Sorteio Liga Europa, Imagem DR |
Há imagens que ficam gravadas na mente, memórias fotográficas de momentos que tão cedo não esqueceremos. Uma delas já tem alguns meses mas permanece tão clara como se ainda mesmo agora a tivesse acabado de ver. A fotografia de um painel, simples, que encontrei por acaso ao ler uma notícia.
O painel mostrava o resultado do sorteio dos quartos-de-final da Liga Europa. FC Porto, SL Benfica, SC Braga e mais cinco clubes, cinco clubes estrangeiros, adversários com a ambição de levantar a taça em Dublin. Cinco adversários, nenhum deles português, nenhum deles de nome, Sporting Clube de Portugal.
Jogavam-se os 16-avos de final, o Sporting CP defrontava os escoceses do Glasgow Rangers em casa e estavam a ganhar por duas bolas a uma. Na primeira-mão em Glasgow o jogo tinha terminado empatado, um golo para cada lado, com o Sporting CP a recuperar da desvantagem mesmo ao cair do pano. Adivinhava-se mais uma caminhada histórica como a vivida na época 2004/05. O jogo tinha começado às 18h05, eu regressava a casa do trabalho por volta das 20h e vi o resultado antes de entrar no carro, 2-1, faltavam cerca de três minutos para o final. Já está ganho, pensei, guardando algum do receio que negava ter.
Cheguei a casa e encontrei o meu pai a vir do café, o jogo já teria terminado e perguntei-lhe se o resultado se tinha mantido. Quando ele me confirmou o 2-2 final, limitei-me a aceitar o triste destino de uma sina que parecia condenar ao desastre esta época sportinguista. A História tinha voltado a repetir-se, já na época anterior o mesmo Sporting CP foi eliminado com um empate a duas bolas em casa, não pelo Glasgow Rangers, mas pelo Atlético de Madrid.
Tivesse o Sporting CP passado com toda a justiça que merecia, teria defrontado o PSV Eindhoven e ao deixar os holandeses pelo caminho, quisesse o sorteio manter os mesmos desígnios, disputaria com o SL Benfica, o eterno rival, por um lugar nas meias-finais. Talvez aí, a fotografia fosse diferente, e em vez de cinco seriam apenas quatro os adversários além-fronteiriços prontos para destronar o sonho luso de uma final cantada sob a língua de Camões.
Mesmo que o SL Benfica tivesse levado a melhor sobre os leões, e mesmo que os minhotos tivessem deixado o Sporting de Alvalade para trás, pelo menos, naquele momento, no rescaldo daquele sorteio, também de verde seria pintada aquela imagem que solenemente navega pelos rios das minhas recordações.
Assim não aconteceu. Passámos ao lado da História, talvez por não estar escrito que esta história fosse a nossa, talvez por ser a altura de dar lugar a outros que também lutam pelo mesmo sonho. Seja qual for a razão, ontem vimos os jogos em casa, ou nas bancadas. Sentámo-nos nas margens enquanto os outros remavam, reservando para nós o consolo de ter partilhado metade do caminho que no dia 18 de Maio de 2011 será para sempre relembrado na História do futebol nacional.
Curiosamente, foi também a 18 de Maio de 2005 que o Sporting CP disputou a final da Taça UEFA. Deixemos que SC Braga e FC Porto façam igualmente História dentro de alguns dias, enaltecendo o mérito das extraordinárias campanhas que ambos fizeram para ali chegar. Outras Histórias serão escritas, apenas espero que da próxima vez o Sporting CP não volte a naufragar nas margens do seu próprio destino.
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