Thursday, February 06, 2014

A Sabedoria do Café

Foto DR
“Não temos Wi-fi. Conversem entre vocês”. Começa a ser lugar-comum encontrar esta frase em alguns bares e cafés. Se para o mais céptico dos fregueses este pode parecer um tiro no proverbial “pé” do respectivo estabelecimento, para mim, isto não é nada menos do que uma excelente iniciativa de marketing.

Vamos por partes. Uma simples pesquisa no Google por esta frase e somos logo assolados por uma avalanche de fotos de placas escritas a giz com esta ou outra variante da mesma. Criada com modestos princípios, ela reflectia a necessidade que o dono de um determinado café, sentia em informar os seus lamuriosos clientes da inexistência de uma ligação sem fios à global rede das coisas. Não fossem estes insistir, e persistir, em perguntar, dia após dia, pela afamada palavra-chave que nunca existiu, e que dificilmente irá existir.

A paciência desse patrono, lá terá os seus limites, e, graças a eles, e a uma boa dose de criatividade e sarcasmo, surgiu este “aviso”, “placa”, ou como a queiram chamar, que tanta popularidade tem ganho nos últimos tempos.

O Google oferece-nos a foto. Foto essa que foi partilhada no Facebook, difundida pelo Twitter e filtrada pelo Instagram. O estabelecimento ganha alguns check-ins no foursquare. E um qualquer tasco perdido por entre as ruelas de uma simples e ignorada cidade, entra em força pelas bocas do povo, e torna-se num fenómeno regional, com fortes possibilidades de se expandir além-fronteiras.

Como tudo na Internet, também este fenómeno terá a sua dose de efemeridade até que a fraca atenção dos seus utilizadores, os faça seguir em direcção ao próximo faits divers, que as restantes massas vão tratar de divulgar. Até lá o café vai ser falado. O dono vai sentir-se como o maior do seu quintal, e os fregueses vão ser mais generosos no consumo e, quiçá, nas gorjetas.

O verdadeiro problema vem a seguir: Como rentabilizar a fama após o populismo de uma qualquer efeméride? Talvez seja um bom momento para se reinventar. Experimentar novas ementas. Apelar a um público mais jovem. Encontrar outras observações do quotidiano, e criticá-las de igual forma. Tudo, menos pôr Wi-fi.

Há alguns dias vagueava pelo Facebook sem nenhum propósito e deparei-me com uma colecção de fotos de um certo jantar de Natal. A maioria dos seus intervenientes são-me inteiramente desconhecidos. Facto que agradeço após aquilo que vi. Mas adianto-me. Não sei se por falha do fotógrafo, ou por alguma espécie de piada privada que nenhuma pessoa externa seria capaz de compreender, em todas as fotos as pessoas encontravam-se cabisbaixas e atentas aos seus telefones. Um ou outro lá tinha sido apanhado em pleno acto de ingestão da sua comida, mas fora isso, ninguém – e, enfatizo, ninguém – estava a manter uma conversa com o vizinho do lado, ou mesmo com o da frente.

Phubbing. Sim, existe um termo para designar este tipo de comportamentos. Phubbers são pessoas que num qualquer convívio social não conseguem largar as mãos dos seus smartphones, tablets, ou outros quaisquer dispositivos que usem para aceder à Internet. Todos temos aqueles amigos com quem tentamos manter uma conversa, mas eles lá acabam por se distrair a ver as suas redes sociais, a enviar mensagens, a tirar fotos daquilo que estão a comer, ou a jogar Candy Crush, ou outro qualquer jogo desse género.

Duvido que aquele jantar fosse uma concentração de Phubbers que deliberadamente se juntam para “partilhar” as suas experiências como párias sociais. Tivesse sido convidado para esse jantar, e ter-me-ia sentido a mais naquele local. Mal este terminasse, questionar-me-ia se valia a pena voltarmo-nos a reunir apenas para que cada um continuasse isolado no seu próprio micro universo.

É por isto que aplaudo a iniciativa do tal Senhor do Café que em toda a sua sabedoria, foi capaz de fazer um retracto social em meia dúzia de palavras. O movimento anti-phubber é já bastante popular, com alguns bares e restaurantes em outras paragens deste Mundo, a bloquearam todas e quaisquer comunicações móveis mal o potencial cliente atravessa a porta de entrada.

Num espaço assim, sentir-me-ia em casa. Afinal, sem Wi-fi, não há outro remédio se não falarmos entre nós. Conversarmos. Convivermos. Partilharmos ideias, histórias, e emoções. A Sabedoria do Café é encontrada na interacção que temos com aqueles que nos acompanham, caso contrário, a placa um dia poderá dizer: “Não temos conversa, usem o Wi-fi”.

Monday, February 03, 2014

Os Gastos Possíveis de 2013

Imagem DR
Embora útil, uma das piores decisões que alguém com tendências de controlo obsessivo e compulsivo pode alguma vez tomar, é criar uma folha de Excel para registar os seus gastos ao longo do ano.

2013 foi para mim, o pior ano, no que diz respeito à minha capacidade de poupar. São vários os motivos que me levaram a este ponto, todos eles, ou melhor, quase todos, fora do meu controlo. Ter passado os três primeiros meses do ano desempregado, e sem qualquer fonte de rendimento, contribuíram em muito para um resultado menos positivo no fim.

A necessidade de migrar para outro distrito. A renda, e o custo elevado dos transportes, também não ajudaram. Se aliar a isto multas, gastos administrativos, e as avarias inesperadas do meu computador e do meu velho telemóvel, que ditaram a reparação de um e a substituição do outro, encontro em 2013, um ano pintado por momentos de pouca sorte.

Uma avalanche de inevitabilidades aleatórias que, inesperadamente, agravaram uma balança que, à partida, adivinhava ser algo desnivelada em relação àquilo que estava habituado.

Podia também argumentar que não fui propriamente comedido com os meus gastos. Mas esta afirmação não é inteiramente verdadeira. Viajei mais do que em outros anos, é certo, mas também comprei menos livros, filmes e álbuns. Fui menos vezes ao cinema. Não gastei mais saldo no telemóvel que aquele necessário para pagar a mensalidade. Posso ter exagerado numa ou outra prenda, mas também comprei menos roupa para mim. Enfim, fui estratégico nas minhas aquisições. Aquilo em que investi, investi por necessidade, e não por simples ócio.

Não posso assim escrever sobre as minhas compras inúteis, ou menos certas de 2013, pois estas simplesmente não existiram. Tive alguns gastos inesperados. Houve um ou outra pedaço de comida que foi desperdiçado. Mas nenhum caso que se assemelhe ao desastre da Marmite em 2011.

Não posso enfim dizer que tive gastos desnecessários, ou que estes fossem capazes de significativamente alterar o meu saldo final, que, apesar deste meu desabafo, não deixou de ser positivo. Não. Não tive gastos inúteis. Tive aqueles que quis, e aqueles que precisei.

A minha lógica para 2014 não vai ser muito diferente. Talvez até chegue a gastar um pouco mais, visto que os meus planos não passam por perder o meu tempo em casa a olhar para as paredes. Mas, se por mero acaso, ou simples impulso, me deixe tentar por uma compra menos certa, cá estarei de regresso para presentear todos aqueles que estiverem dispostos a ler, com os mais básicos exemplos da minha falta de engenho, no que a gastar dinheiro diz respeito.

Como diz o sábio povo, grão a grão...