“Um jogador descontente, sem capacidade de evolução, que viu no FC Porto uma nova oportunidade para se mostrar e talvez dar o salto que tanto ambiciona.” Corria o defeso de 2010, João Moutinho ainda recuperava de uma das piores épocas dos últimos anos, culminada com a ausência da convocatória para o Mundial na África do Sul, quando fez manchete ao surpreender o universo sportinguista com a sua transferência para o FC Porto.
O meu pensamento, na altura, materializou-se na citação que relembro em cima, e que vejo hoje confirmada nas próprias palavras do antigo capitão leonino. “Só jogando no FC Porto é possível ganhar títulos. Por isso mudei”, afirmou o jogador em declarações ao Público. De facto, quem joga pelo FC Porto arrisca-se a ser campeão, e assim foi.
Ao compararmos o João Moutinho do Sporting CP com o do FC Porto, poucas ou nenhumas diferenças se encontram além da cor da camisola. Como já nos tinha habituado de Leão ao peito, afirmou-se como uma pedra fundamental do meio-campo azul-e-branco. Finalmente teve a oportunidade de descansar, dado o elevado número de alternativas de qualidade, não tinha a obrigação de jogar os 90 minutos de cada partida e pôde, assim, manter um nível de frescura física e psicológica durante toda a época. Algo que no Sporting CP apenas aconteceu na sua época de estreia quando discutia com Hugo Viana por um lugar no losango de Peseiro. Curiosamente, nessa mesma época esteve perto de ser campeão e também chegou à final de uma competição europeia.
João Moutinho não foi para o FC Porto para crescer como jogador, mas sim para ganhar títulos, para descansar, e para se valorizar como um activo que dentro em breve fará valer ao Sporting CP os 25% que ainda mantém da sua cláusula de rescisão de 40 milhões de euros. “A nível financeiro, o negócio é favorável ao Sporting CP”, disse na altura e voltaria agora a reafirmá-lo, não fosse a perda desportiva ser tão alta.
Mantinha alguma esperança neste Sporting CP no início de época. As contratações pareciam ser as acertadas, e fora a venda de Miguel Veloso ao Génova, os negócios pareciam ir de vento em popa. Faltava apenas Paulo Sérgio afirmar-se como o treinador ideal para este Sporting CP. Os bons resultados na Liga Europa ofuscavam a má prestação no campeonato e, dadas as habituais segundas voltas de sucesso a que o Sporting CP nos tinha habituado nas últimas épocas, até Janeiro ainda acreditava que uma boa carreira europeia, assim como a conquista das taças, era possível.
Mas Janeiro chegou, Liedson despediu-se, e a esperança desvaneceu. O Glasgow Rangers levou a sua melhor em Alvalade, o Vitória de Setúbal teve a sorte do jogo na Taça de Portugal, e o SL Benfica deixou-nos para trás na Taça da Liga.
A equipa que terminou a época 2009/2010 não conquistou nenhum título, mas jogava melhor futebol. Na Liga Europa alcançámos os oitavos-de-final e fomos eliminados com um empate a duas bolas em casa pelo Atlético de Madrid que viria a erguer o troféu. Na Taça de Portugal, apesar da goleada no Dragão, alcançámos os quartos-de-final, enquanto na Taça da Liga voltámos a não ir além das meias-finais. João Moutinho, Miguel Veloso e Liedson, alvos de contestação pela má época verde-e-branca, são hoje vistos como as principais ausências responsáveis pela tremenda quebra de qualidade vivida nos últimos meses.
Adrien Silva, Bruno Pereirinha e André Marques são outras promessas postas a “rodar” que podiam ter trazido uma maior estabilidade, e sentido de coesão, para esta equipa que teve na sua ineficiência defensiva, e ineficácia ofensiva, as principais deficiências que levaram a um constante insucesso desportivo.
Más decisões e um péssimo plano de investimento ditaram a realidade actual do Sporting CP. A próxima época, e esta nova direcção, ditam uma certa mudança de mentalidade. A aposta num bom treinador com provas dadas como é Domingos Paciência e uma política de contratações baseada em jovens com margem de progressão, em jogadores internacionais de renome, e na promoção de promessas da Academia de Alcochete, criam já uma base ideológica capaz de dar frutos a médio e longo prazo.
Resta aos sócios encontrarem a paciência necessária para aceitarem este novo projecto e aguardarem pelos títulos que certamente a ele virão ligados. Não seremos campeões para o ano, falta-nos uma base coerente e mesmo com as contratações anunciadas qualquer equipa em renovação precisa de tempo para se afirmar desportivamente. Mas mesmo que falhemos o primeiro lugar, acredito que ao manter esta coerência o Sporting CP será capaz de o disputar até ao fim, sem descurar um possível sucesso europeu.
Que acabem as maçãs podres, os desvios de jogadores e treinadores. Que terminem os rumores, e as constantes notícias de instabilidade. Está na altura da comunidade sportinguista se unir e ajudar a elevar este clube ao patamar competitivo que verdadeiramente merece.
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