366 dias, 252 entrevistas, 90 Segundos de Ciência, 26 Bilharacos, COVID-19, 7 estados de emergência, 3 apresentações de “Porque Flutuam os Meus Cereais”, uma eternidade em confinamento e 0 pencas depois, sejam bem-vindos a mais um episódio do Regresso da Véspera da Véspera de Natal, a tradição anual mais aguardada pelos fiéis seguidores da Igreja Universal do Sagrado Chinelo, e por todos aqueles cujo ódio a pencas os une por teleconferência garantindo o distanciamento físico neste santo dia.
São sete da tarde no ano 33, também conhecido como 1987 AC
(antes de COVID). Jesus, o Cristo, está em casa a tentar ligar o Zoom. Devido
ao estado de emergência declarado por Pilatos, o Pôncio, Jesus, o Cristo,
decidiu marcar a última ceia por videoconferência com os apóstolos, Vasco da
Gama, a toalha do Eusébio, e a Menina do Gás.
O Mindo também ali iria aparecer para apoio técnico à
chamada. Uma decisão da qual todos se iriam arrepender. “Isso é subjectivo”,
gritou Mindo após ler esta frase enquanto brincava com um íman que encontrou no
seu frigorífico.
Sem conseguir ligar o Zoom, Jesus, o Cristo liga para
Sócrates, o filósofo, para o ajudar a instalar o Zoom no seu Magalhães.
“Já experimentaste ExpressVPN, tens três meses grátis se
usares o código…”, dizia Sócrates, o filósofo, antes de Jesus, o Cristo, lhe
desligar a chamada por estar farto de ouvir estes anúncios no Youtube.
“Daqui a nada está a oferecer-me uma mensalidade do Squarespace
ou a sugerir que eu vá ensinar carpintaria para o SkillShare”, queixou-se
Jesus, o Cristo, ora nas palhas estendido, ora nas palhas deitado, ainda sem
sucesso em ligar o Zoom.
Entretanto chega Peyroteo, a toalha do Eusébio, e Magalhães,
o Fernão. Jesus, o Cristo, fica à porta de máscara a mostrar o ecrã do seu
Magalhães, o portátil. Magalhães, o Fernão, pergunta a Jesus se este já tinha recebido
o link que a Menina do Gás partilhou no grupo de Whatsapp hoje de manhã.
“Ainda não, é difícil apanhar rede móvel em Jerusalém no ano
de 1987 AC (antes de COVID)”, explica, Jesus, o Cristo, enquanto Peyroteo tenta
instalar o Zoom no portátil de Magalhães, o Fernão.
Pessoa, o Fernando e os seus Heterónimos, fazem uma
videochamada para o smartphone da toalha de Eusébio e pedem a Jesus para que
este lhes mostre Magalhães, o portátil.
Pessoa, o Fernando vai tomar café, enquanto Caeiro, o Alberto
regressa para a sua horta, e Reis, o Ricardo parte em viagem para a terra
desconhecida chamada Brasil. Entretanto Soares, o Bernardo, entra em desassossego,
e de Campos, o Álvaro pede à toalha do Eusébio para aproximar a sua câmara de
Magalhães, o portátil.
“Tens o controlo parental activo. Experimenta agora”, diz de
Campos, o Álvaro.
Com o problema enfim resolvido, Peyroteo envia a Jesus, o
Cristo, o link para a sala de zoom que a Menina do Gás partilhou naquela manhã.
Mindo é o primeiro a chegar, seguido de Pessoa e os seus
Heterónimos, à excepção de Reis, o Ricardo que ainda se encontra em viagem com
Pedro, o Álvares Cabral em busca da terra desconhecida chamada Brasil.
Segue-se a Menina do Gás, Vasco da Gama, a toalha de
Eusébio, Sócrates, o José, Magalhães, o Fernão, e os apóstolos.
“Convidei-vos todos aqui hoje para despacharmos a ceia de
Natal a tempo de vermos o live do Bruno Nogueira no instagram”, começa Jesus, o
Cristo, enquanto multiplica o vinho e transforma o pão em bacalhau com natas
sem natas.
Peyroteo pede a Sócrates, o José para ir ao VAR analisar a
ausência de pencas na refeição transformada de Jesus, o Cristo.
Aguardamos a decisão.
Confusão na videochamada entre a Menina do Gás e Vasco da
Gama por este não a ter convidado para viajar na sua nau em busca da terra
desconhecida chamada Brasil. Enquanto Pessoa, o Fernando e os seus Heterónimos,
com a excepção de Reis, o Ricardo, que continua algures no meio do Atlântico
sem rede, lhe explicam que foi Pedro, o Álvares Cabral quem marcou a viagem para
aquela noite.
Entretanto Sócrates, o José, e a toalha de Eusébio regressam
com a decisão.
“Não há pencas no bacalhau com natas sem natas”, clamam de
alívio.
“Isso é subjectivo”, grita Mindo exaltado ainda a brincar
com o íman que encontrou no seu frigorífico.
Jesus, o Cristo, levanta os braços e anuncia: “Em verdade
vos digo, nesta quadra atípica do ano 1987 AC (antes de COVID), há uma mensagem
que a todos nos une. Juntai as mãos e dizei a uma só voz”:
“Morram pencas, morram! Pim!”
E assim chega ao fim o dia mais aguardado ao longo de todo o
ano. Dediquem estas horas a espalhar pelo Mundo as palavras de felicidade que
só um dia como o 23 consegue transmitir.
Pois hoje é a Véspera da Véspera de Natal. E como diz um
provérbio da terra do nosso querido-líder todo-poderoso, Putin, o Vladimir, a
repetição é a mãe da aprendizagem, dêem as mãos e cantem todos comigo:
Morram pencas, morram! Pim!
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