Tuesday, December 31, 2024

As Terras do Meu Verão

Foto: Paleokastritsa (Corfu, Grécia); Autor: Adriano Cerqueira

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Escalas

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Monday, December 23, 2024

O Regresso da Véspera da Véspera de Natal Parte XVIII

366 dias, 237 entrevistas, 90 Segundos de Ciência, 26 Bilharacos, mais de três mil anos de “Eureka! As Descobertas Que Mudaram o Mundo”, quatro cortes nas taxas de juro, um litro de azeite no joelho, e 0 pencas depois, sejam bem-vindos a mais um episódio do Regresso da Véspera da Véspera de Natal, a tradição anual mais aguardada pelos fiéis seguidores da Igreja Universal do Sagrado Chinelo, e por todos aqueles cujo ódio a pencas os une neste santo dia.

Anteriormente em A Véspera da Véspera de Natal:

“É o Mindo! Ele está vivo. Está a comer queijadas com o Eça de Queiroz, mas está vivo!”

“Grande Scott Pilgrim, esqueci-me de calcular para o peso destes passageiros. Estamos no sítio certo mas o carro perdeu óleo.”

Depois:

Mindo, o Capitão Iglo e a Menina do Gás entram no Punto GT e juntam-se aos restantes. Doc, o Brown, coloca as coordenadas para o presente, desta vez sem se esquecer de calcular o peso do Mindo e da toalha de Eusébio.

O alfa arranca e começa a empurrar o Punto GT. Jesus, o Cristo, que por ali descansava já fora das suas palhas, vê o Punto GT desaparecer numa bola de raios, coriscos, e secretos de porco preto.

Ao seu lado, a figura imponente com um casaco de cabedal e óculos de sol aparece por entre as sombras da floresta e toca no seu ombro.

“O Mindo foi sinalizado como alvo para exterminação, vem comigo se quiseres que ele viva”.

Entretanto, no Punto GT, o Capitão Iglo, a Menina do Gás, Jesus, o Jorge, Jorge, o Palma, Mindo, Doc, o Brown, e a toalha de Eusébio estão a ser empurrados pelo alfa.

“Quando é que chagamos aos oitochentcha e oitcho?”, grita Jesus, o Jorge, abalado pelas vibrações do Punto GT.

Raios, coriscos, e secretos de porco preto começam a envolver o veículo à medida que o ponteiro se aproxima dos 90. Um curto-circuito – daqueles eléctricos, não o que dá na SIC Radical (sim, ainda dá, não o cancelaram depois do Alvim e do Unas saírem de lá) – como estava a dizer, um curto-circuito atinge o capacitador de fluxo.

“Grande Sco…” mas antes de terminar a palavra Doc, o Brown, Mindo, a Menina do Gás, os restantes passageiros, e o Punto GT desaparecem de vista.

Horas mais tarde Mindo desperta no colo de Jorge, o Palma, envolto na toalha de Eusébio. Estão ainda dentro do Punto GT mas algo parece diferente.

“Isto é subjectivo”, diz Mindo com o arraste de voz de alguém que acabou de acordar com uma enorme dor de cabeça.

À sua volta está uma floresta não muito diferente daquela que existia em torno do Ramalhete mas nem o alfa, nem a linha de comboio, nem as queijadas, nem as soirées, por ali se encontravam.

“Um curto-circuito abalou o capacitador de fluxo e viemos parar ao destino errado. É o que dá usares óleo de mistura em vez de girassol, Doc”, explica o Capitão Iglo olhando para Doc, o Brown, com ar de quem não vai partilhar o último douradinho com ele.

“Destino, não. Data errada. E se queres vai tu comprar o óleo que nem com os descontos de Natal do Continente eu tenho dinheiro para pagar isso”, responde Doc, o Brown.

“Onde… Quando viemos parar?”, questiona a Menina do Gás.

Jorge, o Palma, procura por uma garrafa de uísque para com quem ter uma conversa já que Jesus, o Jorge, ainda não decidiu que pronúncia de portunhol melhor se adequa à sua situação.

“33”, responde Doc, o Brown.

“Há 33 anos? Estamos em 1991? Mais um pouco e podíamos ir visitar a Expo 97”, diz a Menina do Gás.

“Sempre quis ir ao Tripanário”, responde o Capitão Iglo.

“Antes fosse, mas não. Estamos no ano 33. O Ramalhate. Não. Pior. As queijadas ainda não foram feitas e o pessegueiro de D. Marcelo, o Afecto ainda não foi plantado”, suspira Doc, o Brown, levando as mãos à cabeça em desespero.

Jorge, o Palma, desiste de procurar um uísque para com quem ter uma conversa e pergunta a Doc, o Brown, se não podiam simplesmente usar o Punto GT para regressar para o presente.

“Consigo reparar o capacitador de fluxo mas o Punto GT continua sem óleo e o próximo alfa só volta a passar daqui a dois mil anos”

“Ano trinte e três? Conheço um tipo que é capaz de nos ajudar”, diz Jesus, o Jorge, que perante o desespero da situação decide ser eloquente. “Temos só um problema”, acrescenta.

“Qual?”, pergunta Doc, o Brown.

“Ele vive na Galileia e segundo me lembro é por esta altura que o vão tirar das suas palhas”.

Uma esfera de raios, coriscos, e cebolada de moelas, aparece de repente próxima do Punto GT. Dentro dela está a figura imponente com um casaco de cabedal e óculos de sol.

“Não devias estar nu?”, pergunta a toalha de Eusébio.

“Isso é subjectivo”, exclama Mindo ainda zonzo e triste por não encontrar nenhum íman por ali perto.

“Venham comigo se quiserem regressar ao presente”, exclama a figura imponente esticando a mão.

A esfera de raios, coriscos, e cebolada de moelas, expande. Mindo, Jesus, o Jorge, a Menina do Gás, e o Capitão Iglo, aceitam o convite, deixando Doc, o Brown, Jorge, o Palma, e a tolha de Eusébio para trás para finalizarem as reparações no Punto GT.

A esfera envolve o grupo e transporta-os para a Galileia onde um jovem Jesus, o Cristo, estava a acabar de montar uma mesa do Ikea para um cliente.

“Trouxeste-me as queijadas?”, pergunta Jesus, o Cristo, ao aperceber-se da presença da figura imponente com um casaco de cabedal e óculos de sol.

“Esqueçeram-se-mas”, responde o Capitão Iglo, piscando o olho a Mindo.

“Eu pedi-te para relembrares o Eça antes de voltares”, diz uma voz do interior da casa. Na porta está Jesus, o Cristo, o actual, não o jovem, Fernando Pessoa e os seus heterónimos.

“Isto é demasiado ai Jesus para a minha cabeça”, suspira a Menina do Gás confusa com a presença dos heterónimos e com os dois Jesuses à sua frente.

Uma carrinha dos Pregos Garcia passa por ali sem parar e a fazer sinais de luzes.

“Está quase na hora de ires para o jardim”, diz Jesus, o Cristo, o actual, a Jesus, o Cristo, o jovem.

“Porque é que a carrinha diz que tem dois mil anos de garantia se estamos no ano 33?”, pergunta Jesus, o Jorge.

“Quando encontras um slogan que funciona não vale a pena mudar”, responde Fernando Pessoa e os heterónimos.

“Estamos a ficar sem tempo”, reforça a figura imponente.

“Ok, ok. Já percebi que não me trouxeram as queijadas mas como combinado transformei este vinho em azeite”, responde Jesus, o Cristo.

“Não era suposto ser água?”, pergunta a Menina do Gás.

“Não, Doc, o Brown, pediu azeite. Era mais fácil transformar em vinagre, mas enfim, eu gosto de desafios.”

A figura imponente segura no garrafão de azeite e reactiva a esfera de raios, coriscos, e cebolada de moelas. Jesus, o Cristo, Mindo, a Menina do Gás, o Capitão Iglo, Jesus, o Jorge, Fernando Pessoa e os seus heterónimos entram na bolha.

Na estrada Virgílio e Dante passeiam em direcção a Jerusalém para perguntar sobre a situação política em Florença.

“Isso é subjectivo” grita Mindo, antes que qualquer um possa abrir a boca. E tão rápido como chegou, Mindo e o seu grupo desaparecem de vista.

De regresso ao Punto GT, Doc, o Brown, finaliza as reparações no capacitador de fluxo.

A esfera reaparece e dentro dela regressa Mindo e o seu grupo, agora com Jesus, o Cristo, Fernando Pessoa e os seus heterónimos.

A figura imponente despede-se deles e reinicia a esfera.

“Espera. Não tinhas dito que o Mindo foi sinalizado como alvo para exterminação?”, pergunta Jesus, o Cristo, ora nas palhas estendido, ora nas palhas deitado.

“Quando regressarem ao presente perguntem a Vasco da Gama para vos levar ao pessegueiro de D. Marcelo, o Afecto na sua nau espacial. Explicarei tudo lá”.

“Como é que vamos meter toda esta gente no carro?”, pergunta Jorge, o Palma.

“Fernando Pessoa e os heterónimos vão na mala, os restantes vão ter que ir ao colo uns dos outros”, responde Doc, o Brown, finalizando as reparações do capacitador de fluxo.

“Não é óleo de girassol mas deve chegar”, diz o Capitão Iglo depois de despejar o garrafão de azeite no depósito do carro.

“Usaste o cupão de 10%?”, pergunta Jesus, o Jorge, a Jesus, o Cristo, enquanto este abre a app do Continente para fazer recuperar cupões.

Doc, o Brown, regressa ao volante do Punto GT e introduz as coordenadas para o presente. Mindo, o Capitão Iglo, a Menina do Gás, a toalha de Eusébio, Jesus, o Jorge, Jorge, o Palma, e Jesus, o Cristo, entram no carro, enquanto Fernando Pessoa e os seus heterónimos aconchegam-se na mala.

“Para onde vamos, não precisamos de estradas”, diz Doc, o Brown, sem que ninguém lhe fizesse o set up para usar essa frase.

O Punto GT começa a levitar graças ao azeite transformado em vinho.

“Não era o vinho que tinha sido transformado em azeite?”, pergunta a Menina do Gás.

Isso. Devido ao vinho transformado em azeite. E desaparece do ano 33.

De regresso ao presente, a figura imponente com um casaco de cabedal e óculos de sol aparece junto ao pessegueiro de D. Marcelo, o Afecto. Uma mala estranha que parece abandonada encontra-se junto à base do tronco.

A figura imponente abre-a e um contador com números vermelhos começa a andar para trás. Restam 59 minutos e 59 segundos.

É uma bomba? Um aviso? Será que o Mindo vai finalmente encontrar um íman?

Não percam o próximo episódio, porque nós também não!

Esta épica história regressa na próxima Véspera da Véspera de Natal.

Até lá continuem a celebrar o dia mais aguardado ao longo de todo o ano. Dediquem estas horas a espalhar pelo Mundo as palavras de felicidade que só um dia como o 23 consegue transmitir, não se esqueçam de pagar o condomínio, e lembrem-se que os vossos amigos que nasceram a 29 de Fevereiro só voltam a fazer anos em 2028.

Pois hoje é a Véspera da Véspera de Natal, dêem as mãos e cantem todos comigo:

Morram pencas, morram! Pim!

Monday, January 29, 2024

Do Supercontinente Dominado por Dinossauros ao Movimento das Placas Tectónicas

Ilustração de Ricardo Galvão

Quando olhamos para um mapa, o nosso primeiro instinto passa por encontrar o nosso país ou a nossa cidade. Se estivermos com vontade de viajar, talvez paremos para traçar a distância entre a nossa casa e o próximo destino de férias. Mas, se nos afastarmos um pouco e começarmos a observar o traçado de cada continente, começamos a ver algumas semelhanças.

A mais óbvia é a forma como a costa da América do Sul parece encaixar perfeitamente com a costa africana. Como duas peças de um puzzle à escala continental.

Mais estranha esta coincidência fica quando descemos ao terreno e encontramos estruturas geológicas, como vales e montanhas, que parecem ter sido partidos ao meio pela separação destas duas massas continentais.

Para além disso, quando escavamos o solo, encontramos rochas e fósseis idênticos em ambas as margens dos continentes.

Atualmente, sabemos que isto acontece porque África e América do Sul fizeram parte de um supercontinente chamado Gondwana, juntamente com Madagáscar, com o subcontinente indiano, com a Austrália e com a Antártida.

Este supercontinente começou a separar‐se há cerca de 140 milhões de anos, num mundo ainda dominado por dinossauros. E, muito antes disso, a própria Gondwana tinha‐se já separado de outro supercontinente, conhecido por Pangeia que, para além da Gondwana, era composto também pelas massas continentais que um dia viríamos a chamar de Europa, Ásia e América do Norte.

O movimento dos continentes e das placas oceânicas é hoje conhecido por tectónica de placas. Um fenómeno que moldou a superfície da Terra desde há 3,4 mil milhões de anos e que continua ativo ainda hoje.

Placas Tectónicas

Se cortarem uma cebola ao meio, podem ver que esta é feita por camadas que se diferenciam a partir de um núcleo central. E, tal como acontece com a cebola, também o nosso planeta está dividido em camadas.

A camada que vai desde a superfície até uma profundidade entre os 40 e os 70 quilómetros é conhecida por crosta. A crosta é constituída maioritariamente por rocha sólida e tem uma espessura que pode variar entre os 5 e os 70 quilómetros.

A parte mais fina da crosta terrestre pode ser encontrada na bacia oceânica. Esta é composta essencialmente por basalto, uma rocha vulcânica, e tem uma espessura que varia entre os 5 e os 10 quilómetros.

Por baixo da crosta está o manto. O manto é a camada mais espessa da estrutura terrestre, atingindo uma profundidade de 2900 quilómetros. Esta camada está, na verdade, dividida em duas, o manto superior e o manto inferior, separados por uma zona de transição.

O manto é composto por minerais de silicatos ricos em ferro e magnésio que, por ação da pressão e das temperaturas elevadas, adquire uma viscosidade que lhe confere propriedades próximas às de um líquido.

A viscosidade destas rochas faz com que elas se movam em correntes de convecção entre o limite do núcleo e a crosta. O material mais quente sobe enquanto o material mais frio se afunda.

O movimento destas correntes tem um papel fundamental na tectónica de placas, permitindo que estas se movam.

A seguir ao manto encontramos o núcleo. Este está dividido em duas regiões, o núcleo externo e o núcleo interno. O núcleo externo é uma camada líquida composta essencialmente por ferro e níquel e situa‐se entre os 2900 e os 5150 quilómetros de profundidade.

O núcleo interno está a 6371 quilómetros de profundidade e é onde, por fim, chegamos ao centro da Terra. Mas, em vez de uma praia paradisíaca com dinossauros e homens primitivos, o núcleo interno da Terra é na verdade uma camada sólida com 70% do tamanho da Lua composta por uma liga de ferro e níquel. Esta camada tem uma temperatura média próxima da da superfície do Sol, atingindo os 5430 °C.

De regresso à superfície, para explicar a tectónica de placas primeiro precisamos de compreender a natureza da litosfera e da astenosfera.

A litosfera é a camada sólida mais exterior do nosso planeta e é composta pela crosta e pela parte superior do manto, podendo atingir os 100 quilómetros de profundidade. Já a astenosfera é a zona superior do manto terrestre, localizada entre os 80 e os 200 quilómetros de profundidade.

É na litosfera que encontramos as placas tectónicas que assentam e interagem diretamente com a astenosfera.

Como a astenosfera é uma camada menos rígida que a litosfera, esta permite que as placas tectónicas se movimentem sobre si. Isto faz da astenosfera uma camada fundamental para a movimentação horizontal e vertical das placas tectónicas.

Como se lembram, este movimento é alimentado pelas correntes de convecção entre o manto e a crosta terreste.