365 dias, 64 bilharacos, 12 aplicações em max, 3 canções midi, 1 pão-de-ló e 0 pencas depois, está de regresso a véspera da véspera de Natal! A cantar desde 1919.
Esse não era o galo? O azeite queres tu dizer. O azeite canta? Não, o azeite galo. Atum? Ramirez? O que é que isso tem a ver com o Acordo Ortográfico? Nada, mas isto tem:
Vasco da Gama, Eusébio, Sócrates (o filósofo), Camões, Jesus (o Cristo) e o já habitual Mindo, estavam numa terra desconhecida chamada Brasil situada no extremo mais ocidental da Europa. O ano é 2020, e o Acordo Ortográfico está prestes a fazer 10 anos. Tal como o escudo já ninguém se lembra de como se escreve em português, nem tão pouco de como se fala essa língua que, juntamente com o nome do próprio país, há 10 anos que desapareceu da mente dos brasileiros que outrora se auto denominavam portugueses.
Camões está no Panteão Nacional, foi lá dar umas voltas na campa. Tal já faz parte da sua rotina diária desde que alguém teve a brilhante ideia de chacinar a língua que ele sozinho ajudou a imortalizar através de um certo manuscrito chamado “Os Lusíadas” (uma epopeiazita qualquer que nunca ninguém leu, nem tem intenções de ler), e adoptar o Português do Brasil como língua oficial.
Hoje, Eusébio acompanha o seu amigo Camões na sua rotina matinal. De vez em quando o Pantera Negra lá vai dar uma volta à velha Lourenço Marques, se bem que aí nem vale a pena falar-se em português, ou brasileiro, já que há muito é o inglês a única língua que vale a pena aprender – não estivesse a África do Sul mesmo ali ao lado – mas hoje está de regresso a Lisboa.
Não, a selecção não joga hoje, essa nem precisou de esperar pela aprovação do Acordo Ortográfico, os jogadores brasileiros há muito que encontraram na selecção “portuguesa” um óptimo palco para se reformarem e ganharem alguns trocos enquanto o Brasil os ignora por terem vindo jogar para este lado da Península Ibérica, e não para o outro. Teria o Saramago razão em sugerir que nos uníssemos a Espanha para formarmos a mítica Ibéria? Não sei, mal por mal, mais vale ir para a velha Lourenço Marques treinar o meu inglês.
Jesus (o Cristo) toma café com Sócrates (o filósofo) em Santa Catarina no recém-criado Condado Portucalense – a onda de protestos contra o Acordo Ortográfico forçaram o Porto e algumas regiões do norte do país a exigirem a independência, que rapidamente foi concedida, visto Lisboa simplesmente não querer saber.
“Acho que está na altura de experimentar o 4-4-2 losango, aquele Paulo Bento até não tinha uma má ideia”, disse Jesus (o Cristo).
“Mas tu não és o Cristo? O Salvador?”, questionou Sócrates (o filósofo).
“Já não sei, se queres que te diga. O outro consegue ser mais idolatrado que eu, embora tenha sido incapaz de ganhar seja o que for”, respondeu Jesus (o Cristo).
“Isso é subjectivo!” Disse o Mindo que por ali passava.
Já Vasco da Gama, há muito que zarpou em busca de uma terra desconhecida chamada Brasil, mas deve ter dificuldade em entender os novos mapas, pois há anos que anda às voltas entre o Tejo e o Douro sem arranjar maneira de seguir em direcção ao ocidente. Já para não dizer que ninguém aceita ser pago em escudos. Já agora, têm noção que 100 euros são 20 contos? E que dois euros são 400 escudos? Na minha juventude quando me davam 200 escudos eu estava rico e rendia-me durante uma semana! Enfim.
De volta a 2009, Sócrates (o filósofo) questiona-se sobre o porquê das Tardes da Júlia existirem, e pondera sobre o facto (com c) de não conseguir mudar de canal pois por algum motivo incompreensível ao comum dos mortais, ele quer ouvir a história (e não estória) da senhora com dois cães que leva porrada do homem do leite, e que nunca conheceu o seu verdadeiro amor.
Camões está no Chiado a tomar café com o Fernando Pessoa (ou com algum dos seus heterónimos, é difícil distinguir) e a discutir a contratação de João Pereira. Já Vasco da Gama está a criar uma interface em max/msp/jitter para criar um sistema estocástico em midi, através de um algoritmo que o faça descobrir o bilhete de avião mais barato para a Índia.
Jesus (o Cristo), enquanto se prepara para nascer, outra vez, decide ir ao cinema ver o Lua Nova. Duas horas de abdominais esculturais depois, Jesus (o Cristo), decide inscrever-se num ginásio (se ficar como o Jacob talvez arranje uma miúda melhor que a Maria Madalena).
Por fim, o Mindo passa por umas pencas – também conhecidas como covões –, contempla-as por um momento e segue o seu caminho rumo a um horizonte indeterminado. Um infinito de 365 dias incertos que acabam com um constante retorno ao mesmo lugar, ao mesmo dia. “Hey! Isso é subjectivo”, diz.
E assim termina mais um episódio da véspera da véspera de Natal! A todos um Feliz Natal e que o Avô Geada não vos ponha pencas no sapatinho!
Morram pencas, morram! Pim!