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Há cerca de três anos decidi deixar o facebook. Esta decisão
não foi assim tão simples pois, para mal dos meus pecados, uma das minhas
funções na empresa onde trabalhava então era a de gestor de redes sociais.
Tive assim que chegar a um compromisso. Tinha que arranjar
uma forma de continuar a usar o facebook sem me ausentar desta plataforma. A
solução mais simples passaria por criar um perfil anónimo para gerir a página.
Contudo, isto entra em conflito com a minha necessidade de usar o seu sistema
de mensagens.
Na verdade queria deixar de usar a timeline do meu facebook,
mantendo todos os restantes benefícios que esta plataforma proporciona.
Optei enfim por uma opção de compromisso. Mantive a minha
conta activa mas, em vez de abrir esta rede social na sua página inicial,
comecei a abri-la na página da empresa. Deixei de fazer novas publicações.
Deixei de responder a comentários. Reduzi a minha interacção ao mínimo
necessário para não perder o contacto com as pessoas que me são mais próximas.
Para não dar a impressão que tinha de facto deixado o
facebook mantive a minha conta de twitter ligada ao meu perfil. Os meus tweets
continuavam a ser publicados no facebook sem que alguém notasse alguma
diferença. Mas, a seu tempo, também isto deixei de fazer.
Para todos os efeitos, deixei de usar o facebook. Este
deixou de ser uma plataforma pessoal e passou a ser apenas uma ferramenta de
trabalho. Continuei a alimentar e a gerir a página da empresa, e não deixei de
publicitar os meus feitos profissionais, assim como o meu blogue e portefólio,
na minha página pessoal.
Contudo, através desta simples acção, consegui libertar-me
de uma das minhas principais fontes de ansiedade.
Deixar o facebook foi uma decisão que tomei para o meu
próprio bem-estar e para o meu equilíbrio mental. Fora isso, não retirei
grandes benefícios palpáveis deste acto. A minha produtividade continuou igual.
Sempre soube gerir bem o meu tempo, mantendo-me activo nas redes sociais sem
alguma vez falhar qualquer prazo. E, no fim de contas, apenas troquei o meu
tempo no facebook por uma mais intensa participação no twitter.
Durante pouco mais de dois anos, a única vez que me atrevia
a ir além das páginas que geria era para felicitar alguém pelo seu aniversário.
Usei este tempo para pensar sobre o que me movia contra esta
rede. Por que me custava tanto visitar a minha timeline?
A resposta era simples. Por medo. Medo do que podia lá
encontrar. Medo do conteúdo tóxico. Medo do sentimento que uma foto, uma
notícia, ou um comentário, pudesse despertar em mim.
Uma noite, respirei fundo e decidi limpar a minha timeline
de tudo aquilo que era tóxico. De tudo aquilo que era negativo. De todas as
pessoas, páginas e eventos que transmitissem qualquer tipo de sentimento destrutivo
ou derrotista.
Deixei de seguir todas as pessoas tóxicas. Todos aqueles
contactos que dia sim, dia sim, têm algo de frustrante ou derrotista para
partilhar. Deixei de seguir todas as pessoas incapazes de ter uma base de
diálogo com alguém com ideologias diferentes das suas. Fossem essas políticas,
filosóficas, religiosas ou desportivas.
Deixei de seguir todos aqueles que associava a más memórias,
momentos, ou recordações. Excepção feita apenas a quem estava lá para mim
nesses momentos.
Mas também deixei de seguir algumas pessoas cujo perfil não
encaixa nas mais comuns definições de toxicidade. Deixei também de seguir
pessoas excessivamente felizes.
Lamento, mas não quero saber dos vossos amores, e desamores,
das vossas vitórias, e conquistas, dos vossos sucessos, e carreiras, das vossas
viagens, e passeios.
No fim, mantive apenas o meu núcleo de amigos, alguns
contactos profissionais, pessoas neutras com vidas normais, e personagens
intelectualmente estimulantes, fossem elas académicas, ou simples
contemporâneos que, independentemente das suas filosofias colidirem ou não com
as minhas, sabiam estabelecer um diálogo digno com a sua oposição.
Não analisei cada contacto individualmente. Avaliei-os
consoante o impacto emocional de cada publicação que aos poucos aparecia na
minha timeline.
Timeline essa que passou a estar muito vazia. Dominada quase
inteiramente por páginas, por notícias, e por artigos de opinião.
Virei-me então para os grupos. Para pessoas com interesses
similares aos meus. Fossem estes profissionais, desportivos, ou de
entretenimento. Neste momento são eles que dominam a minha timeline. Uns mais
que outros é certo, mas todos os dias mantenho-me a par das mais diversas
novidades sobre os principais temas que me interessam.
Os restantes contactos não passam agora disso. São apenas
uma bola verde no Messenger, de nenhuma forma diferentes de um qualquer número
numa lista telefónica. Um pequeno preço a pagar por uma lufada de ar fresco no meu
constante combate contra a ansiedade.
Consegui fazer isto sem me fechar numa bolha. Sem me
recolher em um círculo de opiniões em comum. Todos os dias participo em
conversas interessantes com pessoas que pensam diferente de mim. A maioria
delas no twitter, claro, a discussão intelectual há muito que abandonou o
facebook.
Os temas hoje em dia são as notícias falsas, a
desinformação, a fraca qualidade dos media, e as típicas polémicas do dia-a-dia
que tão depressa surgem, como desaparecem.
Continuo a usar o facebook esporadicamente. Já não estou na
mesma empresa mas continuo a gerir redes sociais. Evito comentar qualquer
publicação fora dos grupos onde sou membro activo. Limito-me a dar os parabéns
a alguns contactos e a usar o Messenger para falar com os meus amigos.
O resto? O resto deixou de estar à distância de um clique.
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