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Essa [literatura] simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.
Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Por que escrevo? Por uma inata necessidade de me expressar? Para me fazer ouvir? Para partilhar os meus pensamentos? Para contar as minhas histórias? Apenas porque sim, ou porque é esta a minha arte?
Não sei porque escrevo. Não sou capaz de encontrar por entre palavras forma alguma de descrever o que me motiva. A força, a energia, a vontade de transformar uma página em branco num pensamento, numa ideia, num manifesto, numa história, ou num exercício lírico. Talvez seja por isso que não sou um bom escritor. Pelo menos, não um capaz de satisfazer a minha perpétua exigência. Não, não sou um bom escritor. Ou escritor sequer. Não vivo disto. Apenas escrevo. Apenas escrevo...
Lembro-me de quando comecei a escrever para mim. Não porque fazia parte de algum trabalho da escola, ou de um imperativo de comunicar textualmente com alguém. Apenas porque sim. Queria partilhar uma ideia. Contá-la não apenas a mim, nem tão pouco àqueles que me rodeavam, mas sim partilhá-la com o Mundo. Com todos aqueles que pudessem encontrar em mim alguma espécie de reconhecimento e compreensão.
De algumas incoerentes linhas de palavras sem nexo, para indignados protestos, crónicas do dia-a-dia, manifestos activistas, contos, romances, comédias, poemas, e frases atrás de frases de ideias, pensamentos, e acções que, ano após ano, sempre mantiveram algum daquele estilo incoerente e desafiador de uma norma que nunca foi verdadeiramente aprendida.
Não é o blogue que me move. Não é uma coluna, uma nota ou um artigo. Nem tão pouco um jornal. Escrevo apenas porque sim. Porque há um ano encontrei uma peça de lego amarela no chão e quis partilhar esta história. Porque a equipa que apoio foi injustiçada e sinto a necessidade de o expor. Porque a história das personagens que criei num pensamento, num sonho, ou num qualquer momento do meu dia, merece, aliás, não, precisa de ser contada.
Escrevo porque há sentimentos que não consigo guardar. Porque há desejos que quero partilhar. Pessoas que quero ajudar. Almas gémeas que quero conhecer. Escrevo porque é parte de mim. É parte de quem eu sou. Naquela linha ténue que nos separa do resto do Mundo, são as minhas palavras, os meus pensamentos, verbais ou literários, que me mantêm constante. São elas quem me guarda, quem me indica o caminho.
São recados. Cartas. De mim para mim. De mim para quem as quiser ler. Para quem me quiser ouvir. Para quem me compreende. Para quem me deseja entender. São vozes amigas. Recordações. Histórias para desanuviar. Personagens com quem chorar, sorrir, amar. Amizades eternas. Saudades curadas ao virar de uma página. Ao suspirar de um sonho. Ao despertar de mais um dia.
Sei quem sou por aquilo que escrevo. Aquilo que escrevo é parte de quem eu sou. Com o silêncio digo muito. Com uma folha silencio o vento. Afasto-me para um local só meu onde, uma boa conversa, dá lugar a uma frase. E a outra. A outra. E a ainda mais uma. Estas dão lugar a ideias. A realidades. A Universos inteiros. A vidas que apenas tu conheces se estas não forem contadas.
Podes nunca vir a ser um Tolkien, um Martin, um Saramago, um Pessoa, um Queirós, nem tão pouco um King, ou um Sparks. Mas escreves. Expressas-te. Dás-te a conhecer. A ti e a quem te lê. Deixas de ser apenas mais uma voz, tímida por entre a multidão. És algo mais. Algo que te ultrapassa. És a tua arte. Tu és arte.
Não sei escrever. Não sou escritor. Apenas escrevo. Apenas sigo aquilo que não sei pôr por palavras. Aquilo que me move. Aquilo que me fez encher esta, e tantas outras páginas. Desde que me conheço. Desde que penso. Desde que sei. Desde que escrevo.
Não sou um bom escritor. Mas é esta a minha arte.
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