Carnaval de Ovar, 2011 |
Tem as suas vantagens, não o nego. Neste momento enquanto escrevo, não estou aqui. Transporto-me para aquela tarde de Agosto em 2011. Estou em Roma, no Coliseu, a olhar para as ruínas do Fórum Romano em frente. O Luís está ao meu lado de câmara na mão. Sinto o sol a acariciar o meu rosto. Sorrio e deixo-me envolver pelo calor.
De todas as viagens que já fiz, esta é aquela que mais vezes procuro relembrar. Aquelas noites quentes a beber Bacardi no jardim do Hostel em San Giovanni. As viagens de autocarro sem pagar, sempre atentos aos míticos revisores que pareciam não existir. Sentir o peso de séculos de História a cada passo que dávamos. Guardo essa viagem com um profundo sentimento de saudade, e com uma igual vontade de um dia lá regressar.
Esta foi também a última grande viagem que fiz com os meus amigos. Tínhamos a ambição de fazer uma todos os anos. Por diversas vezes reunimo-nos para tentar marcar a próxima, mas sem efeito até hoje.
É raro encontrar um grupo de pessoas com quem partilhamos um vasto leque de interesses, mas que além de concordarem entre si, também são capazes de debater os seus pontos de vista, de se complementarem, e de gozarem uns com os outros. Um grupo capaz de estar lá para partilhar os bons momentos, mas que também seja capaz de se apoiar nos piores.
Todos temos os nossos defeitos, e as nossas virtudes. Evoluímos a cada dia que passa, a cada conversa que temos, a cada ideia que partilhamos. Construímo-nos introspectiva e socialmente, através da cultura que consumimos, e das experiências que partilhamos uns com os outros.
Não é necessário definir a amizade, tal como o amor, é algo que se sente, que começa num instante indefinido, e que se propaga através do tempo. Sem nos apercebermos que está a acontecer.
Tal como o romancismo, também a amizade é hoje vítima de uma perpétua desvalorização. Chamas amigos aos contactos do facebook com quem nunca falaste, ou conviveste. Sais com desconhecidos sem nunca debateres uma única ideia, por mais básica que seja. Perpetuam um silêncio amorfo e incomodativo, sem qualquer ambição por algo mais. Fala-se em códigos, ignoram-se relações. Estás lá por conveniência. Aborreces-te, e continuas sozinho por entre uma multidão. E quando chega aquele momento em que precisas muito de alguém, vais estar só. Pois, isto não é amizade.
A chamada friendzone apenas perturba esta equação. Pois se não pode haver amor sem amizade, porque continuamos a acreditar que o oposto é impossível? Talvez funcione melhor se nos deixarmos envolver pela paixão, e formos construindo a amizade pelo caminho. Mas sem amizade, nenhum amor sobrevive. Quando uma ligação é real, não importam os anos, ou os momentos que partilharam. Há algum risco, talvez, se a vossa amizade não for construída numa base de comunicação aberta e de confiança. Um risco que vale a pena. Por mais longa que seja a passagem das águas sob a ponte da mágoa, chega enfim o dia em que estas cessam, e a amizade pode ser reconstruída.
Em tempos disseram-me que não se luta por uma amizade. “Se não se luta por uma amizade, que mais há pelo qual lutar?” Foi esta a minha resposta, e ainda hoje a mantenho.
Não usem este termo em vão. Sejam bons amigos. Não tenham medo de entregar um pouco de vós. Não o façam ao desbarato. E não se fechem por entre quatro paredes. Por mais ocupada, ou complexa que seja a vossa vida, há sempre tempo para um café. Por mais anos que passem, quando a amizade é real, o sentimento mantém-se.
O valor da amizade é algo que vale a pena ser defendido. É algo pelo qual devemos sempre lutar. Não pensem em demasia. Não deixem para amanhã. Regressem comigo àquela tarde em Roma. Explorem. Cresçam. E não se esqueçam de se divertir.
Anoiteceu. Estou sentado naquele jardim a beber Bacardi e a contemplar a beleza da noite romana. Uma memória agradável, ainda hoje tão presente.
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