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No outro dia estava a tentar escrever a minha habitual crónica para a Her Ideal. O primeiro parágrafo até estava aceitável, mas não posso dizer o mesmo do resto. Notas soltas, desligadas umas das outras. Cada frase que escrevia, parecia-se com o início de uma história diferente, ligada à anterior, apenas e só pelo tema em geral que tentava abordar.
Tardei em chegar aos três mil caracteres. Alonguei-me. Resisti até ao último segundo. Insisti em algo que não me agradava. Em algo desconexo. Sem sentido. Algo que não merecia ser assinado por mim. Não naquele estado. Desisti.
Queria apagá-lo. Rasgá-lo. Queimá-lo. Observar de perto a envolvência das chamas no papel. Até que a última letra se transformasse num negrume carbonizado de algo que, em tempos, se assemelhava a uma folha de papel.
Não o fiz. Guardei-o para nunca mais recordar. Algumas tiradas tinham o seu quê de qualidade. Podem um dia vir a ser úteis. Afinal, em três mil caracteres alguma coisa se há de aproveitar. Quem sabe, um dia. Não hoje, mas um dia.
Em conversa, surgiu-me outro tema. Mais aborrecido. Um pouco desinteressante. Longe de se identificar com o estilo que venho a construir ao longo dos últimos meses. Afinal, todos nós temos os nossos momentos de falta de inspiração. De desenrascanço face à triste meretriz do tempo, e dos prazos de entrega.
Escrevi a nova crónica em três tempos. As palavras fluíam com maior facilidade. Conexas, emocionais. Mas aborrecidas. Excessivamente aborrecidas. Ontem dei por mim a suspirar “ennui” enquanto preparava o jantar. Isto talvez faça de mim um promíscuo presunçoso. Quem de seu perfeito juízo, suspira em voz alta “ennui” para uma cozinha vazia?
Este sentimento assolou-me nas últimas semanas. Culpo-o pelo desastre que foi aquela tentativa de artigo que nunca o será. Culpo-o pela alternativa aborrecida que dali saiu.
Não espero, nem tão pouco desejo, que tudo aquilo que eu escreva seja bom, inspirador, ou até mesmo capaz de apelar à mais íntima profundidade das emoções dos meus leitores. Reservo isso para alguns rasgos de genialidade que povoam a minha escrita, sempre que as Musas, e a minha barreira de procrastinação o permitem.
Culpo o meu aborrecimento, assim como culpo o meu espírito de laissez-faire. Preguiçoso procrastinador, que nem sempre se safa sob a pressão do deadline. Infelizmente não consegui fazer melhor desta vez. Cheguei mesmo a sentir alguma desilusão em resposta ao meu novo artigo. Paciência. Não sou perfeito. Nem tão pouco organizado. Não desejo a perfeição, mas procuro-a no caótico limiar arquivista do meu pensamento.
Peço. Não. Imploro, o perdão dos meus fieis leitores que, por antecipação, sofrem agora de um profundo desapontamento por aquilo que eu escrevi, mesmo antes de o terem lido. Farei melhor. Um dia. Farei melhor.
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