Hard Club, Porto, Foto: Blitz |
Music has always been a matter of Energy to me, a question of Fuel. Sentimental people call it Inspiration, but what they really mean is Fuel. I have always needed Fuel. I am a serious consumer. On some nights I still believe that a car with the gas needle on empty can run about fifty more miles if you have the right music very loud on the radio.
Hunter S. Thompson
A Música é uma constante. Define momentos. Alimenta a nostalgia. Afoga o silêncio. Enche o espaço. E recarrega a alma. Entretém-nos em longas viagens a sós. Inspira-nos. Apazigua uma manhã parada no trânsito. Dá cor a uma conversa. Liga-nos. Liberta-nos. Desbloqueia o preconceito. Desinibe o nosso corpo. Faz do sonho, realidade.
Cada um de nós tem as suas histórias. As suas canções. “Há quanto tempo não ouvia isto”. Um simples acorde e somos levados para outro tempo, para outro lugar. Um refrão, e um sorriso toma conta da nossa face. Um excerto de uma letra, e os nossos olhos enchem-se de lágrimas. Cada melodia, uma reacção diferente. Distinta de ouvinte para ouvinte. Sempre pessoal, nunca indiferente.
Há diversos momentos que associo a uma música, a uma banda, ou a uma letra em particular. Muitos, demasiado pessoais para os poder partilhar. Alguns onde uma determinada música, ou um concerto por inteiro, são os principais protagonistas. E outros em que a letra de uma música transporta os meus pensamentos para outros universos, realidades distintas da nossa, ou simples recordações.
Um desses momentos foi a primeira vez que ouvi a Untouchable dos Anathema ao vivo. Reservei a data do concerto no Hard Club do Porto com alguns meses de antecedência. Sempre presente na minha agenda, ficou esquecido nos recantos da minha memória. Por falta de tempo, e de pesquisa, ignorei o facto de os Anathema terem lançado um novo LP, o Weather Systems. O concerto ia ser o meu primeiro contacto com este álbum.
Por entre músicas familiares, surgiu a Untouchable. Mesmo hoje, sou incapaz de descrever o que senti naquele momento. A energia que me envolveu. As emoções que trespassaram o meu coração, e ganharam vida naqueles segundos. Ouvi cada acorde, cada letra, com completa atenção. Fiquei paralisado com a beleza daquela melodia. Naquele instante, nada mais existia. Apenas o belo e sereno aroma de algo que, tão profundamente, toca na tua alma, e que se deixa envolver num terno abraço de compreensão e empatia.
Uma surpresa agradável. Uma experiência irrealizável.
A música também pode servir como uma escapatória. Um meio para libertar frustrações e limpar a tua mente de pensamentos negativos. Em 2011, por obra do acaso, o dia de defesa da minha tese de mestrado coincidiu com a data do concerto dos Within Temptation no Coliseu do Porto. A prenda ideal, a celebração necessária para apagar toda e qualquer tensão que aquele dia podia revelar. E assim foi. Saí do concerto sem voz. Numa noite fria de Outubro, estava completamente suado da cabeça aos pés. Saí de lá sem energias, e com uma sede dos diabos. Mas sentia-me livre. Pronto para um novo começo.
Foram vários os concertos marcantes a que já assisti. Do inigualável espectáculo dos Bon Jovi em 2008, até ao sonho tornado realidade de ver os New Order ao vivo, na sua última tour em 2005. Poder cantar todas as músicas daquela que é a minha banda de “todos os tempos”, tão próximo deles. Vê-los a corresponder ao meu pedido para que tocassem a Regret. Sentir de perto a melancolia da última despedida de uma banda com décadas de existência, e incrivelmente desconhecida pela grande maioria da minha geração.
Incontáveis histórias. Entre concertos, festivais, álbuns, vinis e CDs. Incontáveis momentos. Vividos na companhia desta eterna constante da própria condição humana. Uma arte única. Um acto de criação que nos eleva mais próximos do divino. A eterna vitória sob o inóspito e silencioso desconhecido destino.
Mesmo enquanto escrevo estas palavras, ouço atentamente à inspiradora melodia de Explosions in the Sky. Agarro-me a eles para apagarem o silêncio, para orientarem os meus pensamentos, e para guiarem os meus dedos, na construção desta sinfonia literária que, também ela, reflecte nos seus parágrafos cada nota, e cada composição, da mais bela das artes. A música.
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