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365 dias, 42 filhoses, 26 bilharacos, 15 indexações, 7 momentos de impacto, 2 rumos certos, um Mindo e 0 pencas depois, está de regresso o momento mais ignorado por toda a gente durante o ano, a Véspera da Véspera de Natal!
Era 23 de Dezembro. A noite antes da Véspera de Natal. A Véspera de Consoada. A Antevéspera. Enfim, era 23 de Dezembro. Como manda a tradição, o Zé estava a passear por um Centro Comercial qualquer, à procura das últimas prendas que, forçosamente, se deixaram ficar para o fim.
Enquanto lutava por entre as hordas de enraivecidas multidões que batalhavam pelo último bacalhau do Continente, como se este fosse a última Coca-Cola do Deserto. Patrocinado por uma bebida qualquer, como o Pôr-do-Sol daquela música. O nosso herói deparou-se com uma manjedoura algo perdida em um dos recantos daquele enorme não-lugar, edificado como hino ao capitalismo desbaratado.
Para seu espanto, esta manjedoura era a única coisa que, embora estivesse aberta, não tinha uma única fila para nela entrar. Levado pela curiosidade e pela necessidade de estar nalgum sítio onde pudesse esticar os braços sem que a sua mão se deparasse com as fuças de umas três ou quatro pessoas, o Zé dirigiu-se para a manjedoura.
Lá dentro estava o Menino Jesus, ora nas palhas estendido, ora nas palhas deitado. Jesus, o Jorge, também se encontrava lá, ajoelhado, a pedir a Deus que lhe concedesse as sete bolas de cristal, para que este pudesse chamar o Shenlong e pedir-lhe o desejo de continuar no banco do Glorioso por mais uns anitos.
Deus não parecia estar muito virado para lhe responder, mas o Menino Jesus ali estava, ora estendido, ora deitado, mas sempre nas palhas. Quando Jesus, o Jorge, terminou, chegou a vez do Zé. Jesus, o Menino, levantou-se e deu lugar à sua versão mais adulta. Não a que aparece no cartaz publicitário dos Pregos Garcia, mas a outra que andou a pregar pela Galileia, à la Diogo Morgado.
“Então moço, ‘tá tudo?”, perguntou Jesus.
“Meu, esse tipo de linguagem é tão 90’s que já chateia.”
“Bom, já estou um pouco farto de ter por aqui os espertalhões do costume que respondem ‘Tu não és meu pai’, sempre que lhes pergunto, ‘que te traz aqui, meu filho’.”
“Parece-me justo.”
“Ora não fosse eu Jesus, o Jorge… Quer dizer, o Cristo”.
“Honestamente, este ano não há propriamente algo que eu queira. Talvez, não ter que escrever esta história, fosse uma boa escolha. Mas tenho umas três pessoas que aguardam ansiosamente por este momento, ano após ano, e sinto que não lhes posso falhar.”
“Nesse caso, porque não ofereces a ti próprio um dia de descanso?”
“Mas, se não sou eu a valorizar o Dia 23 de Dezembro, quem o fará? O Eusébio, e a sua toalha? O Bruno, que é de Carvalho? A Menina do Gás? O Capitão Planeta? O Vasco da Gama? Um El-rei D. João, o segundo, o quarto, ou o sexto? O Fernando Pessoa?”
“Não sei, talvez possa ser o…”
“…não esse não! Esse, jamais (leia-se jamé como os franceses o fariam)”
Mas antes que o Zé pudesse concluir, a voz que todos temiam deixou-se entrar pela manjedoura a dentro.
“Isso é subjectivo”, respondia o Mindo, esse ser inexplicável daquela terra desconhecida, chamada Brasil.
“Rápido, finge que estás a ler, ou a olhar pela janela”, disse o Zé para Jesus, o Cristo.
O Mindo ficou confuso. Mindo usa arreliar. É super eficaz.
“Na verdade Zé, não tem mal nenhum em tirares um dia para ti. Fazer algo em cima do joelho, não merece a pena. Por vezes é bom parares para reflectires, e assim puderes escolher o caminho que o Senhor melhor indicou para ti”, concluiu o Mindo antes de esvanecer tão depressa como apareceu.
Jesus acrescenta, “sim, basta seguires o caminho por aquele corredor. Na esquerda tens umas escadas de acesso ao parque subterrâneo. Ninguém as usa, é uma boa forma de evitares a multidão.”
O Zé agradece e dirige-se para a porta da manjedoura, mas antes de sair, hesita e dirige-se uma vez mais para Jesus.
“Imagino que a maioria das pessoas que te procuram pedem conselhos, os números do Euromilhões, ou um jagunço para ir dar uns belos tabefes no Primeiro-Ministro e no seu Vice – a não confundir com a revista, site, ou seja lá o que aquilo for.”
“Podes crer, esta malta tem falta de originalidade, ou de inspiração digamos assim”, responde Jesus.
“Nesse caso, e embora eu saiba que o teu aniversário é apenas a 17 de Abril, dou-te os meus parabéns, este bolo de chocolate com cobertura de maçapão, e ainda uma camisola do Sporting CP, com o número 12, como presente.”
Jesus, paralisado de felicidade, e sem palavras perante este gesto tão atencioso, levantou-se e abraçou o Zé como se fossem velhos conhecidos que já não se viam há anos.
O Zé seguiu para casa e decidiu descansar. “Este ano vou dormir até tarde, dar um salto aos correios, ir para a Lan com o pessoal, e à noite vou ao Glicíneas ver o The Hobbit, A Desolação de Smaug”. Afinal, nada melhor do que homenagear um dia em particular, depois deste já ter acontecido.
Hoje já não é o dia 23 de Dezembro, mas no fundo, todos os dias são 23 de Dezembro. Excepto hoje, pois hoje é Noite de Consoada. Véspera de Natal. Noite de ceia feliz. Noite de Paz. Noite de família. Noite de folia. Mas, uma coisa, certamente não o é. Não é noite de Pencas.
Morram Pencas, morram! Pim!
Era 23 de Dezembro. A noite antes da Véspera de Natal. A Véspera de Consoada. A Antevéspera. Enfim, era 23 de Dezembro. Como manda a tradição, o Zé estava a passear por um Centro Comercial qualquer, à procura das últimas prendas que, forçosamente, se deixaram ficar para o fim.
Enquanto lutava por entre as hordas de enraivecidas multidões que batalhavam pelo último bacalhau do Continente, como se este fosse a última Coca-Cola do Deserto. Patrocinado por uma bebida qualquer, como o Pôr-do-Sol daquela música. O nosso herói deparou-se com uma manjedoura algo perdida em um dos recantos daquele enorme não-lugar, edificado como hino ao capitalismo desbaratado.
Para seu espanto, esta manjedoura era a única coisa que, embora estivesse aberta, não tinha uma única fila para nela entrar. Levado pela curiosidade e pela necessidade de estar nalgum sítio onde pudesse esticar os braços sem que a sua mão se deparasse com as fuças de umas três ou quatro pessoas, o Zé dirigiu-se para a manjedoura.
Lá dentro estava o Menino Jesus, ora nas palhas estendido, ora nas palhas deitado. Jesus, o Jorge, também se encontrava lá, ajoelhado, a pedir a Deus que lhe concedesse as sete bolas de cristal, para que este pudesse chamar o Shenlong e pedir-lhe o desejo de continuar no banco do Glorioso por mais uns anitos.
Deus não parecia estar muito virado para lhe responder, mas o Menino Jesus ali estava, ora estendido, ora deitado, mas sempre nas palhas. Quando Jesus, o Jorge, terminou, chegou a vez do Zé. Jesus, o Menino, levantou-se e deu lugar à sua versão mais adulta. Não a que aparece no cartaz publicitário dos Pregos Garcia, mas a outra que andou a pregar pela Galileia, à la Diogo Morgado.
“Então moço, ‘tá tudo?”, perguntou Jesus.
“Meu, esse tipo de linguagem é tão 90’s que já chateia.”
“Bom, já estou um pouco farto de ter por aqui os espertalhões do costume que respondem ‘Tu não és meu pai’, sempre que lhes pergunto, ‘que te traz aqui, meu filho’.”
“Parece-me justo.”
“Ora não fosse eu Jesus, o Jorge… Quer dizer, o Cristo”.
“Honestamente, este ano não há propriamente algo que eu queira. Talvez, não ter que escrever esta história, fosse uma boa escolha. Mas tenho umas três pessoas que aguardam ansiosamente por este momento, ano após ano, e sinto que não lhes posso falhar.”
“Nesse caso, porque não ofereces a ti próprio um dia de descanso?”
“Mas, se não sou eu a valorizar o Dia 23 de Dezembro, quem o fará? O Eusébio, e a sua toalha? O Bruno, que é de Carvalho? A Menina do Gás? O Capitão Planeta? O Vasco da Gama? Um El-rei D. João, o segundo, o quarto, ou o sexto? O Fernando Pessoa?”
“Não sei, talvez possa ser o…”
“…não esse não! Esse, jamais (leia-se jamé como os franceses o fariam)”
Mas antes que o Zé pudesse concluir, a voz que todos temiam deixou-se entrar pela manjedoura a dentro.
“Isso é subjectivo”, respondia o Mindo, esse ser inexplicável daquela terra desconhecida, chamada Brasil.
“Rápido, finge que estás a ler, ou a olhar pela janela”, disse o Zé para Jesus, o Cristo.
O Mindo ficou confuso. Mindo usa arreliar. É super eficaz.
“Na verdade Zé, não tem mal nenhum em tirares um dia para ti. Fazer algo em cima do joelho, não merece a pena. Por vezes é bom parares para reflectires, e assim puderes escolher o caminho que o Senhor melhor indicou para ti”, concluiu o Mindo antes de esvanecer tão depressa como apareceu.
Jesus acrescenta, “sim, basta seguires o caminho por aquele corredor. Na esquerda tens umas escadas de acesso ao parque subterrâneo. Ninguém as usa, é uma boa forma de evitares a multidão.”
O Zé agradece e dirige-se para a porta da manjedoura, mas antes de sair, hesita e dirige-se uma vez mais para Jesus.
“Imagino que a maioria das pessoas que te procuram pedem conselhos, os números do Euromilhões, ou um jagunço para ir dar uns belos tabefes no Primeiro-Ministro e no seu Vice – a não confundir com a revista, site, ou seja lá o que aquilo for.”
“Podes crer, esta malta tem falta de originalidade, ou de inspiração digamos assim”, responde Jesus.
“Nesse caso, e embora eu saiba que o teu aniversário é apenas a 17 de Abril, dou-te os meus parabéns, este bolo de chocolate com cobertura de maçapão, e ainda uma camisola do Sporting CP, com o número 12, como presente.”
Jesus, paralisado de felicidade, e sem palavras perante este gesto tão atencioso, levantou-se e abraçou o Zé como se fossem velhos conhecidos que já não se viam há anos.
O Zé seguiu para casa e decidiu descansar. “Este ano vou dormir até tarde, dar um salto aos correios, ir para a Lan com o pessoal, e à noite vou ao Glicíneas ver o The Hobbit, A Desolação de Smaug”. Afinal, nada melhor do que homenagear um dia em particular, depois deste já ter acontecido.
Hoje já não é o dia 23 de Dezembro, mas no fundo, todos os dias são 23 de Dezembro. Excepto hoje, pois hoje é Noite de Consoada. Véspera de Natal. Noite de ceia feliz. Noite de Paz. Noite de família. Noite de folia. Mas, uma coisa, certamente não o é. Não é noite de Pencas.
Morram Pencas, morram! Pim!
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