estar a trocar mensagens de cinco em cinco minutos.
Sempre me insurgi contra aquelas pessoas que prestam mais atenção aos seus gadgets do que ao Mundo, ou às pessoas, que os rodeiam. Contudo, de há um ano para cá, que este tornou-se num hábito no qual eu próprio acabo por mergulhar. Há uma profunda hipocrisia que cresce em conflito com os meus ideais e que, para já, me forçou a moderar o meu discurso contra a troca constante de mensagens.
Continuo a valorizar o convívio pessoal, em detrimento do digital, fora nos casos em que, por um motivo, ou outro, o primeiro não é possível. Não perco os momentos ao tentar capturá-los num rectângulo de zeros e uns. Prefiro vivê-los, e apreciar a beleza do que vejo, guardando para alguma pausa a necessidade de os imortalizar.
Tenho saudades de escrever uma carta e de aguardar ansiosamente pela resposta. De acordar com um e-mail e de responder, sabendo que o próximo apenas seguirá amanhã. De perder tempo com uma mensagem. De um longo telefonema. Este é o tipo de comunicação que mais me agrada. Aquela com a qual me identifico, e a que desejava poder praticar mais vezes.
Lembro-me de quando era comum perdermos tempo a ler conversas antigas. A reler mensagens. A rever fotografias. Hoje, é raro isto acontecer.
Momentos que nos passam ao lado, enquanto os nossos olhos se perdem em outra qualquer banalidade. Numa nova mensagem que nos afasta da vida que continua à nossa volta. Longe dos nossos olhos. Longe da nossa atenção.
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