Thursday, June 02, 2011

“A vida é curta mas é ampla”

A frase é de António Feio, e foi recentemente imortalizada no filme Contraluz de Fernando Fragata. Ontem tive a oportunidade de experienciar em primeira mão essa amplitude.

Na terça-feira ao final da tarde cheguei à Estação de Ovar. Por força de alguma correria consegui apanhar o comboio que ali me deixou pouco antes das oito da noite. Tinha planeado comprar o passe de Metro antes de regressar a casa mas a ansiedade de chegar à estação a tempo forçou-me a deixar essa tarefa para o dia seguinte.

Restava-me ainda comprar o passe de comboio, algo que não me devia demorar dado o tardar da hora, contudo, assim não aconteceu. Para minha surpresa, a bilheteira da Estação de Ovar já estava encerrada. Tentei renovar o passe na máquina de venda automática que há anos ali se encontra instalada mas que apenas nos últimos meses começou a ser utilizada, sem sorte. Talvez o desgaste do tempo de inutilização tenha avariado o sistema de multibanco. Após algumas tentativas frustradas desisti e fui para casa.

Ontem restava-me apenas uma hipótese, se quisesse apanhar o comboio das oito teria que acordar ainda mais cedo e estar na estação a horas de apanhar o comboio imediatamente anterior. Assim fiz. Chegado à estação deparei-me com uma longa fila que começava a chegar até à rua. Por sorte estava lá um amigo meu que me cedeu o lugar visto que não tinha alternativa se não apanhar o próximo comboio, e a fila não parecia andar mais depressa.

Ele tentou usar uma das máquinas de venda de bilhetes em papel, contudo faltavam-lhe dez cêntimos para comprar o bilhete. Não estivesse eu ali, ele teria tido alguma dificuldade em arranjar alguém que lhos emprestasse correndo assim o risco de perder o comboio e chegar atrasado ao trabalho. Não estivesse a outra máquina avariada, nada disto teria acontecido.

Após ele partir, aguardei na fila com alguma ansiedade sem saber ao certo se seria capaz de me desenrascar a tempo do comboio das oito. A sorte esteve do meu lado e, inclusive, quase teria conseguido entrar no mesmo comboio que ele, não tivesse o senhor que estava à minha frente na fila se demorado com algumas questões irrelevantes. É sempre assim quando estamos com pressa.

Chegado a General Torres corri pelo meio da multidão para tentar ser um dos primeiros a chegar às máquinas. Escolhi a do lado oposto ao cais de embarque por a fila ser mais pequena. Esta não foi uma boa opção. A rapariga que estava à minha frente para comprar o passe estava a ter problemas com o multibanco que novamente não parecia funcionar.

A adivinhar o inevitável atraso fui para a outra fila que naquela altura já estava um pouco menor. À minha frente estava uma senhora que não sabia comprar viagens para o Andante e que me abordou para a ajudar. Evitei que esta comprasse dois passes diários por engano e corrigi o seu pedido. Perdi o próximo Metro por meros segundos. Quando lá cheguei já as portas estavam a fechar.

Não fosse por estes atrasos podia ter chegado cerca de trinta minutos mais cedo ao meu destino. Mas assim não estava escrito.

“A vida é curta mas é ampla” e são nestes pequenos pormenores, nas despercebidas coincidências do nosso dia-a-dia, que esta amplitude se revela.

No comments: