Thursday, March 06, 2014

Her

Her, Spike Jonze
Falling in love is a crazy thing to do. It's like a socially acceptable form of insanity.

Amy, Her (Spike Jonze, 2013)

“Uma história de amor”. Um título adequado para um filme que é, na sua mais pura simplicidade, e antes de qualquer outra designação, um filme sobre Amor. Um amor impossível, talvez, mas real naquele singular universo, retratado sob a visão de Spike Jonze.

Her conta a história de Theodore Twombly, um escritor de cartas, um intermediário de emoções reais entre pessoas fictícias. Um instrumento de contacto, uma ferramenta de proximidade, para quem há muito desistiu de procurar em si próprio algo real para partilhar com a pessoa que ama. Cartas reais, escritas à mão por computadores. Fictícios pedaços de papel. Objectos da imaginação, da inspiração, das emoções de um intermediário escritor. Só, entre uma multidão de fictícias personagens, desligadas entre si. Mas Her não é uma crítica social.

Her conta a história de Theodore Twombly, um divorciado, desligado do resto do Mundo. Vítima das suas falhas de comunicação, da sua incapacidade de encarar os problemas. Da profunda depressão do seu dia-a-dia, e de uma relação que há muito não partilha qualquer sentimento de paixão, de desejo, ou de amor. Mas Her não é o percurso de um Homem pelos diversos estágios de luto, e de aceitação.

Her conta a história de Theodore Twombly, um Homem que compra o primeiro Sistema Operativo regido por uma Inteligência Artificial. Uma existência que questiona o que faz de alguém, ou de algo, Humano. Uma existência que redesenha a definição de alma. De vida. De consciência. De existir. Da essência do próprio ser. Mas Her não é um filme de ficção científica, nem tão pouco um ensaio filosófico.

Her conta a história de Theodore Twombly, um escritor de cartas divorciado, e de Samantha, um Sistema Operativo com Inteligência Artificial. Uma história de amizade, de descoberta. A história de um amor improvável. Um amor impensável. Um amor tão puro e honesto como qualquer outra história alguma vez contada, e ainda por contar. Uma história de paixão, de desejo. De encontros. De namoro. De descoberta. Uma história de amor.

Um guião construído sob as subtilezas do percurso natural, que orienta o romancismo de uma relação. Uma cenografia bela na sua simplicidade. Futurista, mas próxima. Tão real como o menos distante dos amanhãs.

Um design de produção discreto e inteligente. Tão sólido como a transição das cores da roupa de Theodore ao longo das estações. Do salmão da Primavera da sua relação com Samantha, ao amarelo do Verão do amor que ambos partilham. Do castanho, e promíscuo Outono, até ao branco Inverno deste seu novo mundo.

Uma interpretação a rasar o perfeito. Um elenco de luxo, protagonizado por um Joaquin Phoenix, sem medo de sentir. Sem medo de chorar. Sem medo de amar.

Um mundo tão próximo de nós. Um mundo que é já nosso, sem nos apercebermos. Um mundo interligado na sua solidão. Sempre em contacto, mas eternamente sós. Sempre próximos, mas a uma distância constante. Um mundo onde é mais simples criar emoções, do que senti-las. Isolar-nos em nós próprios, em vez de enfrentar os nosso problemas. Fugir, em vez de falar.

Mas Her também é um mundo de possibilidades. De novas formas de amar. De estar presente, mas ausente. De dar valor ao sentimento, ao diálogo. À profundidade do coração, e da alma de cada um. À essência. Ao doce sabor de partilhar a tua vida com alguém. De sentir uma ligação mais forte do que os limites do real, e do imaginário. De sermos um, sem as barreiras do preconceito, do fútil, do físico, do visual.

Um mundo onde é possível apaixonarmo-nos tão completamente, que até o mais céptico dos cínicos não consegue ficar indiferente.

Her é um filme sobre Amor. Não sobre a relação Homem/Máquina. Não sobre a falsa sociedade em rede. Não sobre a depressão, ou o isolamento. Mas sim, sobre um Amor à distância. Um Amor real. Um Amor completo.

Her é uma história de amor.

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