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Everywhere I travel, tiny life. Single-serving sugar, single-serving cream, single pat of butter. The microwave Cordon Bleu hobby kit. Shampoo-conditioner combos, sample-packaged mouthwash, tiny bars of soap. The people I meet on each flight? They're single-serving friends.
Fight Club (1999)
Esvaziar a reciclagem. Tem a certeza? Sim. Ok. Delete. Um clique. Feito. Nunca foi tão fácil apagar alguém da nossa vida. Fotos, vídeos, e-mails, mensagens. Simples zeros e uns, efémeros e descartáveis como a própria tecnologia que os sustém. Qualquer contacto, qualquer perfil, é facilmente bloqueado, “desamigado”, “apagado” para sempre. Como se nunca tivesse existido.
Em tempos, guardávamos cartas, postais, álbuns, cassetes e fotografias soltas em caixas de sapatos, baús, ou envelopes. Escondidos para nunca serem abertos, salvo aquele rasgo de nostalgia que inevitavelmente nos assolava. Algumas cartas podiam ser queimadas, algumas fotos também, caso a superstição não falasse mais alto. Mas era mais fácil guardá-las num canto do armário, ou numa prateleira do sótão.
Hoje não. Ninguém escreve cartas. Ninguém revela fotografias. Os próprios álbuns já são digitais. Apagá-los é, para uns, uma obrigação, um mal necessário, exigido pelas novas personagens na história da sua vida. Para mim, é impossível. As memórias estão lá. Os momentos aconteceram. Não vale a pena pensar o contrário. Negá-lo é mentir a nós próprios e não aceitar seguir em frente. Embora para alguns, o acto de apagar seja visto como uma forma de catarse, para mim não passa da cobarde opção de fugir pelo caminho mais fácil.
Digitais ou analógicos, guardo os meus mementos. As velhas caixas de sapatos, hoje substituídas por pastas, as cartas por e-mails e mensagens, as fotografias por JPEGs. Saíram do sótão para um canto remoto do meu disco rígido. Naturalmente guardadas entre pastas de memórias, documentos de trabalho, jogos, e outros que tais. Permanentes. Facilmente acessíveis. Recuperadas, se necessário, mas nunca apagadas.
Mantenho-as por perto, a aguardar pelo dia em que as possa rever, com saudade, mas sem mágoa, com nostalgia, mas sem dor.
Mais difícil, talvez, seja apagar os seus contactos. Seja o número de telefone, ou a amizade virtual, fechar eternamente uma porta exige muito mais de nós do que o acto de apagar as lembranças físicas, ou a memorabilia, que alguém nos deixou. Difícil mas, infelizmente, comum.
Fora um ou outro caso pontual, de contactos que se perderam na transição entre o MSN Messenger e o facebook, ou que relutantemente permanecem distantes desses mundos virtuais, posso afirmar que ainda hoje mantenho os contactos de todas as pessoas que tiveram algum papel na História da minha vida.
Devemos sempre fazê-lo. Não sabemos quando esse contacto pode vir a ser útil. Seja por motivos profissionais, ou pessoais. Não sabemos quando alguém pode mudar. Não sabemos quando nós próprios podemos ser a pessoa indicada para as ajudar. Não sabemos. Nada sabemos.
É uma visão pragmática, mas necessária. Ninguém consegue alimentar trezentos, quinhentos, ou mil amigos. O normal é mantermos um núcleo duro entre cinco e dez amizades, mais uns quantos conhecidos e colegas de trabalho. O resto não passa de conveniência. Amizades momentâneas, que ocupam o teu tempo naquela longa viagem. Pessoas que te ajudam quando estás em apuros numa tarefa que não dominas. Amigos de amigos, que os entretêm, e a ti também. Pessoas que alimentam o teu portefólio de contactos. Pessoas que existem para aquele momento, e nada mais.
Todos os contactos são importantes. Ou pelo menos têm potencial para um dia o serem. Todas as memórias são necessárias. Ajudam-nos a definirmos quem verdadeiramente somos. Apagá-las é um desperdício de energia, e a negação de tudo aquilo que aprendemos com elas.
Lembrem-se que quando apagam alguém, uma foto, uma carta, ou um e-mail, estão também a apagar um pedaço de vós. Construam a vossa cápsula do tempo, contacto a contacto, objecto a objecto. E guardem-na. Mesmo que nunca tenham intenção de a abrir, encontram conforto em saber que o podem fazer.
O tempo cura todas as feridas, mas as memórias não são infalíveis. É bom ter algo que nos ajude a recordar quem fomos em tempos. Pequenos pedaços com o poder de nos salvarem se algum dia nos encontrarmos perdidos, nas encruzilhadas do nosso caminho.
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