Jantar. Mais do que um simples hábito embebido na rotina diária, é também uma necessidade. Mas por mais que a fome, ou a simples vontade de nos alimentarmos, nos force a iniciar qualquer refeição, o jantar é algo mais, é também ele, um evento social.
Não falo dos jantares de curso, de trabalho, entre grupos de amigos, aniversários, festas, familiares, ou até mesmo românticos, mas sim do comum jantar de segunda, terça ou quarta à noite. Uma simples refeição, dois ou três pratos, uma mesa, uma cadeira, e talvez uma televisão. Uma mera equação de relativos factores que se conjugam em mais uma actividade rotineira. Quando vivido a sós, na nossa cozinha, ou sala, é mais fácil de engolir. Prepara-se a comida, vai ao prato, come-se, lava-se a loiça e o dia continua. Já fora de casa, é diferente.
Seja num restaurante, na zona de alimentação de um centro comercial ou numa cantina, o peso de enveredar por esta tarefa a sós é mais evidente. Esperamos na fila ou escolhemos uma mesa onde aguardamos para ser atendidos. Consultamos a ementa, sem nenhuma outra opinião que não a nossa, fazemos a nossa escolha, voltamos a aguardar, comemos, levantamo-nos, pagamos a conta e saímos. Isto sistematicamente, dia após dia, nada de novo, talvez o prato seja diferente, talvez a bebida, mas tudo igual, mais do mesmo.
A sós, jantar fora é mais que o mero saciar de uma fome perpétua, é também uma forçosa observação daqueles que nos acompanham naquele lugar. Estranhos. Alguns, também eles, sós, outros, nem tanto. Sentimo-nos sós no meio de uma multidão. Mesmo com o auxílio das novas tecnologias que nos permitem estar em contacto com alguém enquanto jantamos, a falta de uma conversa, por mais banal que seja, a falta de outra opinião, mesmo contrária à nossa, torna esta experiência sensaborona, insípida, entediante e, vá, chata. Ainda para mais quanto para lá de pontual, tal experiência se torna tão parte do dia-a-dia, como dormir ou respirar.
“Mais vale só que mal acompanhado”, dizem. Talvez tenham razão, talvez nunca tenham ido jantar fora sozinhos vezes suficientes.
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