Wednesday, March 30, 2011

O Milagre da Bateria

O dia 29 de Março de 2011 devia ser referenciado nos anais da História como o Milagre da Bateria. Não fosse pela constante americanização cultural dos nossos media, poucos seriam capazes de compreender esta analogia. Na altura do Natal a comunidade judaica costuma celebrar o Hanukkah, ou Festa das Luzes. Uma celebração de oito dias que comemora o Milagre do Óleo, ao acenderem uma vela no Menorah (uma espécie de candelabro) em cada dia desta comemoração.

A história do Milagre do Óleo vale mais pelo seu valor simbólico que pelo feito propriamente dito. Aquando da reconquista do Templo de Jerusalém aos Sírios pelos Macabeus, estes decidiram rededicá-lo, contudo, tinham apenas óleo suficiente para iluminarem o templo durante um dia. Essa reserva de um dia acabou por durar oito, daí o milagre.

Uma das queixas mais comuns dos utilizadores de Smartphones é a duração da bateria. Já na segunda-feira o meu Android começou a avisar que a bateria estava baixa, mas chegado a casa esqueci-me de o carregar e apenas me apercebi disso no dia seguinte. Antes de sair de casa ainda peguei nele para o deixar a carregar, mas para meu espanto ainda tinha alguma bateria. Decidi arriscar e levei-o comigo. Durante o dia é raro usar o telemóvel pois estou sempre online e facilmente contactável, logo, fora algum imprevisto, não havia problema se a bateria não se aguentasse até ao final do dia. Mas assim não foi.

Volta e meia ia confirmar o estado da bateria, não fosse esta já estar descarregada, mas o aviso continuava igual, no vermelho, mas sem sinal de diminuir. Durante todo o dia recebi apenas uma mensagem. Um aviso da TMN para carregar o meu saldo nos próximos dias, ou arriscava-me a perder as mensagens grátis. Nesse momento temi que a bateria cede-se finalmente ao inevitável destino que lhe esperava, mas esta manteve-se estoicamente firme.

As horas passaram e prometi a mim mesmo não pegar mais no telemóvel até chegar a casa. Se a bateria aguentasse até lá, aquele dia seria para sempre relembrado pela épica resistência de uma modesta bateria, condenada ao insucesso. E assim foi.

A bateria que devia durar apenas algumas horas, aguentou durante pouco mais de um dia e meio. Vivemos num Mundo sedento por milagres, aqui fica a minha sugestão.

Até ao Lavar dos Cestos é Vindima

Desde 2003 que fazer compras online deixou de ser um bicho-de-sete-cabeças para mim. Hoje em dia é raro fazer qualquer compra sem primeiro verificar se fica mais barato recorrer à loja online, seja ela portuguesa ou internacional. Embora não seja um comprador compulsivo, já fiz um certo volume de encomendas que me permitem ter total confiança no meio. Contudo, há sempre uma ou outra excepção que confirma a regra.

Sem querer dar um passo maior que a perna preferi, inicialmente, jogar pelo seguro e encomendar apenas em lojas nacionais que disponibilizassem um serviço de pagamento à cobrança nos correios. A loja escolhida foi a CDGO.com, uma loja de música online sediada no Porto, com uma vasta colecção de bandas e algumas raridades importadas. Apesar de viver em Ovar, ainda não tinha motivos para ir ao Porto com uma frequência que me permitisse comprar directamente na loja. Em certos casos, inclusive, a encomenda tinha que ser feita por um revendedor internacional, portanto, não era necessário deslocar-me lá quando podia fazer tudo isso dentro do conforto da minha casa.

A maioria das encomendas que fiz chegaram a tempo e em perfeitas condições. A maioria, pois algumas acabaram por nunca chegar. Fosse por falta de stock na loja ou por já não estarem disponíveis para venda junto dos revendedores, até hoje, nunca as recebi. Contactei a CDGO, explicaram-me a situação e passado algum tempo acabei por cancelar as encomendas.

Não tardei a subir a parada e a aventurar-me em sites de outro campeonato. Amazon, eBay e Play.com são alguns exemplos das minhas primeiras escolhas para comprar online de forma segura, e com uma boa relação qualidade/preço. Dos Estados Unidos à Malásia, a verdade é que há objectos no meu quarto que já viajaram bem mais que eu. Mas, curiosamente, o Reino Unido é o único destino do qual surgiram complicações, ora não fosse este o país de origem da grande maioria das minhas encomendas.

O primeiro caso foi ainda nos primórdios da minha relação com a Amazon. Estava à procura de um single de edição limitada. Encontrei uma loja associada à Amazon que o vendia e fiz a encomenda. Até aqui tudo bem. Dias mais tarde recebo um e-mail do vendedor a dizer que o artigo estava esgotado e a perguntar se eu queria um reembolso. Eu respondi a dizer que não tendo aquele single podiam enviar-me outro de igual valor. A resposta dele resumiu-se a isto: Já fizemos o reembolso. Não fiquei propriamente chateado com a situação e inclusive acabei por encontrar o single que queria noutra loja, contudo, não lhe teria ficado nada mal tomar em consideração a troca que sugeri em vez de agir imediatamente para o reembolso.

Seguiu-se o eBay e um vendedor ainda menos talentoso na arte da relação com os clientes. Fiz uma encomenda, paguei mais do que o que estava indicado pelos portes e aguardei. Na página do artigo indicava que o prazo de entrega era entre cinco a sete dias. Esperei duas semanas e nada. Contactei o vendedor e perguntei pelo estado da encomenda, ele tratou-me com condescendência e chamou-me de impaciente. Dei-lhe feedback negativo, ele ripostou de igual forma. A encomenda eventualmente chegou com um atraso de quase três semanas.

Chegámos a acordo para um reembolso de sete libras pelo atraso e concordámos em retirar os feedbacks negativos. Estes foram de facto retirados, já as sete libras, nunca as vi.

Quem espera sempre alcança. Em nenhum caso este provérbio se aplica melhor que no único que me falta contar. No passado dia 21 de Março de 2011, uma segunda-feira igual a qualquer outra, cheguei a casa e fui recebido com a seguinte notícia: Os correios trouxeram uma ordem judicial para ti. Entrei em pânico, teria cometido alguma ilegalidade sem me aperceber? Não. A ordem era para que eu, se assim quisesse, apresentasse queixa aos correios por uma encomenda que recebi com um atraso de quase dois anos!

Em 2009 encomendei um DVD através de um vendedor da Amazon. O tempo passou e ele nunca chegou. Falei com o vendedor que me confirmou que o artigo tinha entrado em Portugal mas que não tinham nenhuns dados acerca da sua localização. Aguardei mais uns dias e pedi o reembolso que recebi de imediato. O tempo passou. Por vezes senti-me tentado em voltar a comprar aquele DVD mas não encontrava nenhum por um preço acessível. Contava esta história sempre que o assunto das compras online surgia e guardei em mim a ideia que um dia aquele DVD ainda me ia aparecer à porta.

Cheguei mesmo a ouvir o rumor que havia um estafeta que andava a roubar cartas e que tinha mesmo sido preso na altura em que fiz a encomenda. Pobre homem que pelo menos desta não é culpado. Enviado do Reino Unido no dia 18 de Maio de 2009 o DVD chegou apenas no dia 21 de Março de 2011. O mesmo que dizer que demorou 672 dias a chegar a minha casa! Esteve perdido nos CTT e apenas o encontraram porque há umas semanas tinha feito outra encomenda, também da Amazon, que já vinha com um atraso de alguns dias e que, provavelmente, foi enviada para o mesmo sector de tratamento de entregas.

Há males que vêm por bem. Apesar do atraso de quase dois anos, acabei por não ter que pagar pela encomenda, tudo isto graças à incompetência dos CTT. Contudo, tenho que lhes louvar por apresentarem a ordem judicial. Seria de esperar que destruíssem o artigo para não terem que arcar com as eventuais consequências, ou que o entregassem sem quaisquer justificações na esperança que a pessoa nem sequer pensasse em apresentar queixa.

Preferi não ir em frente com a ordem judicial, apesar de tudo, o artigo estava em perfeitas condições e, não fosse por este atraso, teria pago por ele cerca de oito libras na altura. É engraçado ver como a sabedoria popular ainda hoje tem os seus momentos. Num dia perfeitamente normal, quando já me tinha esquecido da encomenda, esta história teve o seu final há muito aguardado.

Boas coisas chegam a quem por elas espera, pois quem espera sempre alcança. Mais vale tarde do que nunca, portanto, mesmo quem espera e desespera deve sempre ter em mente que até ao lavar dos cestos é vindima, e que as melhores coisas acontecem quando menos esperamos.

Monday, March 28, 2011

Nós Por Desenlear

Há sempre aquele bichinho que nos atormenta diariamente. Seja na forma de um livro abandonado na prateleira ainda por ler, na lista de filmes que aguardam para ser vistos, nas palavras ainda por escrever, ou no quarto por arrumar. Pequenos grandes pormenores que nos lembram das coisas que estamos a deixar para um segundo plano, em nome da preguiça, ou da eterna procrastinação.

Em Setembro de 2010 comecei a ler o Evangelho Segundo Jesus Cristo de José Saramago e apenas conclui a sua leitura há cerca de duas semanas. Não que o livro não fosse interessante ou não me cativasse, muito pelo contrário, mas a verdade é que fui dando prioridade a outras coisas e, nos momentos em que efectivamente tive tempo para pegar nele, simplesmente optava por não o fazer.

Até inícios de Março de 2011 tinha apenas lido pouco mais de 100 páginas, num livro de 445. Nunca fui daquelas pessoas que consegue ler um livro de 500 páginas num dia. Leio a um ritmo de 60 páginas por dia, variando ligeiramente consoante o livro. Em raras ocasiões, quando a história verdadeiramente me cativava, era capaz de chegar a ler umas cento e poucas páginas por dia, mas não mais que isso. Mesmo assim, devia ser capaz de acabar o Evangelho em menos de duas semanas, mas assim não aconteceu.

A única outra situação em que algo parecido aconteceu foi com o primeiro livro da saga Harry Potter, mas na altura tinha treze anos e o início do livro não era interessante o suficiente para me despertar a curiosidade. Passaram quase sete meses até que me decidisse de uma vez por todas em ler até ao fim o Evangelho Segundo Jesus Cristo. As viagens diárias de comboio entre Ovar e Porto mostraram-se como o mote perfeito para pôr a minha leitura em dia. Se não encontrasse alguém na viagem conseguia calmamente ler uma média de 40 páginas por dia, com a ajuda de algum tempo despendido nas viagens de metro entre a Trindade e o IPO.

Terminei de o ler numa segunda-feira, na viagem de regresso. O momento foi perfeitamente livre de qualquer evento em particular. Li e reli a última frase, tirei o marcador e fechei o livro. Não sei se as pessoas que estavam sentadas à minha frente se aperceberam do sucedido, mas não deixei de sentir que naquele instante partilhávamos algo mais que uma simples viagem de comboio: Estávamos literalmente a presenciar o desenlear de um nó há muito esquecido na prateleira.

Bokura Ga Ita é outro exemplo em tudo similar. Trata-se de um anime que comecei a ver em Dezembro por imposição do hiato de séries que as televisões americanas todos os anos promovem na altura do Natal, para que possam dedicar a sua programação às celebrações da quadra e, ao mesmo tempo, dar um certo período de descanso aos fãs que religiosamente seguem as suas séries sem deixar passar um único episódio.

Sem nada para ver durante a semana comecei a procurar por algo online capaz de me entreter. Encontrei um vídeo no youtube descontextualizado daquilo que realmente procurava e gostei das cenas de Bokura Ga Ita que lá tinham compilado. Procurei mais informação sobre o anime e decidi, então, começar a vê-lo. Como tinha apenas 26 episódios, prometi a mim mesmo que não ia ver mais que dois por dia. E assim fiz.

Mas mais uma vez, cheguei a Janeiro com pouco mais de dez episódios vistos. Volta e meia lá me lembrava de ver um ou outro, mas o tempo foi passando e nunca mais peguei naquilo. Com a leitura d’O Evangelho a correr de vento em popa, pensei para mim mesmo, “já que desatei um nó, por que não mais este?”, e retomei a história de Yano e Nana (as personagens principais do anime), após algum tempo mantida longe dos meus pensamentos.

Cheguei mesmo a rever o último episódio que tinha visto, para poder contextualizar-me com a história, visto já me terem falhado alguns pormenores. A seu tempo cheguei ao último episódio e, com alguma tristeza, despedi-me daquelas duas personagens cuja mensagem me iludia há muito, apesar de, em certos pontos, parecer ter sido feita apenas para aquele momento. Por vezes não somos nós que deixamos os “nós” por desenlear, mas são eles próprios que aguardam pelo momento certo para darem azo à sua graça.

Embora o meu blogue se tenha mantido actualizado, na base do tal mínimo de um artigo por mês que desde o início estabeleci, foi apenas na semana passada que retomei uma escrita regular que, apesar de tudo, não se viu livre de algumas falhas. O 5.º aniversário deste blogue, os quatro anos atrás do volante e a despedida do Levezinho, são apenas alguns exemplos de artigos que ficaram pela gaveta. Às vezes por falta de inspiração, outras, simplesmente por que sim.

O regresso regular da Rádio da Rádio, as críticas para o Rarely Interesting e as minhas crónicas da Eurotrip são outros nós que continuam por desenlear, e que gritam efusivamente pela seu tão aguardado momento de glória.

Por agora outras obrigações impedem-me de encontrar as energias e o tempo para o fazer, mas a sua hora vai chegar. Aqui fica a promessa.

Friday, March 25, 2011

A Medicina e o Zé

Dizem que referirmo-nos a nós próprios na terceira pessoa é um sinal de esquizofrenia. Mas, neste caso, o título provém de uma já estabelecida paródia entre amigos que surgiu aquando da revelação das minhas opções de entrada na Universidade.

Apesar da minha licenciatura em Ciências da Comunicação fiz todo o secundário no antigo Agrupamento 1, mais conhecido como Científico/Natural. Fui o melhor aluno do Liceu no 12.º ano e acabei com média de 18. Toda a gente que não me conhecia esperava que eu me candidatasse a Medicina. Seria a opção natural, afinal, todos os bons alunos o fazem. Mas eu pensava de outra forma.

Nesse ano cheguei a publicar um artigo no jornal do meu Liceu, “A Melga”, em que falava sobre Cursos e Sonhos. A minha mensagem era simples: escolham um curso que vos traga felicidade e realização profissional, e não restrinjam as vossas opções apenas e só na empregabilidade que esse curso possa oferecer. Era jovem, ingénuo e idealista, mas apesar de hoje ver as coisas de maneira diferente continuo a achar que a minha ideia não era assim tão disparatada.

Disparatada foi talvez a forma como lidei com a minha escolha de curso. Os exames nacionais correram-me bem como seria de esperar. As específicas para Medicina, na altura, eram Biologia e Química. Biologia era também específica para a Licenciatura em Geologia, curso que ainda hoje espero um dia vir a tirar, e que desde criança tinha definido como a minha profissão de sonho. Mas, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e o bichinho da escrita falava mais alto.

Sempre quis ser escritor, tinha algumas ideias para livros, mas faltava-me uma coisa muito importante: experiência de vida. Achei que apenas uma profissão activa e dinâmica como o Jornalismo me permitiria alcançar essa experiência, ganhar calos e vontade para escrever. Algo que um mero Geólogo, ou Paleontólogo como eu desejava, dificilmente poderia alcançar.

Foi com este pensamento que no dia que me desloquei a Aveiro para fazer a candidatura, optei por escolher Ciências da Comunicação em detrimento de Geologia. Apesar de ter tomado esta decisão no último minuto, num café qualquer que encontrei próximo da Escola José Estêvão, onde me fui candidatar, após ter ligado ao meu pai para ouvir a sua opinião.

Contudo, apesar desta história toda, Ciências da Comunicação foi, oficialmente, a minha segunda opção. A primeira foi Medicina no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). Escolhi assim para fazer a vontade aos meus pais, sabendo de antemão que não iria entrar. Como referi, os exames nacionais correram-me bem, mas não assim tão bem que me permitissem entrar neste curso. Tive 18,6 a Biologia e 14 a Química. Aliadas à minha média de 18, a minha nota de candidatura para Medicina era de 17,1. Naquele ano o último colocado no ICBAS tinha 18,1.

O que aconteceu no exame de Química? Nada, simplesmente não estudei. Ao longo do ano era normal oscilar entre o 16 e o 18 nos testes que ia fazendo. A professora dessa disciplina não tinha propriamente qualidades de ensino e acompanhamento dos alunos. Mas a verdade é que não vale a pena pegar por aí.

O exame em si não era complicado e, talvez se tivesse estudado, teria conseguido o tal 18 que me permitia entrar em Medicina. Talvez não no ICBAS que foi o curso desta área com a maior média a nível nacional nesse ano, mas noutro qualquer, certamente, teria as minhas hipóteses.

Mas assim não aconteceu, e não me arrependo de não ter acontecido. Não vejo qualquer apelo na área da saúde. Simplesmente, não é para mim. Não vejo qualquer satisfação em ajudar pessoas doentes, embora respeite e admire quem o faça. Não tenho qualquer necessidade ego maníaca de ser admirado por uma comunidade, nem tão pouco gostaria de ter nas minhas mãos a responsabilidade que uma profissão como essas acarreta. Podiam dizer que tinha sempre a hipótese de seguir o ramo da investigação. Mas a minha ciência é, e sempre será, a Paleontologia e não outra.

Por vezes, viro-me para um amigo meu e digo que um dia vou fazer os exames nacionais, candidatar-me a Medicina e entrar, só para que ele pare com as constantes piadas sobre o facto de eu ter ido contra os meus princípios e de ter passado uma imagem de hipocrisia após um ano inteiro a defender os ideais que referi em cima. Confesso que não foi um dos meus melhores momentos e, se pudesse voltar atrás, mudava as minhas opções.

A minha primeira opção seria Geologia e aceitaria tudo aquilo que daí viesse. Resta-me a consolação de saber que, tivesse escolhido Geologia em detrimento de Ciências da Comunicação, seria a segunda maior média a entrar e aí talvez o desafio competitivo pelas notas na faculdade não tivesse sido tão interessante como aquele que encontrei em CC. Soube bem poder passar os dois primeiros anos como apenas mais um na multidão, sem as constantes pressões de ter que ser o melhor, e de o ter que provar perante toda a gente, e perante mim próprio, como aconteceu ao longo do secundário.

Jornalista, Assessor de Imprensa, Multimédia, Escritor, ou até mesmo Paleontólogo, são as únicas “etiquetas” que alguma vez acompanharão o meu nome. São os momentos, as nossas escolhas, e a forma como as tomamos que nos definem, e é esta a minha maneira de viver.

Thursday, March 24, 2011

O Meu Voto

Desde o nascimento deste blogue que sempre me demarquei de qualquer comentário político ou de análise da actualidade por achar que este espaço vale pela sua “inocência”, e pela divulgação de temas e pormenores que passam ao lado do comum dia-a-dia de qualquer outra pessoa. Contudo, dado os eventos que se passaram ontem, vejo-me forçado a violar esta promessa que fiz a mim próprio de forma a que a minha opinião possa ser lida e partilhada por todos aqueles que assim o desejem.

Nunca pensei algum dia votar ao centro, mas hoje não vejo outra alternativa que não votar PS. O Governo caiu ontem não por haver alguma alternativa viável ao Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) ontem proposto, nem por as medidas já implementadas serem demasiado severas, mas sim porque o Passos Coelho e o próprio PSD souberam analisar a actualidade política e tomaram a decisão de aproveitar este momento de fragilidade para assumir o poder, ou pelo menos tentar.

Se as medidas implementadas pelo PS fossem aprovadas, e se os resultados de diminuição do défice previstos no PEC fossem comprovados, o país ver-se-ia obrigado a dar o crédito onde é devido, e o PS não só quase certamente venceria as próximas legislativas com maioria absoluta, como o PSD seria relegado para um segundo plano da política nacional, mantendo-se afastado do poder durante vários anos.

O PEC ontem não foi discutido. Foram sim discutidas as ditas resoluções que ao serem todas chumbadas, determinaram que ao não haver uma alternativa viável o PEC proposto pelo actual Governo demissionário não poderia ser aprovado. José Sócrates ficou sem alternativa, restando-lhe apenas apresentar a sua demissão como tinha prometido. A verdade é que no debate de ontem à tarde na Assembleia da República, muito foi falado, muito foi criticado, mas poucas ou nenhumas soluções ou sugestões para a resolução da crise foram apresentadas. É fácil criticar, qualquer um o pode fazer, mas até ao momento, apenas o PS apresentou soluções e teve coragem para as implementar.

No rescaldo da noite de ontem, a primeira proposta de que o PSD se lembra, já em jeito de preparar a próxima campanha eleitoral, é de aumentar o IVA para 24 ou 25% de forma a salvaguardar as reformas e pensões. Ora, uma pessoa idosa a receber pouco mais que o rendimento mínimo já agora mal tem dinheiro para pagar os medicamentos e a alimentação, imaginem se o preço destes aumentar.

O problema, como sempre, está na desinformação do povo que acabará por naturalmente votar PSD só para experimentar algo diferente, sem se preocuparem em conhecer quais as suas políticas, e muito menos de as comparar com o actual PEC proposto pelo PS. Menos hipóteses terão os socialistas se José Sócrates se voltar a recandidatar. O povo vê em Sócrates a face da actual crise. E se o faz é por um bom motivo, porque de todos, ele foi o único que se sujeitou a dar a cara para implementar os passos necessários para a resolução da actual situação do país.

As políticas são severas? Paciência, a situação também o é. Se não estamos tão mal como a Grécia é porque Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças, agiu atempadamente aquando da crise imobiliária nos EUA. Por mais incompetente que José Sócrates possa ser, a verdade é que há gente competente no seio do seu Governo e é nessas pessoas em quem devemos acreditar.

Em vez de se queixarem continuamente da situação e de esperarem que tudo se resolva, mexam-se. Ajam! Não sejam meros reaccionários, aceitem as medidas que o vosso país vos pede e ajudem Portugal a sair da crise, mas não o façam de ânimo leve. Informem-se, procurem melhores condições se não estiverem satisfeitos com as que têm. Protestem quando o motivo para o fazerem tem valor e é fundamentado, não façam parte de uma oposição só porque sim.

A entrada do Fundo Monetário Internacional (FMI) é ainda evitável e não é algo que se deva desejar. Se aceitarmos ajuda do FMI teremos algum tempo para respirar um pouco melhor, mas mais cedo ou mais tarde a tremenda dívida externa que daí resultará, irá forçar-nos a maiores cortes, a subidas de preços exorbitantes, a racionamento dos bens essenciais, e a despedimentos em massa. É esse o futuro que o PSD propõe. É esse um futuro com o qual são capazes de viver?

Nas próximas legislativas votarei PS. Não me importo de remar contra a corrente de forma a defender aquilo que acho melhor para o país neste momento, mesmo que não concorde por completo com as suas políticas ou ideologias. Este é o meu sacrifício.

Wednesday, March 23, 2011

A Manhã Que Eu Tive

Quarta-feira, tinha que ser quarta-feira. Há uns tempos, seja por destino ou por mero acaso, as quartas-feiras coincidiam com dias de azar. Fosse por ter que levar o carro ao Porto, por chegar tarde a casa, ou simplesmente por me sujeitar a confrontações menos pacíficas. A verdade é que cheguei a um ponto em que já me preparava na noite anterior para todas e quaisquer situações de má sorte que naquele dia podiam surgir.

Nos últimos meses não tem sido bem assim, as quartas-feiras passaram a ser um dia como qualquer outro, mas volta e meia surge a excepção que confirma a regra. Hoje foi um desses dias.

Já estava mais que avisado. Estive atento ao telejornal, consultei os avisos do site da CP e li inclusive o comunicado que indicava quais os comboios que não iam circular. Mesmo assim, fosse por teimosia ou por mero desleixamento, dirigi-me para a estação, há hora do costume, na esperança que houvesse pelo menos um comboio a circular. Sentei-me no muro, pois já não havia lugar nos bancos tamanha era a multidão que impacientemente aguardava por uma promessa de transporte que tardava em chegar, e esperei. Liguei o meu leitor de mp3 e pus-me a jogar Angry Birds. Quem espera, desespera. E assim foi.

Eram nove e um quarto e nem sinal de comboio. Nenhum “fura-greves” se atreveu a cumprir os serviços mínimos nesta manhã. Afinal está tão bom tempo por que não dar um salto à praia em vez de ir trabalhar? Os outros que se desenrasquem.

Não me sobrou então outro remédio que não desenrascar-me. Liguei ao meu pai para trocar o meu carro com o dele. Desta vez tive sorte, ele estava em Ovar e não em S. João da Madeira como no dia anterior. Não que eu tivesse algum problema em levar o meu carro até ao Porto, mas a verdade é que ele já vai nos seus 17 anos de existência e já não está aí para as curvas como quando o comecei a conduzir. Para não falar que o meu carro não tem Via Verde, ao contrário do do meu pai, que ainda tem inclusive algumas viagens gratuitas para gastar este mês. Além disto, não tinha trazido o rádio, e acreditem a última coisa que querem ouvir ao volante é o som que o meu carro faz quando passa os 100 km/h.

Encontrei-me com ele à porta do trabalho e levei-o até ao parque onde tinha deixado o seu carro. Com as chaves e o livrete na mão, troquei de lugar e fiz-me à estrada. De semáforo em semáforo demorei quase 16 minutos até chegar à auto-estrada. Daí para a frente correu tudo dentro da normalidade. Ou assim pensava que iria correr. Pouco depois de passar por Arcozelo o carro do meu pai começa a dar sinal que precisava de meter gasóleo. Ainda devia ter autonomia para uns bons cinquenta quilómetros, mas sem querer arriscar saí na estação de serviço da Repsol em Vilar Paraíso. Abasteci 10,72 € de gasóleo, que deu apenas para pouco mais de sete litros, e voltei a arrear caminho como se costuma dizer.

Ainda não eram dez da manhã quando cheguei à Ponte do Freixo. Trânsito nem vê-lo. Já era tão tarde que na estrada só restava eu e mais uns quantos retardatários, apanhados despercebidos pela greve, ou simples pessoas que adormeceram em vez de chegar ao trabalho a horas. Parecia que a minha sorte tinha começado a mudar. Mas chegado ao meu destino deparei-me com um problema já de si previsível: não tinha onde estacionar.

Era tarde demais, até às nove e meia ainda seria capaz de arranjar um bom lugar algo afastado do meu trabalho, mas não a esta hora. Procurei, procurei, procurei. Cheguei ao ponto de fazer inversão de marcha onde não devia para dar uma segunda olhadela na esperança de encontrar um espaço que pudesse ter passado despercebido. Vi uma rapariga a dirigir-se para um carro. Parei e aguardei um pouco para ver o que ia acontecer, ela viu-me e acenou que não ia sair. Frustrado, não tive outra hipótese se não deixar o carro num descampado manhoso com arrumadores de pouca confiança. Dei 50 cêntimos a um que se aproximou de mim, embora eu tenha encontrado o lugar sem qualquer ajuda deste indivíduo.

Lá deixei o carro e segui para o trabalho. Eram dez e dezanove quando cheguei. Depois de ter acordado às sete, e de ter chegado à estação por volta das oito e vinte. Resta-me agora a viagem de regresso. Sigo o meu dia com a eterna dúvida sobre o real estado do carro, veremos o que reserva a minha sorte para este final de tarde.

Sexta-feira haverá outra greve. Desta feita nem ponho os pés na estação.