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“No fim fazemos as contas”. No futebol, como em todas as modalidades, os resultados são decididos por números. Pontos. Vitórias. Tempo e segundos. Números. Abstractos ou concretos são eles que avaliam a prestação de uma equipa ou de um atleta. São eles que determinam o vencedor e que legitimam os títulos conquistados.
A época do Sporting CP resume-se a dois números. Quatro e Sete. Quatro é o número de treinadores que passaram pelo banco dos Leões. Quatro é o número de golos com que o Sporting CP goleou o SC Beira-Mar na última jornada do campeonato. Vitória insuficiente e treinadores em demasia que valeram apenas o sétimo lugar e a pior classificação na História da equipa de Alvalade.
Classificação essa que podia ter sido diferente se tivéssemos começado a temporada com uma equipa técnica competente, num ambiente poupado a constantes críticas e contestações.
Foi preciso esperar pelo final desta época para existir, por fim, consenso entre os sportinguistas. Se Jesualdo Ferreira tivesse pegado no leme da equipa no início da temporada hoje não teríamos ficado abaixo do terceiro lugar e, quem sabe, talvez até tivéssemos algo a dizer no que diz respeito ao título. Não foi assim que aconteceu e é com alguma conformidade que vemos Jesualdo Ferreira despedir-se do comando técnico da equipa.
Com ele, acredito que faríamos uma temporada tranquila. Se, com poucos recursos, o Professor demonstrou ter capacidade de pôr o pior Sporting CP dos últimos anos a lutar por um lugar europeu, imaginem o que ele seria capaz de fazer se pudesse liderar a equipa na próxima época. Mas tal não vai acontecer.
Admiro, no entanto, a capacidade da actual direcção em encontrar um substituto para Jesualdo Ferreira em menos de um dia. Sem novelas nem especulações, como as que vivemos com as contratações de Domingos Paciência e Vercauteren. A época ainda não terminou e Leonardo Jardim já está pronto para começar a preparar a próxima temporada.
Com a inevitável saída de Jesualdo Ferreira, o currículo de Jardim faz dele a melhor opção. Nestas vinte e quatro horas entre a saída de Jesualdo e a contratação de Jardim por diversas vezes questionei-me sobre quem seria o escolhido de Bruno de Carvalho para liderar o banco do Sporting CP. Descartei a hipótese de Leonardo Jardim logo de seguida visto que os rumores davam-no como certo no FC Porto. Felizmente, isso não aconteceu.
Que desafio tem Leonardo Jardim pela frente? Provavelmente o maior da sua ainda curta carreira. Estando fora das competições europeias, a próxima época traz algumas vantagens, assim como fortes desvantagens, na construção do plantel e na preparação da equipa.
Ao contrário da temporada que agora termina, o Sporting CP vai ter um calendário mais leve, com menos jogos e sem a obrigação de iniciar a pré-época mais cedo por causa das pré-eliminatórias das competições da UEFA. Isto permite que Leonardo Jardim tenha mais tempo para preparar a equipa, dispondo também de períodos mais longos de recuperação entre os jogos do campeonato. Contudo, não participar numa competição europeia traz bastantes mais perdas do que ganhos.
O golpe mais pesado é a questão financeira. Mesmo uma campanha mediana na Liga Europa permite que um clube encaixe valores entre os três e os cinco milhões de euros. Isto sem contar com a eventual valorização dos jogadores que fizerem melhor figura, cujas vendas a bom preço seriam bem-vindas aos cofres do clube.
Menos dinheiro é sinónimo de uma menor capacidade de movimentação no mercado. Se o Sporting CP quiser comprar jogadores de qualidade vai ter que vender alguns dos seus melhores activos. Seguindo por esse caminho caímos num ciclo vicioso onde temos que sacrificar a qualidade em certos sectores para aumentar a qualidade dos restantes. Criam-se assim lacunas onde antes estas não existiam e suprimem-se outras com poucas ou nenhumas garantias de sucesso. Foi este o erro das anteriores direcções e é este o principal desafio da actual direcção.
A solução mais simples para resolver esta questão é arriscar e comprar nacional. Investir em jogadores com provas dadas no nosso campeonato, em final de contrato ou a um preço acessível. Manter a aposta na formação e na equipa B e procurar evitar a venda de mais do que um ou dois dos principais jogadores da equipa. Gerir os jogadores emprestados e ver quais aqueles que cresceram o suficiente para integrar o plantel da próxima época. Finalmente, resta estar atento ao mercado e procurar alternativas a custo zero ou através de empréstimos dos grandes clubes europeus.
Neste momento o principal trabalho de Leonardo Jardim passa por definir quais as principais lacunas do actual plantel e sugerir os melhores jogadores que, dentro dos parâmetros já referidos, encaixam melhor no seu plano de jogo.
O Sporting CP não pode cometer o erro de construir um plantel curto sob a premissa de ter menos jogos para disputar. Todas as posições devem ter alternativas com a melhor qualidade possível. Não podemos estar dependentes de apenas onze jogadores. As lesões e os castigos pesaram muito no passado para voltarmos a cair no mesmo erro.
O plantel deve ser construído com o seguinte plano: três guarda-redes (dois titulares e um da formação); cinco defesas centrais; dois laterais-direitos e dois laterais-esquerdos; seis ou sete médios, repartidos entre dois trincos, dois números oito e dois organizadores de jogo; quatro extremos e três avançados. Esta organização permite-nos ter um plantel com 25 ou 26 jogadores, equilibrado em todos os sectores e capaz de suprir eventuais lesões, castigos e baixas de rendimento.
Se este for o caminho escolhido, seremos capazes de garantir um terceiro lugar tranquilo e até mesmo de nos intrometermos na luta pelo título. Título esse que para já vai ter que esperar. Neste momento é importante construirmos uma equipa com uma base sólida e sustentável, capaz de competir ao mais alto nível e de se manter na luta pelo título ao longo das próximas épocas. Com paciência, trabalho e um boa estratégia desportiva e financeira os títulos acabarão por chegar mais tarde, ou mais cedo.
O grande objectivo do Sporting CP na próxima época será garantir um lugar na Liga dos Campeões. A este deve-se aliar a candidatura às conquistas da Taça de Portugal e da Taça da Liga. É este o desafio de Leonardo Jardim, um técnico que transmite confiança, não só pela sua carreira, mas também pela sua forma de estar.
Com a saída de Jesualdo Ferreira, Leonardo Jardim passa agora a ser o técnico de todos os sportinguistas. É na sua capacidade de liderança que impomos hoje o Esforço, a Devoção, a Dedicação e a Glória que constroem a grandeza do Sporting CP. A partir de hoje é ele o porta-estandarte da esperança leonina e o líder que tem a obrigação de fazer regressar o Sporting CP ao seu lugar de direito no topo do futebol europeu.
Que dentro de um ano este seja um dia de festa por títulos conquistados, e de reflexão sobre uma época bem disputada. Até lá, despeço-me de Jesualdo Ferreira e agradeço-lhe por ter posto os jogadores a acreditar neles próprios. Até lá, desejo todo o sucesso possível a Leonardo Jardim, que consiga pôr o Sporting CP em definitivo no caminho das vitórias.
Saudações leoninas.
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