I used to think that the day would never come, that my life would depend on the morning sun.
True Faith, New Order
Naquele instante não sentia que tivesse conquistado o ciberespaço, nem tão pouco ultrapassado a co-dependência das novas tecnologias. Não. Naquele instante o meu triunfo não era uma qualquer vitória sobre um adversário imponente, mas simples clareza. A certeza de que é possível viver desligado da teia de informação que diariamente se apodera do meu tempo, e que qualquer suspeita do contrário não era nada mais do que uma negação da seguinte verdade: existe vida além da internet.
Por várias vezes afirmei não possuir qualquer tipo de vício. Embora não me permita subjugar pelos vários objectos de prazer que de vez em quando procuro, sempre lidei com a possibilidade de entrar em colapso se alguma vez me visse privado da pequena janela de informação que me mantém dentro do restrito grupo dos modernos illuminati: a internet.
Após um período de quase dois meses sem qualquer acesso a um computador, em que os únicos instrumentos de comunicação se reduziam a um telemóvel e uma TV, posso afirmar que não sinto qualquer necessidade de me manter ligado. Confesso que tal suscitou alguns imprevistos, nomeadamente a nível académico, ou não estivesse eu ligado a uma área em que o computador é a principal, se não mesmo, a única ferramenta do ofício. Mas ao pôr de lado essa necessidade, a maior auto-estrada de informação à face do planeta acaba por se revelar bastante limitativa.
Com o tempo livre que ganhei ao ser forçosamente separado do meu PC, pude rededicar-me à leitura, descobrir novas séries e filmes, e passear um pouco pelas regiões vizinhas. De facto, o maior obstáculo era inventar novas coisas para ocupar o meu tempo – não tinha noção de quanto tempo livre realmente tinha até me ter visto livre daquilo que ocupava a maior parte do meu dia. A partir de agora irei sempre estranhar aquelas pessoas que dizem que 24 horas não são suficientes. Se for o caso, pergunto-vos, estão a aproveitar bem o vosso tempo?
Agora sinto uma maior clareza. Começo a aproveitar o meu tempo ao máximo, e a dar valor aos pequenos momentos de descanso que consigo encaixar nos meandros dos meus habituais afazeres. A verdade é que, até há pouco tempo, limitava-me a consumir rios de informação desnecessária e completamente inútil, hoje, a menos que esteja envolvido nalgum projecto, mal consigo estar mais de quinze minutos em frente a um monitor sem me aborrecer e ir procurar algo mais para ocupar o meu tempo.
Apenas lamento ter sido forçado a adiar alguns projectos que pretendo desenvolver online, mas à parte disso, por mais sedutora que toda a informação do mundo possa parecer, há algo a dizer sobre o mundo real que, apenas ao entrar off-line, começamos a ver com olhos dignos do seu encanto.
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