Tuesday, April 12, 2011

“Ó Luís, vê lá se fico bem a esta distância do teclado”

Está bom assim, ou devo tocar mais suavemente nas teclas? E que tal assim? Devo escrever esta frase sem olhar para o ecrã, e sem paragens para verificar a pontuação, ou preferes que coloque uma vírgula ou outra não fosse isto começar a parecer um parágrafo à la Saramago. O itálico fica bem naquela expressão francesa ou será um pouco exagerado?

Preferes que insira para aqui um hyperlink, aliás se calhar ficava melhor dizer hiperligação, não achas? Já agora, sabes como se escreve hyperlink? É com ‘i’ ou com ‘y’? No Google aparece das duas formas, mas com ‘y’ parece-me mais correcto, enfim, vou arriscar.

Estes primeiros dois parágrafos já servem como introdução ou é necessária mais alguma coisa? Parece-te que o herói já foi apresentado e que o primeiro Acto está concluído? Apetece-me divagar um pouco mais, há sempre tanta coisa que quero dizer e que acaba por se perder no discurso. Às vezes só me lembro mais tarde já depois de publicar, e aí não há nada a fazer. Preguiça, é isso mesmo, preguiça para reescrever o artigo ou para escrever outro sobre o mesmo tema. De facto, na maioria das vezes são simples pormenores que pouco ou nada acrescentam à história no seu todo. Then again, a vida é feita de pequenas coisas. Raios, como se traduz ‘then again’? ‘Contudo’ não me parece ser o mais correcto. Já sei, ‘porém’. Porém, a vida é feita de pequenas coisas.

Clichés e provérbios, é isso que faz o mundo andar à volta. Ou, pelo menos, o universo deste meu blogue. Espera aí, esqueci-me de uma vírgula na primeira frase deste parágrafo. Pronto, já está. Agora o Word está a dizer que a vírgula está a mais? Vou retirar e ver o que diz. Bom, parece-me que é um problema de concordância, daqueles que a inteligência artificial do Office ainda não é capaz de compreender. Parece-me melhor com a vírgula, vou mantê-la. Voltei a escrever ‘parece-me’, tenho que prestar mais atenção para evitar as repetições, já bastam as pequenas tentações de fonética que por vezes deixo escapar. Enfim, desta vez deixo ficar assim, não me apetece estar a pensar noutra alternativa.

Achas que uso e abuso de provérbios? Talvez devesse procurar algumas citações interessantes sempre dá um ar mais culto e elaborado a este artigo, ou pelo menos, transforma este texto num artigo menos preguiçoso, dado que tive de recorrer a alguma pesquisa para a sua execução. Não imaginas o quão difícil foi encontrar aquela palavra. Bom, vamos lá ver o que o Google tem a dizer.

“Na verdade, ninguém vê uma flor – é tão pequena – nós não temos tempo, e a contemplação requer muito tempo…” de Georgia O'Keeffe. Procurava algo de Cesário Verde, mas isto encontrei. Fica bem a analogia de uma pequena flor como ilustração de um dos pormenores da vida? Sim, a segunda parte também encaixa no tema global, ora não estivesse eu a ponderar sobre a demora e a paciência que uma leitura requer, principalmente quando esta é mais longa que o que se espera.

No outro dia vi-me a desistir de ler um texto simplesmente pela sua dimensão. Seria este o seu problema? Talvez, mas o mais provável é que o tema em si não me cativasse o suficiente. Afinal, a curiosidade matou o gato que tendo a mim como dono chamar-se-ia “Paciência”.

Introdução, tese, antítese, síntese, conclusão. Já o pensava Aristóteles antes de escrever e assim me ensinou aquela professora de Português que hoje não me recordo quem foi, nem tão pouco como se chama. Terei incluído estes elementos correctamente e de forma a serem facilmente identificáveis? Ó eterna questão que volta e meia me atormenta. Fiquei na dúvida se foi de facto Aristóteles quem disse isto. O Google parece-me algo dúbio, mas a Wikipédia já o confirmou.

Como terminar, como terminar, como terminar. É sempre o fim a parte mais difícil de executar. Em qualquer viagem o mais importante é partir, não chegar, já dizia Miguel Torga. Partir pode ser o mais importante, mas chegar é igualmente complexo. Deve ser a terceira vez que uso esta citação neste blogue, é melhor conter-me ou começo a dar a ideia que é a única frase de um autor que alguma vez decorei. É verdade, há pouco queria dizer o quão estranho é escrever blogue, em vez de blog, mas é assim que está no dicionário, tal como twittar e outros que tantos. Pormenores, pequenos pormenores – como adoro este pleonasmo de redundância.

É tão difícil fechar um artigo. Vou pelo caminho mais fácil e recorrer-me da técnica em espiral ora não fosse a rádio também um forte elemento neste pequeno universo sem sentido. Diz-me só uma coisa Luís, fico bem a esta distância do teclado?

Wednesday, April 06, 2011

Episódios Atrás do Volante

Era Quarta-feira. É sempre Quarta-feira. Embora tivessem passado nove meses de ter tirado a carta, ainda contava pelos dedos as vezes que tinha conduzido um carro ao Porto. Digo um carro, pois em nenhuma das vezes tinha levado o meu. Seria a primeira vez.

À parte de algum nervosismo, nada indicava que a viagem pudesse correr mal. Havia sempre a questão do estacionamento, mas atravessaria essa ponte assim que a encontrasse. O meu carro tem GPL, e ao contrário dos carros a gasolina ou a diesel, não há maneira de saber o estado do depósito, o que me obriga a ter apenas como referência os quilómetros já percorridos para determinar quando é necessário abastecer.

Na altura pareceu-me ainda ter alguma margem de manobra para ir confortavelmente ao Porto e vir sem precisar de reabastecer, mesmo o indicador do tanque de gasolina mostrava-se confortavelmente longe da reserva. Ou assim pensava.

Saí de casa por volta das oito e meia para ir à aula de Economia que começava às dez. Tempo mais do que suficiente em qualquer outro dia, mas aquele não era um dia qualquer, era Quarta-feira. Chegado à A44, próximo da saída para a Arrábida encontrei a já habitual fila de trânsito matinal. Logo aí começaram os problemas. No constante pára/arranca reparei numa luzinha cor-de-laranja que se tinha começado a acender. Era o indicador do depósito a avisar que a gasolina estava na reserva.

Não fiquei muito preocupado visto que, com o GPL como tanque principal, mal saísse do trânsito tudo voltaria à normalidade pois o carro apenas recorre à gasolina para arrancar. E assim teria acontecido não tivesse o próprio GPL decidido falhar naquele dia.

Na descida para o Campo Alegre o motor falhou. Deixei de conseguir acelerar e fiquei parado no meio do trânsito sem forma de o reiniciar. Aguardei um pouco e continuei a tentar. Ao fim de diversas tentativas, quando os restantes carros já tinham começado a apitar e a passar à minha volta, ele finalmente arrancou.

Aguentei-o até à bomba da Repsol perto do Palácio de Cristal. Deixei o carro numa praça de Táxis e fui lá comprar gasolina. Não tinham bidões por isso tive que comprar um garrafão de água, deitar a água fora e enchê-lo de gasolina. Emprestaram-me um funil que uma senhora ali tinha deixado – até hoje ainda não o devolvi – e fui para junto do meu carro. Pedi a uma senhora da limpeza que estava por ali, para me ajudar a segurar no funil enquanto colocava a gasolina no depósito. A senhora mostrou-se algo relutante mas acabou por me ajudar.

Cheguei ao meu curso já passava das dez e meia. A aula ia a meio, portanto decidi aguardar pelo intervalo para entrar. Passei o dia com um único pensamento: preciso de encontrar outra bomba de gasolina para encher o depósito, aquele garrafão não era suficiente para a viagem de regresso.

Optei por levar o carro naquele dia pois ia começar as aulas de Russo e como estas terminavam às nove e meia da noite, não queria chegar muito tarde a casa. Ao final do dia tinha que levar o carro à Faculdade de Letras para a aula de Russo e aproveitei para dar boleia a um colega meu que também ia ter aulas de Japonês à mesma hora.

Ele supostamente conhecia uma bomba de gasolina para aqueles lados, mas não a conseguíamos encontrar. Demos algumas voltas pelo Campo Alegre até que me lembrei que havia uma bomba de gasolina próxima da saída em direcção a Gaia. Atravessei a rua do Hotel Tuela e finalmente encontrei-a!

Enchi vinte euros de gasolina e depois fomos procurar um lugar para deixar o carro. Ele sugeriu-me estacionar por trás do Mercado da Boavista. Graças a estes contratempos este passou a ser o meu lugar de estacionamento habitual sempre que vou de carro para essa zona.

O regresso a casa foi feito sem qualquer percalço. Para a História ficou esta Quarta-feira de Outubro para sempre relembrada como o dia em que ambos os tanques se esgotaram.

Tuesday, April 05, 2011

O Adeus do Levezinho

Foto DR
313 jogos, 174 golos, 2 Taças de Portugal, 2 Supertaças, 4 vezes vice-campeão português e finalista vencido da Taça UEFA em 2005, são estes os números que ilustram a passagem do Levezinho pelo Sporting CP. Três simples linhas, incapazes de descrever de forma significativa tudo aquilo que o eterno 31 representava para todos os sportinguistas.

Liedson chegou a Alvalade durante o defeso de 2003. Mais um brasileiro desconhecido com a curiosidade de ter trabalhado como caixa de supermercado, um verdadeiro pitéu para os humoristas desportivos. Mas não tardou para que o número 31 que usava o S ao contrário para dar sorte, se revelasse como uma verdadeira ameaça para as redes adversárias.

Os oito anos de leão ao peito podem ser resumidos em uma só época: 2004/05. Com o FC Porto em período de transição após a saída de Mourinho havia espaço para outra equipa se insurgir e conquistar o título de campeão. O Sporting CP era o favorito. A duas jornadas do fim bastava-te uma vitória e um empate. Pelo meio tinhas ainda a final da Taça UEFA para vencer, tudo parecia correr de vento em popa.

Eras o melhor marcador do campeonato com 25 golos, mais 9 na UEFA, mal podias adivinhar o que se ia passar a seguir. A derrota na Luz, nem vale a pena recordar, e quanto à final da Taça UEFA, em pleno Estádio de Alvalade, quero acreditar que para ti ainda aguardas no balneário impaciente pelo recomeço da segunda parte para poderes ter a tua oportunidade de levantar a Taça.

Tal como nesse jogo, deixas o Sporting CP a meio, não quiseste viver os últimos momentos desta temporada e partiste quando ainda havia esperança. Por um encaixe financeiro que não chega a traduzir o teu verdadeiro valor, escreveste o final da tua história verde-e-branca. O campeonato, já na altura perdido, tem agora um dono oficial. O segundo lugar também já não está ao nosso alcance, e vemos agora o terceiro ameaçado por um SC Braga que, partindo em desvantagem, começa agora a arrear caminho com voos mais altos no horizonte.

A Liga Europa ficou-se por Glasgow, mais uma vez, com o dissabor de um golo marcado no último lance da partida, e com a sensação que, estivesses tu em campo, as coisas podiam ter sido diferentes.

Continuas a deixar saudades nesta casa que tão bem representaste ao longo das últimas épocas. Obrigado pelos anos de Devoção, Dedicação e Glória e um até sempre. Até ao teu regresso.

Saudações Leoninas

Monday, April 04, 2011

Dívidas

Descobrir a origem da crise pode parecer complexo, mas a sua explicação é relativamente simples: dívida. Hoje em dia não parece ser suficiente viver com aquilo que temos ao alcance da nossa remuneração. Queremos coisas, e para as ter recorremos ao crédito. Porquê contentarmo-nos com aquilo que podemos ter, quando é tão fácil ter aquilo que não podemos comprar?

Pedimos crédito para comprar uma casa. Pedimos crédito para comprar um carro. Se parássemos por aqui o desastre seria evitável, afinal não é qualquer um que tem 100 mil euros guardados para gastar de uma só vês, mas isto não é suficiente. Queremos coisas, outras coisas dispensáveis que não precisamos no imediato, e que para as ter bastaria poupar mais um pouco. Pedimos crédito para um computador. Pedimos crédito para as férias. Pedimos crédito para o próximo iPhone, iPad, ou para outro gadget qualquer, excessivamente sobrevalorizado. Pedimos crédito para tudo e mais alguma coisa, e quando começamos a pedir crédito para comer já é tarde demais.

As famílias endividaram-se, tentaram viver acima das suas possibilidades. Enquanto tiveram empregos fixos com salários regulares, de uma maneira ou de outra, lá conseguiam devolver o dinheiro da dívida aos bancos, e estes continuavam a respirar de alívio com o retorno do seu investimento acrescido de juros. Mas, de repente, os empregos deixaram de ser fixos, os salários deixaram de ser regulares, e o desemprego passou a ser o Pão Nosso de Cada dia.

Sem emprego, e sem dinheiro, os bancos levaram as casas, os carros e os iPhones. Quando tentaram vender as casas para recuperar o seu investimento, ninguém tinha dinheiro para as comprar, e aqueles que optaram por o fazer pagaram através de empréstimos e a preços mais baixos, pois assim ditava o mercado. Dívida atrás de dívida, com dinheiro a esvanecer que nem grãos de areia no vento, os bancos entraram em colapso e deixaram de emprestar dinheiro, vendo-se forçados a recorrer aos seus depósitos para pagar o seu próprio endividamento.

Aqueles que tinham contas no banco, aqueles que pouparam, viram o seu dinheiro desaparecer por causa dos outros que decidiram viver na ilusão de um mundo que nunca lhes pertenceu, em vez de aceitarem a dura realidade. O Mundo todo levou com uma lição de humildade, mas em vez de aprender com os erros do passado, continuou a agir da mesma forma.

Hoje, poupa-se em alimentação e em bens básicos para se mostrar aquelas coisas que não são precisas, nem tão pouco servem para nada. Um desempregado de longa-duração que arranja um emprego de três meses compra logo um carro de 30 mil euros, ou mais, apenas para o devolver quando passados os três meses regressa ao desemprego. Podia ter usado o dinheiro para alimentar a família, mas assim não o fez.

Trabalho há sete meses. Durante esses sete meses poupei e continuo a poupar. Ainda conduzo o meu carro que daqui a alguns meses fará 17 anos, não comprei outro, não pedi crédito, e tão cedo não o farei. Comprei um computador pois o meu já ia fazer cinco anos e não tinha as características necessárias para aquilo que eu preciso que ele faça. Juntei durante cinco meses e aguardei por uma promoção de uma loja de electrónica. Consegui poupar cerca de 200 euros. Também comprei outras coisas que embora úteis, não eram tão necessárias. Mas para o fazer pus dinheiro de lado, não gastei aquilo que não tinha.

O problema é puramente uma questão de mentalidade, de sensibilização para a atitude correcta. Não gastem aquilo que não têm, e tudo voltará à normalidade. Não se queixem da crise, façam algo para que ela termine. Não vivam das aparências pois, sinceramente, ninguém quer saber de vocês. Se querem mesmo algo, e se sentem que vale a pena fazerem um sacrifício para o ter, ponham algum de lado, poupem, e tudo tornar-se-á mais simples.

Há dias, no programa Quem Quer Ser Milionário, uma das participantes disse que 20 mil euros só davam para um carro usado. É este tipo de mentalidade que é necessário mudar. Com 20 mil euros não apenas se compra um carro novo bom, como se quiserem poupar mais um pouco podem ainda comprar um usado de gama alta por um preço ainda mais baixo. Nem tudo precisa de ser o melhor, ou o mais caro, e barato não é sempre sinónimo de baixa qualidade.

Se me permites ser directo, a crise é culpa tua, e de mais ninguém. A boa notícia é que ainda vais a tempo de mudar.