Sunday, December 23, 2007

O Regresso da Véspera da Véspera de Natal

365 dias, 48 bilharacos, 12 Pencas e 1 Pão-de-Ló! Sim, hoje não é a Véspera de Natal! É a Véspera da Véspera de Natal!

Jesus passeia num campo verdejante enquanto multiplica os pães para oferecer aos pombos. No fundo ouve-se a banda sonora do Senhor dos Anéis.

Ao fundo, Jesus vê uma bola de raios a desvanecer-se no horizonte. Dentro dela, encontra-se um sujeito com óculos escuros. A tensão pode ser vista nos olhos de ambos. Jesus pára de multiplicar os pães e começa a multiplicar o peixe. Um carro pára ao lado de Jesus e pede-lhe indicações para o Shopping mais próximo.

“Meu! Hoje é a Véspera da Véspera de Natal”, diz Jesus.

“Exacto, amanhã vai estar terrível!”, responde o condutor.

“Hm... Vais sempre em frente, viras à direita na rotunda e depois tem umas setas a indicar.”

O homem dos óculos escuros começa a correr na direcção dos dois. Jesus pára de multiplicar o peixe e agarra em dois bacalhaus, preparando-se para o embate.

O homem dos óculos escuros chega à beira de ambos, Jesus prepara-se para o golpe final.

“’Tá mal!”, diz o homem dos óculos escuros.

“Hun?”, diz Jesus, perplexo.

“É só mesmo virar à direita na rotunda?”, pergunta o condutor.

“É pá, não!”, diz o Dantas.

“Morre Dantas, morre! Pim!”, diz o Almada Negreiros.

“Vai pentear macacos!”, responde o Dantas.

E assim o fez.

“Afinal como é?”, pergunta o condutor, já impaciente com a longa espera pela tão aguardada resposta que nenhuma destas personagens parecia disposta a entregar facilmente.

O homem dos óculos escuros vira-se para Jesus, eles trocam olhares, embora Jesus não possa ver os olhos do homem dos óculos escuros, porque o Sol está a bater-lhe de frente, e porque o homem dos óculos escuros, usa óculos escuros.

“Não é preciso ir até à rotunda. ‘Tás a ver aquela viela ali à esquerda? Vais por ali. No primeiro cruzamento viras à direita e segues sempre em frente. Vais ter directamente ao parque de estacionamento do Shopping.”

“Obrigado! Há algum supermercado pelo caminho?”

“Há, o Flor da Maria, porquê?”

“Porque preciso de comprar pencas.”

Jesus e o homem dos óculos escuros trocam olhares, Almada Negreiros penteia macacos, e o condutor segue o seu caminho.

Fim.

Sim, hoje é a Véspera da Véspera de Natal. Lembrem-se dela, ou podem acabar perdidos a pedir indicações a um Jesus com dois bacalhaus.

Morram Pencas, morram! Pim!

Monday, December 17, 2007

Saímos de um, entramos noutro, saímos de outro, entramos num

Centros Comerciais. Já longe vai o tempo em que a abertura do Gaiashopping era tida como motivo de grande comemoração. Um sinal de inovação tecnológica que nos punha a par do resto da Europa. Hoje constroem-se centros comerciais uns em frente aos outros. Estes chegaram mesmo a deixar a calma da periferia para se instalarem no centro das cidades.

Os centro comerciais estão na moda, são a moda, e vieram para ficar. Nenhuma cidade por mais pequena que seja prescinde do direito ao seu “InserirNomeDaTerraShopping”, e mal esteja pronto e a funcionar, surgem de imediato planos para o “Centro Comercial InserirNomeDaTerra”, de forma a salvaguardar uma concorrência comercial saudável entre ambos.

Os habitantes ficam todos felizes e passam a desmarcar as suas agendas para poderem usufruir do leque variado de lojas, recheadas dos mais variados produtos, todos os fins de semana. Aliás, ao domingo só existem duas tradições, a missa das onze menos um quarto, e o passeio pelos diversos centros comerciais da região.

No Natal ainda há quem faça um desvio do seu habitual passeio pelas vitrinas, para gozar de umas boas duas horas no centro do Porto – dentro do carro, parados no meio do trânsito – para vislumbrar as iluminações de Natal. Com o acrescido de, este ano, uma instituição bancária lá se ter lembrado de construir um monte de arames com luzes e chamar-lhe “A Maior Árvore de Natal da Europa”.

Os centros comerciais são o “pão nosso de cada dia”, que curiosamente deixou o comércio tradicional sem dinheiro para comprar pão. Mas também, quem compra pão hoje em dia? Nas zonas de restauração dos centros comerciais podemos encontrar os mais variados tipos de refeições, saudáveis e económicas, pela modesta quantia de um euro ou dois.

Hambúrgueres, pizas, baguetes, entre outros, perfazem um menu do melhor que os centros comerciais têm para oferecer. Gorduras, hidrocarbonetos, e os mais variados condimentos sintéticos. Haverá melhor maneira de mantermos um corpo são? Como já dizia a publicidade de uma marca de iogurtes, corpo são, mente sã.

Que é feito do passeio à beira mar? Do piquenique no campo? Das visitas a museus, ou parques de diversões? Concertos, peças de teatro, filmes, romarias, festivais, todo um mundo por explorar nos dias sagrados da nossa semana.

Depois de cinco longos dias, para quê desperdiçar o nosso tempo de descanso com trivialidades comerciais, quando podemos explorar a natureza, enriquecermo-nos culturalmente, ou simplesmente passar um bom bocado entre familiares e amigos.

Saímos de um, entramos noutro, saímos de outro, entramos num. A vida passa e nós a vê-la passar.

Joy Division, A queda e ascensão de um mito

Joy Division, Foto DR
2 de Maio de 1980, a última vez que Bernard Sumner, Peter Hook, Stephen Morris e Ian Curtis se juntaram em palco. Dezassete dias mais tarde, Ian Curtis punha termo à sua vida, e não mais alguém ouviria ao vivo aquele incontrolável talento de epilepsia musical.

18 de Maio de 1980, um dia antes da viagem para os E.U.A. que levaria os Joy Division dos bastidores da pacata cidade de Macclesfield, para a ribalta da música mundial, o seu vocalista desistiu da fama, do sonho, da família, e da vida.

Os Joy Division tornaram-se naqueles que podiam ter sido, mas nunca o foram. Com a morte de Ian, a pequena banda desmoronou-se, e as suas letras caíram no esquecimento. Apenas foi preciso um ano para que surgissem os New Order, tal como uma Fénix renascida das cinzas dos “desaparecidos” Joy Division.

Estes três rapazes limparam o pó às guitarras e lançaram-se à aventura, conquistando o coração de milhares de fãs em todo o mundo. Mas, o que eles não esperavam, era que o seu velho amigo os acompanhasse neste longo percurso.

Cada vez mais os fãs apregoavam pela Love will tear us apart, envolvidos numa Atmosphere de quem tinha perdido o Control. Vinte e sete anos volvidos desde esse último concerto, e a figura de Ian está mais em moda do que alguma vez esteve.

Os poucos álbuns da banda são reeditados e postos à venda com faixas extra de performances ao vivo. Anton Corbijn, fotógrafo Holandês de renome realiza Control, filme sobre a vida de Ian, baseado no livro da sua esposa, Deborah Curtis, Touching from a Distance (Carícias Distantes). Porquê Ian? Porquê agora, tão depois da tua morte? Por que és agora relembrado?

Com a morte de Ian, os Joy Division caíram no esquecimento, passando décadas numa falsa hibernação. De repente ressurgem, e atiram os New Order para a sua sombra. Porquê acordar este gigante adormecido? Porquê agora?

Que necessidade é esta de imortalizar algo que durante tanto tempo remetemos para a escuridão? Ian cantava,”tenho que encontrar o meu destino, antes que seja tarde”, talvez seja demasiado tarde para ele, mas eis que a sua banda o encontrou, vinte e sete anos mais tarde que o previsto.

Os Joy Division estão de volta, e estão na boca, e no ouvido, de toda a gente. Tiveste que morrer como mártir Ian? Terias tudo isto planeado? Como seria a tua vida se não a tivesses terminado? Valeu a pena?

Não sei as tuas respostas. Não sei se te devo agradecer por teres dado espaço para os New Order renascerem. Não sei que te dizer. Apenas sei que, seja lá porque o fizeste, jamais serás esquecido.

Sunday, November 18, 2007

Tantas vezes vai o cântaro à fonte

Cântaro, Imagem DR
Que um dia deixa lá ficar a asa. Sim, é assim que este provérbio termina. Apesar deste pedacinho de sabedoria popular ter a sua razão de ser, a verdade é que aparentemente tem caído no esquecimento, principalmente pelas vozes dos comentadores de futebol.

Comentadores que dizem "que um dia lá fica", que inventam outra terminação qualquer, ou que simplesmente o adaptam para o enquadrar com a situação que acabaram de presenciar. Pois a verdade é que o provérbio apenas se diz desta forma, e desta forma apenas.

Tinha eu os meus sete ou oito anos, andava ainda na primária a aprender provérbios e a levar reguadas por saber a tabuada – sim, eu levava reguadas por saber a tabuada, ou melhor, por saber demais – e já sabia que o cântaro, de tantas vezes que ia à fonte, acabava por perder a asa.

Tenho que admitir que durante muitos anos pensava que um cântaro era um pássaro, o que, se pensarem bem, até faz sentido. Vamos partir do pressuposto que não sabem o que é um cântaro, e que para além do provérbio nunca tinham ouvido esta palavra antes. Vejam agora os argumentos que transformam este recipiente de transporte de água, numa ave para aqueles que se deixam iludir pelo provérbio:

  • O cântaro deixou lá ficar a asa. O que tem asas? As aves. Posso admitir que é um pouco estranho o cântaro perder uma asa só por ir muitas vezes a uma fonte. Mas podia lá ficar preso, ser caçado por um gato, ou ser simplesmente maltratado por algum miúdo inconsciente cujos pais não lhe ensinaram a respeitar a natureza;
  • Cântaro, o próprio nome sugere que provém de "cantar". O que canta? As aves. Se canta, e se tem uma asa, só pode ser uma ave, até ao momento em que não o é.

Mas não fujamos do tema fulcral, a verdade é simples e é esta: Apenas existe uma forma correcta de recitar este provérbio e essa forma é,

Tantas vezes vai o cântaro à fonte, que um dia deixa lá ficar a asa.

Monday, October 01, 2007

Vinyl, someone still loves you!



Porque hoje é o Dia da Música, e porque não há melhor formato para a ouvir.

Tuesday, August 28, 2007

Virginie

Uma rapariga, uma guitarra, uma voz, e algumas músicas. Virginie não está ligada a uma editora e limita-se a escrever as suas músicas, e a promovê-las no Youtube, e na sua página pessoal. Um exemplo de como a actual revolução na web abriu a porta a mil e uma oportunidades. 

Deixo-vos com a My Angel.


Sunday, August 19, 2007

My Bicycle

Zero Bike, Imagem DR
A minha bicicleta não é como esta, bem, a cor é similar, mas de resto, é diferente. Por exemplo, tem a praticabilidade de se poder andar, já que esta aqui nada mais é do que uma mera obra de arte.

A minha bicicleta tem pedais, sempre os teve, mas o esquerdo há vários meses que se encontrava separado desta. Porque terei demorado tanto tempo a levá-la ao Paciência para arranjar? Podia dizer por falta de paciência, mas essa piada é demasiado fácil, se bem que o próprio Paciência esteve ausente, ou melhor, em renovações. Na verdade, durante todo esse período de ausência da sua loja habitual, esteve localizado noutra garagem, mas sou uma criatura de hábitos portanto não me dignei a procurá-la.

Há já algum tempo que o Paciência voltou e, contudo, mantive a minha bicicleta longe dos meus pensamentos. Essas duas rodas ficaram paradas e negligenciadas durante bastante tempo, mas lá fui ao Paciência, e lá se arranjou o pedal.

Agora a minha bicicleta tem dois pedais e já posso andar nela. A minha bicicleta que há anos espera por aquela viagem matinal ao Furadouro, continua à espera, no seu canto, canto esse que até ele mudou. Sim, a minha bicicleta já não está na garagem, mas sim lá atrás, naquela coisa cujo nome não me ocorre, se tal coisa tem nome, para além de coisa.

A minha bicicleta esperará mais um pouco, pelo menos, pelo pedal, já não precisa de esperar. Que sensação essa, de se ser uma bicicleta que não rola mais, apesar de bem poder rolar.

Essa não é a minha bicicleta, a minha bicicleta é a minha bicicleta, que ali se encontra, no seu canto do costume.

Tuesday, July 24, 2007

A Saga Continua

Dragon Ball, Imagem DR
Desde pequeno que gosto do Dragon Ball, tal como a maioria da geração que começou a ganhar consciência nos anos 90. Contudo, sempre houve algo que faltou à série para a tornar ainda mais mística – se bem que criar mais misticismo em volta dela seria algo sempre muito difícil de alcançar.

Esse algo foram as músicas. Apenas com a chegada do Dragon Ball GT é que finalmente surgiu uma música digna de ser decorada e imortalizada nas memórias dos amantes de um dos Anime que mais marcaram esta geração.

Infelizmente, o GT chegou muito tarde. Os fãs já estavam fartos das longas e intermináveis sagas que assolaram o Dragon Ball Z. A história era agora um círculo vicioso de clichés. Afinal quantas vezes podia a Terra ser destruída e reconstruída? E quantas vezes mais teríamos que reunir as bolas de cristal para ressuscitar toda a gente morta por criaturas maldosas que à medida que o tempo passava iam ficando cada vez mais fortes?

Tudo isto levou os fãs a desertar, e o GT acabou por não ter o impacto que podia, e que devia ter tido.

Seria o Dragon Ball diferente se a música fosse diferente? Porque não experimentar com os originais? O vídeo que se segue é o tema original do Dragon Ball, sem a deturpação que a SIC lhe deu para o tornar mais "apetecível" à sua audiência lusa – mesmo tendo em conta que a sequência de imagens foi criada em França.


A melodia dá-me arrepios. Para ser justo aqui têm a versão portuguesa:


O Dragon Ball Z também não fica atrás. Além de rapidamente nos fartarmos dos spoilers de Namek, e das lutas contra o Freeza e os Guerreiros do Espaço, este foi o tema mais detestado de sempre da série.

À versão original também falta um certo je ne sais quoi, mas encontra-se vários patamares a cima daquela que forçosamente ouvíamos, sempre ansiosos por saber como Son Goku iria vencer as forças do mal.


Mais uma vez, a seguir mostro a versão portuguesa para tirar as teimas.


Não se sentiriam melhor ao ouvir esta música e ao ver esta sequência? Pelo menos em mim teve esse efeito.

Para terminar aqui têm as versões do GT. Pessoalmente acho que a portuguesa está muito bem conseguida, mas a original não fica atrás. Ou não fosse a melodia a mesma.


"Ser como tu e até o medo saber enfrentar sem qualquer segredo." Uma verdadeira lição de vida, ou o exagero de um fã devoto.


Até sempre Son Goku.

Thursday, June 21, 2007

I

Estou perdido.
Perdido na ânsia do teu ser,
Perdido no momento de te ver.
Estou perdido.

De que vale sentir,
Após te ver partir.
Mas quem parte,
Sou Eu.

Estou Perdido.
Sem Norte, Nem Sul,
Sem lugar para estar.
Para viver, para te amar.

Estou Perdido.
Num céu sem Terra,
Sem nuvens, sem ar.
Sem saber onde te procurar.

Estou Perdido,
Perdido por algo,
Algo, que não se encontra.

Duvido da sua existência,
Enquanto me perco.
Estou Perdido,
Afastado da minha própria existência.

Estou Perdido.

Friday, April 27, 2007

Planeta Bob

Imagem DR
A Terra pode não ser um paraíso, mas é o nosso lar. A NASA recentemente divulgou a descoberta de um novo planeta fora do sistema solar. Este novo planeta por enquanto tem o nome de Gliese 581 b. O novo planeta recebe esta designação por orbitar a estrela Gliese 581, uma anã vermelha nas últimas etapas da sua existência.

Gliese 581 b é um entre vários planetas descobertos neste sistema, mas tem a particularidade de ser rochoso, apesar do seu tamanho ser próximo do de Neptuno, e de possuir água.

A água não é um elemento raro no espaço, normalmente surgindo no estado gasoso ou sólido, como no caso de Europa, uma das luas de Júpiter. No entanto, dados da NASA indicam que a temperatura da superfície deste planeta varia entre 0 ºC e 40 ºC, o que é suficiente para possuir água no estado líquido.

Outro facto interessante sobre este planeta é que a sua órbita é tão próxima da sua estrela, que se o colocássemos no Sistema Solar, este ultrapassaria Mercúrio, e tomaria o lugar de planeta mais próximo do Sol.

Na notícia da SIC sobre esta descoberta, é referida a incapacidade de o alcançarmos por ele se situar demasiado longe. Ainda é posta a questão desta viagem interestelar apenas ser possível se os eventuais habitantes desse planeta possuírem uma tecnologia muito mais avançada que a nossa. Mas algo me diz que não precisamos de nos preocupar com isso.

A força gravítica de um astro tão grande seria inviável para a vida como a conhecemos. Se vida inteligente se desenvolvesse, na melhor das hipóteses, seria subaquática e completamente minúscula em comparação a nós, devido às extremas forças em acção. Outro facto a ter em atenção é que a estrela deste planeta está a morrer, e as condições nesse sistema não devem ser as melhores. Já para não falar que a luz que recebemos agora tem já vários milhares de anos, por causa da longa distância que tem que percorrer.

Nós como espécie sempre demonstrámos uma certa tendência para nos aniquilarmos, e só temos esse poder há pouco mais de cem anos. Será que mil anos não seria demasiado tempo para uma civilização tão avançada sobreviver?

Até que ponto é a vida inteligente um privilégio para o Planeta? Seremos nós os únicos que não se conseguem entender entre si, ou será isto uma maldição que cai sobre toda a vida em qualquer lugar? Só uma viagem a esta nova baga azul na escuridão do espaço poderia responder a estas, e a outras perguntas.

Friday, April 20, 2007

Estarei vivo?

Será a vida nada mais que um céu? Um Inferno?
Uma estranha espécie de limbo?
Não respiro, não sinto, o meu coração não bate.
Estarei morto?
Se a morte é pensar, falar e agir, o que é viver?
Nada sei, pois não sei responder a esta pergunta.

A vida é uma música que não podemos ensaiar,
Mas se não sei sobre o que cantar,
Como vou viver?

Se a vida é um palco e somos todos artistas,
Estarei morto por não saber actuar?

Se a morte é como a vida, como sei onde estou, ou o que sou?
Porquê o medo? Porquê o desconhecido?
Se o desconhecido é aquilo que se conhece,
Como continua a ser desconhecido?

Nada é nada, e tudo é tudo,
Mas e se tudo for nada, e nada for tudo?
O que acontece?

O meu concerto vai a meio,
Uma corda da minha guitarra parte-se,
Tenho que cantar, mas nada sai da minha voz.
É isto viver? É isto morrer?
Há alguma diferença?

Se não vivesse, onde estava?
Se não morresse, onde estava?

Se...?

Saturday, March 17, 2007

Em Busca do Vale Encantado

Cotonete, Ameaça Silenciosa

Cotonetes
Dentro das várias questões milenares que perturbam a Humanidade há séculos, como, “Deus existe?”, “Que religião é a correcta?”, “Para onde vou depois de morrer?”, “Deve Paulo Bento prescindir do Custódio?”, surge uma nova questão que arrasa com todas estas e mais alguma. Para que servem os Cotonetes?

O mais simples dos mortais pode sempre responder que o cotonete é um objecto de plástico com algodão nas pontas, usado para limpar os ouvidos ou os orifícios nasais. Eu também pensava assim, mas a verdade é que fomos todos enganados.

Em verdade vos digo, está medicamente recomendado que, sob nenhuma circunstância, se deve introduzir o dito cotonete nos ouvidos ou nos orifícios nasais. Por motivos que desconheço, tal acto é prejudicial à nossa integridade física.

Será isto um grande esquema para acabar com a subtileza sexual do acto de introduzir o cotonete nos orifícios acima referidos? Ou será isto verdade? Sendo isto verdade – e pelos vistos é – o cotonete é uma invenção inútil que não serve para nada, e que durante décadas apenas existiu para maltratarmos os nossos ouvidos e narizes.

Seremos todos um bando de masoquistas? Ou de simples ignorantes? Talvez nem uma coisa, nem outra. A verdade é que o uso do cotonete não provoca dor e quanto a efeitos secundários, depois de vários anos a utilizá-lo não tenho nada a assinalar. Embora tenha algumas dificuldades em ouvir, e não sou capaz de cheirar seja o que for.

Mas não se preocupem, não é caso para irem deitar os vossos cotonetes para o lixo. Eis algumas aplicações que podem dar a estes objectos malignos:
  • Retirar o verniz a mais;
  • Limpar o teclado e a zona onde a bola do rato geralmente se encontra alojada;
  • Se forem investigadores forenses podem usá-los para apanhar gotas de sangue; 
  • Se os derem a um miúdo de quatro anos ele arranjará maneira de se divertir com eles;
  • Etc.
Espero que dêem bom uso ao resto dos cotonetes que ainda possuem nos vossos armários de casa de banho. Mas antes de largarem este blogue e irem pesquisar outras coisas – como se já não o tivessem feito – pensem nisto: Por que inventaram os cotonetes, e lhes deram o uso de limpador de orifícios, se não os podemos usar com esse propósito?

Será este um método para implantar chips alienígenas? Ou será que estes objectos foram inventados por algum tarado por narizes e ouvidos?

A verdade anda por aí, mas não é aqui que a vão encontrar.

Thursday, March 01, 2007

Era uma vez no Porto

Ponte Luís I, Foto DR
Porto, cidade Invicta, cidade de muitos encantos. Muitos foram aqueles que a tentaram conquistar, contudo, os seus esforços sempre foram em vão. Mas que dizer dos seus habitantes?

Sou apenas um mero Vareiro a vaguear pelas ruas da Invicta, em busca de conhecimento. Quando descia uma das suas ruas, acompanhado por alguns amigos, a Catarina avisou-me que tinha a mochila aberta. Ao olhar, descubro que o meu telemóvel e a minha carteira, tinham desaparecido. A minha mochila tinha sido violada.

Procurei pela rua a cima. Fui até ao café de onde vínhamos para ver se estavam por lá. Nada. Calmamente, fomos à procura de uma esquadra. Acabámos por ir encontrá-la perto do Mercado Ferreira Borges, onde um agente, a início antipático, chamado Francisco Silva, me atendeu e registou a minha participação.

Nunca antes tinha sido roubado. A sensação de perda é muito estranha e difícil de descrever. Ainda me lembro, tinha acabado de fazer 16 anos, e passeava calmamente por Aveiro numa tarde primaveril. Passei pela Sport Zone do Fórum Aveiro, onde vi a minha carteira à venda.

Durante todos estes anos, esta acompanhou-me nas várias viagens que fiz, e nos vários momentos que vivi. E agora nunca mais a verei. Meses antes, tinha estado na Worten do Gaiashopping a questionar uma assistente bastante atraente, sobre os benefícios de um Motorola v300, que desde esse momento passou a ser o meu companheiro diário. O meu Nokia 6210 já tinha passado os seus dias de glória e era hora de mudar.

Agora é novamente hora de mudar. De forma imprevista, e completamente estúpida. Nunca irei esquecer aqueles dias em Coimbra. As vários fotos que tirei, e outros momentos simbólicos em que este pequeno bloco azul tinha servido de álbum para mais tarde recordar.

A quem teve a audácia de cometer tal acto, apenas lhe reservo um sentimento de pena. Espero que se faça justiça e que acabem por se arrepender por este acto malicioso. Parte de mim quer vê-los a morrer afogados debaixo de um comboio, mas como isso não é correcto, vê-los na choça já era muito bom.

Para terminar, queria apenas deixar uma nota de agradecimento aos meus amigos que me acompanharam, e que me ajudaram neste momento: Obrigado Catarina, Né e David.

Sunday, February 18, 2007

Origami


Garça em Origami, Foto: Adriano Cerqueira
Voo do Cisne,
O ar esgota-se, só.
Perdido em si.


Friday, February 16, 2007

Antepassado Comum


Um destes dias deparei-me com um documentário sobre o voo dos Pterossauros. Estes répteis voadores foram o primeiro grupo de vertebrados a desenvolver o voo, contudo, a forma como o conseguiram fazer tem intrigado os paleontólogos há muito tempo.

A parte que achei mais interessante neste documentário resume-se a um pequeno detalhe. Numa nota de mera curiosidade, um dos indivíduos diz que certos fósseis de pterossauros mostravam vestígios de penas. Isto pôs-me a pensar, e daí desenvolvi uma teoria.

Até à data, apenas dois grupos de animais são conhecidos por terem desenvolvido esta característica, as Aves e os Dinossauros. Sendo confirmada a presença de penas nos Pterossauros, isto só pode significar uma coisa: os Dinossauros e os Pterossauros partilham um antepassado comum.

Esta asserção vale de pouco, visto muitos já terem suspeitado de tal ligação. Este simples facto não é suficiente nem para apoiar esta teoria, nem para a refutar. Uma explicação simples seria que os Pterossauros desenvolveram penas por um processo de evolução convergente. Pelo mesmo motivo que os Dinossauros e as Aves o fizeram, os Pterossauros também podiam ter optado por desenvolver esta característica. No entanto, acho isto pouco provável.

Não se tratam de simples espinhos em espécies diferentes de cactos que não têm qualquer ligação genética entre eles, mas de um mecanismo de voo muito sofisticado e que para o qual seriam necessários milhões de anos de evolução.

Isto leva-me a crer que, pouco depois dos Dinossauros e dos Pterossauros se terem separado na grande árvore da evolução, estes mantiveram algumas características comuns aos seus antepassados, entre elas as penas, ou os "códigos" necessários para que estas eventualmente se desenvolvem-se.

Atendendo ao facto de que a primeira ave, a Archaeopteryx, existiu à cerca de 145 milhões de anos, podemos supor que por esta altura os Dinossauros já teriam desenvolvido penas. Se concordarmos que as Aves evoluíram directamente destes, podemos considerar a presença de penas em alguns dos Dinossauros mais primitivos.

Os primeiros Dinossauros surgiram à cerca de 250 milhões de anos, após estes se terem separado das restantes ordens de répteis existentes até à data. Os Dinossauros destacaram-se das outras espécies devido ao seu maior metabolismo, e à sua extraordinária capacidade de adaptação.

Devido aos poucos fósseis que até hoje foram encontrados, nunca foi ponderada a hipótese de Dinossauros que não os do Cretácico, terem possuído penas. Mas se olharmos para a Archaeopteryx podemos afirmar que estes podem tê-las desenvolvido no mínimo, durante o Jurássico Médio. Vou ainda mais longe e teorizo que as tenham desenvolvido pouco após a sua dispersão evolutiva por volta do Triássico Tardio.

Devido à descoberta destes fósseis de Pterossauros com penas, posso supor que a evolução das penas pode ter ocorrido bastante mais cedo do que até hoje se acreditava. Desta forma, para ambos estes grupos as possuírem, é credível que ou o seu antepassado já as possuía, ou ambos tinham a mesma programação genética pronta para ser activada.

Como a última suposição é bastante improvável, é possível imaginarmos Dinossauros tão primitivos como o Eoraptor ou o Coelophysis, com o corpo coberto de penas, ou algo muito similar a estas.

A minha teoria resume-se a supor que a evolução das penas pode ter ocorrido bastante mais cedo. Até à data apenas foram descobertos alguns fósseis de Dinossauros com penas, e a maioria destes eram espécies do Cretácico.

Espero pacientemente por algum dado que suporte a minha teoria, mas até lá fica aberta a discussão. A evolução das penas pode ter sido um processo bastante longo e demorado. Convém, contudo, não dar como garantida a informação até hoje descoberta e manter, assim, a busca incessante pelo conhecimento que um dia nos levará a um maior entendimento da evolução do voo, e das próprias Aves.

Friday, January 19, 2007

Exames

1) Isto é uma pergunta? Justifique.

R.: Isto é uma resposta, interprete.

Thursday, January 11, 2007

Overhearing

Imagem DR
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas possam ir embora. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.

Fernando Pessoa

Cada objecto nasce de uma simples ideia. Uma semente que brota de um temeroso e sofrível processo criativo que, na maioria das vezes, apenas dá origem a um fruto intragável. Uma premissa que no início se apresenta como atraente, pode revelar-se inútil, ilusória ou inexequível. Que fazer com algo que fica aquém do esperado? Com algo cuja qualidade deixa muito a desejar. Ou que demonstra ser nada mais que uma pirâmide de minúcias frustrantes?

Matar. É preciso saber matar os nossos “bebés”. Ou os nossos “queridos” se a imagem anterior for demasiado forte para os vossos frágeis estômagos. Este foi o caso de “Overhearing”. Uma curta-metragem de minuto e meio de duração. O meu primeiro projecto em vídeo na faculdade. Projecto esse que nasceu torto e não mais se endireitou.

Vítima de um bloqueio criativo, de falta de meios, e de pessoas predispostas a actuar segundo a minha direcção, vi-me perdido, de câmara na mão, sem saber o que fazer.

A minha ideia original era simples e algo interessante. Um rapaz que passeava pelas ruas do Porto, perdido no Universo dos seus pensamentos, tropeça na conversa de dois estranhos que cruzam o seu caminho.

Queria filmar uma conversa quotidiana e descontextualizada entre um casal que cruzasse o caminho do personagem principal. Sabia que rua queria usar. O tema escondido da conversa. Tinha uma ideia de quem podia ser o casal. E queria gravar tudo isto através do olhar do protagonista, com um ou outro plano dele e do casal para dinamizar a narrativa do vídeo.

Enfim, queria colocar o espectador no meu lugar. Queria que vivessem um pouco dos percursos solitários que forçosamente fazia todos os dias. Queria partilhar com o Mundo a beleza dos aleatórios e incoerentes encontros que alimentam a mais banal das viagens casa/trabalho, ou escola/casa.

“Overhearing” era a minha forma de comunicar a solidão do meu percurso. De mostrar o quão partilhada é esta solidão. Uma solidão acompanhada, por entre aglomerados de vidas interligadas. Desligadas, sós, mas ao mesmo tempo unidas, completas por momentos de ligação sem qualquer planeamento ou previsão.

Contudo, o resultado final não representou nada disso. Sem ninguém com quem contracenar, acabei por filmar um percurso simples, sob o ponto de vista do protagonista que vai de casa até à estação. Sem diálogos. Sem qualquer encontro. Apenas uma ou outra pausa. A porta de um comboio a abrir-se. E esse mesmo comboio a partir.

Durante alguns anos deixei esse vídeo no Youtube e aqui no blogue. Cheguei mesmo a partilhá-lo no primeiro rascunho do meu portefólio. A sua fraca qualidade, e o facto do mesmo nada ter a ver com o objectivo que inicialmente desejava executar, fizeram-me apagar todo e qualquer vestígio do mesmo online.

Não soube matar o meu “querido”. Não encontrei outra inspiração que não essa, e o meu bloqueio criativo persistiu por mais algum tempo.

Nem todos os projectos foram cunhados para o sucesso. Alguns devem ser logo descartados. Outros jamais irão além do medíocre ou do razoável. “Overhearing” tinha algum potencial, faltaram-lhe os meios, as pessoas e a criatividade. E assim morreu.

Talvez um dia o revive. Talvez um dia o escreva. Talvez um dia o grave. Para já, regressa às gavetas da memória, eternamente adormecido nos primórdios de uma alma criativa ainda por lapidar. 

Wednesday, January 10, 2007

Uma Verdade Inconveniente

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"Estamos a matar o planeta." Esta é a afirmação mais presunçosa e estapafúrdia que alguma vez ouvi. Fala-se em aquecimento global, poluição, proliferação de armas de destruição maciça, energia nuclear, terrorismo, etc. E continuam a dizer que estamos a "destruir" ou a "matar" o planeta? Podemos ser mais egocêntricos e megalómanos? Como pode uma espécie que por cá anda há cerca de 500 mil anos, achar-se poderosa o suficiente para destruir o planeta?

Uma mera passagem sob o parágrafo anterior vai criar ondas de contestação, ou no mínimo de estranheza. Mas antes de se precipitarem em preconceitos, leiam isto até ao fim e talvez compreendam o meu ponto de vista.

Hoje tive a oportunidade de ver o documentário do Al Gore, "An Inconvenient Truth". Fiquei impressionado, não pelo que foi dito, já que a grande maioria daquelas verdades já eram do meu conhecimento, mas por ser um ex Próximo Presidente dos E.U.A. a divulgar esta mensagem que há muito vem a ser ignorada.

Não estou a dizer que o que foi dito no documentário está errado. Pelo contrário, não podia estar mais correcto. Ao longo do último século poluímos o nosso ar, a nossa água, destruímos habitats, levámos espécies à beira da extinção e até exterminámos algumas. E quantas dessas não terão ficado ainda por descobrir?

Somos uma espécie descuidada, que olhou para o progresso científico sem pensar nas consequências. A nova ciência é totalmente desprovida de moral. Os investigadores limitam-se a pegar em estudos anteriores e a dar o passo seguinte, alienando-se assim de qualquer tipo de responsabilidade.

"Não fui eu que comecei isto. Lá por que o acabei, não quer dizer que tenha que levar com as consequências." É exactamente este tipo de atitude que leva um país como os E.U.A. a não rectificar o protocolo de Quioto, e que levou os avanços tecnológicos do último século a criarem todos estes problemas que agora deixamos para as próximas gerações tentarem resolver.

Sim, mesmo que comecemos a mudar os nossos hábitos agora, o ambiente ainda vai levar cerca de cinquenta anos a recuperar. Contudo, isto não é motivo para não agir, muito pelo contrário, é razão mais do que suficiente para nos levantarmos do sofá.

Tudo isto podem ver por vós próprios, seja através do documentário, ou numa simples pesquisa. A informação está toda espalhada, basta encontrá-la e juntar as peças.

Mas o que realmente querem saber, e o que ainda vos intriga, é "se pensas assim, e concordas com isto tudo, porque raio escreveste aquele primeiro parágrafo?" Talvez tudo se resuma a uma questão de semântica: Nós não estamos a destruir o planeta. A Terra já atravessou desastres ecológicos astronomicamente maiores, e incomparáveis com aquele que estamos a atravessar, e sobreviveu.

A Terra era um planeta jovem e saudável muito antes das primeiras formas de vida aparecerem. A verdade é que o que estamos a fazer é a destruir o nosso "Mundo", o nosso presente, e o futuro dos nosso filhos.

Estamos a destruir o ambiente, e as condições favoráveis à vida que neste momento habita este planeta. Estamos a pôr em perigo o mais variado tipo de formas de vida, e o nosso próprio futuro. A espécie humana não é tão invulnerável a estas alterações como podemos pensar.

Pode ser trágico pensar desta forma, mas a Terra vai continuar aqui muito depois de nós desaparecermos. As espécies que hoje conhecemos vão se extinguir, mas outras surgirão para ocupar o seu lugar. As massas continentais vão deslocar-se e aproximar-se. Oceanos vão desaparecer, montanhas erguer-se-ão. A Terra vai continuar o seu ciclo habitual, até o Sol se tornar num gigante vermelho e a engolir.

Como podem ver, não podemos falar em "destruir" o planeta. Nós somos apenas um vírus a atacar os ecossistemas e a frágil biosfera terrestre. Mas o planeta, esse, mantém-se intacto e pronto para nos dar uma lição.

É por isso que devemos começar já a tratar o planeta com respeito, e a fazer todos os possíveis para minimizar o nosso impacto num ambiente tão frágil. Podemos estar cá há pouco tempo, mas já excedemos o nosso convite.