Monday, April 04, 2011

Dívidas

Descobrir a origem da crise pode parecer complexo, mas a sua explicação é relativamente simples: dívida. Hoje em dia não parece ser suficiente viver com aquilo que temos ao alcance da nossa remuneração. Queremos coisas, e para as ter recorremos ao crédito. Porquê contentarmo-nos com aquilo que podemos ter, quando é tão fácil ter aquilo que não podemos comprar?

Pedimos crédito para comprar uma casa. Pedimos crédito para comprar um carro. Se parássemos por aqui o desastre seria evitável, afinal não é qualquer um que tem 100 mil euros guardados para gastar de uma só vês, mas isto não é suficiente. Queremos coisas, outras coisas dispensáveis que não precisamos no imediato, e que para as ter bastaria poupar mais um pouco. Pedimos crédito para um computador. Pedimos crédito para as férias. Pedimos crédito para o próximo iPhone, iPad, ou para outro gadget qualquer, excessivamente sobrevalorizado. Pedimos crédito para tudo e mais alguma coisa, e quando começamos a pedir crédito para comer já é tarde demais.

As famílias endividaram-se, tentaram viver acima das suas possibilidades. Enquanto tiveram empregos fixos com salários regulares, de uma maneira ou de outra, lá conseguiam devolver o dinheiro da dívida aos bancos, e estes continuavam a respirar de alívio com o retorno do seu investimento acrescido de juros. Mas, de repente, os empregos deixaram de ser fixos, os salários deixaram de ser regulares, e o desemprego passou a ser o Pão Nosso de Cada dia.

Sem emprego, e sem dinheiro, os bancos levaram as casas, os carros e os iPhones. Quando tentaram vender as casas para recuperar o seu investimento, ninguém tinha dinheiro para as comprar, e aqueles que optaram por o fazer pagaram através de empréstimos e a preços mais baixos, pois assim ditava o mercado. Dívida atrás de dívida, com dinheiro a esvanecer que nem grãos de areia no vento, os bancos entraram em colapso e deixaram de emprestar dinheiro, vendo-se forçados a recorrer aos seus depósitos para pagar o seu próprio endividamento.

Aqueles que tinham contas no banco, aqueles que pouparam, viram o seu dinheiro desaparecer por causa dos outros que decidiram viver na ilusão de um mundo que nunca lhes pertenceu, em vez de aceitarem a dura realidade. O Mundo todo levou com uma lição de humildade, mas em vez de aprender com os erros do passado, continuou a agir da mesma forma.

Hoje, poupa-se em alimentação e em bens básicos para se mostrar aquelas coisas que não são precisas, nem tão pouco servem para nada. Um desempregado de longa-duração que arranja um emprego de três meses compra logo um carro de 30 mil euros, ou mais, apenas para o devolver quando passados os três meses regressa ao desemprego. Podia ter usado o dinheiro para alimentar a família, mas assim não o fez.

Trabalho há sete meses. Durante esses sete meses poupei e continuo a poupar. Ainda conduzo o meu carro que daqui a alguns meses fará 17 anos, não comprei outro, não pedi crédito, e tão cedo não o farei. Comprei um computador pois o meu já ia fazer cinco anos e não tinha as características necessárias para aquilo que eu preciso que ele faça. Juntei durante cinco meses e aguardei por uma promoção de uma loja de electrónica. Consegui poupar cerca de 200 euros. Também comprei outras coisas que embora úteis, não eram tão necessárias. Mas para o fazer pus dinheiro de lado, não gastei aquilo que não tinha.

O problema é puramente uma questão de mentalidade, de sensibilização para a atitude correcta. Não gastem aquilo que não têm, e tudo voltará à normalidade. Não se queixem da crise, façam algo para que ela termine. Não vivam das aparências pois, sinceramente, ninguém quer saber de vocês. Se querem mesmo algo, e se sentem que vale a pena fazerem um sacrifício para o ter, ponham algum de lado, poupem, e tudo tornar-se-á mais simples.

Há dias, no programa Quem Quer Ser Milionário, uma das participantes disse que 20 mil euros só davam para um carro usado. É este tipo de mentalidade que é necessário mudar. Com 20 mil euros não apenas se compra um carro novo bom, como se quiserem poupar mais um pouco podem ainda comprar um usado de gama alta por um preço ainda mais baixo. Nem tudo precisa de ser o melhor, ou o mais caro, e barato não é sempre sinónimo de baixa qualidade.

Se me permites ser directo, a crise é culpa tua, e de mais ninguém. A boa notícia é que ainda vais a tempo de mudar.

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