Wednesday, September 22, 2010

Défice de falta de atenção

Reparei que tenho andado despistado ultimamente. Distraio-me com uma tremenda facilidade, e é com grande esforço que consigo manter-me atento a algo, especialmente quando alguém fala comigo.

“Isto não vem de agora”, uma frase que da última vez que a ouvi, da última vez que me lembro pelo menos, vinha ligada a algo bem mais profundo, mas agora apenas serve para ilustrar a minha recém-descoberta incapacidade de focar-me apenas numa coisa durante um longo período de tempo. Mas é a melhor forma que encontrei para iniciar este exercício de introspecção.

Desde sempre que quando falo com alguém em condições de bastante ruído por vezes chego a um ponto em que simplesmente deixo de perceber o que a pessoa está a dizer. Na maioria das vezes limito-me a acenar e a fazer sons que mascarem a minha falha de audição, contudo, por vezes, peço para repetirem, mas antes que o possam fazer ouço, como um eco, o que me tinham dito anteriormente, como se apenas agora o estivessem a dizer, e houvesse alguma espécie de atraso no canal de comunicação.

Nunca prestei muita atenção a isto, achando que se tratava apenas de uma ilusão auditiva. Talvez, embora não tivesse ouvido, o meu cérebro seja capaz de ler os lábios e gestos do outro e interpretar o que foi dito tendo em conta a informação ao seu dispor.

Ultimamente isto tem-se agravado muito mais. Vejo-me a esquecer-me facilmente das tarefas que me proponho a fazer. O exemplo mais comum é abrir um browser e esquecer-me do site que queria consultar. Também por vezes levanto-me para ir a um sítio qualquer e encontro-me no meio do corredor a pensar no porquê de ali estar.

Sempre tirei vantagem da minha memória quase fotográfica que me permitiu concluir o liceu com pouco ou nenhum esforço. Tinha uma vasta capacidade de memorizar os mais ínfimos pormenores dos sítios que visitava de forma a poder reproduzi-los sem problemas dias, meses ou até mesmo anos mais tarde. Mas agora sinto como se o meu disco rígido estivesse cheio, sem lugar para mais informação.

De regresso à falta de atenção. Já chega a ser preocupante. Ontem convidaram-me para ir a um sítio, perguntei onde, mas não ouvi. A minha mente fugiu para outro lugar e apenas fixei a hora sem fazer ideia para onde me dirigia. Por embaraço, não voltei a perguntar e apenas deixei as coisas se desenrolarem até que me voltassem a dizer o sítio. Embora tenha boa memória para caras e nomes, ultimamente ao conhecer alguém novo, é raro o caso em que me lembro do nome.

Também ao ler uma notícia ou um livro, começo a divagar para outros lugares, sem deixar de ler cada palavra, mas ao mesmo tempo não as leio pois não lhes presto atenção. Cheguei ao ponto de reler o mesmo texto duas, três, quatro vezes seguidas antes de conseguir verdadeiramente assimilar o que lá está escrito.

Sinto-me como o J.D. num episódio de Scrubs. É raro manter uma conversa com alguém sem que a minha mente se aventure em outros pensamentos. Muitas vezes sou eu próprio que me apercebo do que se está a passar e forço-me a despertar deste sono.

Talvez a resposta esteja aí, não me lembro da última vez que dormi bem. Acordo várias vezes durante a noite e desperto ao menor ruído. Tento voltar a adormecer, mas demoro horas a fazê-lo.

Isto é mais notável quando estou sob stress, ou quando algo me preocupa. Nisso, este último ano não ajudou em nada. Mesmo quando estou a conduzir, já aconteceu esquecer-me do caminho e seguir em piloto automático pela estrada fora aos círculos. Não que eu não saiba o destino, ou por onde tenho de ir, mas simplesmente fico ausente do meu próprio corpo e começo a observar-me a partir de um ponto exterior. Tal é muito evidente quando vou a conversar com mais alguém. Pareço ter perdido a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo.

Será um efeito secundário do cocktail de comprimidos ao qual me submeti durante meses? Estarei a atingir o limite de stress que o meu corpo e a minha mente aguentam? Não sei, mas acho que preciso de ajuda.

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