Thursday, December 23, 2021

O Regresso da Véspera da Véspera de Natal Parte XV

365 dias, 252 entrevistas, 90 Segundos de Ciência, 26 Bilharacos, COVID-19, 3 meses de confinamento, setecentos “Porque Flutuam os Meus Cereais” vendidos, um título de campeão nacional e 0 pencas depois, sejam bem-vindos a mais um episódio do Regresso da Véspera da Véspera de Natal, a tradição anual mais aguardada pelos fiéis seguidores da Igreja Universal do Sagrado Chinelo, e por todos aqueles cujo ódio a pencas os une neste santo dia, preferencialmente após teste PCR ou antigénio negativo.

Fernão, o de Magalhães, estava com a Menina do Gás, a Toalha de Eusébio, e Fernando Pessoa e os seus Heterónimos, a circum-navegar a terra desconhecida chamada Brasil. Numa noite de céu aberto, já depois de Jesus, o Cristo ter adormecido, ora nas palhas deitado, ora nas palhas estendido, Fernão subiu ao convés da sua nau para observar o céu com o seu telescópio.

Por entre as estrelas e os planetas um objecto estranho parecia aproximar-se a uma velocidade estonteante. Dando uso ao seu ábaco, já que a bateria do seu Xiaomi Note 10 há muito se tinha esgotado, “Raisparta o Mindo que se esqueceu do power bank”, pensou.

“Isso é subjectivo”, ouviu-se ao fundo como um suspiro na noite.

Como estava a dizer. Dando uso ao seu ábaco, e depois de fazer a prova dos nove pelo menos três vezes, Fernão correu para a cabine, sacou do seu Nokia 3310 e ligou para D. Marcelo, o Afecto, primeiro de seu nome.

“Boa noite Fernão, estava mesmo agora a beber o meu iogurte das 3 da manhã enquanto terminava um livro sobre a plantação de chícharo em Alvaiázere”, atendeu.

“Desculpe interromper o seu Actimel mas isto é urgente. Um asteróide do tamanho de Odemira está em rota de colisão com a Terra!”, alerta Fernão.

“Da vila ou do concelho?”

“Ambos!”

“O meu Pessegueiro!”, grita Marcelo de sobressalto.

Alertado para o perigo iminente, D. Marcelo, o Afecto chama por Vasco, o da Gama para reunir toda a gente de urgência na base secreta do Tortosendo.

“Toda a gente?”

“Sim, especialmente alguém que saiba perfurar pedra e que não esteja de qualquer forma preparado para uma viagem espacial!”

Vasco, o da Gama, consegue encontrar Pedro, o Álvares Cabral, Peyroteo, Eusébio, – sem a sua toalha ainda em viagem com Fernão, o de Magalhães, a Menina do Gás e Fernando Pessoa e os seus Heterónimos – Jesus, o Cristo, Jesus, o Jorge, Jorge, o Palma, o Bruce Willis por algum motivo, e sim, até o Mindo.

Chegados à base secreta de Tortosendo a comitiva de heróis é recebida por Capitão Iglo, o primeiro tugonauta português.

“O que se passa? Encontraram bacalhau em Neptuno?”, pergunta Pedro, o Álvares Cabral.

Depois de D. Marcelo com Fernão, o de Magalhães, em telechamada, explicarem o que se estava a passar, caiu um ar de desespero no resto da comitiva.

“Não desanimem, temos um plano para resolver esta situação”.

D. Marcelo, o Afecto, carrega num botão e nas suas costas as paredes começam a mexer-se, revelando aquilo que apenas podia ser descrito como uma Nau em cima de três foguetões.

“Apresento-vos a nossa Nau espacial”

“Não quer dizer nave espacial?”, questiona o Capitão Iglo.

“Não! É uma Nau espacial, construída com a melhor madeira do pinhal de Leiria”, assegura D. Marcelo, o Afecto.

“Não há tempo para discussões de semântica, temos apenas dois dias para travar este asteróide”, alerta Fernão, o de Magalhães em videochamada a partir do seu Nokia 3310.

O Capitão Iglo junta a equipa numa sala para explicar a missão.

“Vamos juntar-nos aos Ena Pá 2000, que já estão na Lua, para reabastecer, e depois vamos aterrar directamente no asteróide. Teremos quatro horas para fazer um furo de 200 metros e depositar esta bomba nuclear. Se o sistema falhar um de nós terá que ficar lá para detonar a bomba, entendido?”

“Isto parece estranhamente familiar”, murmura Bruce Willis.

O Capitão Iglo, Vasco, o da Gama, Pedro, o Álvares Cabral, Peyroteo, Eusébio, ainda sem a sua toalha, Jesus, o Cristo, Jesus, o Jorge, Jorge, o Palma, Bruce Willis, Mindo e Bernardo Soares que entretanto apanhou um voo da TAP da terra desconhecida chamada Brasil e ainda chegou a tempo de apanhar a Nau espacial, embarcaram naquela que podia ser a sua última viagem.

A Nau descolou a toda a velocidade ao som de Aerosmith.

Depois de reabastecerem com os Ena Pá 2000 e se passearem pela Lua, todos nus só com um véu, a Nau aterrou de sobressalto na superfície do asteróide.

Cada um saca de uma pá e começa a escavar enquanto o Mindo aparenta brincar com uns ímanes.

As horas vão passando e o buraco não está sequer perto dos 200 metros necessários para salvar o Pessegueiro de D. Marcelo, o Afecto.

Mindo aparece com uma broca mecânica feita com metais que os ímanes dele encontraram por ali.

A 10 minutos da hora limite finalmente conseguem atingir a profundidade necessária.

Depois de colocarem a bomba, Peyroteo verificou que se esqueceram de trazer o comando para a activar. Bruce Willis voluntaria-se para ficar para trás mas é interrompido por Mindo.

“Não. Agora é a hora para eu brilhar!”

“Mas Mindo, precisamos de ti para descobrir a terra desconhecida chamada Brasil”, suplica Vasca, o da Gama.

“Isso é subjectivo”, diz Mindo, pedindo aos outros para entrarem na Nau e regressarem para a Terra.

Após a Nau levantar voo, Mindo suspira por uma última vez, recordando todos os ímanes que viu colarem-se entre as suas mãos e carregou no botão.

À distância, Capitão Iglo, Vasco, o da Gama, Pedro, o Álvares Cabral, Peyroteo, Eusébio, Jesus, o Cristo, Jesus, o Jorge, Jorge, o Palma, Bruce Willis e Bernardo Soares, observam com um sentimento agridoce o asteróide a dividir-se em dois.

O dia estava salvo, mas não sem um grande custo para estes heróis.

A Nau regressou à Terra mais uma vez ao som de Aerosmith e foi recebida por D. Marcelo, o Afecto, Fernão, o de Magalhães, a Menina do Gás, a Toalha de Eusébio e Fernando Pessoa, e os seus heterónimos, à excepção de Bernardo Soares que se encontrava na Nau.

A multidão celebrava efusivamente o regresso daqueles que conseguiram salvar o Pessegueiro de D. Marcelo, o Afecto.

“Em Odemira será erguida uma estátua em honra de Mindo, que se sacrificou por nós e pelo meu Pessegueiro. Na placa estará escrito ‘isso é subjectivo’, e a mesma será colada por ímanes”, promete D. Marcelo, sob uma onda de aplausos.

E assim chega ao fim mais uma épica história que celebra o dia mais aguardado ao longo de todo o ano. Dediquem estas horas a espalhar pelo Mundo as palavras de felicidade que só um dia como o 23 consegue transmitir, e relembrem o sacrifício que Mindo fez por todos nós e pelo Pessegueiro de D. Marcelo.

Pois hoje é a Véspera da Véspera de Natal, dêem as mãos e cantem todos comigo:

Morram pencas, morram! Pim!

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