365 dias, 252 entrevistas, 90 Segundos de Ciência, 26 Bilharacos, COVID-19, 3 meses de confinamento, setecentos “Porque Flutuam os Meus Cereais” vendidos, um título de campeão nacional e 0 pencas depois, sejam bem-vindos a mais um episódio do Regresso da Véspera da Véspera de Natal, a tradição anual mais aguardada pelos fiéis seguidores da Igreja Universal do Sagrado Chinelo, e por todos aqueles cujo ódio a pencas os une neste santo dia, preferencialmente após teste PCR ou antigénio negativo.
Fernão, o de Magalhães, estava com a Menina do Gás, a Toalha
de Eusébio, e Fernando Pessoa e os seus Heterónimos, a circum-navegar a terra
desconhecida chamada Brasil. Numa noite de céu aberto, já depois de Jesus, o
Cristo ter adormecido, ora nas palhas deitado, ora nas palhas estendido, Fernão
subiu ao convés da sua nau para observar o céu com o seu telescópio.
Por entre as estrelas e os planetas um objecto estranho
parecia aproximar-se a uma velocidade estonteante. Dando uso ao seu ábaco, já
que a bateria do seu Xiaomi Note 10 há muito se tinha esgotado, “Raisparta o
Mindo que se esqueceu do power bank”, pensou.
“Isso é subjectivo”, ouviu-se ao fundo como um suspiro na
noite.
Como estava a dizer. Dando uso ao seu ábaco, e depois de
fazer a prova dos nove pelo menos três vezes, Fernão correu para a cabine,
sacou do seu Nokia 3310 e ligou para D. Marcelo, o Afecto, primeiro de seu
nome.
“Boa noite Fernão, estava mesmo agora a beber o meu iogurte
das 3 da manhã enquanto terminava um livro sobre a plantação de chícharo em
Alvaiázere”, atendeu.
“Desculpe interromper o seu Actimel mas isto é urgente. Um
asteróide do tamanho de Odemira está em rota de colisão com a Terra!”, alerta
Fernão.
“Da vila ou do concelho?”
“Ambos!”
“O meu Pessegueiro!”, grita Marcelo de sobressalto.
Alertado para o perigo iminente, D. Marcelo, o Afecto chama
por Vasco, o da Gama para reunir toda a gente de urgência na base secreta do
Tortosendo.
“Toda a gente?”
“Sim, especialmente alguém que saiba perfurar pedra e que
não esteja de qualquer forma preparado para uma viagem espacial!”
Vasco, o da Gama, consegue encontrar Pedro, o Álvares Cabral,
Peyroteo, Eusébio, – sem a sua toalha ainda em viagem com Fernão, o de
Magalhães, a Menina do Gás e Fernando Pessoa e os seus Heterónimos – Jesus, o
Cristo, Jesus, o Jorge, Jorge, o Palma, o Bruce Willis por algum motivo, e sim,
até o Mindo.
Chegados à base secreta de Tortosendo a comitiva de heróis é
recebida por Capitão Iglo, o primeiro tugonauta português.
“O que se passa? Encontraram bacalhau em Neptuno?”, pergunta
Pedro, o Álvares Cabral.
Depois de D. Marcelo com Fernão, o de Magalhães, em
telechamada, explicarem o que se estava a passar, caiu um ar de desespero no
resto da comitiva.
“Não desanimem, temos um plano para resolver esta situação”.
D. Marcelo, o Afecto, carrega num botão e nas suas costas as
paredes começam a mexer-se, revelando aquilo que apenas podia ser descrito como
uma Nau em cima de três foguetões.
“Apresento-vos a nossa Nau espacial”
“Não quer dizer nave espacial?”, questiona o Capitão Iglo.
“Não! É uma Nau espacial, construída com a melhor madeira do
pinhal de Leiria”, assegura D. Marcelo, o Afecto.
“Não há tempo para discussões de semântica, temos apenas
dois dias para travar este asteróide”, alerta Fernão, o de Magalhães em videochamada
a partir do seu Nokia 3310.
O Capitão Iglo junta a equipa numa sala para explicar a
missão.
“Vamos juntar-nos aos Ena Pá 2000, que já estão na Lua, para
reabastecer, e depois vamos aterrar directamente no asteróide. Teremos quatro
horas para fazer um furo de 200 metros e depositar esta bomba nuclear. Se o
sistema falhar um de nós terá que ficar lá para detonar a bomba, entendido?”
“Isto parece estranhamente familiar”, murmura Bruce Willis.
O Capitão Iglo, Vasco, o da Gama, Pedro, o Álvares Cabral,
Peyroteo, Eusébio, ainda sem a sua toalha, Jesus, o Cristo, Jesus, o Jorge,
Jorge, o Palma, Bruce Willis, Mindo e Bernardo Soares que entretanto apanhou um
voo da TAP da terra desconhecida chamada Brasil e ainda chegou a tempo de
apanhar a Nau espacial, embarcaram naquela que podia ser a sua última viagem.
A Nau descolou a toda a velocidade ao som de Aerosmith.
Depois de reabastecerem com os Ena Pá 2000 e se passearem pela
Lua, todos nus só com um véu, a Nau aterrou de sobressalto na superfície do
asteróide.
Cada um saca de uma pá e começa a escavar enquanto o Mindo
aparenta brincar com uns ímanes.
As horas vão passando e o buraco não está sequer perto dos
200 metros necessários para salvar o Pessegueiro de D. Marcelo, o Afecto.
Mindo aparece com uma broca mecânica feita com metais que os
ímanes dele encontraram por ali.
A 10 minutos da hora limite finalmente conseguem atingir a
profundidade necessária.
Depois de colocarem a bomba, Peyroteo verificou que se
esqueceram de trazer o comando para a activar. Bruce Willis voluntaria-se para
ficar para trás mas é interrompido por Mindo.
“Não. Agora é a hora para eu brilhar!”
“Mas Mindo, precisamos de ti para descobrir a terra
desconhecida chamada Brasil”, suplica Vasca, o da Gama.
“Isso é subjectivo”, diz Mindo, pedindo aos outros para entrarem
na Nau e regressarem para a Terra.
Após a Nau levantar voo, Mindo suspira por uma última vez,
recordando todos os ímanes que viu colarem-se entre as suas mãos e carregou no
botão.
À distância, Capitão Iglo, Vasco, o da Gama, Pedro, o
Álvares Cabral, Peyroteo, Eusébio, Jesus, o Cristo, Jesus, o Jorge, Jorge, o
Palma, Bruce Willis e Bernardo Soares, observam com um sentimento agridoce o
asteróide a dividir-se em dois.
O dia estava salvo, mas não sem um grande custo para estes
heróis.
A Nau regressou à Terra mais uma vez ao som de Aerosmith e
foi recebida por D. Marcelo, o Afecto, Fernão, o de Magalhães, a Menina do Gás,
a Toalha de Eusébio e Fernando Pessoa, e os seus heterónimos, à excepção de
Bernardo Soares que se encontrava na Nau.
A multidão celebrava efusivamente o regresso daqueles que
conseguiram salvar o Pessegueiro de D. Marcelo, o Afecto.
“Em Odemira será erguida uma estátua em honra de Mindo, que
se sacrificou por nós e pelo meu Pessegueiro. Na placa estará escrito ‘isso é
subjectivo’, e a mesma será colada por ímanes”, promete D. Marcelo, sob uma
onda de aplausos.
E assim chega ao fim mais uma épica história que celebra o
dia mais aguardado ao longo de todo o ano. Dediquem estas horas a espalhar pelo
Mundo as palavras de felicidade que só um dia como o 23 consegue transmitir, e
relembrem o sacrifício que Mindo fez por todos nós e pelo Pessegueiro de D.
Marcelo.
Pois hoje é a Véspera da Véspera de Natal, dêem as mãos e
cantem todos comigo:
Morram pencas, morram! Pim!
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