Monday, December 23, 2013

O Regresso da Véspera da Véspera de Natal Parte VII

Design: Adriano Cerqueira
365 dias, 42 filhoses, 26 bilharacos, 15 indexações, 7 momentos de impacto, 2 rumos certos, um Mindo e 0 pencas depois, está de regresso o momento mais ignorado por toda a gente durante o ano, a Véspera da Véspera de Natal!

Era 23 de Dezembro. A noite antes da Véspera de Natal. A Véspera de Consoada. A Antevéspera. Enfim, era 23 de Dezembro. Como manda a tradição, o Zé estava a passear por um Centro Comercial qualquer, à procura das últimas prendas que, forçosamente, se deixaram ficar para o fim.

Enquanto lutava por entre as hordas de enraivecidas multidões que batalhavam pelo último bacalhau do Continente, como se este fosse a última Coca-Cola do Deserto. Patrocinado por uma bebida qualquer, como o Pôr-do-Sol daquela música. O nosso herói deparou-se com uma manjedoura algo perdida em um dos recantos daquele enorme não-lugar, edificado como hino ao capitalismo desbaratado.

Para seu espanto, esta manjedoura era a única coisa que, embora estivesse aberta, não tinha uma única fila para nela entrar. Levado pela curiosidade e pela necessidade de estar nalgum sítio onde pudesse esticar os braços sem que a sua mão se deparasse com as fuças de umas três ou quatro pessoas, o Zé dirigiu-se para a manjedoura.

Lá dentro estava o Menino Jesus, ora nas palhas estendido, ora nas palhas deitado. Jesus, o Jorge, também se encontrava lá, ajoelhado, a pedir a Deus que lhe concedesse as sete bolas de cristal, para que este pudesse chamar o Shenlong e pedir-lhe o desejo de continuar no banco do Glorioso por mais uns anitos.

Deus não parecia estar muito virado para lhe responder, mas o Menino Jesus ali estava, ora estendido, ora deitado, mas sempre nas palhas. Quando Jesus, o Jorge, terminou, chegou a vez do Zé. Jesus, o Menino, levantou-se e deu lugar à sua versão mais adulta. Não a que aparece no cartaz publicitário dos Pregos Garcia, mas a outra que andou a pregar pela Galileia, à la Diogo Morgado.

“Então moço, ‘tá tudo?”, perguntou Jesus.

“Meu, esse tipo de linguagem é tão 90’s que já chateia.”

“Bom, já estou um pouco farto de ter por aqui os espertalhões do costume que respondem ‘Tu não és meu pai’, sempre que lhes pergunto, ‘que te traz aqui, meu filho’.”

“Parece-me justo.”

“Ora não fosse eu Jesus, o Jorge… Quer dizer, o Cristo”.

“Honestamente, este ano não há propriamente algo que eu queira. Talvez, não ter que escrever esta história, fosse uma boa escolha. Mas tenho umas três pessoas que aguardam ansiosamente por este momento, ano após ano, e sinto que não lhes posso falhar.”

“Nesse caso, porque não ofereces a ti próprio um dia de descanso?”

“Mas, se não sou eu a valorizar o Dia 23 de Dezembro, quem o fará? O Eusébio, e a sua toalha? O Bruno, que é de Carvalho? A Menina do Gás? O Capitão Planeta? O Vasco da Gama? Um El-rei D. João, o segundo, o quarto, ou o sexto? O Fernando Pessoa?”

“Não sei, talvez possa ser o…”

“…não esse não! Esse, jamais (leia-se jamé como os franceses o fariam)”

Mas antes que o Zé pudesse concluir, a voz que todos temiam deixou-se entrar pela manjedoura a dentro.

“Isso é subjectivo”, respondia o Mindo, esse ser inexplicável daquela terra desconhecida, chamada Brasil.

“Rápido, finge que estás a ler, ou a olhar pela janela”, disse o Zé para Jesus, o Cristo.

O Mindo ficou confuso. Mindo usa arreliar. É super eficaz.

“Na verdade Zé, não tem mal nenhum em tirares um dia para ti. Fazer algo em cima do joelho, não merece a pena. Por vezes é bom parares para reflectires, e assim puderes escolher o caminho que o Senhor melhor indicou para ti”, concluiu o Mindo antes de esvanecer tão depressa como apareceu.

Jesus acrescenta, “sim, basta seguires o caminho por aquele corredor. Na esquerda tens umas escadas de acesso ao parque subterrâneo. Ninguém as usa, é uma boa forma de evitares a multidão.”

O Zé agradece e dirige-se para a porta da manjedoura, mas antes de sair, hesita e dirige-se uma vez mais para Jesus.

“Imagino que a maioria das pessoas que te procuram pedem conselhos, os números do Euromilhões, ou um jagunço para ir dar uns belos tabefes no Primeiro-Ministro e no seu Vice – a não confundir com a revista, site, ou seja lá o que aquilo for.”

“Podes crer, esta malta tem falta de originalidade, ou de inspiração digamos assim”, responde Jesus.

“Nesse caso, e embora eu saiba que o teu aniversário é apenas a 17 de Abril, dou-te os meus parabéns, este bolo de chocolate com cobertura de maçapão, e ainda uma camisola do Sporting CP, com o número 12, como presente.”

Jesus, paralisado de felicidade, e sem palavras perante este gesto tão atencioso, levantou-se e abraçou o Zé como se fossem velhos conhecidos que já não se viam há anos.

O Zé seguiu para casa e decidiu descansar. “Este ano vou dormir até tarde, dar um salto aos correios, ir para a Lan com o pessoal, e à noite vou ao Glicíneas ver o The Hobbit, A Desolação de Smaug”. Afinal, nada melhor do que homenagear um dia em particular, depois deste já ter acontecido.

Hoje já não é o dia 23 de Dezembro, mas no fundo, todos os dias são 23 de Dezembro. Excepto hoje, pois hoje é Noite de Consoada. Véspera de Natal. Noite de ceia feliz. Noite de Paz. Noite de família. Noite de folia. Mas, uma coisa, certamente não o é. Não é noite de Pencas.

Morram Pencas, morram! Pim!

Thursday, December 05, 2013

A Mais Bela das Artes

Hard Club, Porto, Foto: Blitz
Music has always been a matter of Energy to me, a question of Fuel. Sentimental people call it Inspiration, but what they really mean is Fuel. I have always needed Fuel. I am a serious consumer. On some nights I still believe that a car with the gas needle on empty can run about fifty more miles if you have the right music very loud on the radio.

Hunter S. Thompson

A Música é uma constante. Define momentos. Alimenta a nostalgia. Afoga o silêncio. Enche o espaço. E recarrega a alma. Entretém-nos em longas viagens a sós. Inspira-nos. Apazigua uma manhã parada no trânsito. Dá cor a uma conversa. Liga-nos. Liberta-nos. Desbloqueia o preconceito. Desinibe o nosso corpo. Faz do sonho, realidade.

Cada um de nós tem as suas histórias. As suas canções. “Há quanto tempo não ouvia isto”. Um simples acorde e somos levados para outro tempo, para outro lugar. Um refrão, e um sorriso toma conta da nossa face. Um excerto de uma letra, e os nossos olhos enchem-se de lágrimas. Cada melodia, uma reacção diferente. Distinta de ouvinte para ouvinte. Sempre pessoal, nunca indiferente.

Há diversos momentos que associo a uma música, a uma banda, ou a uma letra em particular. Muitos, demasiado pessoais para os poder partilhar. Alguns onde uma determinada música, ou um concerto por inteiro, são os principais protagonistas. E outros em que a letra de uma música transporta os meus pensamentos para outros universos, realidades distintas da nossa, ou simples recordações.

Um desses momentos foi a primeira vez que ouvi a Untouchable dos Anathema ao vivo. Reservei a data do concerto no Hard Club do Porto com alguns meses de antecedência. Sempre presente na minha agenda, ficou esquecido nos recantos da minha memória. Por falta de tempo, e de pesquisa, ignorei o facto de os Anathema terem lançado um novo LP, o Weather Systems. O concerto ia ser o meu primeiro contacto com este álbum.

Por entre músicas familiares, surgiu a Untouchable. Mesmo hoje, sou incapaz de descrever o que senti naquele momento. A energia que me envolveu. As emoções que trespassaram o meu coração, e ganharam vida naqueles segundos. Ouvi cada acorde, cada letra, com completa atenção. Fiquei paralisado com a beleza daquela melodia. Naquele instante, nada mais existia. Apenas o belo e sereno aroma de algo que, tão profundamente, toca na tua alma, e que se deixa envolver num terno abraço de compreensão e empatia.

Uma surpresa agradável. Uma experiência irrealizável.

A música também pode servir como uma escapatória. Um meio para libertar frustrações e limpar a tua mente de pensamentos negativos. Em 2011, por obra do acaso, o dia de defesa da minha tese de mestrado coincidiu com a data do concerto dos Within Temptation no Coliseu do Porto. A prenda ideal, a celebração necessária para apagar toda e qualquer tensão que aquele dia podia revelar. E assim foi. Saí do concerto sem voz. Numa noite fria de Outubro, estava completamente suado da cabeça aos pés. Saí de lá sem energias, e com uma sede dos diabos. Mas sentia-me livre. Pronto para um novo começo.

Foram vários os concertos marcantes a que já assisti. Do inigualável espectáculo dos Bon Jovi em 2008, até ao sonho tornado realidade de ver os New Order ao vivo, na sua última tour em 2005. Poder cantar todas as músicas daquela que é a minha banda de “todos os tempos”, tão próximo deles. Vê-los a corresponder ao meu pedido para que tocassem a Regret. Sentir de perto a melancolia da última despedida de uma banda com décadas de existência, e incrivelmente desconhecida pela grande maioria da minha geração.

Incontáveis histórias. Entre concertos, festivais, álbuns, vinis e CDs. Incontáveis momentos. Vividos na companhia desta eterna constante da própria condição humana. Uma arte única. Um acto de criação que nos eleva mais próximos do divino. A eterna vitória sob o inóspito e silencioso desconhecido destino.

Mesmo enquanto escrevo estas palavras, ouço atentamente à inspiradora melodia de Explosions in the Sky. Agarro-me a eles para apagarem o silêncio, para orientarem os meus pensamentos, e para guiarem os meus dedos, na construção desta sinfonia literária que, também ela, reflecte nos seus parágrafos cada nota, e cada composição, da mais bela das artes. A música.

Thursday, November 14, 2013

As Terras do Meu Verão

Foto: Janela em Belmonte; Autor: Adriano Cerqueira
Portugal
  • Albergaria-a-Velha (Transbordo)
  • Arada (Produção “No Rumo Certo”)
  • Aveiro (Compras&Utilidades, Visita)
  • Belmonte (Almoço, Visita)
  • Cascais (Visita)
  • Covilhã (Residência, Visita)
  • Espinho (Cinanima, Visita)
  • Estarreja (Visita, Concerto Luísa Sobral)
  • Lisboa (DocLisboa, Visita)
  • Porto (Aeroporto, Compras&Utilidades, Festival da Francesinha)
  • Marinha (Festival da Francesinha, Produção “No Rumo Certo”)
  • Miramar (Almoço)
  • Oliveira de Azeméis (Visita)
  • Santa Maria da Feira (Feira Medieval)
  • São Jacinto (Praia)
  • São João da Madeira (Cinema, Compras&Utilidades)
  • São João de Ovar (Produção “No Rumo Certo”)
  • São Vicente de Pereira (Produção “No Rumo Certo”)
  • Torre (Visita)
  • Torreira (Visita)

Reino Unido
  • Londres (Estadia, Visita)

  • Abbey Road
  • British Museum
  • Buckingham Palace
  • Camden Town
  • Green Park
  • Harry Potter Platform 9 3/4
  • Her Majesty’s Theatre (The Phantom of the Opera)
  • Houses of Parliament
  • Hyde Park
  • Lambeth North (The Steam Engine)
  • London Eye
  • King’s Cross
  • M&M’s World
  • Museum of Natural History
  • Notting Hill
  • Piccadilly Circus
  • Portobello Road
  • Royal Albert Hall
  • Science Museum
  • St. James Park
  • Tate Modern
  • Thames River Cruise
  • Tower Bridge
  • Tower of London
  • Trafalgar Square
  • Victoria Station
  • Westminster Abbey

  • Stansted (Aeroporto)

Thursday, November 07, 2013

Difícil simples gesto de Amar

Foto DR
The Beatles, they had it all figured out, okay? 'I Want to Hold Your Hand.' The first single. It's effing brilliant, right?... That's what everybody wants... They don't want a twenty-four-hour hump sesh, they don't want to be married to you for a hundred years. They just want to hold your hand.

Rachel Cohn, Nick & Norah's Infinite Playlist

Encontro-me, por vezes, a pensar sobre os valores que fomos esquecendo. Escondidos por trás de um véu de conformismo paradigmático. De uma liberdade ilusória que nos encaminha para a solidão. Os Beatles acertaram logo no início. Apenas queremos dar a mão. Um gesto tão simples, tão profundo, tão doce, tão carinhoso, tão inocente, tão vulnerável. Um gesto tão real, hoje banalizado como o vazio de Amor de um romance promíscuo e efémero.

Damos a mão. Mas não sabemos amar. Esquecemo-nos. Gritámos por liberdade. Por uma sociedade sexual. Aberta. Sem tabus. Conseguimo-lo. Libertámo-nos. Mas esquecemo-nos de amar.

É comum vermos online uma foto de um casal de idosos, juntos há mais de 75 anos. A mensagem, traduzida ou não, é sempre a mesma. Um repórter pergunta ao senhor qual o segredo da longevidade do seu casamento. Ele responde, “no nosso tempo quando algo se partia, arranjávamos, não deitávamos fora.”

Hoje, é raro isso acontecer. É mais fácil desistir perante a primeira adversidade, do que trabalhar sobre o assunto, e encontrar uma solução para a ultrapassar. É comum ver um casal a separar-se mal esbarram contra a primeira barreira. Seja por falhas de comunicação, ou desinteresse. Por um exagerado facilitismo, ou ausência de motivação. Por falta de entrega. Por promiscuidade. Por serem demasiado liberais. Ou, por simplesmente, não se estarem para se chatear. Usam-se, e deitam fora, como uma pastilha elástica que já perdeu o sabor.

Não é suficiente dar as mãos. Saltam de uma amizade com benefícios para a seguinte. Dizem “amo-te” se for necessário. Mas não amam. Não fazem amor. São apenas dois corpos a saciarem-se. Dois corpos que não comunicam. Que se desapegam, culminado o seu prazer. São dois. Nunca um. São sexo. Nunca amor.

Não condeno one night stands. Nem tão pouco coloridas amizades, benéficas de mútuos acordos, tão mecânicos e impessoais, que não conseguem ser mais profundos que uma mera visita às Finanças. Não condeno a liberdade sexual. É um direito nosso. Um direito de experimentar diferentes formas de prazer, de nos explorarmos a nós próprios. De nos conhecermos melhor.

Condeno sim, a banalização do Amor. Condeno esta aparente apatia pela perda de um valor base. De algo que define a nossa própria existência. De algo que dá sentido à vida. De algo tão indescritível, de tanto bem que nos faz. Condeno o esquecimento da importância de amar. De sacrifício. De ultrapassar obstáculos. A dois, como um. Condeno a proliferação de uma vida a sós, eternamente promíscua e desprovida de compromisso.

“Não queremos uma sessão de 24 horas de sexo. Não queremos estar juntos até aos cem. Queremos dar as mãos.” Sentir o afecto um pelo outro. Amar. Saborear este pequeno momento. E, de mãos dadas, ultrapassar todos e quaisquer obstáculos que encontramos pelo caminho.

Amar é assustador. É uma entrega total. Impossível de explicar, mas fácil de compreender. Nem todos somos capazes de o fazer logo desde o início. Embora nasça connosco, precisamos de crescer para sermos capazes de o ouvir. Algo que era tão fácil na nossa infância, mas que esquecemos na adolescência. Todos. Cada um a seu ritmo. Aprendemos a amar. Aprendemos a nos entregar a quem amamos. Aprendemos a aceitar o Amor de braços abertos. A arriscar. A sermos felizes.

Não podemos sucumbir ao medo. À mágoa. À possibilidade de um desgosto. É natural temer pela incerteza do futuro. Mas esqueçamos isso. Apenas queremos dar as mãos. Os dois. Apenas queremos amar. A dois. Apenas queremos este momento. Para nós. Mas hoje, apenas queremos dar as mãos.

And when I touch you I feel happy inside, it's such a feeling that my love... I can't hide. You got that something, I think you'll understand. When I say that something, I want to hold your hand.

The Beatles, I Want To Hold Your Hand

Thursday, October 10, 2013

Summer Não é a Mulher dos teus Sonhos

Zooey Deschanel
Some people believe holding on and hanging in there are signs of great strength. However, there are times when it takes much more strength to know when to let go and then do it. 

Ann Landers

Summer Finn. É o nome da personagem imortalizada por Zooey Deschanel no filme (500) Days of Summer. É também o primeiro contacto que muitos de nós tivemos com uma Manic Pixie Dream Girl. A típica girl next door, bela, simples, excêntrica, infantil. Alguém capaz de reunir uma multidão à sua volta com não mais que um pequeno sorriso. Alienada no seu próprio Mundo, ingénua, sonhadora, mas decisiva.

Ao longo da hora e meia de filme, apaixonámo-nos por Summer, odiámo-la, e aceitámos a inevitabilidade de algo que não estava destinado a resultar. Nem todos nos revemos em Tom, afinal de contas, ele não é um típico rapaz. Como eu, não existe nada de vulgar nele. Não segue a norma do estereotípico jovem nos seus loucos anos vinte. Nem todos nos revemos em Tom. Não todos, mas eu sim.

Não é fácil crescer com uma imagem idílica de Amor. Não é fácil acreditar em destino. Na tal. Em apaixonados romances que surgem naturalmente após uma intrincada rede de fortuitas coincidências. Em encontros, e desencontros. Não é fácil aceitar que o controlo da nossa própria vida se resume a um pedaço de pequenas decisões que, de uma forma, ou de outra, nos levam em direcção ao mesmo lugar. Não é fácil acreditar no Amor. Não é fácil arriscar. Não é fácil sofrer. Não é fácil amar. Não é fácil.

Sonhamos com a rapariga ideal. Descrevemo-la. Cada pormenor desse sonho, cada traço da sua personalidade. Pedaços genéricos de alguém irreal. Desenhamos o seu rosto na nossa mente. Procuramo-lo por entre a multidão, sem sucesso, nem sorte. Acabamos por ceder. Tentamos encaixar o rosto de outra nesta imagem. Tentamos. Mas não conseguimos.

As Manic Pixie Dream Girls são giras. Usam muita maquilhagem. Ouvem a mesma música que tu ouves. Gostam de coisas alternativas e obscuras que apenas tu e mais ninguém conhece. Percebem as tuas referências, as tuas piadas, os teus devaneios pela cultura popular que consumiste ao longo da tua ainda curta vida. As Manic Pixie Dream Girls parecem ser perfeitas. São as raparigas ideais. As parceiras com quem todos sonhamos. São desejos transformados em realidade. 

São desejos. Nada mais. Personagens irreais. Produtos de uma popularização da cultura vintage. Do alternativo. Previsíveis objectos vazios de personalidades estereotipadas. Aborrecidos sonhos que, quando reais, desiludem. Desencantam.  Decepcionam. Destroem as esperanças de qualquer pobre coitado que se apaixone por uma. Todas elas são a Summer. Toda a Summer é uma Manic Pixie Dream Girl. 

Magoados pela desilusão de um sonho trocado por real, vemos crescer um eterno e momentâneo cinismo. Esquecemos o Amor. Desistimos do Romance. Desacreditamos tudo aquilo que faz de nós quem hoje somos. Desistimos de coração partido, até aquele dia. Aquele dia em que despertamos, e algo está diferente. O luto é ultrapassado. A desilusão perde-se nos confins do pensamento, e a mágoa não passa de uma fugaz lembrança de um passado, agora distante.

Seguimos em frente. Reaprendemos a Amar. Aceitamos Summer. Quem ela foi. Quem ela é. Quem fomos nós. Quem somos nós. Aceitamos Summer, e encontramos Autumn, Winter, ou Spring.

No fim, não desejamos nenhuma delas, mas sim alguém capaz de viver connosco todas as Estações. Todos os nossos Verões. E todos os nossos Invernos. 

Amamos, odiamos e aceitamos Summer. Summer e todas as Manic Pixie Dream Girls que se cruzam no nosso caminho. Desejamos a girl next door, mas apenas somos capazes de amar, de verdadeiramente amar, aquela com quem em tempos sonhámos e que, naquele mesmo dia, atravessou, por aparente acaso, o seu destino com o nosso.

Um dia perguntaram-me se o romance estava morto. Se o Amor tinha dado lugar a um apático cinismo hiperrealista. Não, o romance vive. Tão forte como sempre. Alguns apenas ainda não têm maturidade para o compreender. Outros, não passam de cínicos pontuais. Cínicos que ainda fazem o luto pela perda da Summer. Até ao dia em que também eles, vão acordar, para um Mundo mais alegre, mais sereno. Diferente. Repleto de expectativas. Com uma nova oportunidade mesmo ao virar da esquina.

Thursday, September 19, 2013

Intervalo. Pausa. Revisão.

Cartoon
Ao longo dos últimos meses aceitei o desafio de rever e reeditar todos os artigos que foram publicados no meu primeiro blogue, o Blue Dove. Quarenta e nove publicações, ao longo de pouco mais de dois meses, deram uma nova vida a crónicas, contos, poemas, artigos de opinião e curiosidades, escritas há mais de oito anos, mas ainda bastante actuais. 

Mas estes textos precisavam de um novo espaço. Não bastava serem revistos. Como o meu velho blogue já não existia, decidi criar um novo. A Flock of Blue Doves. Um novo espaço. Um novo design. Um novo blogue que não ia apenas limitar-se a ser um arquivo para algumas palavras há muito esquecidas nos recantos da minha memória, mas sim um espaço que ambicionava aglomerar todos os contos, poemas e notícias escritas nos blogues Story Writer, Antologia do Eu e 25 de Julho

Precisei de mais dois meses para recuperar as publicações dos últimos seis anos de vida destes blogues. Essa tarefa terminou no passado dia 15 de Setembro com a reedição do conto “L’Heure Bleue”, o último a ser publicado no Story Writer. Nos últimos dias, o novo Blue Dove já teve as suas primeiras actualizações inteiramente originais. Um poema, e o primeiro capítulo de uma crónica de viagem em formato ficcional que retrata os diversos episódios da Eurotrip que fiz no Verão de 2010

O renascimento deste novo blogue, motivou também uma reorganização dos blogues No Sense of Reason e Mercúrio do Porto. De cara lavada, com novas secções, e um novo design, atraente e uniformizado para os três representantes da minha blogosfera. Contudo, esta mudança não pode ser apenas estética.

Com sete anos de existência, e 243 artigos publicados, o No Sense of Reason é um blogue visitado diariamente por dezenas de utilizadores. Não são apenas os textos mais recentes que os atraem, mas sim a vasta gama de temáticas, histórias, e crónicas publicadas ao longo destes anos. Algumas delas, retratos de um tempo caracterizado por uma menor qualidade de escrita, e algumas falhas na revisão, e na própria formatação dos artigos. 

Finalizada a reedição do Blue Dove, e dos restantes blogues, que nos últimos dias fecharam portas, resta-me agora fazer uma merecida pausa de duas semanas na reestruturação da minha blogosfera. Quando regressar, o novo desafio passa pela revisão de cada um dos artigos publicados no No Sense of Reason e anteriores a Janeiro de 2012. 

Esta nova fase vai consistir na revisão e reedição de textos, na devida creditação das imagens e fotografias publicadas, na substituição de links e vídeos desactivados, e no upload de alguns vídeos para o meu canal do Youtube. Tal como acontecia com A Flock of Blue Doves, vou reeditar um artigo por dia, de domingo a quinta-feira. 

O blogue vai continuar a funcionar de forma normal, com a regular publicação das minhas crónicas editadas na revista Her Ideal, das colunas tradicionais como o Regresso do 23, ou As Terras do Meu Verão, assim como um ou outro artigo de opinião, ou de reflexão, que poderei vir a escrever, à medida que as ideias me forem surgindo.

A Flock of Blue Doves entra agora numa nova fase. A partir de hoje passa a ser um blogue dedicado exclusivamente à minha escrita criativa, nomeadamente, contos e poemas. Semanalmente, vou tentar publicar um novo capítulo das crónicas da minha Eurotrip.

Estejam atentos à minha blogosfera para não perderem as próximas novidades, e preparem-se para embarcar numa viagem nostálgica sob a bandeira de No Sense of Reason

Believe in me, and I’ll believe in you!

Thursday, September 12, 2013

Demasiada Informação

Imagem DR
Alterar as regras de privacidade de uma rede social é o suficiente para mobilizar uma interminável onda de criticismo, direccionado contra a invasão das nossas fronteiras do universo privado. Declaramo-nos solidários para com esses movimentos. Subscrevemos as suas petições. E relatamos a notícia com indignação dentro do nosso círculo de contactos.

Gritamos. Protestamos. Exigimos. Mas quantos de nós põe efectivamente em prática qualquer medida de segurança? Basta observar com alguma atenção o feed de notícias de uma rede social, para percebermos que esse número deve ser muito baixo, para não dizer nulo.

Partilhamos fotos das nossas férias, dos nossos familiares, dos nossos filhos. Partilhamos a nossa casa, a nossa intimidade. Os sítios que visitamos, os restaurantes onde comemos, e a própria comida que cozinhamos. Nada é privado, tudo é público.

Instalamos aplicações para organizar o nosso dia. Todos os eventos, calendarizados, e minuciosamente descritos. Um simples click, e cada um deles é dado a conhecer ao Mundo. Qualquer pessoa passa assim a saber o que fazemos. Onde estamos. Com quem. Conhecemos pormenores íntimos de perfeitos estranhos que, de outra forma, não nos seriam revelados.

Se saber o que alguém tomou ao pequeno-almoço, ou onde passou as suas férias, pouca importância tem, já a informação sobre a sua rotina diária é uma arma poderosa nas mãos de quem a souber manejar. 

Não é difícil perseguir alguém. Delinear a sua rotina. Encontrá-la inesperadamente. Ou até mesmo manipulá-la, subtilmente, através dos seus gostos e desejos. Somos tão vulneráveis, como nos permitimos ser. Embora subtis alterações às regras de privacidade possam expor alguém contra a sua vontade, temos que admitir, que não existe melhor filtro do que o bom senso. 

Devemos ter mais atenção com aquilo que partilhamos. Não custa nada pensar duas vezes antes de publicarmos uma foto reveladora, um pensamento, ou uma informação pessoal. Alimentamos as novelas dos nossos observadores sempre que o fazemos. Mas não somos actrizes, nem actores, de um espectáculo privado, criado apenas para os entreter. 

Somos livres. Temos liberdade para nos recolhermos na nossa bolha pessoal. Para guardarmos os nossos momentos mais íntimos dos olhares alheios. Que importa quantas calorias queimamos na última corrida? Temos hábitos saudáveis. Fazemos exercício. É importante para nós, não para os outros. Que importa onde fomos almoçar? Saímos. Divertimo-nos. Conhecemos alguém. Foi bom para nós. Os outros não estavam lá.

Viajámos. Ampliámos o nosso horizonte. Abrimos a nossa mente. Vivemos outra realidade. Absorvemos outra cultura. Crescemos. Sós. Ou acompanhados. É algo nosso. Indiscritível. Ninguém mais poderá compreender. 

Apaixonamo-nos. Amamos. Discutimos. Resolvemos. Seguimos em frente. Construímos uma relação. Somos dois. A sós. Os sentimentos são nossos. As experiências são nossas. Partilhamos um segredo. Um discreto reflexo, no olhar de cada um. Algo que mais ninguém consegue compreender.

Todas as acções têm consequências. Vivemos num ciclo vicioso, excessivamente povoado por notificações inúteis. Por dados privados, que não pertencem aos olhos de mais ninguém. Nós somos o primeiro, e o mais importante, filtro de informação. Pensar duas vezes antes de partilhar, é a melhor defesa contra qualquer ataque, seja ele real ou virtual, contra a nossa privacidade. 

A bolha apenas rebenta quando delegamos o controlo para uma força exterior. Não perca o domínio sobre a sua informação. A vida privada de cada um é tão frágil, e tão próxima, como um botão de partilha.

Tuesday, September 03, 2013

Friendzone 1.0.1

(500) Days of Summer
Friendzone. Even though it’s a pretty popular term these days, very few people really know what it means. If a girl, or a boy, ignores you or doesn’t even know if you exist, you’re not in their friendzone, you’re either invisible, or you were rejected by them. When a girl you just met rejects you, or when you find out soon after you’ve met that she has a boyfriend, you’re not in the friendzone. You were simply rejected.

I’ve seen a few popular guys complain about how they are supposedly stuck in some girl’s friendzone, just because she won’t date them, either because she knows he’s not looking for anything serious, or simply because she doesn’t find him attractive. Again, you’re not in the friendzone. You just struck out.

By definition you’re only in someone’s friendzone if the two of you have been friends for a while, and you’ve just now realised you’re in love with her. Maybe the moment just passed you by, maybe she’s been in a serious relationship this whole time, or maybe you were. Nevertheless, now you have strong feelings for someone who’s very dear to you. You’re close friends and you don’t want to ruin it, but hey, the heart wants what the heart wants. Now, you’re definitely in the friendzone.

So, what can you do to leave such a terrifying place? There is no magic formula that will guarantee you’ll emerge victorious from such an endeavour. However, there is one simple solution that will help you know if this path is worth pursuing: Man up and go for it! If you’ve been close friends for a long time, it’s likely she doesn’t see you as a potential partner. You’re her friend, a sexless being who’s there to cheer her up when she’s down, to listen to her, and to have fun together every once in a while. You need to change this. I don’t mean you should start treating her like a jerk or anything, but just make her know that you find her attractive and that nothing would make you happier than the two of you ending up together.

If you’re both single, ask her out, treat her to a nice date. Just like you would if you two had just met. Make her realise that you have feelings for her. Most girls will immediately pick up where you’re coming from. They’ll either ignore it and hope it goes away (if they do this, they’re awful people, and you should just move on), or they’ll act on those feelings and confront you directly. 

If she feels the same way towards you, great. If she doesn’t, she’ll pull you aside, you’ll have a profound and meaningful conversation about your relationship, and, if everything goes well, you’ll keep being good friends. Just don’t let this go on for more than it should, it’s better to know how she feels, than to regret never having the nerve to find out. 

What’s the worst that could happen? She’ll say no? So what? You’ll have closure, and you’ll be able to move on. If your friendship is strong, even if it’s wounded by this, the wound will heal, and you’ll be friends again one day. 

Just remember, if you need to keep your distance after she turns you down, do it, she will respect your decision, and it will be for the best. Hearing her say No isn’t enough. You need to go over a period of withdrawal, just like you would if you had been in a relationship that just ended. Before you can be ok with her, you need to be ok with yourself.

What if you’re good friends with a girl who’s already in a relationship? 

This situation is somewhat different and more difficult to resolve. First of all, you should do a self-assessment of yourself and your feelings. Are you really in love with her? Are you just playing it safe because you’ve been through a bad break up and it’s easier to fall in love with someone who’s unavailable, than to risk it all out there in the dating scene? Or are your feelings nothing more than a less than innocent physical attraction? If you’re still hung up on her after going through all these questions, well, you’re basically screwed.    

This is the kind of situation where reality is very different from what you see in the movies. While in Hollywood the guy she’s dating is always a jerk who treats her bad, a comic relief that doesn’t deserve her, and that she’ll end up breaking up with sooner or later, in real life this is rarely the case. 

Even if you think the other guy is a jerk, he might actually be a great guy, and the best boyfriend she has ever had. If it does turn out to be that he’s actually a real jerk, you’ll need to spend some time evaluating their relationship. Have they just met or are they in a long committed relationship? Do you know for sure that he’s a jerk, or are you basing this assumption mainly on what she tells you about him? 

The truth is true passion only lasts from one to three years, depending on the couples’ dynamic and chemistry. After that, either the relationship ends or, if you’re really in love, you’ll have to find other things to make it work. Some people, especially women, choose drama, and start finding every little excuse for the two of them to fight, just so they can feel something strong and passionate, and especially, to make up afterwards. 

If you’re her confident, it’s possible that after every single fight she’ll run towards you for advice, or just looking for a friendly ear, or a shoulder to cry on. Remember, in these situations, most of the things she says, are actually exaggerated, and don’t reflect the entire truth of the events that have unfolded.


Some women will even lead you on to thinking that the two of you might have a future together. But they’re really just looking for a little escape from their current reality. They long to feel sexy, loved, wanted and desired once again. This is probably the worst thing any woman can do to you, especially if you have strong feelings for her.

If even after all this, you still have feelings for her, you can basically do one of three things. Go for it and risk it all. Get your feelings out there, show her how much you care for her. In most cases, no one ever breaks up with their boyfriend/girlfriend just to be with someone else, especially if they’re in a long committed relationship, so, you already know the odds are pretty much against you. However, you can only truly move on after she rejects you completely. Rejection is part of the process, don’t be afraid of it.

Wait. Simply wait until her relationship ends. It might happen, it might not. Time will tell. If her boyfriend is a real jerk, and if she’s not in an over dependent relationship, they’ll probably break up eventually. Even if it seems perfect, sometimes relationships just don’t work out, people drift apart, cheat, fall out of love and move on. However, you should still try to make your feelings heard. Not in an obvious way, but with subtlety. Women are very good on picking up signs, even if they don’t show it. Just be there for her, talk to her. Go out. Have fun. She’ll appreciate you for it, and she’ll turn to you right after her relationship ends.

If she’s leading you on, however, it’s a whole different ball game. Being there just isn’t enough, and, like I’ve previously pointed out, she’s probably just using you to spice things up in her relationship. In this case the best thing you can do is ignore her. If she misses you, or if she truly has feelings for you, she’ll come to you. Just wait. Women hate to be ignored, she’ll feel confused as to why you’re not talking to her anymore, and she’ll eventually give in and seek you out. 

In the end, it’s all a game, and you’ll need to be able to play it through ‘til the end if you want to hold on to any hopes of being in a relationship with her. If you’re lucky, you’ll meet someone along the way. If you do, you should first figure out if you’re able to move on from the girl who friendzoned you. If you feel you can’t, than there is no point in hurting someone else. 

In this situation you need to make a hard decision. You can take this new opportunity and be happy with someone who loves you, or you can keep being miserable waiting for someone who might never be available. The choice seems easy but it isn’t. If you do choose to be with someone else, keep in mind that the other girl will probably never be with you, even if her relationship ends and you’re single again. It might even strengthen her current relationship, because she’ll realise you’re not there anymore. There’s no longer a simple solution to her problems. No getaway car. No escape rope. Yes, she might find some other schmuck to take your place, but your window, if it was ever open, is now permanently closed.

There’s no ticket out of the friendzone. There’s just luck, chemistry and love. If two people connect, it doesn’t matter if they’re friends or if they’re unavailable for some reason. If two people are really in love, they’ll find a way to be together. Keep your eyes wide opened. There’s a new opportunity just around the corner. But above all things, don’t be afraid to say how you feel. Don’t be afraid to go for it. To risk it all. It’s always hard to hear her say No, but there’s nothing like that Yes, that you’ll only hear if you let her know how you truly feel.

Tuesday, August 20, 2013

Vazio de Ideias

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No outro dia estava a tentar escrever a minha habitual crónica para a Her Ideal. O primeiro parágrafo até estava aceitável, mas não posso dizer o mesmo do resto. Notas soltas, desligadas umas das outras. Cada frase que escrevia, parecia-se com o início de uma história diferente, ligada à anterior, apenas e só pelo tema em geral que tentava abordar.

Tardei em chegar aos três mil caracteres. Alonguei-me. Resisti até ao último segundo. Insisti em algo que não me agradava. Em algo desconexo. Sem sentido. Algo que não merecia ser assinado por mim. Não naquele estado. Desisti. 

Queria apagá-lo. Rasgá-lo. Queimá-lo. Observar de perto a envolvência das chamas no papel. Até que a última letra se transformasse num negrume carbonizado de algo que, em tempos, se assemelhava a uma folha de papel. 

Não o fiz. Guardei-o para nunca mais recordar. Algumas tiradas tinham o seu quê de qualidade. Podem um dia vir a ser úteis. Afinal, em três mil caracteres alguma coisa se há de aproveitar. Quem sabe, um dia. Não hoje, mas um dia. 

Em conversa, surgiu-me outro tema. Mais aborrecido. Um pouco desinteressante. Longe de se identificar com o estilo que venho a construir ao longo dos últimos meses. Afinal, todos nós temos os nossos momentos de falta de inspiração. De desenrascanço face à triste meretriz do tempo, e dos prazos de entrega. 

Escrevi a nova crónica em três tempos. As palavras fluíam com maior facilidade. Conexas, emocionais. Mas aborrecidas. Excessivamente aborrecidas. Ontem dei por mim a suspirar “ennui” enquanto preparava o jantar. Isto talvez faça de mim um promíscuo presunçoso. Quem de seu perfeito juízo, suspira em voz alta “ennui” para uma cozinha vazia? 

Este sentimento assolou-me nas últimas semanas. Culpo-o pelo desastre que foi aquela tentativa de artigo que nunca o será. Culpo-o pela alternativa aborrecida que dali saiu. 

Não espero, nem tão pouco desejo, que tudo aquilo que eu escreva seja bom, inspirador, ou até mesmo capaz de apelar à mais íntima profundidade das emoções dos meus leitores. Reservo isso para alguns rasgos de genialidade que povoam a minha escrita, sempre que as Musas, e a minha barreira de procrastinação o permitem. 

Culpo o meu aborrecimento, assim como culpo o meu espírito de laissez-faire. Preguiçoso procrastinador, que nem sempre se safa sob a pressão do deadline. Infelizmente não consegui fazer melhor desta vez. Cheguei mesmo a sentir alguma desilusão em resposta ao meu novo artigo. Paciência. Não sou perfeito. Nem tão pouco organizado. Não desejo a perfeição, mas procuro-a no caótico limiar arquivista do meu pensamento. 

Peço. Não. Imploro, o perdão dos meus fieis leitores que, por antecipação, sofrem agora de um profundo desapontamento por aquilo que eu escrevi, mesmo antes de o terem lido. Farei melhor. Um dia. Farei melhor.

Thursday, August 08, 2013

Vem Sentar-te Comigo, Maria, à Beira do Rio

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Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Ricardo Reis

Incontáveis. Inúmeras. Perdemos a conta às pessoas que passam pela nossa vida. Desconhecidos que nos acompanham por breves instantes. Amigos que caminham ao nosso lado. Cada um, uma personagem, uma vida, um destino. 

Hoje, sento-me na beira da estrada. Por entre a multidão, alguém se destaca. Chamo-a e ouço a sua história. 

Maria. Longe de ser a primeira candidata para rainha do baile, raro era o rapaz que não reparava nela. Sempre presente nas festas e nos eventos mais importantes, Maria possui uma aura única que atrai as pessoas para ela. Convicta e determinada, nenhum obstáculo a impede de lutar pelos seus objectivos. Maria constrói o seu destino com as suas próprias mãos.

Nos tempos do liceu, era comum encontrá-la na biblioteca durante os intervalos. Com um livro de arquitectura nas mãos, e um brilho nos olhos. A sua paixão por esta arte era algo que a acompanhava desde muito cedo. Passear por uma cidade com ela, abria os olhos de quem a acompanhava, para os mais ínfimos pormenores de beleza de todos aqueles edifícios históricos, que apenas Maria conseguia encontrar.

A cidade ganhava vida. Como se uma doce música entoasse em perfeita sintonia, a cada esquina que ela passava, a cada sílaba que ela dizia, a cada peça de arte que ela revelava. 

Maria seguiu o seu sonho. Viajou. Acabou o curso. E acordou para a realidade. Mas não deixou o desespero apoderar-se do seu espírito. Maria bateu a todas as portas. Quando nenhuma se abriu, voltou a viajar. Inglaterra, Dinamarca, Suécia e Estados Unidos. Uma cidade nova a cada ano que passava. Uma nova porta que se abria. Uma carreira construída a custo, com um elevado nível de satisfação.

Não teve medo. Arriscou. Construiu a sua própria escadaria de sucesso. Cada degrau trabalhado por lágrimas de esforço. Por boas e por más recordações. Por erros e por rasgos de génio. Por competência e desleixo. Por ensino e experiência.

Maria chegou mesmo a conhecer alguns dos seus ídolos. Seguiu os seus passos, e hoje trabalha em proximidade com alguns deles. O sonho de Maria, virou paixão e desejo. A cada dia que passa, aquela rapariga de uma pequena cidade portuguesa, torna-se num exemplo de perseverança. 

O seu sonho é hoje realidade pois Maria não teve medo de partir. Não teve medo de olhar a adversidade nos olhos, e de sorrir perante o desafio. 

É difícil deixarmos a nossa casa. A nossa família. Os nossos amigos. Mas por vezes, é necessário. Maria não se conformou. Não aceitou algo abaixo da sua ambição. Tudo que ficasse aquém daquilo que desejava, não era suficiente. 

Maria é hoje uma cidadã do Mundo. Uma arquitecta de renome. Estável e concretizada. Feliz por ver o seu sonho realizado. E por saber que aquela adolescente que passava os intervalos na biblioteca, olha hoje para ela com orgulho e admiração.

Comovido pela sua história, despeço-me de Maria. Tal como o resto da multidão, também ela segue o seu caminho, levando consigo apenas a certeza de que nada a irá impedir de alcançar o seu destino.

É difícil sairmos da nossa zona de conforto. É difícil arriscar. Deixar tudo para trás. É difícil, mas a perda é passageira, quando o ganho é tão elevado. Tristeza apenas sente quem abdica do seu destino. Quem se conforma. Quem desiste.

Levanto-me. É hora de me fazer à estrada. Longe da multidão, levo comigo a história de Maria. Inspiração para o caminho que se segue. Motivação para o desconhecido que o amanhã reserva para todos nós.

Thursday, August 01, 2013

A bifurcação na estrada da Serra

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Existem escolhas que nos definem. Algumas mais importantes que outras, mas todas elas são reflexos das nossas acções, e do carácter que revelamos no momento em que somos obrigados a decidir. As grandes decisões, embora exijam maior concentração e empenho, não são tão reveladoras como as pequenas resoluções rotineiras que fazemos em milésimos de segundo. Por instinto. Espelhos transparentes do nosso ego. Construídas pela nossa experiência, e sustentadas na mais pura base do nosso ser.

No Domingo passado, regressei à Covilhã no Expresso do costume. Devido à menor procura nos meses de Verão, o número de autocarros da Rede Expresso entre Albergaria e Covilhã é reduzido. Isto força uma viagem de duas horas e meia com paragem na Guarda, a atrasar-se mais vinte minutos, obrigando os passageiros a pararem também em Viseu. 

Embora esses vinte minutos não sejam uma diferença significativa, causam um transtorno extra, pelo menos para mim. As noites de fim-de-semana na Covilhã são parcas em transportes públicos. Facto que piora bastante durante os meses de Verão. Normalmente, chego à Covilhã por volta das onze e vinte da noite, hora ideal para apanhar o autocarro que pára mesmo em frente ao meu apartamento.

Durante o resto do ano, mesmo se o Expresso se atrasar, consigo sempre apanhar um ou outro autocarro que, não sendo o que pára em frente à minha porta, pára suficientemente perto para compensar o gasto na viagem. Já no Verão, isto não acontece. Se perder o autocarro das onze e vinte, apenas tenho outro à meia-noite e seis. Normalmente, o Expresso chega depois das onze e quarenta, deixando-me, no máximo, com uma espera de vinte minutos. Contudo, este fim-de-semana não tive igual sorte. O Expresso adiantou-se e chegou por volta das onze e meia. 

Estava frio. A mala estava pesada, mas não trazia comigo roupa quente. As possíveis soluções seriam esperar lá fora durante mais de meia hora, gastar dinheiro num Táxi, que mesmo numa cidade pequena como esta, são ridiculamente caros, ou ir a pé. Não hesitei, fui a pé. Para memória futura, o meu apartamento fica no alto. O espaço que o separa da Central de Camionagem, corresponde a uma caminhada de mais de quarenta minutos, sempre em escada, com um, ou outro, ponto de descanso. 

Apenas tinha feito este caminho a pé uma vez. Na primeira noite, não sabia que autocarro devia apanhar, nem tão pouco qual o preço do bilhete. O caminho parecia-me fácil e aventurei-me. Uma parva decisão, da qual ainda hoje me arrependo. 

Na noite de Domingo, a ideia de voltar a subir aquilo tudo com a mala à mão, tão pouco me agradava. Mas estava frio. Não queria arriscar uma constipação. Queria chegar a casa, comer alguma coisa e deitar-me.

Pelo caminho, apenas pensava em como este episódio era um excelente momento de auto psicanálise. Se esquecer a hipótese de viajar de Táxi, podia ter optado por dois caminhos. O primeiro implicava bastante esforço e sofrimento. Um percurso árduo, amplificado por um fardo pesado, sem nenhuma ajuda para o carregar. O segundo, uma longa espera, solitária e fria. Uma espera de sofrimento e introspecção, que tardaria a levar-me até ao meu destino.

Perante esta decisão, escolhi fazer o meu próprio caminho. Por mais árduo que este fosse, e por mais pesado que o fardo de carregar a mala parecesse, não hesitei ao dar o primeiro passo. Fi-lo consciente da difícil tarefa que tinha pela frente, e da recompensa que me aguardava após a sua conclusão.

Cheguei a casa mais cedo do que previa. Fiz o caminho por etapas. Parei para descansar e beber água sempre que sentia necessidade. Degrau a degrau, subida a subida, cheguei ao meu destino. Cansado, sim. Exausto, mas vivo. Venci a subida da Serra, e o frio da noite. 

São estas pequenas rotineiras decisões que nos definem. São elas que nos moldam e que revelam a nossa verdadeira natureza. Hoje, não me arrependo do cansaço que senti, ou da energia que gastei. Hoje, escolhia o mesmo caminho. Hoje, conheço-me um pouco melhor.

Thursday, July 04, 2013

Ainda existem sonhadores?

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Todos somos irreverentes, cada um à sua maneira, especialmente durante a adolescência. Embirramos com coisas sem importância. Vivemos para o novo, para o desconhecido. Para o banal, para o profundo. Para as emoções fortes, e para as más decisões. Somos aquilo que queremos ser, e aquilo que queremos que os outros vejam. Mas, acima de tudo, somos sonhadores.

Ao crescer, os sonhos transformam-se. Perdemos alguns, substituímos outros. Desistimos dos desejos de infância, e construímos a realidade sobre os alicerces da nossa ambição. 

Em tempos escrevi sobre a necessidade de não pormos de lado os nossos objectivos. Não, em detrimento de um potencial desaconselhado pelos habituais Velhos do Restelo, que apenas desejam ver-nos falhar. Era irreverente. Argumentava que um trabalhador satisfeito por ver o seu sonho concretizado, era mais feliz, mais produtivo, mais capaz de exercer a sua profissão.

Hoje, ainda concordo com esta premissa, mas confronto-a com a realidade. Poucos sabemos aquilo que verdadeiramente queremos. Ainda adolescentes, sonhamos alto. Ambicionamos vitórias fáceis, e prémios avultados. Desconhecemos o potencial das nossas qualidades e das nossas aptidões. Confundimos desejo com vocação e, por vezes, perdemo-nos nas decisões mal tomadas. 

De que vale então sonhar, se não temos nenhuma garantia de ser esse o sonho, que nos irá fazer felizes? A magia constrói-se nessa mesma incerteza. Sonhos descartáveis, todos temos. Já sonhos verdadeiros, apenas os tem quem for capaz de enveredar pelo desconhecido. Quem não tem medo de enfrentar todo e qualquer obstáculo. Quem não desiste ao primeiro sinal de adversidades. Quem tem talento, e não o desperdiça. Quem tem vontade, e se esforça. Quem se adapta à realidade, em vez de sonhar de forma desmedida. Quem o faz por amor à camisola, e não por dinheiro.

Sonhar, não é um meio para atingir um fim. É uma lista de ambições e objectivos, adequada a tudo aquilo que nos faz feliz, às nossas qualidades, aos nossos conhecimentos, e às nossas capacidades.

Haverá sonho mais nobre que a busca pela felicidade? A própria declaração de Independência dos E.U.A. inclui este desejo na sua afirmação mais conhecida, ao definir os direitos básicos do Ser Humano como ,“a vida, a liberdade e a busca pela felicidade”.

“Eu sonho com um dia ser feliz com aquilo que faço”. Escrevi, em tempos. À partida, um objectivo simples, mas difícil de alcançar.  Contudo, esse deve ser o propósito principal quando nos deparamos com a possibilidade de melhorarmos a nossa vida, de mudar de emprego, de cidade e de país, ou até mesmo, de voltar a estudar. 

A criança sonha, o jovem constrói, e a obra nasce. Existe um sonhador em cada um de nós. Não o devemos calar. Não o devemos esquecer. Podemos adiá-lo, por força das circunstâncias e das nossas próprias prioridades, mas nunca o podemos esquecer. 

Todos somos sonhadores. Mas nem todos sabemos sonhar.

A ambição desmedida, e os sonhos irreais, são a receita para o insucesso. O segredo está em conhecermo-nos a nós próprios. Até ao mais ínfimo pormenor. Os nossos defeitos. As nossas mais-valias. Aquilo que nos dá prazer, e aquilo que sabemos fazer melhor que ninguém. 

Aquilo que sabemos. Que desconhecemos. Que queremos conhecer. Aquilo que nos torna únicos. Não a nossa vocação, mas sim a capacidade de adequar o nosso sonho à fatia da realidade, que nos fará mais felizes.

Ainda existem sonhadores? Sim. Cada um à sua maneira. Sonhamos com carreiras, com famílias, com amizade e com amor. Traçamos os nossos objectivos e procuramos alcançá-los. O dia em que deixamos de sonhar, é o dia em que deixamos de viver. 

Todos temos um sonho. De que espera para construir o seu?

Tuesday, June 11, 2013

Comprar um telemóvel às pinguinhas

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“O número de transístores por chip sofre um aumento de 60% a cada 18 meses, em produtos com o mesmo custo de produção”. Conhecida como Lei de Moore, esta afirmação data de 19 de Abril de 1965. Gordon Moore, então presidente da Intel, previu assim o ritmo de evolução da capacidade dos processadores para as próximas décadas. Até hoje, esta lei manteve-se inalterada, sem espaço para qualquer contestação.

É esta capacidade de rápido desenvolvimento da nossa tecnologia que nos permite, hoje em dia, passear no bolso com um smartphone, capaz de ridicularizar os computadores topo de gama vendidos há dez anos atrás.

Tamanha evolução, em tão curto espaço de tempo, faz com que um equipamento electrónico comprado hoje, se torne obsoleto no espaço de dois ou três anos. Este tempo de vida útil reduzido, embora seja bom para o mercado de consumo, força os utilizadores a trocarem de equipamento com uma frequência bem maior do que estes pretendiam. 

Vítimas da constante inovação tecnológica, a maioria dos utilizadores, procura estar a par das mais recentes novidades. O smartphone que compraram no ano passado já não é tão veloz como estes gostariam, e cria alguns entraves no bom funcionamento de algumas aplicações. 

Confrontados com esta realidade, restam duas soluções. Ou investem num equipamento de topo, cujo preço pode facilmente exceder os quinhentos euros. Ou continuam a apostar em smartphones de gama média, comprando um novo dentro de uma baliza de tempo cujas suas carteiras são capazes de suportar.

Para algumas pessoas, um telemóvel capaz de fazer/receber chamadas e enviar mensagens de texto, é mais do que suficiente para se entreterem durante o dia-a-dia. Contudo, para muitos, o acesso móvel à internet, contas de e-mail e redes sociais, assim como a utilização de certas aplicações, são elementos essenciais para as suas funções profissionais e actividades de lazer. 

Ao fim de três anos, encontro-me num impasse em relação ao meu equipamento actual. Comprado em Outubro de 2010, o meu Samsung GT-I5800, já não é capaz de suprir as minhas necessidades diárias de comunicação e entretenimento. Há alguns meses, fiz a actualização do firmware do meu smartphone para a versão Android 2.2. Desde então, ele ficou mais lento, deixou de suportar algumas aplicações, e a bateria já não dura tanto. Em tempos conseguia usá-lo durante dois dias seguidos sem ter necessidade de o carregar. Hoje, basta aceder durante alguns minutos à rede 3G para que a bateria caia no vermelho.  
Samsung GT-I5800
Vejo-me assim forçado a adquirir um novo equipamento. Embora não pretenda fazê-lo antes do final de Outubro, altura propícia a promoções e novos lançamentos, já estou no mercado a analisar as alternativas mais viáveis, dentro do preço que estou disposto a pagar. 

Enquanto adio a minha decisão, decidi perder um momento para rever todos os telemóveis que adquiri ao longo dos anos. Faz precisamente onze anos que tive o meu primeiro telemóvel, um Nokia 6210. Considerado um topo de gama, na altura o seu preço podia chegar a trezentos euros. Mas graças aos pontos acumulados na TMN, aliados a uma promoção ocasional, consegui comprá-lo por pouco mais de cem. 


Nokia 6210
As principais inovações deste telemóvel incluíam acesso à rede WAP, comunicação por infra-vermelhos, e a mais recente versão do jogo Snake. Muitas horas perdi em frente àquele ecrã monocromático a tentar bater a minha pontuação máxima.  

Infelizmente, este telemóvel teve uma vida curta de pouco mais de dois anos. Um dia, após um treino do clube de futebol onde jogava, reparei que o meu champô tinha rebentado dentro do saco. O líquido entranhou-se nos circuitos do meu 6210, criando uma mancha que dificultava a escrita e a leitura das mensagens.

Ainda durou alguns meses até este se desligar pela última vez. Há já algum tempo que estava a juntar dinheiro para comprar um computador novo, contudo, ainda estava longe do meu objectivo. Decidi então usar esse dinheiro para comprar um telemóvel novo. A escolha recaiu sobre o Motorola V300



Motorola V300
Atraído pelo seu aspecto – sempre tive um fraquinho por telemóveis em forma de concha –, não me deixei intimidar pelo seu preço de duzentos e cinquenta euros. Este incluía um ecrã a cores, um ecrã exterior monocromático, toques polifónicos e uma câmara fotográfica. O grande problema deste telemóvel era não possuir nenhum sistema de ligação de dados entre dispositivos, além do WAP. Por causa disto, nunca fui capaz de guardar as fotografias que tirei com ele.

Também este tem uma história trágica. No início de 2007, fui assaltado numa rua do Porto. Além da carteira, levaram-me o telemóvel. Embora já estivesse a pensar comprar um novo, por causa das limitações a nível da qualidade da câmara fotográfica e da conectividade entre equipamentos,  não estava pronto para o fazer naquele momento, nem tão pouco, por motivos tão completamente fora do meu controlo.  

Acabei por procurar uma solução de recurso a um preço acessível. Usei novamente os pontos que tinha guardados da TMN para comprar um Samsung SGH-Z230. Por cem euros, este telemóvel conquistou-me pelo seu design, pelo formato em concha, e pelo duplo ecrã que permitia tirar fotos a mim próprio, ou com outra pessoa, sem ter que pedir a alguém que o fizesse por mim. Tinha bluetooth e um jogo de patins em linha, que usava para queimar tempo sempre que o meu leitor de mp3 ficava sem bateria. 



Samsung SGH-Z230
Acompanhou-me em todas as viagens que fiz pela Europa fora e, além de um ou outro risco, continua a funcionar na perfeição. 

Durante muito tempo resisti à moda dos smartphones. Simplesmente não era para mim. Sempre fui bastante poupado no que toca às minhas comunicações móveis. Um carregamento de dez euros chegava a durar-me dois ou três meses. Não me parecia viável passar a pagar uma mensalidade só para poder aceder à internet no telemóvel.

Em Outubro de 2010, não consegui resistir mais à tentação de comprar um smartphone. Equipado com a versão Android 2.1, cartão de memoria de um gigabyte, máquina fotográfica de três megapixéis e 256 Mb de RAM, este telemóvel era mais avançado que o meu primeiro computador.

Com um preço de duzentos e cinquenta euros livre, ou duzentos euros com contrato na operadora, o Samsung GT-I5800 era, de longe, o melhor smartphone que alguém podia adquirir naquela altura, dentro deste preço. 

Ainda hoje continua a fazer jus ao investimento. Contudo, passados três anos, creio que está na hora de mudar.

No ano passado, tive que adquirir um número de outra operadora, que não a TMN, por motivos profissionais. Como ia precisar de outro telemóvel, e o meu velho Samsung SGH-Z230 estava bloqueado para a TMN, decidi comprar no OLX um Motorola ROKR U9. Escolhi este telemóvel apenas pelo seu aspecto. Encontrei um vendedor fiável, com um equipamento em bom estado, e não hesitei em comprá-lo.

Embora não tenha grandes razões de queixa, começo a achar pouco prático andar com dois telemóveis. De facto, na maioria das vezes, deixo o meu Motorola em casa, chegando mesmo a esquecer-me que ele existe durante dias a fio. Felizmente, aquele número tem pouca actividade. 

Motorola ROKR U9
Por tudo isto, não ponho de lado a possibilidade de adquirir um DUAL SIM. Até Outubro, ainda tenho algum tempo para tomar uma decisão ponderada, e para analisar todas as minhas opções.

Quando falei sobre esta minha intenção a um amigo meu, ele disse-me para “deixar de comprar um telemóvel às pinguinhas” e para comprar um telemóvel “a sério”. 

Nos últimos onze anos gastei um total de setecentos euros em telemóveis. Valor suficiente para comprar um iPhone 5 ou um Samsung Galaxy S4. Contudo, há onze anos atrás não existiam smartphones e, tivesse eu esperado, apenas hoje poderia adquirir o meu primeiro telemóvel.

Para mim, não faz sentido dar mais do que duzentos euros por um smartphone. É um objecto útil, de uso diário, cuja velocidade e qualidade de construção, são importantes para um bom desempenho das tarefas que estes dispositivos se propõe a realizar. É também um objecto volátil, capaz de ser danificado com alguma facilidade, e atraente para qualquer amigo do alheio. Mas, acima de tudo, é uma vítima da Lei de Moore.

Podia investir hoje quinhentos euros num smartphone de gama alta. Podia fazê-lo com o argumento de que, em vez de três, este durará cinco anos. Mas, daqui a 18 meses, quando os novos equipamentos arrasarem por completo os actuais, não me sentirei tentado a adquirir um novo?

Existem inúmeras alternativas, das mais variadas marcas, a um preço acessível. Basta para isso estarem atentos ao mercado, aos fóruns de discussão, e aos sites especializados na avaliação destes equipamentos. É possível adquirir um bom smartphone, a um preço relativamente baixo, sem termos que pagar mais pela marca, ou por extras sem nenhuma utilidade prática.

Vivemos num ciclo vicioso, vítimas da evolução tecnológica. A única forma de escaparmos a ele, é gerir de forma prática e inteligente os gastos que estamos dispostos a suportar.