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Máscaras, todos as usamos.
Faces feridas encobertas,
Desgostos, disfarçados de sorrisos.
Mentiras, perdidas em desenhos.
Carnavais das nossas vidas,
Dias extras que não vivemos,
Tudo escondido por detrás,
De todo um emaranhado que se desfaz.
XIV, Adriano Cerqueira
Todos usamos máscaras. Escudos que nos protegem das adversidades do dia-a-dia. Do chefe inconsequente que não valoriza a nossa opinião, do cliente mal educado que pensa ter sempre razão. Do empregado que se engana no nosso pedido, da vizinha pronta a encontrar o mínimo motivo de coscuvilhice. Daqueles que nos magoam, que nos irritam, ou que nos maltratam. Todos usamos máscaras.
Mecanismos de defesa que, com alguma astúcia podem jogar a nosso favor. Usamos máscaras para esconder a dor, a indignação, o ódio, o irracional. Mas também as usamos para reconstruir quem somos para os outros. Para conquistar a confiança de alguém, para esconder os nossos defeitos, para ganhar respeito entre os nossos pares, para seduzir quem desejamos. Todos usamos máscaras.
A ascensão das redes sociais, a ténue linha dúbia que mistura o público com o privado, veio acentuar esta necessidade de alimentação das diversas máscaras que possuímos. Recentemente encontrei o vídeo What’s on your mind?, realizado por Shaun Higton. Durante dois minutos e meio somos transportados para a dicotomia real/virtual de Scott Thomson, alguém não muito diferente de cada um de nós. Neste vídeo vemos o contraste da sua vida real, com a máscara de positivismo que ele alimenta no seu perfil do facebook.
Da comida pré-congelada, a uma relação fria condenada ao fracasso, ao emprego cinzento que o faz ser despedido. Da depressão que o assola, até à sua profunda solidão. Scott usa as redes sociais para transmitir a imagem oposta, em busca da aprovação dos seus amigos virtuais. Contudo, por mais likes que as suas publicações recebam, a realidade mantém-se inalterada, ele está, e assim continua, só.
Os últimos tempos têm sido férteis em campanhas com um simples objectivo: desligar. Desliguem o telemóvel. Desliguem o facebook. Olhem à vossa volta. Falem com um estranho. Não percam as oportunidades que desvanecem sempre que o nosso olhar fica colocado a um pequeno, ou a um grande ecrã. Mensagens fortes. Mensagens úteis. Mensagens necessárias. Ignoradas tão rapidamente como qualquer outro vídeo viral.
A cada dia que passa cresce o culto da aprovação virtual. Tudo o que fazemos é exposto, partilhado, identificado, visto e gostado. Procuramos chegar ao máximo de pessoas possíveis, com o prato acabado de cozinhar, a tarde passada na praia, a festa que visitámos, a viagem que fizemos. Fazemo-lo para nós, para os outros, para registo, para reconhecimento. Fazemo-lo porque sim. Porque o botão “finalizar”, confunde-se com o botão “partilhar”. Fazemo-lo porque já não sabemos ter experiências que não possamos partilhar com a nossa rede de contactos. Contactos que muitas vezes não passam de desconhecidos com quem nunca trocámos uma única palavra. E mesmo assim continuamos a fazê-lo. Não porque nos satisfaz, mas sim por não querermos ser ignorados, por não querermos ser apenas mais um numa longa linha do tempo repleta de futilidade.
Queremos ser a excepção. Queremos ser o destaque. Queremos a popularidade, a fama. Queremos ser diferentes. Mas também não queremos ficar para trás. Queremos visitar, fazer, e ter tudo aquilo que é cool, tudo aquilo que é moda, tudo aquilo que é partilhável. Tudo aquilo que os outros partilham virtualmente.
Queremos viver nesse Universo, onde todas as pessoas estão a sorrir nas fotos, onde todas as refeições parecem pratos gourmet, onde a vida de todos é alegre, sem discussões, sem dificuldades, e onde todos os seus sonhos lhes são oferecidos de bandeja. Queremos viver nesse mundo de ilusões e de máscaras. Construímos a nossa própria máscara para nos sentirmos integrados, para fazermos parte do grupo. Para que “gostem” de nós.
Contudo, nós não somos essa máscara. Nós somos o Scott. Temos momentos altos, e baixos. Dias alegres, e tristes. Somos felizes, discutimos. Sofremos de depressão, e euforia. Temos amigos, estamos sós. Somos únicos, temos defeitos. Somos iguais a nós próprios, e não às máscaras que nos tentam impingir.
Desliguem. Encerrem a sessão. Desliguem. Bloqueiem a vossa conta. Desliguem. Sejam livres. Desliguem. Sejam únicos. Desliguem. Não há foto mais bela, que aquela tirada sem intenção. Não há momento mais belo, que aquele que não precisamos de partilhar. Não há pessoa mais bela, que aquela que não tem medo de ser igual a si mesma.
Não há máscara mais bela, que aquela que não precisamos usar.
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