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Alterar as regras de privacidade de uma rede social é o suficiente para mobilizar uma interminável onda de criticismo, direccionado contra a invasão das nossas fronteiras do universo privado. Declaramo-nos solidários para com esses movimentos. Subscrevemos as suas petições. E relatamos a notícia com indignação dentro do nosso círculo de contactos.
Gritamos. Protestamos. Exigimos. Mas quantos de nós põe efectivamente em prática qualquer medida de segurança? Basta observar com alguma atenção o feed de notícias de uma rede social, para percebermos que esse número deve ser muito baixo, para não dizer nulo.
Partilhamos fotos das nossas férias, dos nossos familiares, dos nossos filhos. Partilhamos a nossa casa, a nossa intimidade. Os sítios que visitamos, os restaurantes onde comemos, e a própria comida que cozinhamos. Nada é privado, tudo é público.
Instalamos aplicações para organizar o nosso dia. Todos os eventos, calendarizados, e minuciosamente descritos. Um simples click, e cada um deles é dado a conhecer ao Mundo. Qualquer pessoa passa assim a saber o que fazemos. Onde estamos. Com quem. Conhecemos pormenores íntimos de perfeitos estranhos que, de outra forma, não nos seriam revelados.
Se saber o que alguém tomou ao pequeno-almoço, ou onde passou as suas férias, pouca importância tem, já a informação sobre a sua rotina diária é uma arma poderosa nas mãos de quem a souber manejar.
Não é difícil perseguir alguém. Delinear a sua rotina. Encontrá-la inesperadamente. Ou até mesmo manipulá-la, subtilmente, através dos seus gostos e desejos. Somos tão vulneráveis, como nos permitimos ser. Embora subtis alterações às regras de privacidade possam expor alguém contra a sua vontade, temos que admitir, que não existe melhor filtro do que o bom senso.
Devemos ter mais atenção com aquilo que partilhamos. Não custa nada pensar duas vezes antes de publicarmos uma foto reveladora, um pensamento, ou uma informação pessoal. Alimentamos as novelas dos nossos observadores sempre que o fazemos. Mas não somos actrizes, nem actores, de um espectáculo privado, criado apenas para os entreter.
Somos livres. Temos liberdade para nos recolhermos na nossa bolha pessoal. Para guardarmos os nossos momentos mais íntimos dos olhares alheios. Que importa quantas calorias queimamos na última corrida? Temos hábitos saudáveis. Fazemos exercício. É importante para nós, não para os outros. Que importa onde fomos almoçar? Saímos. Divertimo-nos. Conhecemos alguém. Foi bom para nós. Os outros não estavam lá.
Viajámos. Ampliámos o nosso horizonte. Abrimos a nossa mente. Vivemos outra realidade. Absorvemos outra cultura. Crescemos. Sós. Ou acompanhados. É algo nosso. Indiscritível. Ninguém mais poderá compreender.
Apaixonamo-nos. Amamos. Discutimos. Resolvemos. Seguimos em frente. Construímos uma relação. Somos dois. A sós. Os sentimentos são nossos. As experiências são nossas. Partilhamos um segredo. Um discreto reflexo, no olhar de cada um. Algo que mais ninguém consegue compreender.
Todas as acções têm consequências. Vivemos num ciclo vicioso, excessivamente povoado por notificações inúteis. Por dados privados, que não pertencem aos olhos de mais ninguém. Nós somos o primeiro, e o mais importante, filtro de informação. Pensar duas vezes antes de partilhar, é a melhor defesa contra qualquer ataque, seja ele real ou virtual, contra a nossa privacidade.
A bolha apenas rebenta quando delegamos o controlo para uma força exterior. Não perca o domínio sobre a sua informação. A vida privada de cada um é tão frágil, e tão próxima, como um botão de partilha.
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