Monday, April 17, 2006

Last Shred of Hope

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O bando já vagueava pelo deserto há semanas. Pouco alimento foram encontrando pelo caminho. Exaustos e famintos, aquele precioso oásis de salvação tardava em surgir no horizonte. Tudo começou com uma visão que o Deyn tinha tido semanas antes. "Em breve o céu cairá, e com ele o nosso império. Nada nos irá salvar, excepto o vale etéreo." Deyn era conhecido pelas suas visões que até agora sempre se tinham concretizado. Esta indicava-lhe o caminho para um vale perdido nas histórias do caminho. O único local onde podiam refugiar-se. Mal sabiam eles, que o tempo era cada vez mais escasso.

Deyn viajava com o seu irmão, Nick, a quem os outros olhavam como líder. Os outros eram apenas três, a Berry, o Vin e a May. Os cinco pertenciam a um grupo ainda maior, mas muitos não acreditaram na visão de Deyn, e optaram por não os seguir. 

Já não avistavam ninguém há dias, nenhuma presa se atravessou no seu caminho. Eles têm uma grande capacidade para se sustentarem por longos períodos sem alimento, mas o calor intenso e o cansaço da viagem, já fazem das suas. 

Ao longe, Nick avistou algo que se parecia com um pequeno lago. Pediu a Vin que fosse com ele investigar e disse aos outros para ficarem à espera. O pequeno lago, que de lago tinha pouco, ainda tinha alguns peixes. Apesar de não ter muita experiência, Nick ficou para trás para tentar pescar alguns, e enviou o Vin para trazer os outros de volta. 

Muito desastrosamente lá conseguiu pescar alguns peixes, e preparar o jantar para o resto do bando. Ali descansaram até ao anoitecer. O frio da noite obriga-os a mexerem-se. Sob o abrigo da noite, fazem melhor caminho. Protegidos daquele tórrido sol, que os atrasa constantemente. Mas a noite pode esconder muitos perigos. Nunca se sabe quando algo maior que nós nos pode atacar. Nick esforça-se para manter o grupo junto, enquanto procura seguir o caminho, o mais cuidadosamente possível.

Os dias passavam. O fim cada vez mais próximo, e o seu destino continuava a parecer estar tão longe. Já eram capazes de avistar os picos que rodeavam o vale. Atravessá-los será difícil, se não mesmo impossível, mas por enquanto têm outras preocupações. Na noite anterior avistaram alguns Tarbos. Nick receia que eles também os tenham avistado a eles. A noite poderá trazer problemas. 

O bando continua unido, mas o cansaço e o medo de uma morte dolorosa abate os seus espíritos. Nick, faz tudo para os conseguir moralizar. "Já falta pouco, percorremos este caminho todo, não vamos desistir agora." Era isto que eles viam no seu olhar, e no seu apoio. Com ele tinham a certeza que chegariam ao seu destino.

O Vale em si, era um mero mito, contado de geração em geração. Um local de refúgio. Intocável. Estagnado no tempo. Mas a verdade é que existia mesmo, apenas nunca houve motivo para lá chegar, nunca, até à visão de Deyn.

Deyn acordou sobressaltado, era Berry, estava na altura de eles partirem. Era difícil de dizer ao certo aquilo que havia entre Deyn e Berry, uma espécie de ligação, que a fez confiar nele e nas suas visões desde o início. Deyn encontrava conforto nela. Berry era a sua réstia de esperança neste mundo que parecia tê-la perdido. 

Os dois juntaram-se ao resto do bando e seguiram caminho. Alguns quilómetros à frente, Nick parou de andar, disse a Deyn e Vin que ficassem com ele, Berry e May esconderam-se por detrás de uns arbustos. Nick tinha "tropeçado" numa pegada de um Tarbos. Eles estavam perto, podia ser perigoso seguir em frente, mas ainda muito mais seria se ficassem por ali. 

Podiam dar a volta na tentativa de os despistar, mas isso iria atrasá-los pelo menos meio-dia, e o tempo escasseava a uma velocidade que eles nem imaginavam. Nick não tinha outra opção, era preciso agir. O grupo continuou em frente, tomando todas as cautelas possíveis. Mas nem o mais cuidadoso dos seres era capaz de prever o que iria acontecer. 

Do nada, dois Tarbos surgiram pelo flanco do grupo. Os cinco juntaram-se o mais que puderam, tentando procurar uma oportunidade para fugirem. Os dois Tarbos circundavam-nos. Podia ser difícil, mas estes dois não iriam ter vida fácil, pensou Nick para si próprio. O grupo estava assustado, poucas forças lhes restavam. 

Nick atirou-se a um dos Tarbos, apanhando-o desprevenido. Deyn e Vin tentaram tratar do outro, mas o Tarbos derrubou o Vin. Deyn distrai-o e faz com que ele o persiga. Deyn é mais ágil e mais rápido, mas quando parecia que ia conseguir escapar, tropeçou numa rocha e caiu atrapalhadamente no chão. 

O Tarbos alcança-o e prepara-se para investir o golpe final. Deyn vê a sua vida a passar em frente dos seus olhos, esta era uma visão menos dolorosa que as anteriores. As várias imagens da Berry faziam-no esquecer o terrível destino que o esperava. Quando se apercebe que o Tarbos estava a demorar o seu tempo. Ao abrir os olhos vê uma cena muito pior que um pesadelo, o Tarbos perseguia a Berry que tinha vindo em seu socorro. 

Enfurecido com a situação, Deyn corre atrás do Tarbos alcançando-o e pregando-lhe uma rasteira. Este cai estatelado no chão. Para a sorte dos dois, este Tarbos não se irá levantar tão cedo. Mais à frente, May ajuda o Nick a afugentar o outro Tarbos. Esta não seria uma refeição fácil, e com a queda do seu companheiro, não valia a pena gastar mais energia.

Após esta aventura, à qual ninguém sabia como conseguiu escapar vivo e inteiro, os cinco juntaram-se em desespero. Caminhavam há semanas, estavam famintos e não conseguiram encontrar o vale. Até que May chama a atenção dos outros para um pequeno riacho que penetrava nas montanhas à sua frente. Nick achou que o deviam seguir. Seguiram o riacho, que se tornou num rio, cujas margens se alargavam à medida que o percorriam. 

Os dias passavam e este rio parecia não ter fim, até que uma noite, a escuridão do horizonte iluminou-se. No céu, tal como um mensageiro divino, uma estrela luzia mais do que as outras, quase tanto como a Lua. Foi pelo espanto dos outros que Deyn reparou no que essa estrela iluminava. À sua frente estava uma queda de água, que desaguava num vale luxuriante. Igual àquele descrito na sua visão. Os cinco juntaram-se em alegria. Finalmente encontraram a terra prometida. Um refúgio para se protegerem do fim dos tempos, da queda do seu império.

Essa estrela era um asteróide com mais de dez quilómetros de diâmetro, que caiu no outro lado do mundo. A sua queda, conjugada com uma série de eventos, escureceram a Terra e provocaram a morte de mais de 70% das espécies. 

Foi assim que chegou ao fim o reinado dos Dinossauros, mas não para todos. Os cinco Deynonychus e os demais refugiados do vale, sobreviveram. A sua história, perdida no tear do tempo, juntamente com eles, e a localização desse vale, continua a ser contada nesse local longínquo, onde o tempo parou. E onde Nick, Deyn, Vin, Berry e May puderam gozar os últimos anos da sua existência.

Friday, April 14, 2006

Que aconteceu?

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Sim, que aconteceu? Alguém me sabe responder? O que fez o ontem desvanecer e dar lugar a este amanhã tão diferente e cinzento? Bem sabem o quanto gosto de dias nublados, mas algures por aí deve haver um limite, não? Nada, não se passou nada de nada, ou o tudo refugiou-se atrás de um nada que tudo era?

Ninguém responde? Medo? Ignorância? Seja lá o que for, que aconteceu? E se aconteceu, porquê? Porquê? É assim tão difícil responder a uma questão de “sim ou não” e justificar essa resposta? Talvez, mas não é por isso que ninguém responde. Ninguém responde pois não passam de sombras numa parede que há muito foi abaixo.

Sofro de uma incapacidade tremenda quando tento compreender o porquê de tudo estar tão diferente daquilo que era há um minuto atrás. Talvez seja mera impressão. Talvez nada tenha mudado, além do dia que clareou.

É uma tarefa complicada perceber o porquê dos actos dos outros, pois não há nada para perceber. Não é necessário compreender, e é frustrante que assim seja, mas é assim que tem que ser.

Mas, apesar de tudo, porquê? O que há de diferente? Por que é preciso mudar? Nada vos espera no amanhã. Ainda não conseguem distinguir os tijolos no muro? Porquê ser-se tão cego? Porquê? Porquê? Porquê?

Ninguém me responde. Que monólogo mais decadente. Que tédio de existência. Rodeado de desespero, indecência, indolência, seja o que for, algo impede aqueles que têm as respostas de as deitar cá para fora. Será que não me ouvem? Que mal têm estas questões? Por que continuam a não tomar consciência das vossas decisões? Mas que raio se passa com vocês? Respondam!

O silêncio continua, cada vez mais massificado. Nada há a fazer, nada há para dizer. Porquê? Receio de quê? Da verdade? Da mentira? Do ódio? Do amor? Mas não há nada que vos satisfaça? Não. Continuam sem responder...

Que justificação é ter medo da mudança? Talvez nenhuma. Talvez não seja necessário. Mas as regras não são estas quando ela acontece, sem se aperceber, sem ser precisa, sem pedir. Quando a mudança é um hóspede que não foi convidado, uma devida justificação é necessária.

Que mudaria? Ela continua aí, não irá mudar, e agora já não pode ir embora. Nada a fará voltar atrás. E assim nos encontramos presos numa cela sem grades, à qual não podemos voltar as costas. Não a podemos esconder de nós, ou da nossa memória. Ficará assim, para sempre marcada. E porquê? Por nada. Sem razão de ser, assim existe. Assim nasceu, e assim não morrerá.

Que resposta dareis vós a isto? O vosso contínuo e impiedoso silêncio sem valor, nem motivo de ser? Mas assim continuam a viver, incapazes de me responder. Obrigam-me a abraçar outro tipo de mudança.

Que pena, logo quando tudo parecia ser algo, e esse algo parecia ser tão diferente.

Saturday, April 08, 2006

Referendos

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Qual é a vossa posição sobre certo e determinado assunto? Basicamente é esta a questão que dá vida aos referendos. Aquele momento em que a democracia se mostra em toda a sua graça. Que a opinião do povo suplanta a de qualquer dirigente, e faz-se ouvir em voz alta.

O grande problema é que o povo é composto por uma cambada de idiotas. Não digo isto de ânimo leve, de facto, nem todos aqueles que se misturam ou desaparecem nas massas são idiotas completos. De quando em vez há quem se afirme e até tome uma decisão correcta. Mas, no geral, o povo rege-se por ideais retrógradas, e deixa-se levar pelo impulso da multidão. O preconceito, e a falta de vontade de se informar, torna o povo num alvo fácil para quem tenha a pontaria acertada.

Nunca se questionaram sobre a utilidade das sondagens? Sobre o motivo da sua mera existência? As sondagens existem para dar rumo aos indecisos, àqueles que são incapazes de se levantar do sofá, e de se interessarem sobre as coisas que realmente importam.

Ao fazerem zapping por volta da hora do almoço, ou do jantar, os indecisos podem-se deparar com um telejornal, e com uma sondagem sobre certo e determinado assunto. Essa sondagem, geralmente, dá por vencedor certa e determinada resposta, e é nessa resposta que aqueles indecisos que têm a mínima decência de exercer o seu poder de voto, vão acabar por votar.

Posto isto, de que nos servem os referendos, se o povo não passa de uma grande massa de idiotas que acabará por escolher aquilo que a TV lhes disser que vai ganhar? Gente simples que se deixa influenciar pelas palavras dos outros? Independentemente da existência de indecisos e idiotas, devemos crer que hajam pessoas capazes de pensar por si próprias, e de tomarem uma decisão correcta baseada nas suas convicções.

A verdade é que as questões dos referendos muito raramente agradam a toda a gente. Vai sempre haver quem apoie o Sim, enquanto outros vão optar pelo Não. Os referendos ajudam a equilibrar, e a dar uma nova perspectiva sobre aquilo que realmente interessa ao povo, obrigando assim os partidos a reflectir e a agir segundo os seus resultados.

Desta forma, podemos sempre dar graças ao facto de a maioria dos idiotas optar por não ir votar, ou por votar em branco. Não se trata de uma eleição, não é um motivo que os faça sair de casa e ir passar o seu Domingo na fila da Junta de Freguesia. E mesmo que fosse, o seu impacto seria mínimo. Daí a importância dos referendos, e daí a necessidade de vários assuntos serem debatidos, desde o financiamento dos clubes de futebol, até ao aborto, ou à constituição europeia.

Aqueles que realmente se importam com aquilo que é importante, vão pesquisar na Internet, vão ver programas como o Prós e Contras, vão ler jornais e revistas sobre o assunto. Enfim, vão tomar o seu partido, e votar, convictos da decisão que tomaram, após terem ouvido ambas as partes, sendo agora capazes de discernir aquilo que acham ser o mais correcto.

Nada está perdido. Mesmo numa multidão de idiotas há sempre alguém sensato. Fica aqui a mensagem para os Governos espalhados por esse mundo fora, que temem os referendos por falta de apoio daquela massa que lhes dá os assentos governamentais: Sem idiotas à solta, como vão conseguir governar?

Apenas queria deixar o seguinte parêntesis: quando me refiro a povo, falo das massas de pessoas, não me refiro ao povo Português, e o governo que destaco, não é o nosso, mas sim todo e qualquer tipo de governo democrático. Embora reconheça que alguns dos assuntos que referi a título de exemplo, sejam do interesse da nossa sociedade actual.

Não tenham medo de votar nos referendos, mas informem-se antes de o fazer. Os referendos são aquela pequena oportunidade de realmente fazerem a diferença. Nas palavras de Fernando Pessoa, "Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena."