Sinto-me vazio. Vazio é a única palavra que se aproxima da total ausência de emoções que me vejo forçado a viver. Não me lembro da última vez que senti, nem sequer do sentimento, ou da situação que o criou.
Há vários anos que não consigo escrever. Valorizar a fantasia em detrimento da razão deixa-me dependente dos meus sonhos, das minhas emoções e da minha imaginação. Escrever por impulso sempre foi a minha filosofia, e tão belas baladas que daí saíram, mas hoje, sem sentimento, sem esperança e sem momentos, é impossível subjugar-me sob qualquer impulso, e assim permaneço sem vontade, numa perpétua estrada para um vácuo de esquecimento.
Mesmo agora que escrevo este texto, forço as palavras a saírem, paro a cada instante e pondero o que escrever a seguir. Nada é natural. Nada flui. Tudo continua num engarrafamento de ideias presas numa infinita hora de ponta.
É trágico viver num contínuo purgatório lírico, dominado por um triste e cinzento vazio de emoções. Não consigo fingir o que escrevo, pois embora consiga manter a falsidade escondida do resto do mundo, ver-me-ia forçado a sucumbir sob o peso da verdade que eternamente me iria perseguir. Fingir em ficção pode parecer paradoxal, mas o verdadeiro paradoxo esconde-se dentro da máscara de alguém que escreve o que não sente. Mesmo para mentir é preciso imaginar, e para imaginar é preciso sentir, caso contrário o virtualismo das ideias será exposto pela fraude que é, e nunca será capaz de convencer alguém da sua falsa realidade.
Não. Não posso escrever o que não sinto. Até voltar a sentir, se voltar a sentir, fecho a minha criatividade, que há muito não me pertence, e aguardo pelo seu regresso. Vejo-me forçado por um mundo que não me aceita, a deixar para amanhã a minha oportunidade de viver.
Fim.
1 comment:
se calhar as palavras estão só à espera de um pequeno empurrão para serem expelidas pelos dedos
Post a Comment