Foto: Público |
Durante muitos anos acordei ao som do Café da Manhã da RFM com a Carla Rocha e o José Coimbra. Estivesse ainda na cama, no carro em direcção ao trabalho, ou até mesmo no comboio a ouvir rádio no meu leitor de mp3, raro era o dia em que perdia a já habitual Guerra dos Sexos.
Para aqueles que por azar ou maus hábitos nunca ouviram este segmento, a Guerra dos Sexos coloca dois ouvintes, um Homem e uma Mulher, não fosse o nome explícito o suficiente, um contra o outro. A Carla questiona os concorrentes masculinos sobre assuntos relacionados com o quotidiano e os interesses das mulheres, enquanto o Zé questiona as concorrentes femininas sobre temas com os quais os homens estão, em teoria, mais à vontade.
Três perguntas de escolha múltipla para cada lado. Quem acertar no maior número de perguntas vence. Contudo, não existe qualquer critério de desempate. No final de cada jogo, consoante o sexo do vencedor é tocada uma música para comemorar a vitória. Por exemplo, se o vencedor for a concorrente feminina a Carla Rocha festeja ao som da Man! I Feel Like a Woman da Shania Twain. Quando o resultado dá em empate, o sintoma de conclusão anti-climática é amenizado com uma música com a letra “vai zero a zero, vai tudo bem”.
Os jogos que achava mais interessantes eram precisamente esses que terminavam em empate. Apenas e só por causa desse pequeno jingle no fim.
Ao olharmos para a época que agora termina, se esta fosse um atípico e prolongado episódio da Guerra dos Sexos entre Sporting CP e SL Benfica, a música que melhor se adequa ao fim é precisamente esta tal de “vai zero a zero”. Já o “tudo bem” possivelmente não se adequa a esta situação.
Empatados no número de títulos conquistados, ou melhor, que ficaram por conquistar, os dois rivais lisboetas vão agora para férias frustrados e com futuros mais, ou menos, risonhos.
Ambos os clubes fizeram épocas históricas, pelas melhores e pelas piores razões, ao mesmo tempo que ajudaram outros clubes a fazer História. O Sporting CP termina a época em sétimo lugar, o pior resultado de sempre do clube de Alvalade na História do campeonato nacional. Ficou fora das competições europeias pela primeira vez em 37 anos. Foi eliminado na fase de grupos da Liga Europa e da Taça da Liga e ficou por terra diante do Moreirense na primeira eliminatória que disputou na Taça de Portugal. Permitiu que o FC Basel fizesse História ao chegar pela primeira vez às meias-finais de uma competição europeia. Ajudou o FC Paços de Ferreira e o GD Estoril-Praia a qualificarem-se pela primeira vez para a Liga dos Campeões e para a Liga Europa, respectivamente. Viu-se forçado a vender e a dispensar alguns dos seus melhores jogadores e, mais uma vez, ficou bastante aquém das expectativas traçadas no início da época.
O Sporting CP caiu no mais fundo dos poços e mais nada pode fazer que não erguer-se e preparar a próxima época de uma forma sustentável, traçando o objectivo máximo de regressar ao lugar que lhe é de direito.
Quanto ao SL Benfica. Festejou a conquista do campeonato cedo de mais. Recebeu uma lição de humildade do GD Estoril-Praia. Não teve capacidade para derrotar o FC Porto no Dragão. Sofreu o derradeiro pragmatismo do Chelsea FC que conseguiu assim juntar ao título de Campeão Europeu da época anterior a conquista da Liga Europa. Hesitou perante o Vitória SC e não foi capaz de os impedir de vencer a primeira Taça de Portugal da sua História. Rebaixaram de bestial a besta, um treinador que conseguiu o feito de levar as águias à final de uma competição europeia após um hiato de 23 anos e vêem-se agora num impasse de continuidade sem saberem ao certo o que fazer.
Foram vítimas da sua arrogância e falta de fair-play. Nem integridade tiveram para esperar pela atribuição da Taça aos jogadores do Vitória SC e de os congratular pela justa conquista. A falta de humildade e de bom desportivismo custou-lhes caro. Contudo, apenas quem joga uma final se pode queixar de a ter perdido. Algo que, infelizmente, o Sporting CP não poderá fazer no final desta temporada.
“Vai zero a zero, vai tudo mal”. Embora o SL Benfica vá de férias de mãos a abanar, classificou-se em segundo lugar no campeonato e por isso tem acesso directo à fase de grupos da Liga dos Campeões do próximo ano. As boas prestações europeias da equipa encarnada permitiram a valorização dos seus jogadores e equipa técnica, e atribuíram um inédito lugar no Pote 1 do sorteio da fase de grupos da Liga dos Campeões. Uma posição de prestígio que permite ao clube da Luz evitar alguns dos adversários mais difíceis.
O Sporting CP vê-se agora forçado a começar do zero. A ausência das competições europeias é um duro golpe financeiro para o clube de Alvalade. Alguns dos jogadores que podiam fornecer mais-valias em eventuais vendas estão agora a preço de saldo. Com o plantel desvalorizado, novo treinador e um esforço extra de contenção financeira, os leões vão ter que ser astutos e inteligentes na sua abordagem ao mercado. O calendário mais folgado da próxima época poderá permitir uma maior frescura física dos seus atletas, assim como a construção de um plantel competitivo capaz de fazer uma figura bem melhor que aquela que esta época nos deixou.
Também nas indefinições, ambos os clubes encontram-se empatados. O SL Benfica sai em vantagem a nível financeiro e nas expectativas do mercado e dos analistas, quer ao nível das competições internas, quer ao nível do futebol europeu. Já o Sporting CP passa agora a ser uma incógnita, um outsider em quem poucos terão a coragem de apostar.
Numa época em que as Taças rumam a norte, os eternos rivais de Lisboa terminam com um empate com sabor a derrota. Mas em Agosto a bola volta a rolar. O marcador regressa a zero e as contas deixam-se ficar para o fim. Até lá resta a estes clubes reflectirem e preparem a próxima temporada com calma e ponderação para que, no fim, possam ser eles a escrever a História em vez de ficarem sentados a observar dos bastidores os festejos dos seus adversários.
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