Friday, January 19, 2007

Exames

1) Isto é uma pergunta? Justifique.

R.: Isto é uma resposta, interprete.

Thursday, January 11, 2007

Overhearing

Imagem DR
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas possam ir embora. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.

Fernando Pessoa

Cada objecto nasce de uma simples ideia. Uma semente que brota de um temeroso e sofrível processo criativo que, na maioria das vezes, apenas dá origem a um fruto intragável. Uma premissa que no início se apresenta como atraente, pode revelar-se inútil, ilusória ou inexequível. Que fazer com algo que fica aquém do esperado? Com algo cuja qualidade deixa muito a desejar. Ou que demonstra ser nada mais que uma pirâmide de minúcias frustrantes?

Matar. É preciso saber matar os nossos “bebés”. Ou os nossos “queridos” se a imagem anterior for demasiado forte para os vossos frágeis estômagos. Este foi o caso de “Overhearing”. Uma curta-metragem de minuto e meio de duração. O meu primeiro projecto em vídeo na faculdade. Projecto esse que nasceu torto e não mais se endireitou.

Vítima de um bloqueio criativo, de falta de meios, e de pessoas predispostas a actuar segundo a minha direcção, vi-me perdido, de câmara na mão, sem saber o que fazer.

A minha ideia original era simples e algo interessante. Um rapaz que passeava pelas ruas do Porto, perdido no Universo dos seus pensamentos, tropeça na conversa de dois estranhos que cruzam o seu caminho.

Queria filmar uma conversa quotidiana e descontextualizada entre um casal que cruzasse o caminho do personagem principal. Sabia que rua queria usar. O tema escondido da conversa. Tinha uma ideia de quem podia ser o casal. E queria gravar tudo isto através do olhar do protagonista, com um ou outro plano dele e do casal para dinamizar a narrativa do vídeo.

Enfim, queria colocar o espectador no meu lugar. Queria que vivessem um pouco dos percursos solitários que forçosamente fazia todos os dias. Queria partilhar com o Mundo a beleza dos aleatórios e incoerentes encontros que alimentam a mais banal das viagens casa/trabalho, ou escola/casa.

“Overhearing” era a minha forma de comunicar a solidão do meu percurso. De mostrar o quão partilhada é esta solidão. Uma solidão acompanhada, por entre aglomerados de vidas interligadas. Desligadas, sós, mas ao mesmo tempo unidas, completas por momentos de ligação sem qualquer planeamento ou previsão.

Contudo, o resultado final não representou nada disso. Sem ninguém com quem contracenar, acabei por filmar um percurso simples, sob o ponto de vista do protagonista que vai de casa até à estação. Sem diálogos. Sem qualquer encontro. Apenas uma ou outra pausa. A porta de um comboio a abrir-se. E esse mesmo comboio a partir.

Durante alguns anos deixei esse vídeo no Youtube e aqui no blogue. Cheguei mesmo a partilhá-lo no primeiro rascunho do meu portefólio. A sua fraca qualidade, e o facto do mesmo nada ter a ver com o objectivo que inicialmente desejava executar, fizeram-me apagar todo e qualquer vestígio do mesmo online.

Não soube matar o meu “querido”. Não encontrei outra inspiração que não essa, e o meu bloqueio criativo persistiu por mais algum tempo.

Nem todos os projectos foram cunhados para o sucesso. Alguns devem ser logo descartados. Outros jamais irão além do medíocre ou do razoável. “Overhearing” tinha algum potencial, faltaram-lhe os meios, as pessoas e a criatividade. E assim morreu.

Talvez um dia o revive. Talvez um dia o escreva. Talvez um dia o grave. Para já, regressa às gavetas da memória, eternamente adormecido nos primórdios de uma alma criativa ainda por lapidar. 

Wednesday, January 10, 2007

Uma Verdade Inconveniente

Imagem DR
"Estamos a matar o planeta." Esta é a afirmação mais presunçosa e estapafúrdia que alguma vez ouvi. Fala-se em aquecimento global, poluição, proliferação de armas de destruição maciça, energia nuclear, terrorismo, etc. E continuam a dizer que estamos a "destruir" ou a "matar" o planeta? Podemos ser mais egocêntricos e megalómanos? Como pode uma espécie que por cá anda há cerca de 500 mil anos, achar-se poderosa o suficiente para destruir o planeta?

Uma mera passagem sob o parágrafo anterior vai criar ondas de contestação, ou no mínimo de estranheza. Mas antes de se precipitarem em preconceitos, leiam isto até ao fim e talvez compreendam o meu ponto de vista.

Hoje tive a oportunidade de ver o documentário do Al Gore, "An Inconvenient Truth". Fiquei impressionado, não pelo que foi dito, já que a grande maioria daquelas verdades já eram do meu conhecimento, mas por ser um ex Próximo Presidente dos E.U.A. a divulgar esta mensagem que há muito vem a ser ignorada.

Não estou a dizer que o que foi dito no documentário está errado. Pelo contrário, não podia estar mais correcto. Ao longo do último século poluímos o nosso ar, a nossa água, destruímos habitats, levámos espécies à beira da extinção e até exterminámos algumas. E quantas dessas não terão ficado ainda por descobrir?

Somos uma espécie descuidada, que olhou para o progresso científico sem pensar nas consequências. A nova ciência é totalmente desprovida de moral. Os investigadores limitam-se a pegar em estudos anteriores e a dar o passo seguinte, alienando-se assim de qualquer tipo de responsabilidade.

"Não fui eu que comecei isto. Lá por que o acabei, não quer dizer que tenha que levar com as consequências." É exactamente este tipo de atitude que leva um país como os E.U.A. a não rectificar o protocolo de Quioto, e que levou os avanços tecnológicos do último século a criarem todos estes problemas que agora deixamos para as próximas gerações tentarem resolver.

Sim, mesmo que comecemos a mudar os nossos hábitos agora, o ambiente ainda vai levar cerca de cinquenta anos a recuperar. Contudo, isto não é motivo para não agir, muito pelo contrário, é razão mais do que suficiente para nos levantarmos do sofá.

Tudo isto podem ver por vós próprios, seja através do documentário, ou numa simples pesquisa. A informação está toda espalhada, basta encontrá-la e juntar as peças.

Mas o que realmente querem saber, e o que ainda vos intriga, é "se pensas assim, e concordas com isto tudo, porque raio escreveste aquele primeiro parágrafo?" Talvez tudo se resuma a uma questão de semântica: Nós não estamos a destruir o planeta. A Terra já atravessou desastres ecológicos astronomicamente maiores, e incomparáveis com aquele que estamos a atravessar, e sobreviveu.

A Terra era um planeta jovem e saudável muito antes das primeiras formas de vida aparecerem. A verdade é que o que estamos a fazer é a destruir o nosso "Mundo", o nosso presente, e o futuro dos nosso filhos.

Estamos a destruir o ambiente, e as condições favoráveis à vida que neste momento habita este planeta. Estamos a pôr em perigo o mais variado tipo de formas de vida, e o nosso próprio futuro. A espécie humana não é tão invulnerável a estas alterações como podemos pensar.

Pode ser trágico pensar desta forma, mas a Terra vai continuar aqui muito depois de nós desaparecermos. As espécies que hoje conhecemos vão se extinguir, mas outras surgirão para ocupar o seu lugar. As massas continentais vão deslocar-se e aproximar-se. Oceanos vão desaparecer, montanhas erguer-se-ão. A Terra vai continuar o seu ciclo habitual, até o Sol se tornar num gigante vermelho e a engolir.

Como podem ver, não podemos falar em "destruir" o planeta. Nós somos apenas um vírus a atacar os ecossistemas e a frágil biosfera terrestre. Mas o planeta, esse, mantém-se intacto e pronto para nos dar uma lição.

É por isso que devemos começar já a tratar o planeta com respeito, e a fazer todos os possíveis para minimizar o nosso impacto num ambiente tão frágil. Podemos estar cá há pouco tempo, mas já excedemos o nosso convite.