Imagem: DR |
Dezasseis de Março de 2013. Uma data que facilmente será esquecida pela maioria das pessoas, mas não por mim. Hoje, o MSN Messenger fica online pela última vez. Embora a migração dos contactos para o Skype possa ser feita até 30 de Abril, foi esta a data escolhida pela Microsoft para pôr um fim ao Windows Live Messenger.
Enquanto escrevia este artigo decidi ligar o meu Messenger por mera curiosidade. Já há algum tempo que fiz a migração dos meus contactos para o Skype e a minha conta de Hotmail já se encontra sobre a alçada do Outlook há alguns meses. Não me lembro da última vez que liguei o meu Messenger, certamente já deve ter passado quase um ano desde a última vez que fiquei online, isto sem contar as ocasionais visitas à minha caixa de entrada do Hotmail.
Neste preciso momento tenho apenas dezasseis pessoas online, a maioria das quais são contactos do facebook que apenas aparecem aqui por ter as duas contas ligadas. Não esperava ser capaz de sequer conseguir aceder ao Messenger mas visto que o prazo de migração de contactos foi alargado até 30 de Abril, possivelmente terei ainda algumas semanas para visitar este velho amigo que há muito tenho negligenciado.
Nunca pensei que eu próprio seria capaz de me desligar do Messenger e trocá-lo de forma tão ligeira pelo chat do facebook e pelo Gtalk. Embora o Messenger não fosse, no sentido mais lato da palavra, uma rede social, nem tão pouco proporcionasse o anonimato ou a casualidade de encontros do IRC, foi durante anos um local predilecto para aprofundar uma relação entre duas pessoas ou para simplesmente ter uma boa conversa. São incontáveis os casos de amigos e colegas que conheci através da vida real, do IRC ou das redes sociais, que fiquei a conhecer melhor por causa da particularidade intimista de interacção um para um que o Messenger possibilitava.
Foi com alguma relutância que em 2003 migrei do IRC para o Messenger. Na altura via o Messenger como uma sala fechada. Um espaço que não permitia que conhecesses outras pessoas além da tua lista de contactos e que, ao contrário do IRC, tornava mais difícil esconderes-te por trás de um nick. Hesitei bastante. Durante muito tempo mantive os dois programas ligados. Fui gradualmente perdendo interesse pelo IRC até ao ponto em que simplesmente já não tinha motivos para o visitar. Assim que todas as pessoas que me eram próximas passaram a figurar nos contactos do Messenger, fechei as portas do IRC de igual forma como nos últimos anos troquei o Messenger pelo facebook.
Nunca fui grande fã dos extras que este programa nos fornecia. Raramente tive uma conversa através da webcam. Partilhei pontualmente documentos e ficheiros com colegas do liceu ou da faculdade ou com amigos que queriam dar-me a conhecer novas músicas ou ouvir algumas das bandas que eu gostava na altura. Conto pelos dedos as vezes que joguei algum jogo e na maioria dos casos foi mais por insistência da outra pessoa do que por vontade minha. Para mim o Messenger sempre foi um espaço de chat. Uma plataforma que me permitia ter uma boa conversa com alguém ao fim de um longo dia de aulas ou de trabalho.
Lembro-me das horas que passava impaciente à espera que uma certa pessoa ficasse online. Da frustração de deixar uma conversa a meio sempre que a Internet ia abaixo. E do desespero que sentia quando o Messenger passava horas ou até mesmo dias em manutenção sem permitir o acesso dos seus utilizadores. Tudo isto já faz parte do passado.
As redes sociais e as plataformas de comunicação são feitas de pessoas. Por mais que alguém queira resistir acabamos sempre por ser forçados a seguir a vontade da maioria dos nossos contactos. Quando estes optaram por trocar o Messenger pelo facebook, por mais relutante que eu fosse em aceitar a mudança e por mais incómodo que seja falar com alguém através de um browser, no fim não me restou alternativa que não desviar a minha atenção deste programa e focá-la inteiramente no facebook.
Sim, há já algum tempo que existem diversos programas que possibilitam unir várias contas de chat e o próprio Messenger também isso permite. Contudo, sou avesso a esse género de conglomerações. Torna-se confuso ver a mesma pessoa ligada em três ou mais locais distintos, tornando assim complexo todo o processo de falar com alguém. Processo esse que deve ser sempre simples.
O Messenger caiu vítima daquilo que eu próprio receava na altura da transição do IRC. Uma sala fechada apenas te permite ver aquilo que colocas lá dentro. O facebook e o twitter abriram de novo as portas à possibilidade de conheceres pessoas novas. Pessoas que agora já não se escondiam por trás de nicks, mas que publicitavam todos os pormenores mais ínfimos da sua vida pessoal diariamente e para que todos os pudessem ver.
O Messenger derrubou o IRC, sobreviveu ao MySpace e ao hi5, apenas para sucumbir perante o facebook. Resistiu enquanto pôde mas a partir do momento em que o Skype deixou de ser um rival e passou a figurar dentro da própria Microsoft o seu fim deixou de ser uma suposição para passar a ser uma garantia. Hoje, confrontado com a realidade desse fim apenas me resta dizer adeus.
Até sempre velho amigo, guardo eternamente todas as recordações dos vários momentos que passei contigo ligado. Horas de conversa, de alegria e de desgosto, de bom humor e de seriedade, de aproximação e de discussão, de aprendizagem e de galhofa. Hoje fico offline pela última vez. Hoje despeço-me pela última vez.
*Adriano Cerqueira está offline
1 comment:
Me lembro da emoção der ver pular o aviso "fulano está online" : )
O MSN realmente foi testemunha de grandes conversas e amizades!
Post a Comment