True Faith, Foto: Adriano Cerqueira |
I used to think that the day would never come,
I'd see delight in the shade of the morning sun.
My morning sun is the drug that brings me near,
To the childhood I lost, replaced by fear.
True Faith, New Order
Cada objecto conta uma estória. Do fabrico, à aquisição, do seu passado, e das pessoas que o tornaram possível, ao seu presente, e àqueles que perpetuam as suas qualidades. Hoje trago-vos a história de algo que transita do plano do etéreo e do abstracto, para a realidade física apenas através de suportes analógicos ou digitais. Estou a falar de música. Estou a falar de New Order. Estou a falar da True Faith.
Produzida por Stephen Hague em 1987, True Faith é um dos singles mais populares dos New Order. Reeditada em 1994 e 2001, esta música chegou a estar em quarto lugar nos Tops do Reino Unido no seu ano de lançamento. Popularizada em filmes como American Psycho, ou Bright Lights, Big City, esta faixa foi ainda alvo de covers por bandas como The Wombats ou Anberlin.
Esta foi das primeiras músicas dos New Order com as quais tive contacto. Embora ela nunca tenha sido editada num dos álbuns regulares de New Order, apareceu em algumas compilações como o Substance, The Best of, International, Singles e Total.
Com uma letra tão abstracta como o seu vídeo, é difícil encontrar um sentido real para os versos que a compõem. Como era hábito na altura, o título não surge em qualquer momento da música, e parece de certa forma, desligado do conteúdo e da mensagem que esta transmite.
A interpretação mais comum da letra, retrata a história de um toxicodependente, viciado em heroína, arrependido pela infância que perdeu, e pelas pessoas que a sua dependência afastou. Pessoalmente, prefiro vê-la como um grito à esperança de um futuro livre. Limpo das amarras de um passado repleto de arrependimentos.
Fascinado pela música, pelos seus ritmos positivos, pela ambiguidade da letra, e pela aleatória originalidade por detrás da arte que compõe as suas diversas encarnações, ainda antes de adquirir qualquer álbum dos New Order, procurei efusivamente por este single.
Foi apenas em Setembro de 2004 que desisti de procurar no mercado nacional. Em menos de cinco minutos encontrei o single que há tanto procurava na loja britânica da Amazon. Nunca tinha feito uma compra online, e tinha algum receio que algo pudesse correr mal. Contudo, tal não aconteceu e tive apenas que esperar algumas semanas para o ter. Ao longo dos anos, coleccionei várias versões desta música, quer em Single 7”, Maxi Single 12” e mesmo uma colectânea de remixes, da qual confesso não ser grande fã.
À excepção do single em CD, todas os restantes elementos da minha curta colecção foram comprados em segunda mão. Pela qualidade dos mesmos, quer da capa, quer do próprio disco, presumo que estes pertenciam a pessoas que tinham cuidado com os seus vinis. Se o faziam por gosto, por lhes darem pouco uso, ou por serem donos de lojas com stock para liquidar, não o sei dizer ao certo. Contudo, por vezes encontro-me a pensar sobre as histórias que estes discos escondem. Por quantas mãos passaram. Quem os ouviu e em que situações. Terão assistido ao nascimento de romances? A festas de arromba? Será que foram partilhados entre amigos, ansiosos por descobrir uma música nova? Quantos se sentiram desiludidos? Quantos se apaixonaram?
A True Faith é uma peça estruturante da minha colecção de música, quer em vinil, quer em CD. A sua arte de capa é icónica, e uma das minhas preferidas. Durante anos usei-a como avatar do MSN Messenger, assim como em outras redes sociais. A música em si é parte de mim. Da mesma forma que as diversas versões que hoje possuo são parte integrante da minha memorabilia de New Order.
Cada objecto conta a sua estória. As que viveu e aquelas que o futuro ainda lhe reserva. Esta não é a história de um CD, de um vinil, ou de um mp3. Esta não é a história de uma música, de uma banda, ou de um fã. Esta é a história da True Faith. Esta é a minha história.