Monday, May 06, 2013

A Hipérbole das Redes Sociais

Imagem DR
Uma hipérbole não é apenas uma figura de estilo. Aqueles que prosseguiram os seus estudos em matemática até ao final do secundário devem-se lembrar que uma hipérbole pode ser definida como um lugar geométrico de pontos para os quais a razão das distâncias a um foco e a uma recta (chamada de directriz) é uma constante maior ou igual a 1. 

Contudo, não me parece que esta definição seja capaz de vos reavivar a memória. Uma hipérbole compreende duas curvas sem intercepção, chamadas de "braços", que separam os focos. Conforme a distância dos pontos da hipérbole aos focos aumenta, a hipérbole começa a aproximar-se de duas linhas, conhecidas como assimptotas. Este termo já vos diz alguma coisa, certo? Mas ainda não estão bem a ver o que é? 

Bom, a equação mais simples para definir uma hipérbole é y = 1/x. Façamos assim, dou-vos um minuto para irem buscar a vossa velhinha máquina gráfica da gaveta onde a esconderam na esperança de não mais a terem que usar. 

Já a têm? Aposto que perderam uma boa meia hora a jogar puzzle bubble ou um dos outros jogos que todos programámos na máquina para nos entretermos durante as aulas mais entediantes. Experimentem colocar a função y = 1/x. Vêem as duas curvas a aproximarem-se dos eixos do x e do y sem nunca os tocarem? Isso é uma hipérbole. Precisei de 228 palavras só para chegar a um ponto que pouco tem a ver com aquilo que eu queria realmente abordar. Vamos lá tentar outra vez.

Uma hipérbole não é apenas uma figura de estilo. Hipérbole é também o nome de uma função matemática que representa uma curva que se aproxima constantemente de um ponto sem nunca o alcançar. A nível pessoal é aquilo que acontece com a minha capacidade de captação de seguidores nas redes sociais. 

Quando iniciei a minha actividade no twitter recebia diariamente diversas notificações sobre os novos seguidores que por um motivo ou outro lá se lembravam de me adicionar. Muitos apareciam através dos contactos com quem eu falava, isto ainda antes do twitter bloquear a visibilidade dos replies, outros por se interessarem por aquilo que eu tinha para dizer. Chegava a fazer mais de cem tweets por dia entre notícias partilhadas, pensamentos e conversas com os restantes utilizadores.

Sentia-me como se tivesse regressado aos tempos do mIRC. Conhecia pessoas novas todos os dias, comecei a estabelecer uma base de contactos e passei a usar o twitter mais pela componente social do que pela partilha de conteúdos. Com o tempo esta euforia foi diminuindo. Não apenas por causa do bloqueio das conversas alheias, mas também pela minha indisponibilidade para perder tempo com esta rede social. 

Apesar disso, raro é o dia que eu não partilhe uma notícia ou um pensamento no twitter. Já não o encaro como uma versão microblogue do mIRC, mas continuo a preferi-lo ao facebook. Raramente opto pelo share em detrimento do tweetar sempre que leio uma notícia ou outro conteúdo qualquer que me pareça digno de ser partilhado. 

Nos últimos dias ao olhar para o meu número de seguidores no twitter e de amigos no facebook, cheguei à conclusão que não sou capaz de captar mais do que 500 pessoas a aderirem à minha rede. Há já vários meses que o meu número de seguidores no twitter não passa dos 490. No momento em que escrevo este artigo são apenas 487. Lembro-me de um dia ter chegado aos 496. Muito perto do limite psicológico de 500 utilizadores, contudo, falta-me algo para lá chegar. 

Já no facebook, a marca dos 500 amigos foi ultrapassada de forma quase banal há alguns meses atrás. São neste momento 523. Este número é preenchido na sua maioria por colegas do meu curso e dos diversos empregos que tive nos últimos anos. Também lá estão os meus amigos, amigos de amigos e uma ou outra pessoa que conheci num evento, fosse ele social ou não, e que por lá ficaram. 

Já fiz uma análise aprofundada sobre a origem dos meus contactos do facebook. Podem relembrá-la aqui, ou simplesmente ignorar esta frase e continuar a ler esta minha epifania. Ainda estão a jogar puzzle bubble? Tenham cuidado, não gastem as pilhas da máquina antes de experimentarem a equação que eu referi lá em cima. 

O que me tem perturbado nos últimos dias é precisamente o facto desta minha bolha social não se conseguir expandir além dos 500 contactos. Valor esse que já por si é bastante inflacionado. Basta olhar para a minha página profissional do facebook que ao fim de três meses tem apenas 68 likes, sendo que apenas 58 dos quais pertencem aos meus contactos. Isto significa que pouco mais de 10% dos meus amigos do facebook querem realmente saber sobre aquilo que eu faço.

O que posso então fazer para atrair mais pessoas a verem aquilo que eu tenho para dizer? Acusaram-me uma vez de ser demasiado consensual. Dificilmente conseguiria fazer com que mais pessoas lessem o meu blogue se não começasse a ser mais parcial e controverso. Por mais bem escrito que seja, um artigo apenas suscita interesse se conseguir apelar às emoções mais cruas da alma daqueles que o lêem. A verdade é que embora continue a investir na imparcialidade das minhas observações, ao longo dos anos os textos que conquistaram um maior número de visualizações foram precisamente aqueles que apelavam às minhas emoções. 

Encontro-me assim preso a um limite psicológico de contactos e visualizações que, de certa forma, vejo como um forte elemento desmotivador. Esta baixa rede de alcance não reflecte a qualidade e o interesse dos meus conteúdos. Mesmo nos momentos em que me aventurei no comentário político e nos manifestos activistas pouca visibilidade alcancei além de uma partilha ou outra no Google Plus e de um ou dois likes no facebook. Alcance que seria bastante maior se tivesse sido escrito por outra pessoa que não eu. 

Não seria necessário ser alguém famoso ou uma rapariga atraente a fazê-lo. Diariamente vejo textos e artigos de pessoas anónimas e com pouca qualidade de escrita a serem partilhados e difundidos pelas redes sociais. Sejam eles relatos de injustiças ou simples apelos emocionais. Independentemente da sua natureza, posso sempre dar um ou mais exemplos de artigos similares que eu próprio escrevi em tempos mas que não mais de 100 pessoas os leram. 

O que posso então fazer para contrariar esta tendência? Qual a fórmula mágica para rebentar com esta hipérbole e transformá-la numa recta crescente e constante? 

Como já referi diversas vezes, não estou disposto a diminuir a qualidade dos meus artigos. Isto implica uma redução da periodicidade do meu blogue. Um mal necessário, embora compreenda que seja esse o principal factor que me impede de alcançar uma audiência constante e fiel. Mas como posso rentabilizar algo que não me oferece qualquer rendimento além da satisfação pessoal? Com tão pouco tempo livre para usufruir no meu dia-a-dia torna-se complicado, se não mesmo impossível, repetir feitos como os 14 artigos publicados em Dezembro de 2012. Feito esse que motivou a histórica marca de 1135 visualizações num único mês. 

É esta a minha voz e não tenciono mudá-la em favor da fama fácil, apelando ao mínimo denominador comum. 

O importante não é a quantidade das visualizações mas a qualidade das mesmas. Mas se com tão poucas já tive crónicas e contos publicados em revistas o que poderia acontecer se o meu alcance fosse maior? Um contrato com uma editora para escrever um livro? 

Conheço pessoalmente casos em que isso aconteceu. E embora reconheça a qualidade da escrita e da imaginação dessas pessoas, acredito que sou melhor, acredito que a minha voz, que as minhas histórias têm valor e que merecem ser ouvidas.

Divago. A minha máquina gráfica há muito que ficou sem bateria. Para já, sucumbo perante a inevitabilidade matemática da hipérbole das minhas redes sociais. Sucumbo na esperança de um dia ser capaz de forçar o meu caminho para lá da fatalidade desta equação e de alcançar o reconhecimento que a minha voz tanto merece. Irei ultrapassar a barreira dos quinhentos, dos mil. 

A minha onda será imparável.
  

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