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A recordação é o perfume da alma. É a parte mais delicada e mais suave do coração, que se desprende para abraçar outro coração e segui-lo por toda a parte.
George Sand
Ano e meio depois, voltei à Casa da Pedra. Retenho de lá mais memórias da minha passagem pelo INESC Porto, agora INESC TEC, do que de qualquer outra coisa. Ultimamente deixei de pedir queijo sempre que como uma francesinha. Este é normalmente substituído por uma camada extra de fiambre. Não é a mesma coisa, mas, infelizmente, não posso continuar a brincar com a minha intolerância.
Embora o regresso à Casa da Pedra esteja, desta vez, ligado ao aniversário de um amigo, e à minha estreia do Jurassic World em IMAX, aquele espaço, e as suas francesinhas, sempre estiveram, de certa forma, ligadas à minha passagem pelo INESC Porto. Era 16 de Janeiro de 2011, tinha-me despedido de Coimbra há dois dias. Era domingo e amanhã regressava ao Porto para começar a trabalhar no INESC Porto. Eu, e alguns amigos, decidimos celebrar o meu regresso a “casa” com uma francesinha no L’Auberge no Furadouro. Não sei se foi pelo momento que esta representava, ou pela qualidade do cozinheiro que entretanto se mudou para outras paragens, mas aquela foi, naquele dia, a melhor francesinha que alguma vez tinha comido fora do Porto. E assim se manteve até ao momento que lá regressámos.
Desde que o L’Auberge trocou de cozinheiro, as suas francesinhas, não mais voltaram a ser tão boas como antes. Apesar de ainda manterem algum nível de qualidade, não chegam sequer a rivalizar com as do Alicarius em Aveiro. O actual número um na nossa lista da melhor francesinha fora do Porto. Infelizmente, também eles mudaram recentemente de gerência e de cozinheira. Mal soubemos desta inevitável mudança, combinámos um regresso ao preciso local onde tudo começou.
Curiosamente, as mesmas pessoas com quem partilhei essa última noite no Alicarius, foram aquelas que me acompanharam nesta recente visita à Casa da Pedra. O Paulo, o Luís, o João, e a Fabiana. Os últimos quatro que, comigo, provaram a última infame francesinha com pão da avó, do Alicarius. Desde essa noite que lá não regressei. Talvez a qualidade da francesinha se mantenha igual, talvez esteja melhor, ou, talvez tenha piorado. Para já, esse é um mistério que não anseio por resolver.
A minha passagem pelo INESC Porto não foi mais longa que um ano. Contudo, foi tempo suficiente para criar amizades que ainda hoje mantenho, para conhecer novos locais, para ganhar experiência e para visitar restaurantes como a Real Churrasqueira e a Casa da Pedra, um dos meus locais preferidos para comer francesinhas no Porto.
Tudo muda com o tempo. O emprego, as pessoas, as cidades, os gostos, e até mesmo o paladar. Este ano, num curto espaço de tempo, já me despedi de algumas coisas que tomava como garantidas. Coisas que faziam parte da minha rotina, e que, nem sempre, as pude aproveitar da melhor forma possível. O Alicarius é apenas mais uma numa longa lista de despedidas que jamais terminará de crescer. É assim que a vida funciona. Um breve momento que sobrevive apenas na memória daqueles que o partilharam.
Ainda me lembro da primeira vez que visitei o Alicarius. Eu, o Paulo e o Luís. Estávamos lá não apenas para provar a francesinha, mas também para debater ideias para um novo projecto que queríamos fazer em conjunto, o Rarely Interesting. Um site sobre tudo, com críticas a jogos, livros, música e filmes. Um site que morreu à nascença, mais pela minha falta de empenho, que a deles. Um projecto que, infelizmente, não foi para a frente, e que volta e meia, penso tentar ressuscitar. Apenas mais uma numa longa lista de ideias que acabam por nunca sair do papel.
Foi esse o pretexto que me deu a conhecer aquela que é, ainda hoje, a melhor francesinha fora do Porto. Por enquanto, não posso aconselhar ninguém a lá regressar, pois ainda não provei os produtos da nova gerência, nem tão pouco conheço quem o tenha feito.
Talvez um dia lá regresse. Talvez um dia essas memórias voltem a solidificar-se num local que é muito mais para mim, para nós, que um mero restaurante. Tenho saudades desta constante.
Anseio por constantes, nas quais ainda me possa rever. São cada vez menos, e cada vez mais escassas. Para já, resta-me a Casa da Pedra e o Verso em Pedra. Talvez por terem pedra no nome, movem-se lentamente pelo tempo com a confiança de um continente granítico, e a estabilidade de uma rocha resguardada dos efeitos da erosão.
Mas por agora, apenas me resta dizer três simples palavras. Até sempre, Alicarius. Até ao meu regresso. Até uma próxima recordação.
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