Monday, October 17, 2011

Amor

Quando era pequeno costumava sonhar com a mesma rapariga noite após noite. Tinha olhos verdes, e cabelo ondulado de um castanho claro, quase loiro. Não me lembro dos pormenores dos sonhos, apenas que estávamos juntos, e que era feliz. Na verdade, há apenas um momento que me lembro com maior detalhe. Estávamos no jardim perto de minha casa quando chegou uma ambulância, ela entrou lá dentro e levantou voo.

Embora fosse novo demais para saber o que era amor, lembro-me de me sentir muito triste sempre que acordava, como se uma parte de mim tivesse sido retirada contra a minha vontade. Com o passar dos anos os sonhos tornaram-se menos frequentes, chegando ao ponto em que não me lembro da última vez que sonhei com ela. Mas, com o tempo, também ela crescia. O seu cabelo foi escurecendo. Começou a usá-lo apanhado em rabo-de-cavalo, em vez de solto. Os seus olhos de um verde brilhante eram dos mais belos que alguma vez vi.

Durante algum tempo tentei procurá-la mas, nas raras vezes que conhecia uma rapariga com as suas características, ela acabava por não corresponder àquilo que tinha imaginado. Após algumas tentativas falhadas, apercebi-me que não devia basear-me no aspecto físico, mas sim no sentimento que a sua simples presença despertava em mim. Esse sentimento é a base da minha definição de amor.

Acordar e sorrir por esse alguém estar no meu Mundo. Dar graças pela certeza que o que sentimos é real e não apenas um sonho. Ser feliz, ser inteiro, ser parte de algo mais. Ser capaz de me entregar a um nível em que ambas as almas se despem e assumem a sua vulnerabilidade na segurança do seu amor. Partilhar cada momento e querer tê-la ao meu lado quando todos os meus sonhos se concretizam. Afastá-la de qualquer dor, e confortá-la quando esta for inevitável. Para mim, isto é amor.

Não apenas paixão, ou desejo, mas algo mais seguro. Mais quente, mais permanente. Algo que desafia o próprio Universo. Algo que ultrapassa as barreiras do espaço e do tempo. Uma fé mais profunda que a de qualquer religião.

Por mais que o tente descrever, todas as palavras ficam sempre aquém desse subconsciente sentimento que criou em mim a imagem daquele alguém com quem devo partilhar o meu destino.

Ao dizer “amo-te” assino um contrato sob o nosso futuro. És a realização do meu sonho mais antigo, da primeira certeza que tive antes de me conhecer a mim próprio. A realidade de um sentimento desejado. Amar-te é sermos um, uma unidade maior que o próprio Universo. Amar-te é ser feliz. Amar-te é saber que és tu. É saber que sempre foste tu.

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