Imagem DR |
Sou incapaz de ouvir a Dreams dos The Cranberries, sem ser transportado para a minha infância, e para as longas manhãs de fim-de-semana, passadas na estrada em viagem. Lembro-me de a ouvir enquanto contemplava as paisagens, no banco de trás do carro dos meus pais.
Raro era o fim-de-semana em que não íamos passear. Os destinos variavam, mas além da anual viagem à Galiza para comprar rebuçados, não íamos para lá das nossas fronteiras. Hoje parece algo impensável, mas vivemos uns reais anos de fartura durante a década de noventa. Eram os anos das duas semanas passadas no Algarve, quase sempre em Quarteira. Os anos dos almoços de Domingo em restaurantes, e das quase rotineiras viagens pelos cantos do país.
Estou longe de poder dizer que conheço Portugal tão bem como as palmas da minha mão. Por melhor que seja a minha memória, a verdade é que na altura pouco valorizava essas viagens. Retenho lembranças dos perpétuos enjoos, de planícies e montanhas, de casas rústicas, de idosos e de turistas, de doces e guloseimas. Meras fotografias que era demasiado novo para valorizar.
Nos últimos anos tenho procurado fazer jus a essas recordações e, sempre que possível, procuro revisitar algumas dessas terras ou regiões que figuraram apenas de passagem durante a minha infância. Ovar, Porto, Coimbra e Covilhã conheço demasiado bem, ou não fossem estas cidades sinónimo de casa, num ou outro período da minha vida.
Pela proximidade, cidades como Aveiro, Gaia, Gondomar, Espinho, Santa Maria da Feira, S. João da Madeira e Oliveira de Azeméis, conheço tão bem como aquelas em que vivi. Posso não saber o nome, ou o número das ruas, mas fosse eu posto lá e conseguia orientar-me. Mas estes locais apenas representam quatro dos dezoito distritos nacionais.
Começando pelo sul, o Algarve é talvez a região que melhor conheço a seguir àquelas que referi em cima. Embora já não passe lá férias desde 2011, as minhas mais recentes visitas serviram também para revisitar alguns dos aspectos algarvios que passam ao lado de quem vai lá apenas para fazer fotossíntese, e dar uns mergulhos. Quarteira, Armação de Pêra, Albufeira, Tavira, Montegordo e Manta Rota, são as praias que melhor conheço, ou não tivesse lá passado as férias de Verão durante anos a fio.
Sagres, Portimão, Castro Marim e Vila Real de Santo António, eram paragens obrigatórias nos passeios que a minha família dava aquando da nossa estadia. Duas semanas de praia sem outra qualquer espécie de entretenimento podiam apenas resultar em tédio, não fosse a nossa vontade em conhecer algo mais. Era também comum dar-mos um salto a Ayamonte em Espanha, mas além da travessia de barco, não guardo nenhuma recordação em particular.
Até recentemente, de Faro apenas conhecia o estádio, por obra do WRC, pecado que já corrigi nos últimos meses. Seguindo em direcção ao Alentejo, confesso que fora algumas paragens para almoçar, uma esporádica visita à Barragem do Alqueva, ao Fluviário de Mora, à antiga, e à nova Aldeia da Luz, apenas conheço Beja e Évora.
De Portalegre, e de Setúbal, muito pouco tenho a acrescentar além das habituais passagens. Já visitei Almeirim e Almada. De Castelo Branco retenho um almoço no Aquário, e uma exposição de fósseis de Dinossauros em tamanho real que visitei em 2010. Assim como a Serra da Estrela e a sua Torre, que já subi no Inverno e no Verão, e a encontro sempre diferente.
Santarém, se visitei, está há muito perdido em ínfimas recordações. Já Tomar, Ourém, e Caldas da Rainha estão bem presentes, não tivessem passado poucos anos desde as minhas últimas visitas. Em Leiria, não visitei o castelo. Na Nazaré não fui à praia. Fátima conheço demasiado bem. Raro é o dia que não desejo voltar a provar uma estrela da pastelaria Milano. Muitas foram as vezes que atravessei a Pedreira do Galinha na Serra de Aire, apenas para descansar numa pegada de Dinossauro.
Conímbriga tenho que rever, um dia, em breve. A Lourinhã também. Ainda não vi as novas exposições do seu Museu de História Natural. Viseu é sinónimo de ciclismo, e raro é o ano que lá não vou assistir a uma chegada da Volta. Braga e Guimarães, conheço tão bem como Fátima. À primeira vou regressar por alguns dias ainda este mês.
De Trás-os-Montes conheço apenas o Gerês, mas retenho algumas maravilhas ainda por explorar. O Douro vinhateiro mantém-se apenas presente nas minhas memórias, assim como Vila Real e Bragança, onde há muito não regresso. Viana do Castelo, Valença e Miranda do Douro, são três pontos na fronteira que aos poucos fui conhecendo.
Lisboa, não vejo como uma cidade portuguesa, mas como um principado, distinto e alheio ao resto do país. Visito-a sempre que possível, não fosse esta o centro dos grandes, e dos pequenos eventos que mais quero assistir.
Já muito conheço, mas ainda mais há para conhecer. É difícil enumerar tudo aquilo que já visitei e que conheci. Assim como tudo aquilo que ficou por conhecer. Agora que me aventuro por voos mais longos, não me esqueço da beleza que estas fronteiras mantêm reservada para mim. E assim sonho em viajar.
A Dreams continua a tocar, a paisagem ainda se estende até ao horizonte, mas agora, sou eu quem vai a conduzir.
No comments:
Post a Comment