Era Quarta-feira. É sempre Quarta-feira. Embora tivessem passado nove meses de ter tirado a carta, ainda contava pelos dedos as vezes que tinha conduzido um carro ao Porto. Digo um carro, pois em nenhuma das vezes tinha levado o meu. Seria a primeira vez.
À parte de algum nervosismo, nada indicava que a viagem pudesse correr mal. Havia sempre a questão do estacionamento, mas atravessaria essa ponte assim que a encontrasse. O meu carro tem GPL, e ao contrário dos carros a gasolina ou a diesel, não há maneira de saber o estado do depósito, o que me obriga a ter apenas como referência os quilómetros já percorridos para determinar quando é necessário abastecer.
Na altura pareceu-me ainda ter alguma margem de manobra para ir confortavelmente ao Porto e vir sem precisar de reabastecer, mesmo o indicador do tanque de gasolina mostrava-se confortavelmente longe da reserva. Ou assim pensava.
Saí de casa por volta das oito e meia para ir à aula de Economia que começava às dez. Tempo mais do que suficiente em qualquer outro dia, mas aquele não era um dia qualquer, era Quarta-feira. Chegado à A44, próximo da saída para a Arrábida encontrei a já habitual fila de trânsito matinal. Logo aí começaram os problemas. No constante pára/arranca reparei numa luzinha cor-de-laranja que se tinha começado a acender. Era o indicador do depósito a avisar que a gasolina estava na reserva.
Não fiquei muito preocupado visto que, com o GPL como tanque principal, mal saísse do trânsito tudo voltaria à normalidade pois o carro apenas recorre à gasolina para arrancar. E assim teria acontecido não tivesse o próprio GPL decidido falhar naquele dia.
Na descida para o Campo Alegre o motor falhou. Deixei de conseguir acelerar e fiquei parado no meio do trânsito sem forma de o reiniciar. Aguardei um pouco e continuei a tentar. Ao fim de diversas tentativas, quando os restantes carros já tinham começado a apitar e a passar à minha volta, ele finalmente arrancou.
Aguentei-o até à bomba da Repsol perto do Palácio de Cristal. Deixei o carro numa praça de Táxis e fui lá comprar gasolina. Não tinham bidões por isso tive que comprar um garrafão de água, deitar a água fora e enchê-lo de gasolina. Emprestaram-me um funil que uma senhora ali tinha deixado – até hoje ainda não o devolvi – e fui para junto do meu carro. Pedi a uma senhora da limpeza que estava por ali, para me ajudar a segurar no funil enquanto colocava a gasolina no depósito. A senhora mostrou-se algo relutante mas acabou por me ajudar.
Cheguei ao meu curso já passava das dez e meia. A aula ia a meio, portanto decidi aguardar pelo intervalo para entrar. Passei o dia com um único pensamento: preciso de encontrar outra bomba de gasolina para encher o depósito, aquele garrafão não era suficiente para a viagem de regresso.
Optei por levar o carro naquele dia pois ia começar as aulas de Russo e como estas terminavam às nove e meia da noite, não queria chegar muito tarde a casa. Ao final do dia tinha que levar o carro à Faculdade de Letras para a aula de Russo e aproveitei para dar boleia a um colega meu que também ia ter aulas de Japonês à mesma hora.
Ele supostamente conhecia uma bomba de gasolina para aqueles lados, mas não a conseguíamos encontrar. Demos algumas voltas pelo Campo Alegre até que me lembrei que havia uma bomba de gasolina próxima da saída em direcção a Gaia. Atravessei a rua do Hotel Tuela e finalmente encontrei-a!
Enchi vinte euros de gasolina e depois fomos procurar um lugar para deixar o carro. Ele sugeriu-me estacionar por trás do Mercado da Boavista. Graças a estes contratempos este passou a ser o meu lugar de estacionamento habitual sempre que vou de carro para essa zona.
O regresso a casa foi feito sem qualquer percalço. Para a História ficou esta Quarta-feira de Outubro para sempre relembrada como o dia em que ambos os tanques se esgotaram.
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