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Ao longo desta época tenho-me abstraído de comentar os inúmeros desaires e actos falhados que assolaram a equipa de futebol do Sporting CP. Mais uma vez iniciámos a época com um bom plantel e com a aliciante de que pela primeira vez desde a saída de Paulo Bento do comando técnico da equipa, esse mesmo plantel tinha várias opções de qualidade para cada uma das posições. Opções essas capazes de colmatar eventuais castigos ou lesões que tanto nos penalizaram na época anterior.
Mas os erros começaram cedo, não apenas por terem falhado a contratação do tal avançado que iria competir directamente com o Wolfswinkel, mas também pela venda e empréstimo de jogadores estratégicos que tiveram influência directa nas prestações positivas da equipa quer na época anterior quer ao longo da pré-temporada. Jogadores como Matías Fernández e Oguchi Onyewu que embora fossem inconstantes e habituais vítimas da contestação dos adeptos, também foram capazes de resolver diversos jogos durante a sua passagem pelo Sporting CP.
Tínhamos plantel para sermos campeões? Não sei, mas tínhamos um plantel forte o suficiente para lutar de igual para igual com os nossos rivais e para nos posicionarmos num dos lugares cimeiros do campeonato sem grande dificuldade. O que nunca tivemos foi uma equipa. Jogadores internacionais e experientes entravam em jogo cansados e desmotivados. Sem coesão, com fortes dificuldades para comunicarem entre si, mas acima de tudo, desmotivados e descrentes. Ao sinal da primeira adversidade, fosse ela uma atrapalhação defensiva, uma jogada de perigo do adversário, um penalty falhado, ou um golo marcado cedo demais, a “equipa” – e digo equipa entre aspas, pois em campo apenas via um conjunto de jogadores que não demonstravam qualquer conhecimento do verdadeiro sentido dessa palavra – baixava os braços e dava por garantida a derrota. Este não é o espírito do Sporting CP, esta não é a atitude que um clube candidato ao título pode ter. Este não é o clube centenário que em tempos conheci.
Trocou-se de treinador. Dissemos adeus à Liga Europa, à Taça de Portugal e à Taça da Liga e afundámo-nos na tabela classificativa. Passámos meses sem saber o que era vencer, voltámos a trocar de treinador, ganhámos, levantámos a nossa esperança e vimo-la cair quando voltámos a perder. Em Janeiro, vimos jogadores importantes a sair e a forçar-nos a recorrer à equipa B para colmatar as novas lacunas do plantel. Restam-nos agora dez jornadas para jogar. Pela primeira vez na nossa História ficámos matematicamente excluídos da luta pelo título com trinta pontos ainda em disputa. Caímos na mó de baixo. Batemos no fundo. Apenas podemos esperar que os próximos tempos não nos façam descer ainda mais.
Resta-nos lutar por um lugar nas competições europeias. A dez jornadas do fim, esses sete pontos que nos separam do quinto lugar nunca pareceram tão longe ou tão difíceis de alcançar.
As novas eleições podem significar o renascer da esperança para alguns. Já eu, não coloco qualquer expectativa em nenhum dos candidatos. Apenas espero que eles sejam capazes de ver a solução para um Sporting CP com um futuro competitivo e sustentável com a mesma clareza com que eu hoje vejo.
A estratégia é simples. Começar do zero. Iniciar a próxima época não com o objectivo de ser campeão, mas com um objectivo mais realista e sustentável como o posicionamento num lugar de acesso à Liga dos Campeões. Chamar de volta todos os jogadores emprestados e construir um plantel unido e com alternativas. Apostar em dois ou três jovens formados na Academia, já rodados na equipa B ou noutros campeonatos, para serem gradualmente introduzidos na equipa inicial. Investir em quatro ou cinco jogadores com valor e experiência internacional para colmatar algumas das lacunas do plantel. Manter o treinador e dar-lhe ar para respirar e tempo para impor as suas ideias. Investir num projecto a médio-prazo, entre três a cinco anos e, acima de tudo, promover uma estabilidade interna que dê segurança aos jogadores, ao treinador e aos adeptos. Se este plano for imposto com rigor, no final deste processo estaremos, não só a lutar pelo título, mas a vencer competições com maior regularidade e a elevar o nome do Sporting CP no futebol europeu.
Sim, pelo nosso palmarés temos a obrigação de nos apresentarmos todas as épocas como candidatos ao título. Mas ao baixarmos esta fasquia para os jogadores, veremos que os resultados irão surgir e que numa época em que ninguém dará nada por nós, estaremos lá em cima, pé ante pé, a lutar pelo primeiro lugar até à recta final. Esta fórmula já foi comprovada em equipas como o Barcelona, o Arsenal e o Manchester United. E vimo-la dar frutos cá dentro com o Boavista FC, o SC Braga e o FC Porto da década de 80.
Se formos capazes de ter paciência, de dar ouvidos à razão, de pôr de lado o orgulho e de olhar em frente com a frieza de uma mente assertiva, seremos campeões. É este o Sporting CP em que eu acredito e é este o rumo que terá de ser tomado.
Esforço, Devoção, Dedicação e Glória, eis o Sporting!
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