Thursday, January 22, 2015

Boyhood

Boyhood
You know how everyone's always saying seize the moment? I don't know, I'm kind of thinking it's the other way around, you know, like the moment seizes us. 
Nicole, Boyhood

Boyhood é uma história simples, mas assim é a vida. Assim é crescer. Boyhood não é apenas um filme. É uma experiência. Um retrato de uma geração. São doze anos de investimento. É o trabalho de uma vida. É o sonho de Richard Linklater.

Filmado ao longo de doze anos, Boyhood segue a vida do jovem Mason, protagonizado por Ellar Coltrane, uma criança de seis anos, um adolescente de catorze anos, um jovem adulto acabado de entrar na universidade. A infância e a adolescência de Mason confundem-se com a de Ellar, pois também ele cresce, também ele vive com este projecto, com este filme, sempre guardado nos momentos especiais de cada ano de produção. De cada ano de crescimento.

Foi uma aposta de risco de Linklater, uma tarefa com tudo para correr mal. Um desafio que, mesmo que não tivesse chegado ao fim, seria honrado pela tentativa de criar algo único, algo histórico. Felizmente, o filme foi um sucesso, a experiência foi um sucesso. Ellar não comprometeu, assim como Lorelei Linklater, a filha do próprio realizador, que fez de irmã de Mason, também ela seguindo de perto o crescimento desta história, desta personagem, e deste actor.

Boyhood conta uma história simples. Uma história comum, já muitas vezes partilhada. Mas agora sobre uma perspectiva única, através dos olhos de uma criança. De uma criança que cresce. De um país que se desenvolve, que lida com as desavenças de um futuro incerto, e de uma economia descontrolada e imprevisível.

Mason, e a sua irmã Samantha são filhos de pais divorciados. Dois pais que se casaram demasiado novos. Dois pais com um rumo ainda por descobrir. Em Ethan Hawke e Patricia Arquette vemos dois caminhos paralelos, dois caminhos inversos. Um músico sem qualquer plano que viaja para se encontrar. Uma mãe divorciada com aspirações e com um doutoramento em psicologia no seu horizonte.

Ambos encontram-se algures pelo meio, sempre com Mason como pretexto para uma breve partilha de novidades e pontos de situação. Os maridos alcoólicos e possessivos de Patricia, a mulher que finalmente faz Ethan assentar e tentar novamente construir uma família. Um novo começo para Ele. Um destino ainda por descobrir para Ela.

Mason vive tudo aquilo que um qualquer rapaz experiencia nos breves e curtos momentos que a vida nos permite crescer. Apaixona-se. Testa os seus limites. Cria e destrói amizades. Recria momentos. Fortalece laços. Expressa-se. Viaja. Segue em frente. Percorre todos os caminhos possíveis. Todos os caminhos que o levam até à sua arte.

Mason não é uma criança especial. Não é um jovem especial. Mason é como nós. Apenas mais um rapaz americano do Texas que acompanha os incidentes de uma sociedade que se transforma, que cresce, que se diferencia. Um rapaz que gosta do Dragon Ball. Que bebe com os amigos. Que faz planos com a sua namorada. Que se dedica à sua paixão pela fotografia. Um rapaz talentoso, culto e preguiçoso. Não é o típico adolescente americano, mas também não é alguém que se destaque numa multidão. Mason é apenas igual a si próprio.

Alguém que cresceu. Alguém que vimos crescer. Alguém que aprendemos a compreender ao longo de doze anos, reduzidos a pouco mais de duas horas. Doze anos que passaram rápido. Um piscar de olhos para alguns de nós. Uma vida inteira para Mason.

Boyhood é uma história breve, mas assim é a vida. Assim é crescer.

Thursday, January 15, 2015

Quase Literatura

Imagem DR
Essa [literatura] simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego

Por que escrevo? Por uma inata necessidade de me expressar? Para me fazer ouvir? Para partilhar os meus pensamentos? Para contar as minhas histórias? Apenas porque sim, ou porque é esta a minha arte?

Não sei porque escrevo. Não sou capaz de encontrar por entre palavras forma alguma de descrever o que me motiva. A força, a energia, a vontade de transformar uma página em branco num pensamento, numa ideia, num manifesto, numa história, ou num exercício lírico. Talvez seja por isso que não sou um bom escritor. Pelo menos, não um capaz de satisfazer a minha perpétua exigência. Não, não sou um bom escritor. Ou escritor sequer. Não vivo disto. Apenas escrevo. Apenas escrevo...

Lembro-me de quando comecei a escrever para mim. Não porque fazia parte de algum trabalho da escola, ou de um imperativo de comunicar textualmente com alguém. Apenas porque sim. Queria partilhar uma ideia. Contá-la não apenas a mim, nem tão pouco àqueles que me rodeavam, mas sim partilhá-la com o Mundo. Com todos aqueles que pudessem encontrar em mim alguma espécie de reconhecimento e compreensão.

De algumas incoerentes linhas de palavras sem nexo, para indignados protestos, crónicas do dia-a-dia, manifestos activistas, contos, romances, comédias, poemas, e frases atrás de frases de ideias, pensamentos, e acções que, ano após ano, sempre mantiveram algum daquele estilo incoerente e desafiador de uma norma que nunca foi verdadeiramente aprendida.

Não é o blogue que me move. Não é uma coluna, uma nota ou um artigo. Nem tão pouco um jornal. Escrevo apenas porque sim. Porque há um ano encontrei uma peça de lego amarela no chão e quis partilhar esta história. Porque a equipa que apoio foi injustiçada e sinto a necessidade de o expor. Porque a história das personagens que criei num pensamento, num sonho, ou num qualquer momento do meu dia, merece, aliás, não, precisa de ser contada.

Escrevo porque há sentimentos que não consigo guardar. Porque há desejos que quero partilhar. Pessoas que quero ajudar. Almas gémeas que quero conhecer. Escrevo porque é parte de mim. É parte de quem eu sou. Naquela linha ténue que nos separa do resto do Mundo, são as minhas palavras, os meus pensamentos, verbais ou literários, que me mantêm constante. São elas quem me guarda, quem me indica o caminho.

São recados. Cartas. De mim para mim. De mim para quem as quiser ler. Para quem me quiser ouvir. Para quem me compreende. Para quem me deseja entender. São vozes amigas. Recordações. Histórias para desanuviar. Personagens com quem chorar, sorrir, amar. Amizades eternas. Saudades curadas ao virar de uma página. Ao suspirar de um sonho. Ao despertar de mais um dia.

Sei quem sou por aquilo que escrevo. Aquilo que escrevo é parte de quem eu sou. Com o silêncio digo muito. Com uma folha silencio o vento. Afasto-me para um local só meu onde, uma boa conversa, dá lugar a uma frase. E a outra. A outra. E a ainda mais uma. Estas dão lugar a ideias. A realidades. A Universos inteiros. A vidas que apenas tu conheces se estas não forem contadas.

Podes nunca vir a ser um Tolkien, um Martin, um Saramago, um Pessoa, um Queirós, nem tão pouco um King, ou um Sparks. Mas escreves. Expressas-te. Dás-te a conhecer. A ti e a quem te lê. Deixas de ser apenas mais uma voz, tímida por entre a multidão. És algo mais. Algo que te ultrapassa. És a tua arte. Tu és arte.

Não sei escrever. Não sou escritor. Apenas escrevo. Apenas sigo aquilo que não sei pôr por palavras. Aquilo que me move. Aquilo que me fez encher esta, e tantas outras páginas. Desde que me conheço. Desde que penso. Desde que sei. Desde que escrevo.

Não sou um bom escritor. Mas é esta a minha arte.