Não, não li apenas 21 livros em toda a minha vida, nem vou fazer uma lista dos 21 melhores livros que li até hoje. Não, 21 é o número de livros que li durante o ano de 2009. Alguns de vocês podem achar que foram muitos, outros vão pensar o contrário.
Para mim este feito é um verdadeiro recorde pessoal. Habitualmente não perco tempo a contar o número de livros que leio durante um ano, nem tão pouco a catalogar aqueles que li, contudo, a propósito da renovação do design do meu blogue, escolhi colocar no menu direito uma secção dedicada à divulgação do livro que estou a ler neste preciso momento, à qual associei uma lista de todos os livros que fui lendo ao longo do ano, a já afamada rubrica “Cantos de uma estante” – nome original, não acham? Graças a essa rubrica perdi hoje dois minutos do meu tempo para contar os livros que passaram pelas minhas mãos no ano em que completei 21 anos, e não é que li precisamente vinte e um livros nos últimos doze meses? E esta, hein?
Para ser justo apenas li vinte livros, visto ainda não ter terminado o vigésimo primeiro, Um Diário Russo de Anna Politkovskaya. Enquanto folheio por entre as restantes duzentas e poucas páginas dessa crónica da Rússia real – que espero terminar antes do final do ano – reflicto não só sobre a quantidade de livros nos quais emergi os meus olhos, e a minha imaginação, ao longo destes meses, mas também sobre a qualidade dos mesmos.
Termino o ano com aquela que é a última obra de Politkovskaya antes de ser brutalmente assassinada simplesmente por se opor ao regime de Putin. Um livro que retrata os factos reais por detrás das eleições para a Duma de 2003, e da reeleição de Vladimir Vladimirovich em Março de 2004, dando ainda relevância a acontecimentos que no mundo ocidental seriam considerados crimes contra a humanidade, mas que na Rússia de Putin nem chegam aos telejornais.
O meu último livro de 2009, o meu vigésimo primeiro livro do ano em que fiz 21 anos, é essencialmente uma análise de hard news, que talvez nunca chegasse a ser conhecido pelo resto do mundo, não fossem as circunstâncias da morte da sua autora. Ao pegar neste pequeno exemplo talvez esperem encontrar outros livros do género nos “cantos da minha estante”.
De facto, é bem provável encontrarem um ou outro, mas vamos dar uma olhadela no plano geral e ser mais analíticos na quantificação dos livros que lá figuram. Este ano, não li apenas um, mas cinco livros da Stephanie Meyer. O que representa quase um quarto do total. Entre os livros desta escritora medíocre que mal consegue juntar duas ideias e que vive com um constante medo de causar qualquer tipo de dano (físico ou emocional) às suas personagens, – medo esse que a faz sacrificar por completo a história principal apenas para não “magoar” os seus “queridos” leitores – encontram-se obras de grandes escritores. De Eça de Queirós a José Saramago, de Arthur Conan Doyle a Fernando Pessoa, de Dostoevsky a Kafka. Estarei a ser simpático ao dizer que o meu espectro literário é bastante alargado.
Na lista consta uma repetição, que de repetido nada tem: The Lost World. Embora já andasse há anos para ler o original de Sir Arthur Conan Doyle, é o mundo perdido de Michael Crichton que mais me impressionou. O livro, como sabem, serviu de inspiração para a sequela do Jurassic Park – aquele que para mim é o melhor filme da trilogia – contudo, tal como acontece com a primeira obra de Michael Crichton, o livro consegue ser muito melhor.
A história de The Lost World é completamente diferente daquele que Spielberg imortalizou em película. Embora tenha um pouco menos de acção, não só é muito mais realista como tem mais história, maior desenvolvimento das personagens, e é simplesmente uma óptima leitura, quer se seja fã de Jurassic Park, ou não. O meu paleontólogo interior tende a discordar com algumas das aferições que o Michael Crichton insiste em fazer. Mais concretamente acerca dos poderes de camuflagem do Carnotaurus, mas a verdade é que da perspectiva do meu eu leitor e do meu eu escritor, a qualidade do livro no seu todo foi uma grande surpresa pela positiva.
Alguns dos livros não tiveram a atenção merecida. Muito por ser um paperback que custou-me pouco mais de uma libra no Amazon, mas também por me ter limitado a lê-lo no comboio, e de vez em quando nos Jardins do Palácio de Cristal quando, nesta Primavera, tinha que fazer horas para a aula de Russo, não me lembro de nada sobre o que se passava no Notes from the Underground. Este é um defeito que não sou capaz de compreender. Às vezes sou capaz de passar vários minutos a ler um livro, mas a minha mente divide-se como que em duas personalidades, e embora esteja de facto a ler o livro, os meus pensamentos estão noutro lado e não consigo lembrar-me de uma única palavra que tenha lido.
É uma pena que tal tenha acontecido com o meu primeiro contacto com a obra de Dostoevsky, contudo, pretendo compensar este pequeno livro e dar-lhe uma segunda tentativa de leitura quando encontrar um intervalo na minha lista de livros para ler. Geralmente quando isto me acontece, uma certa passagem no livro, ou uma súbita alteração na história, fazem-me regressar à realidade e acabo por reler a passagem que “perdi”. Nunca antes me aconteceu perder um livro por inteiro, infelizmente foi com um daqueles que mais interesse tinha em ler.
Restam-me 14 dias para terminar Um Diário Russo, tempo mais do que suficiente. Mesmo com as festas, apenas um sério caso de preguiça (ou um súbito desinteresse total pelo livro) me faria desleixar dessa forma. Tenho agora que dar lugar a 2010, e arranjar um novo canto na minha estante para os romances que anseiam por serem lidos.
Conseguirei chegar aos 22? Irei ultrapassar essa marca, ou será 2009 aquela pequena excepção na minha vida de alimentação literária? Daqui a um ano cá estarei para responder.
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