Nautilus, Foto DR |
He was still too young to know that the heart's memory eliminates the bad and magnifies the good, and that thanks to this artifice we manage to endure the burden of the past.
Gabriel García Márquez
Cada objecto conta uma história. Do processo de fabrico, à origem do material, das mãos que por ele passam, até ao momento em que é comprado. Cada objecto tem a sua história, mas é também ele uma personagem nas vidas dos seus donos. Um narrador omnisciente de breves instantes. Um ícone de um certo local. Uma recordação de um momento.
Objectos que povoam as nossas casas, os nossos quartos, os nossos bolsos, e os nossos corpos. Que retemos, guardamos, exibimos e partilhamos. Há sempre um espaço reservado apenas para eles.
Quando desenhamos o interior da nossa casa, temos uma certa tendência para seguir os padrões que os nossos gostos pessoais, e as modas do momento definem como paradigma. Há certas regras de design de interior que até o mais comum dos leigos procura manter. Jogar bem com as cores, deixar espaço para os objectos e a própria sala respirarem, controlar as entradas de luz, e investir no mais simples dos confortos.
Ir mais além destas bases, já depende da imaginação, e da visão de cada um. Cada casa é diferente. Mesmo entre duas casas idênticas, a decoração interior pode espelhar duas realidades opostas. Por mais regras que existam, não seguimos nenhum padrão, pois, tal como nós, o nosso lar tem também ele personalidade.
A série How I Met Your Mother faz uso de objectos mundanos, aparentemente aleatórios, como instrumentos narrativos que impulsionam a história para seguir em frente. Um episódio gira em volta de uma miniatura de um autocarro amarelo que pertencia à misteriosa mãe, cuja identidade ainda estava para ser revelada.
Esse autocarro, à primeira vista, não passa de um objecto decorativo, que algumas pessoas seriam até capazes de deitar fora em um piscar de olhos. Contudo, para os personagens desta série, as histórias que ele transporta consigo oferecem-lhe um valor incalculável. Para a mãe era uma recordação carinhosa, para o Ted, relembra-lhe o momento em que esteve mais próximo de conhecer a sua futura esposa.
Os nossos quartos estão cheios de objectos de igual valor. Aquela caneca que compraste em Amesterdão, o peluche oferecido por aquela pessoa, o poema que encontraste na praia, o fóssil que te ofereceram quando visitaste aquele cabo, o último livro que leste no comboio, ou aquela moeda de duzentos escudos que encontraste numa velha carteira.
Cada um deles banal. Cada um deles de valor incalculável. Pedaços de ti. Pedaços da tua, e de incontáveis histórias que, em silêncio, as imortalizam, sem prazo de validade.
São esses objectos que, embora pareçam fora de sítio, dão personalidade às nossas casas. São eles que tornam o nosso ambiente único e inimitável. São eles que dão cor aos padrões cinzentos. São eles que fazem de uma casa, um lar.
Cada objecto conta uma história. A sua, e a do seu dono. Cada objecto tem um valor. O material, e o que cada um lhe dá. Cada objecto é único. Quando é nosso. Quando vive. Quando fala. Quando nos faz recordar.
Desliguem a Televisão, fechem os vossos computadores, telemóveis e tablets. Dêem uma volta pelo vosso quarto. Olhem ao vosso redor. Que histórias conta aquele quadro? E aquela fotografia? Conseguem ouvir aquele boneco? Fechem os olhos. Toquem. Sintam-nos. Ouçam o que eles têm para dizer.
Cada objecto conta uma história. Partilhem aquela que acabaram de ouvir.
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